Resumo
O Banco Central dos EUA reforçou que seu próximo movimento é de corte de juros, mas não demostra pressa para iniciá-lo. Com atividade forte e inflação resistente, acreditamos que o primeiro corte virá apenas em maio ou junho. Já o Banco Central da China reduziu a taxa de empréstimos de 5 anos, para 3,95% para estimular o consumo e reverter a crise imobiliária.
No Brasil o destaque foi a confirmação da arrecadação tributária forte em janeiro, a maior para o mês na série histórica. O indicador atividade do Banco Central (IBC-Br) cresceu 0,8% m/m em dezembro, fechando 2023 em 2,45%. A atividade econômica ganhou tração nos últimos meses, impulsionada principalmente pelo consumo das famílias. Na seara fiscal, o Ministro da Fazenda indicou que a reoneração da folha deve ser tratada em projeto de lei, em substituição à atual Medida Provisória
Cenário internacional
Ata do BC dos EUA (Fed) indica que cortes de juros virão apenas mais adiante...
A ata do último comitê de política monetária do banco central dos EUA (Fed) indicou claramente que o próximo passo é de reduzir as taxas. No entanto, com atividade aquecida e inflação resistente, o Fed não demonstra pressa para iniciar o processo. Os membros do comitê parecem preocupados em “queimar a largada” e acabar não conseguindo trazer a inflação para a meta de 2%.
Nosso cenário base considera o início do corte de juros em maio, mas vemos hoje viés de que ocorra mais adiante. Acreditamos que, dada a atividade econômica robusta e o mercado de trabalho apertado, compensa ao Fed esperar para cortar os juros com mais convicção quando o cenário ficar mais claro.
... Sinalização é reforçada em discurso público de um de seus principais diretores
Além disso, muitos membros do Federal Reserve reiteraram a visão de que não há pressa em começar a cortar os juros. Christopher Waller afirmou que o forte crescimento do PIB no 4º trimestre, a força demonstrada pelo mercado de trabalho nos últimos meses e os preços ao consumidor em aceleração em janeiro respaldam a visão de que o Fed precisa verificar se o progresso relacionado à desinflação no segundo semestre de 2023 vai continuar. Waller destacou que o banco central considera flexibilizar a política monetária apenas quando houver sinais claros de que a economia está em recessão ou perto dela, e que não há indicações disso no cenário atual.
Banco Central da Europa vai na mesma direção do Fed, sinalizando cautela
A ata da última reunião de política monetária do Banco Central Europeu (BCE) reforçou a avaliação de que a discussão de redução de juros era prematura, dado o forte crescimento dos salários e as pressões sobre a inflação. No entanto, a autoridade monetária pareceu mais otimista com o cenário de inflação, reconhecendo um balanço de riscos mais equilibrado em relação à meta.
A postura e a sinalização do banco central são consistentes com o nosso cenário de que a primeira redução nas taxas de juros da zona do euro será implementada em junho.
China anuncia o maior corte na taxa de juros desde seu lançamento
O Banco Popular da China (PBoC, o banco central do país) reduziu a taxa preferencial de empréstimos de 5 anos, em 0,25 p.p., para 3,95%, redução mais intensa do que a esperada por analistas de mercado. Foi o primeiro corte nas taxas desde junho de 2023 e o maior desde que essa taxa foi introduzida em 2019 (veja o gráfico na seção ‘Gráfico da Semana’). O objetivo do governo é estimular a demanda por crédito e reverter a crise imobiliária. A taxa de 1 ano foi mantida em 3,45%. Ambas as taxas de empréstimo estão nas mínimas históricas.
Gráfico da Semana
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Enquanto isso, no Brasil...
Arrecadação tributária surpreende em janeiro
A arrecadação tributária federal totalizou R$ 280,6 bilhões em janeiro de 2024 – o que representou aumento real de 6,7% em relação a janeiro de 2023. O resultado representou o melhor resultado para o mês em toda série histórica. A arrecadação foi turbinada por medidas governamentais recentes, como a tributação dos fundos offshore e exclusivos.
Os maiores efeitos das medidas aprovadas no ano passado, contudo, aparecerão a partir de fevereiro, por conta da mudança nas subvenções de ICMS e do programa de recuperação de créditos no CARF (Conselho de Administração de Recursos Fiscais). Projetamos que a arrecadação tributária federal totalizará R$ 2,62 trilhões em 2024, expansão real de 9% frente a 2023.
IBC-Br se recupera em dezembro após quatro leituras fracas
No Brasil, o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) – uma proxy mensal do PIB – subiu 0,8% em dezembro contra novembro (XP: 1,0%; mercado: 0,75%). O indicador cresceu 2,45% em 2023, após elevação de 2,8% em 2022. Em resumo, a atividade econômica brasileira ganhou tração nos últimos meses, impulsionada principalmente pelo consumo das famílias. A nosso ver, a solidez do mercado de trabalho e a melhoria gradual das condições de crédito continuarão a sustentar a demanda interna este ano.
Desoneração da folha, fim do Perse e reforma tributária são pautas da semana
O Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, confirmou que a reoneração será suprimida da Medida provisória 1202/2023, passando a ser tratada em projeto de lei com regime de urgência, com o mesmo texto da MP, cabendo ao Congresso realizar as mudanças que julgarem necessárias. O fim do Programa de Emergencial de Retomada do Setor de Eventos (Perse) e o limite para as compensações tributárias serão mantidos na medida provisória, segundo o ministro. Ele também afirmou que a regulamentação da reforma tributária será enviada ao Congresso em março. Disse ainda que pretende perseverar na busca pelo déficit zero.
Será importante observar qual o desenrolar das negociações da desoneração da folha de pagamentos. O texto aprovado pelos parlamentares ano passado – que estendia o benefício aos 17 setores economia até 2027, além de tratar sobre a redução das alíquotas aos municípios – tinha impacto de R$ 18 bilhões em 2024, enquanto a medida provisória enviada pelo Ministério da Fazenda reduziu o impacto para R$6,0 bilhões (valor que é compensado pelo fim do Perse). Caso o Congresso deseje retornar a proposta para algo próximo ao inicialmente aprovado pelo parlamento, será importante observar se isso será acompanhado de compensações de mesma magnitude.
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O que esperar da semana que vem
Na agenda internacional, as sondagens empresariais PMI de fevereiro serão divulgadas no Japão, China, Estados Unidos, zona do euro, e Reino Unido. O índice PMI é uma sondagem com empresários sobre as condições econômicas e de negócios nos países. Ademais, diversos membros dos conselhos de política monetária do Fed e do BCE falarão publicamente, podendo dar sinalizações adicionais sobre a trajetória dos juros de referência nos EUA e na Europa. Na 2ª-feira, será divulgado o dado de inflação ao consumidor de fevereiro no Japão. Na 4ª-feira, teremos a segunda estimativa do PIB dos Estados Unidos do quarto trimestre de 2023. A primeira leitura registrou crescimento robusto de 3,3% ante o trimestre anterior, em termos dessazonalizados e anualizados. Na 5ª-feira, serão publicados os dados de inflação medida pelo núcleo do deflator das despesas de consumo pessoal (PCE) nos Estados Unidos relativa a janeiro. Por fim, a leitura preliminar da inflação ao consumidor na zona do Euro será anunciada na 6ª-feira.
No Brasil, teremos a divulgação do IPCA-15 de fevereiro na 3ª-feira. É esperada leitura mensal alta, acima de 0,80%, refletindo o aumento do ICMS sobre combustíveis e reajustes em mensalidades de escolares. O mercado, porém, ficará atento à dinâmica de serviços, agregação mais relevante para o BCB. Também serão divulgados os dados de PIB do 4º trimestre de 2023 (6ª-feira), taxa de desemprego na 5ª-feira e do resultado primário do governo central (data a ser definida). Para o PIB, esperamos uma variação de 0,1% em relação ao trimestre anterior. Veja nossas projeções abaixo.
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