Covid-19
No Brasil, o Ministério da Saúde aponta que o país atingiu a marca de 287.499 óbitos. A média móvel semanal continua a disparar e está em 2.087 óbitos diários. Em termos de casos registrados, a média móvel aumentou 58% em 1 mês para 71.872 ao dia. Ontem, o Brasil representou 15% dos casos e quase 26% das mortes globais por coronavírus, considerando os dados da Johns Hopkins. Já o ritmo de vacinação no Brasil segue praticamente inalterado nas últimas duas semanas.
Do lado positivo, exercício elaborado pelo time da XP Investimentos indica que, mantido o calendário de entrega de vacinas elaborado pelo Ministério da Saúde (com base em acordos firmados com diferentes empresas farmacêuticas), o país deverá vacinar toda sua população acima de 60 anos, além de profissionais de saúde, até meados de junho -- com risco para que o ciclo possa ser completado até antes. Confira os detalhes do estudo aqui.
Enquanto isso, os Estados Unidos anunciaram que deverão atingir a marca de 100 milhões de vacinados até o final dessa semana, superando a meta implementada por Biden de atingir o número em até 100 dias de administração.
Já na Europa, novos casos de coronavírus preocupam países. A França anunciou um lockdown de um mês na área de Paris e o governo alemão está debatendo se novas medidas serão necessárias. Sobre o avanço da vacinação, após a suspensão do uso do imunizante produzido pela AstraZeneca, a Alemanha, Itália, França, e outros países anunciaram retomada da vacina nos próximos dias, após a Agência Europeia de Medicamentos (EMA) reafirmar a segurança do imunizante produzido em parceria com a Universidade de Oxford – e, no Brasil, o Instituto Fiocruz.
Internacional
No cenário internacional, o principal destaque da semana foram as decisões de política monetária por Bancos Centrais ao redor do mundo.
Nos EUA, o Comitê de Política Monetária (FOMC) manteve as taxas inalteradas, assim como a atual política em relação ao seu balanço, conforme vastamente esperado pelo mercado. De acordo com o gráfico de pontos, os juros devem permanecer inalterados até pelo menos 2023. O presidente Powell reiterou o tom dovish, em linha ao que a autoridade monetária vem mostrando nos últimos meses. Acreditamos que o FED deve iniciar o processo de redução de compra de ativos (tapering) no terceiro trimestre de 2022, e que o primeiro aumento nos juros deve vir no primeiro trimestre de 2024.
Na região da Europa, o Comitê de Política Monetária do Banco da Inglaterra (BoE) manteve o ritmo de seu estímulo inalterado, em sua reunião de ontem. O comitê não demonstrou preocupação com o aumento dos juros dos títulos entre os países desenvolvidos, uma postura semelhante adotada pelo Fed dos EUA. O Banco Central Europeu (BCE), por sua vez, tenta conter o movimento com a promessa de acelerar o ritmo de compras de ativos, conforme observado em posicionamento na semana passada.
Finalmente, em um ambiente já há alguns anos marcado pela deflação, o Banco Central do Japão (BoJ) anunciou medidas para dar mais flexibilidade ao combate a redução de preços na economia.
Indicadores e cenário político-econômico
No que tange o cenário político-econômico, após aprovação do pacote fiscal de US$ 1,9 trilhões pelo Congresso nos EUA, a administração Biden tentará emplacar outro grande programa de investimentos, agora em infraestrutura. Embora as fontes de financiamento para tal aumento de gastos não estejam ainda definidas, o aumento de impostos deve ser incluído, com mudanças que devem atingir principalmente a classe mais rica. Se espera que o democrata revisite medidas adotadas por Trump, por exemplo, voltando a aumentar o imposto corporativo (na campanha foi defendido um aumento de 21% a 28%, ao invés do original 35%). Ademais, também estaria sendo estudado um aumento de imposto de renda para quem ganha mais de USD 400 mil, além de um aumento de tributos sobre ganhos de capitais.
No lado dos indicadores, as vendas no varejo referentes a fevereiro registraram queda de 3% (m/m), enquanto a produção industrial registrou queda de 2,2% (m/m) no período. Apesar de muito abaixo do consenso de mercado, os resultados foram largamente impactados por uma forte onda de temperaturas baixas que afetou o país ao longo do mês, especialmente na região sul do país. Para os próximos meses, a nova rodada de cheques de US$ 1400 deve acelerar novamente o consumo, e a retomada da recomposição de estoques industriais.
Já na Zona do Euro, destaque para a aceleração do Índice de Expectativas ZEW, da Alemanha, que mostrou avanço para 76,6 (74 esperados, 71,2 anteriores) em março, sugerindo que a recuperação permanece no caminho certo após o choque da segunda onda da Covid no 4T20.
Finalmente, na China, dados de atividade referentes ao primeiro bimestre do ano seguem mostrando um forte crescimento econômico no país. Em fevereiro, vendas no varejo (33,8% A/A) e produção industrial (35,1% A/A) ficaram acima das expectativas, também impulsionadas por uma base de comparação muito baixa. O investimento fixo ficou um pouco abaixo das expectativas do mercado mas, no geral, os dados continuam consistentes com o crescimento que prevemos de 9% em 2021 na comparação anual
Enquanto isso, no Brasil
No Brasil, a semana foi também marcada por decisão de política monetária. Porém, diferente do observado em países desenvolvidos, onde as autoridades monetárias mantiveram as respectivas taxas básicas de juros inalteradas em patamar altamente estimulativo, o Comitê de Política Monetária do Banco Central (COPOM) anunciou a primeira elevação da Selic em quase seis anos.
O COPOM decidiu pela elevação de 0,75 p.p. na taxa Selic, para 2,75% ao ano, surpreendendo economistas e parte do mercado. O Comitê optou pela implementação de um “ajuste mais célere do grau de estímulo”, indicando um ajuste da mesma magnitude na próxima reunião, em maio. Revisamos nossa projeção para mais uma alta de 0,75p.p. em maio, seguida de mais 3 altas de 0,50 p.p., levando a Selic a 5% antes do final do ano. Acesse nossa análise completa aqui.
Ainda na seara da inflação, o governo autorizou a indústria farmacêutica a aumentar os preços dos medicamentos em 8,5% neste ano. O reajuste fica acima do que esperávamos (4,5%), pressionando nossa projeção de 4,9% para o IPCA de 2021 (impacto adicional de 0,13 pp).
Indicadores
Ao longo da semana, tivemos também a divulgação de outros indicadores macroeconômicos importantes, referentes a atividade e mercado de trabalho.
O Indicador de Atividade Econômica do BCB (IBC-Br) subiu 1,04% m/m em janeiro, bem acima das expectativas (XP: 0,2; BBG 0,5%), atingindo patamar 0,46% abaixo de janeiro de 2020. Apesar de o resultado sugerir um viés de alta positivo para o crescimento do PIB do primeiro trimestre, é importante ressaltar que a dinâmica da Covid piorou substancialmente desde janeiro, assim como a volatilidade do mercado. Esses fatores podem reverter os ganhos observados em janeiro.
Na mesma linha, o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED) surpreendeu as expectativas, ao indicar criação líquida de 260,4 mil empregos formais em janeiro. Embora a geração líquida de vagas em tais setores seja um sinal favorável para a economia doméstica, vale destacar que apesar da dinâmica mais favorável dos dados recentes, ainda não vemos sinais claros de uma recuperação consistente do mercado de trabalho brasileiro como um todo. Projetamos que a taxa de desocupação da economia brasileira encerrará 2021 em 14,6%, apenas ligeiramente abaixo do patamar observado ao final de 2020 (14,7%), recuperando-se gradualmente ao longo de 2022. Esperamos que o indicador atinja 11,8% no final do próximo ano, retornando ao patamar pré-crise.
Cenário Político-Econômico
Na seara política, o principal destaque da semana foi a edição da Medida Provisória, que detalhou a nova rodada de auxílio emergencial no país. A MP número 1.039 determina as novas regras para o auxílio emergencial, que será pago por quatro meses a partir de abril. O benefício padrão será de R$ 250, indo a R$ 150 para quem mora sozinho e R$ 375 para mulheres solteiras chefes de família. O texto prevê a possibilidade de prorrogação do programa por ato do Executivo, desde que haja disponibilidade financeira e orçamentária. Outras duas medidas provisórias liberam os recursos para o pagamento e para a operacionalização do programa.
Virada essa página, as discussões tendem a se concentrar em outras medidas emergenciais. O governo ainda define novas regras para o pagamento do benefício para manutenção de emprego com redução ou suspensão de jornada e salário. E, no Congresso, crescem conversas sobre uma nova rodada de refinanciamento de dívidas, ainda sem previsão de implementação.
A semana contou também com a aprovação pela Câmara dos Deputados do novo marco regulatório do gás (PL 4476/20) - rejeitando todas as emendas propostas pelo Senado. A mudança tem como principal objetivo fomentar a concorrência no setor e reduzir os preços internos, ao impedir uma mesma empresa de atuar em todas as fases, da produção/extração até a distribuição. Atualmente, a Petrobras tem o monopólio da importação e processamento, além de aproximadamente 80% da produção (gás de petróleo). Consideramos a medida positiva, lembrando que o gás é um insumo importante para muitos segmentos de indústria.
Na mesma linha, o Congresso manteve o veto aos trechos do Marco do Saneamento básico, que abriam espaço para a prorrogação de contratos de estatais com o poder público por mais 30 anos, encerrando discussão que já se arrastava havia oito meses. Além disso, o Congresso aprovou projeto que permite execução de gastos antes da aprovação do orçamento de 2021, que está atrasado, evitando shutdown da máquina pública.
O governo também deu um importante (e há muito adiado) passo em direção a agenda de liberalização comercial, reduzindo linearmente em 10% as tarifas de importação sobre eletrônicos, máquinas e bens de capital. A estimativa de longo prazo é de uma queda de 2% a 5% nos preços finais. A redução aconteceu em produtos que hoje são exceção à TEC do Mercosul, portanto, não dependem de negociação com os parceiros do bloco. Porém, o governo indicou que deve caminhar na discussão de corte linear da TEC com os parceiros do bloco.
Por outro lado, a saída do presidente do Banco do Brasil, André Brandão, elevou a incerteza sobre a interferência política em estatais. Brandão pediu para deixar a presidência da instituição depois de atritos com o governo pelo plano de demissão voluntária e fechamento de agências anunciado no passado. O escolhido para seu lugar foi Fausto de Andrade Ribeiro.
O que esperar?
No cenário internacional, o destaque da próxima semana serão a divulgação de PMIs industrial e de serviços referentes a março na Zona do Euro e nos EUA, além de discurso do presidente do FED, Jerome Powell, após decisão de política monetária nessa semana. Teremos também divulgação de decisão de política monetária na China.
No Brasil, a semana será marcada pela divulgação do IPCA-15 referente a março, resultado do setor externo de fevereiro, arrecadação federal também de fevereiro, além da ata do Copom referente à reunião dessa semana, e do Relatório Trimestral de Inflação, também publicado pelo Banco Central.
Se você ainda não tem conta na XP Investimentos, abra a sua!