Resumo
Mais uma semana de dados fracos de emprego nos Estados Unidos. Com isso, as apostas de que o banco central cortará os juros nas três reuniões restantes deste ano aumentaram, impulsionando ativos de riscos de países emergentes, como o Brasil. Ademais, o cenário internacional também contou com a manutenção dos juros na zona do euro e a sinalização de que pode não haver cortes no horizonte próximo. Na China, dados apontam para dificuldade de atingir meta de 5% de crescimento. Por fim, crises políticas na França e no Japão levam à renúncia dos primeiros-ministros
No Brasil, a taxa de câmbio encerrou a semana próxima de 5,35 reais por dólar e o Ibovespa atingiu máxima histórica, impulsionados pelo cenário dos Estados Unidos. Nos indicadores, o IPCA confirma alívio nos preços de bens e alimentos, mas resistência em serviços. Em paralelo, dados de atividade econômica corroboram tese de desaceleração gradual.
Na seara política, a Primeira Turma do STF formou maioria para condenar o ex-presidente Jair Bolsonaro e aliados.
Gráfico da Semana
Veja na seção “Expectativas de cortes de juros pelo Fed impulsionam ativos de países emergentes”

Cenário Internacional
Enfraquecimento do mercado de trabalho consolida cortes de juros pelo Fed
Nos Estados Unidos, a inflação ao consumidor atingiu o maior patamar em 7 meses, acelerando 0,3% em agosto contra julho, e 2,9% no acumulado em 12 meses, em linha com as expectativas. Por outro lado, o índice de preços ao produtor recuou 0,1% em agosto comparado a julho, enquanto as projeções de mercado apontavam para alta de 0,3%. Ambos os indicadores sugerem que muitas empresas estão absorvendo parte do custo relacionado às tarifas de importação mais altas. Por sua vez, dados de mercado de trabalho seguem apontando para enfraquecimento. A semana contou com a revisão dos dados de emprego nos 12 meses até março, com 911.000 postos a menos do que o estimado anteriormente, acima das projeções de 700 mil. Ademais, houve 263 mil pedidos de seguro-desemprego na última semana, o maior valor registrado em cerca de quatro anos. O indicador é mais um na sucessão de divulgações frágeis sobre o mercado de trabalho norte-americano.
Os dados mais fracos de emprego consolidaram as apostas de que o Fed (banco central dos Estados Unidos) cortará os juros básicos nas três reuniões de 2025.
Banco Central Europeu descarta cortes de juros adiante
O Banco Central Europeu (BCE) manteve a taxa de depósito em 2,0%, conforme amplamente esperado. Na coletiva de imprensa após a decisão, a presidente da autoridade, Christine Lagarde, adotou tom duro, afirmando que a queda da inflação no bloco terminou e que não enxerga cortes adicionais de juros no horizonte próximo. Lagarde destacou riscos vindos dos Estados Unidos, além dos problemas políticos e fiscais na França, e o plano de aumento de gastos na Alemanha.
Ainda nessa semana, em meio ao cenário de incerteza comercial, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, defendeu o acordo comercial com o Mercosul como estratégico para diversificar parcerias e reduzir dependência de grandes economias, como os EUA. A maior resistência parte da França, que teme impactos para seus agricultores, mas von der Leyen assegurou que o acordo terá limites para proteger a agropecuária europeia.
Dados econômicos na China apontam dificuldade para atingir meta de 5% de crescimento
A inflação ao consumidor na China caiu 0,4% em agosto no resultado acumulado em 12 meses, abaixo das expectativas. A queda foi puxada principalmente pela deflação mais intensa em alimentos e pela continuidade da pressão em bens duráveis, sinalizando fragilidade persistente da demanda doméstica. Por sua vez, o índice de preços ao produtor recuou 2,9% em agosto no resultado acumulado em 12 meses, permanecendo em trajetória deflacionária pelo 3º ano consecutivo. Ao mesmo tempo, a desaceleração das exportações para o menor nível em seis meses (+4,4%) amplia a pressão externa sobre a atividade. As importações avançaram 1,3% ante agosto de 2024, também abaixo das expectativas de mercado. As vendas para os Estados Unidos caíram 33,1%.
A crise imobiliária persiste e o consumo doméstico segue fraco. A incerteza sobre tarifas e as pressões estruturais mantêm riscos elevados para a economia chinesa. A meta de crescimento de 5% dependerá da diversificação comercial, do avanço nas negociações com Washington e de novos estímulos fiscais pelo governo.
Crises políticas na França e no Japão levam à renúncia dos primeiros-ministros
Na França, o primeiro-ministro François Bayrou renunciou após perder o voto de confiança no Parlamento, em meio à forte resistência ao seu plano fiscal de €44 bilhões em cortes. Os rendimentos dos títulos franceses subiram, e há risco de rebaixamento da nota da dívida soberana. Bayrou alertou: “as despesas continuarão a subir, e o peso da dívida, já insuportável, ficará mais pesado e mais caro.” O presidente Emmanuel Macron nomeou Sébastien Lecornu, ex-ministro da Defesa, como novo primeiro-ministro, com a missão de negociar o orçamento de 2026 e enfrentar a pressão social e parlamentar.
No Japão, o primeiro-ministro Shigeru Ishiba também renunciou ao cargo de líder do Partido Liberal Democrata, após a derrota nas eleições para a Câmara Alta, equivalente ao Senado no Brasil. Sem apoio suficiente no Parlamento e entre a população, concluiu que não teria condições de avançar com sua agenda, apesar de ter fechado um acordo comercial com os Estados Unidos que reduziu tarifas sobre produtos japoneses. A saída de Ishiba abriu espaço para uma nova disputa pela liderança do partido e pelo comando do país.
Peso argentino tem forte desvalorização após resultado das eleições na província de Buenos Aires
O presidente Javier Milei teve derrota significativa nas eleições legislativas de Buenos Aires, onde a coalizão peronista Força Pátria venceu com 47,2% contra 33,8% da Liberdade Avança (atual partido do presidente), frustrando a expectativa do governo de, no mínimo, um empate técnico. O resultado ocorre em meio ao escândalo de corrupção que envolveu sua irmã e principal assessora, Karina Milei, agravado por sinais de estagnação econômica, juros elevados, intervenção no câmbio e queda da popularidade presidencial. A derrota enfraquece a base de Milei às vésperas das eleições nacionais de outubro, em um cenário de tensões sociais e pressões no Congresso, onde a oposição tem avançado contra sua agenda de austeridade.
Desde o resultado, o peso argentino desvalorizou 5% contra o dólar. No mercado de ações, o Merval, principal índice argentino, chegou a cair 13%, mas se recuperou parcialmente ao decorrer da semana.
Enquanto isso, no Brasil…
Expectativas de cortes de juros pelo Fed impulsionam ativos de países emergentes
O dólar encerrou a semana negociado próximo a R$ 5,35, após atingir R$ 5,44 na terça-feira. O movimento é impulsionado pela consolidação das apostas de que o banco central dos Estados Unidos (Fed) cortará os juros básicos nas três reuniões de 2025 (ver acima), após mais uma semana com dados fracos de mercado de trabalho. O Ibovespa também renovou a máxima histórica na semana, encerrando o pregão acima da marca de 143.000 pontos pela primeira vez na história. Com juros mais baixos nos EUA, aumenta-se o diferencial de juros em mercados como o Brasil, favorecendo a entrada de capital estrangeiro. Para mais informações, leia nosso relatório “Dólar em queda: a tendência veio para ficar? O que esperar para a taxa de câmbio“.
Ex-presidente Jair Bolsonaro é condenado pela primeira turma do STF
A Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) formou maioria para condenar o ex-presidente Jair Bolsonaro e sete aliados por crimes como tentativa de golpe de Estado, organização criminosa e abolição violenta do Estado Democrático de Direito. O julgamento, iniciado em setembro, envolve figuras centrais do governo anterior, como ex-ministros e militares, acusados de integrar um núcleo que tentou impedir a posse de Luiz Inácio Lula da Silva em 2022. O placar ficou 3 a 1 pela condenação, restando apenas o voto do ministro Cristiano Zanin.
Em meio ao julgamento, a porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, declarou que o presidente Donald Trump “não tem medo de usar o poderio econômico e militar para proteger a liberdade de expressão, um pilar da democracia americana, em qualquer lugar do mundo onde ela seja ameaçada”. A fala, feita em coletiva de imprensa, foi interpretada como uma referência direta ao Brasil e gerou reação imediata do Itamaraty, que repudiou qualquer ameaça à soberania nacional.
IPCA confirma alívio nos preços de bens e alimentos, mas resistência em serviços
O IPCA recuou 0,11% em agosto em relação a julho, resultado um pouco acima das expectativas. Assim, a inflação anual cedeu de 5,23% para 5,13%. A queda expressiva na tarifa de energia elétrica (refletindo o pagamento do “bônus de Itaipu”) explicou, em grande medida, a deflação. Em nossa opinião, o IPCA de agosto reforçou que o alívio recente na inflação está bastante relacionado à descompressão nos preços de bens industrializados e alimentos, em decorrência de condições climáticas favoráveis, produção agrícola recorde e apreciação da taxa de câmbio ao longo do primeiro semestre. Por outro lado, as métricas da inflação de serviços permanecem em patamares elevados, especialmente os componentes intensivos em mão de obra. O dado corrobora nosso cenário de que o Banco Central iniciará um ciclo de corte de juros em janeiro de 2026. Mantivemos a projeção de aumento de 4,8% para o IPCA de 2025. Para mais informações, leia nosso relatório “IPCA de agosto: Inflação desacelera para 5,13%, preços de serviços merecem atenção”.
Indicadores de atividade econômica corroboram tese de desaceleração gradual
As vendas no varejo ampliado caíram 2,5% na comparação interanual em julho, abaixo das expectativas. As atividades mais dependentes de crédito vêm arrefecendo diante do cenário de juros elevados e do alto endividamento das famílias. Por sua vez, as atividades mais ligadas ao crescimento da renda estão relativamente sólidas, sustentadas por um mercado de trabalho ainda robusto e por elevadas transferências fiscais.
Com relação ao setor de serviços, houve avanço de 0,3% em julho ante junho, em linha com as projeções. O setor de serviços deve continuar em alta, ainda que em ritmo mais moderado. Em nossa visão, os serviços mais ligados à demanda das famílias devem voltar a crescer nos próximos meses, dado os impulsos de renda ainda presentes. Por outro lado, o enfraquecimento da indústria de transformação – sobretudo devido às condições financeiras mais restritivas – pode pesar sobre os serviços mais atrelados às empresas.
Prevemos que o PIB do Brasil crescerá 2,2% em 2025.
Trump suspende tarifa de 10% sobre celulose e ferro-níquel
O governo norte-americano anunciou que isentará celulose e ferro-níquel da tarifa recíproca de 10%. No Brasil, esses produtos já estavam isentos das alíquotas de 40%, portanto, agora não possuem tarifas adicionais. O Brasil exportou cerca de US$ 1,84 bilhão de produtos desse grupo no ano passado (4,6% do total foi destinado aos Estados Unidos). O setor de celulose é estratégico para o Brasil, líder global nas exportações.
O aumento do número de produtos isentos reforça nossa visão de que o impacto líquido das tarifas de Donald Trump sobre a balança comercial e a atividade econômica será limitado. Nossa projeção incorpora efeito negativo de US$ 2,0 bilhões neste ano.
Clique aqui para receber por e-mail os conteúdos de economia da XP
Destaques da próxima semana
Na agenda internacional, destaque para decisões de taxas de juros na China, Japão, Reino Unido e Estados Unidos. No caso do último, o mercado espera início do ciclo de corte de juros, após indicadores mais fracos de mercado de trabalho. Além disso, conheceremos as vendas no varejo e produção industrial tanto nos Estados Unidos quanto na China.
No Brasil, todas as atenções estarão voltadas para a reunião do Copom, que deverá manter as taxas de juros em 15,00%. Além disso, o Banco Central divulgará o IBC-BR referente a junho, o indicador mensal de atividade econômica. Veja as nossas projeções abaixo.

Se você ainda não tem conta na XP Investimentos, abra a sua!
