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Tendências e oportunidades no setor sucroenergético

Confira os destaques do Fórum Setorial Sucroenergético 2025, evento que reuniu especialistas nesta terça-feira (9)

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Quais as perspectivas econômicas, tendências de mercado e oportunidades de investimento que estão moldando o futuro do setor sucroenergético?

Esses foram os temas abordados no Fórum Setorial Sucroenergético 2025, que reuniu líderes, especialistas e parceiros estratégicos da indústria nesta terça-feira (9). Confira, abaixo, os destaques dos dois painéis do evento:

Painel: O setor sucroenergético

Com Alexandre Figliolino, consultor especialista em agronegócio

Durante painel com Alexandre Figliolino, especialista no setor sucroenergético, foram abordadas as perspectivas para a safra 2026/27, dinâmica de preços, competitividade industrial e evolução financeira das empresas do setor.

Safra 2025/26: produção menor, cenário favorável ao etanol

Devido às adversidades climáticas, a safra 25/26 deve ficar entre 580 e 590mi t, com uma situação atípica de queda no TCH (tonelada de cana de açúcar por hectare) e ATR (açúcar total recuperável), portanto reduzindo a produção total de açúcar neste ano.

Figliolino destacou que uma redução de 5kg de açúcar na tonelada de cana, considerando uma produção de 600mi t, representa cerca de 8mi t a menos de produto — impacto relevante na oferta.

Entretanto, o cenário de déficit na produção global de açúcar não deve ser suficiente para impulsionar os preços do açúcar porque as próximas safras devem ser significativamente maiores.

Etanol: perspectiva de preço sustentada

Para o etanol, o cenário é mais favorável. A queda do ATR da cana impacta negativamente a produção do etanol hidratado e, apesar do aumento na produção do etanol de milho, o cenário é de queda na produção neste ano. Isso, somado ao aumento da mistura de etanol anidro na gasolina para 30% (E30), deve manter os preços elevados.

Safra 2026/27: produção forte, preços estáveis

A expectativa é de uma safra volumosa no Brasil, com condições de plantio e clima superiores às do ciclo anterior. Embora não haja fatores excepcionais, o cenário é mais positivo que o do ano passado, marcado por adversidades. O elevado nível de cristalização observado também deve limitar uma recuperação significativa nos preços do açúcar.

Etanol de milho: competitividade em alta

O etanol de milho tem se consolidado como alternativa altamente competitiva, com custo de produção entre R$ 0,70-0,80 por litro inferior ao do etanol de cana. Essa diferença pode pressionar o setor, especialmente diante da estagnação da produtividade.

Exportações e saúde financeira

Atualmente, cerca de 85% das exportações estão com preços travados, mas o nível de fixação para o próximo ano está abaixo da média histórica. No campo financeiro, o setor apresenta evolução significativa: empresas que antes dependiam de ACCs e capital de giro de curto prazo agora operam com perfis de dívida mais alongados, reduzindo riscos de refinanciamento.

A contratação de ratings tem se tornado mais comum, contribuindo para a profissionalização do setor. Figliolino citou como exemplo a São Martinho e a Jalles, esta última com cerca de 40% de sua dívida via mercado de capitais.

Mercado de capitais e produtos isentos

A entrada do setor no mercado de capitais representa um marco importante. As exigências regulatórias funcionam como filtros naturais de qualidade, e os spreads sobre CDI têm se mostrado atrativos — com casos de emissões a CDI+1% e prazos de 5, 7 e até 10 anos. Além disso, o acesso ao mercado de capitais permite liberar limites bilaterais junto aos bancos tradicionais, ampliando o poder de barganha das usinas.

Cenário internacional

A Índia também tem adotado programas de mistura de etanol na gasolina, o que contribui para mitigar os impactos de preços no mercado global, reforçando a relevância da bioenergia como vetor estratégico.

Painel: Estratégia financeira, inovação e sustentabilidade no setor sucroenergético

Com Jeferson Degaspari, CFO da CMAA, Alexandre Figliolino, consultor especialista em agronegócio e Leonardo Alencar, head de Agro, Alimentos e Bebidas do Research da XP

A combinação entre gestão eficiente, diversificação tecnológica e acesso ao mercado de capitais tem se mostrado essencial para sustentar a competitividade e a resiliência das empresas do setor sucroenergético diante de ciclos climáticos e financeiros cada vez mais desafiadores.

Sobre a CMAA

A Companhia Mineira de Açúcar e Álcool (CMAA) é uma empresa do setor sucroenergético, com atuação em açúcar, etanol e bioeletricidade. Fundada em 2006 pelo Grupo JF Citrus — holding reconhecida pela produção de laranjas — a CMAA passou a contar, a partir de 2013, com a participação da multinacional indonésia Indoagri. A JF Citrus permanece como acionista controladora, aplicando à CMAA sua gestão eficiente já consolidada no setor de citros.

A companhia possui três unidades industriais localizadas no Triângulo Mineiro: Unidade Vale do Tijuco (Uberaba), Unidade Vale do Pontal (Limeira do Oeste) e Unidade Canápolis (Canápolis), com capacidade instalada de moagem de 10mi t de cana. A CMAA é também uma das empresas com maior histórico de emissões de CRAs no setor, considerando inclusive o legado da JF Citrus.

Estrutura de capital e financiamento

Jeferson Degaspari destacou a natureza intensiva em capital do setor: “No business de usinas, enterramos dinheiro”. De um capex anual de R$ 500 milhões, cerca de R$ 300 milhões são destinados à plantação de cana ou atividades correlatas. Essa característica reforça a importância de fontes de financiamento de longo prazo.

Degaspari reforçou que o acesso ao mercado de capitais tem fortalecido a bancabilidade das empresas do setor, ajudando a tornar as condições de crédito bilateral mais competitivas.

Gestão de risco e hedge

Figliolino relembrou que, no passado, o setor acreditava no hedge natural — com a valorização do açúcar compensando a queda do câmbio. No entanto, com o Brasil se consolidando como maior exportador da commodity, essa correlação se rompeu. As usinas precisaram aprender a fazer hedge de câmbio e antecipar movimentos de mercado, prática que hoje se estende também ao hedge de açúcar.

Tendências tecnológicas e diversificação

Questionado sobre tendências, Degaspari apontou três frentes estratégicas: etanol de milho, biogás e irrigação. A CMAA estuda projetos de etanol de milho, reconhecendo que, diferentemente da cana, o milho é um negócio de trading — sem a possibilidade de “desligar a fábrica”. O biogás também é avaliado como alternativa de diversificação.

O principal investimento atual da CMAA é em irrigação, com cerca de R$ 60 milhões por ano, cobrindo 2 mil hectares/ano. O objetivo é irrigar 100% da cana própria, mitigando riscos climáticos, reduzindo custos com arrendamento e aumentando a longevidade da lavoura.

Etanol de milho: modelos e riscos

Figliolino diferenciou os modelos de plantas de etanol de milho:

  • Flex (integradas com usinas de cana)
  • Total (dedicadas exclusivamente ao milho)

As plantas 100% milho são mais expostas à volatilidade dos preços do grão, DDG e biomassa, o que afeta diretamente o resultado operacional. Em ciclos positivos, como o atual, são altamente rentáveis, mas exigem cautela quanto à alavancagem. A biomassa é um fator-chave na viabilidade desses projetos.

O investimento ideal, segundo Figliolino, é uma usina de cana com cogeração de biomassa, localizada em região com boa oferta de milho. Isso permite sinergias operacionais e utilização da planta durante todo o ano, enquanto a moagem da cana ocorre por 6 a 7 meses.

Degaspari concordou, mas alertou que subsídios fiscais regionais têm papel relevante na viabilização de plantas híbridas.

Inovação e sustentabilidade

Outras tendências apontadas incluem o etanol de segunda geração (E2G), ainda em estágio de médio/longo prazo, e o SAF (Sustainable Aviation Fuel), que representa uma oportunidade estratégica de demanda adicional para o etanol.

Degaspari enfatizou o papel da tecnologia na produtividade agrícola: uso de GPS em colhedoras, drones para aplicação localizada de fertilizantes, satélites para monitoramento de incêndios — como forma de evitar eventos como os registrados em São Paulo em 2024.

Gestão operacional e sucessão

A gestão também foi tema central. Degaspari destacou a importância da “barriga no balcão” — proximidade do gestor com a operação — como diferencial competitivo. A CMAA combina a expertise internacional do grupo Salim, com forte viés de gerenciamento de riscos, à cultura de gestão direta típica do setor.

A sucessão familiar foi apontada como fator crítico, especialmente em empresas onde o crescimento afasta o fundador da operação.

Saúde financeira das usinas

Leonardo Alencar questionou sobre sinais de sucateamento do canavial. Degaspari respondeu que a CMAA não abre mão de investimentos em adubo, fertilizantes e irrigação, mesmo que adie capex em equipamentos. A idade média do canavial é um indicador relevante — idealmente próxima a três anos. Figliolino complementou que cortar capex agrícola pode gerar caixa no curto prazo, mas compromete a produtividade futura.

Por fim, Figliolino citou que, apesar dos desafios, o setor deve seguir saudável para os grupos mais eficientes, sendo possível observar com margens EBIT na casa de 30%.

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