Resumo
Nos Estados Unidos, as taxas de juros foram mantidas pelo Banco Central, enquanto dados de inflação trouxeram sinais de alívio. Destaque também para o euro, que registrou fraco desempenho frente ao dólar, diante do avanço da extrema-direita na União Europeia. Por fim, na China, a inflação segue baixa, reflexo da atividade abaixo do esperado.
No Brasil, a inflação de maio trouxe os primeiros efeitos da tragédia climática no Rio Grande do Sul. Diante da piora na percepção de risco fiscal, o real teve desempenho inferior às demais moedas estrangeiras. Do lado da atividade econômica, dados de abril mostraram solidez nos setores de varejo e serviços.
Cenário internacional
Fed mantém os juros americanos em 5,25% – 5,50%
O banco central dos EUA (Fed) manteve sua taxa básica de juros no intervalo de 5,25%-5,50%, mesmo nível desde julho de 2023. Em suas projeções, os diretores do Fed esperam apenas um corte de juros em 2024, ao invés dos três cortes projetados anteriormente, uma sinalização dura para o mercado. Na mesma linha, os comentários do presidente Jerome Powell, embora tenham reconhecido a queda da inflação, destacaram o aumento dos preços das importações e o crescimento insustentável dos salários.
Apesar da sinalização dura do Fed, os dados de inflação da semana vieram abaixo do esperado e animaram os mercados. A inflação ao consumidor nos Estados Unidos (CPI, em inglês) avançou 0,01% em maio ante abril, abaixo do consenso de 0,12%. Já o índice de preços ao produtor (PPI, em inglês) caiu 0,2%, o que significa menor pressão de custos às empresas. Com os resultados, as taxas de juros dos títulos públicos recuaram e as bolsas voltaram a subir no país.
Esperamos que o Fed comece a cortar juros apenas em dezembro, mas a inflação benigna pode convencê-lo a começar antes, possivelmente em setembro.
Euro se desvaloriza com incertezas políticas e fiscais na Europa
O euro atingiu o valor mais baixo desde o início de maio (EUR/US$ 1,07), ainda reflexo de incertezas políticas, especialmente na França. De acordo com a projeção mais recente da União Europeia, os grupos de extrema-direita conquistarão 10 assentos a mais no Parlamento Europeu do que na eleição de 2019. Destaque na França onde, após ver ascensão da extrema-direita, o presidente Emanuel Macron dissolveu o parlamento francês e convocou novas eleições. O país tem um déficit fiscal preocupante e vem tentando reorganizar sua dívida. A maior participação de partidos extremistas no controle político do país levantou preocupações em relação à sua estabilidade fiscal.
Na China, inflação ao consumidor mostra recuperação lenta da demanda doméstica
Na China, a inflação ao consumidor (CPI, em inglês) aumentou 0,3% em maio na métrica acumulada em 12 meses, abaixo da expectativa de mercado de 0,4%. Enquanto isso, o índice de preços ao produtor (PPI, na sigla em inglês) registrou deflação interanual de 1,4% em maio, após ter recuado 2,5% em abril.
Os preços ao consumidor na China sugerem que a demanda doméstica está se recuperando gradualmente, mas a persistência de níveis ainda baixos de inflação reflete uma demanda insuficiente para atingir a meta de crescimento de 5,0% estabelecida pelo governo. Com relação à inflação ao produtor, a queda dos custos para os fabricantes chineses contribui para contenção de pressões inflacionárias em outros países, como por exemplo o Brasil, um grande parceiro comercial da China.
Em suma, o consumo permanece fraco na China, a despeito das medidas governamentais de estímulo adotadas recentemente. A nosso ver, a atividade econômica chinesa crescerá a um ritmo moderado nos próximos meses.
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Enquanto isso, no Brasil…
Medidas para compensação da desoneração da folha podem não ser suficientes
No Brasil, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, devolveu a Medida Provisória 1227 que trata da limitação do uso de créditos de PIS/Cofins, devido à pressão dos setores atingidos. A medida seria utilizada para compensar a desoneração da folha de 17 setores e dos municípios. Em conversa com jornalistas, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que o governo não tem um “plano B” para a compensação. Segundo o jornal “Estado de São Paulo”, o Senado discute alternativas, entre elas i) a atualização de bens de pessoas físicas e jurídicas no Imposto de Renda, ii) a repatriação de recursos no exterior com regularização dos valores e pagamento de imposto no Brasil e iii) o uso de recursos esquecidos em contas judiciais de pessoas que ganharam ações na Justiça e não sacaram os valores nem manifestaram interesse em reaver as quantias. Avaliamos que essas as medidas seriam insuficientes para fazer frente à renúncia de receita da desoneração da folha.
O Congresso e governo devem continuar discutindo possíveis alternativas. Caso não seja possível fazer a compensação, a desoneração da folha poderá, em tese, ser derrubada, mas consideramos esse um cenário improvável.
Ainda na seara fiscal, a Imprensa noticiou que o Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, levará ao Presidente Lula medidas para desindexar os gastos do Orçamento, devido à alta do dólar e à percepção de risco sobre a situação fiscal no país. As propostas devem incluir a fixação de um teto de 2,5% acima da inflação para despesas vinculadas ao salário-mínimo, benefícios previdenciários, e pisos da Saúde e Educação. De fato, as despesas obrigatórias vêm mostrando crescimento acima da inflação neste ano e ameaçam a manutenção do arcabouço fiscal. Não houve, contudo, sinal efetivo de que propostas serão enviadas em breve ao Congresso.
Taxa de câmbio desvaloriza e atinge patamar de R$/US$ 5,40 nesta semana
Esta semana foi marcada por forte depreciação do Real, que chegou a atingir o patamar de R$/US$ 5,40. O movimento pode ser explicado, em grande medida, por ruídos políticos e incertezas fiscais domésticas. Houve depreciação de 0,5% ante o dólar nesta semana, comparada com enfraquecimento de apenas 0,1% das outras moedas emergentes (segundo o índice MSCI). Veja mais no gráfico da semana.
Apesar dos riscos, continuamos a projetar a taxa de câmbio a R$/US$ 5,00 no final de 2024 e R$/US$ 5,15 no final de 2025, devido aos efeitos da ampliação do diferencial de juros e fundamentos apontando que, nos patamares atuais, o Real está desvalorizado.
Tragédia do Rio Grande do Sul reflete nos preços de alimentos do IPCA
A inflação medida pelo IPCA, nosso principal indicador de preços ao consumidor, registrou alta de 0,46% m/m em maio de 2024. O resultado mensal levou o índice para 3,93% no acumulado em doze meses, reacelerando depois de alguns meses em baixa. O resultado de maio veio acima das expectativas da maior parte dos analistas, impulsionado principalmente por categorias de preços mais voláteis, como passagens aéreas e energia elétrica. O impacto da tragédia recente no Rio Grande do Sul contribuiu com alta nos preços de alimentos in natura.
Além disso, após alguns meses de alívio nos preços de serviços, os dados de maio reacenderam a “luz amarela” para a inflação do setor, que segue como um dos principais focos de resistência da convergência da inflação à meta.
Acreditamos o IPCA deve terminar este ano em 3,7%, acima da meta do Banco Central de 3,0%. Para 2025, vemos a inflação encerrando o ano em 4,0%.
Para maiores detalhes, leia nosso relatório “IPCA de maio: Tragédia no RS e preços de serviços mantêm luz amarela para inflação“.
Vendas no varejo e produção no setor de serviços indicam que atividade segue robusta
No Brasil, a receita real do setor de serviços aumentou 0,5% em abril ante março. Mais uma vez, a composição do crescimento trouxe sinais mistos, com três dos cinco principais segmentos avançando no período. Projetamos que o índice geral do setor de serviços crescerá 2,7% em 2024, próximo ao ganho de 2,4% registrado em 2023. Com relação às vendas no varejo, o resultado ficou abaixo das expectativas de mercado, mas não altera nossa visão otimista para o consumo pessoal no curto prazo.
O consumo de bens permanece em trajetória favorável, apesar da expectativa de desaceleração gradual após resultados fortes no 1º trimestre do ano. As condições do mercado de trabalho continuam a melhorar – a criação de empregos e os salários reais vêm crescendo acima das expectativas – e as transferências fiscais seguem elevadas. A renda real disponível às famílias subirá cerca de 5% este ano, de acordo com os nossos cálculos.
Gráfico da Semana
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O que esperar da semana que vem
No Brasil, o destaque da próxima semana será a decisão de juros pelo Copom na 4ª-feira. Nós e o mercado esperamos manutenção da taxa Selic em 10,50%, com atenção especial ao placar da votação, especialmente após a decisão com dissenso (5×4) na última reunião de política monetária. Na seara dos indicadores, a arrecadação federal de maio será publicada, mas ainda sem data definida. Por fim, vale monitorar o desenrolar da discussão em Brasília sobre as medidas de compensação para a desoneração da folha de pagamento de 17 setores e municípios. Veja nossas projeções abaixo.
Na agenda internacional, destaque para a divulgação, na 2ª-feira, do conjunto de dados de atividade da China referentes a maio, incluindo vendas no varejo, produção industrial e taxa de desemprego. Os dados de vendas no varejo e produção industrial dos EUA referentes ao mesmo mês serão divulgados na 3ª-feira. No Reino Unido, a inflação de maio será divulgada na 4ª-feira. Além disso, na 5ª-feira, o Banco Central da China (PBoC) e o Banco Central da Inglaterra (BoE) anunciarão suas decisões de política monetária.
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