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Rússia e Ucrânia: os desdobramentos da guerra duas semanas depois e perspectivas dos especialistas da XP

Nossos analistas debateram os impactos do conflito entre Rússia e Ucrânia para a economia global, o cenário brasileiro e o panorama para commodities e petróleo, além de responderem perguntas sobre investimentos

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Com a escalada da tensão entre Rússia e Ucrânia, os mercados já sofrem reações intensas. O petróleo bateu níveis mais altos em muitos anos, as Bolsas mundiais mostram volatilidade e a inflação já é revisada mundialmente para cima.

É sobre essas questões que nossos experts debatem nesta live: Fernando Ferreira, Estrategista-Chefe da XP, fala sobre impactos gerais no mercado, Caio Megale, Economista-chefe da XP, sobre macroeconomia; Sol Azcune, Analista Política, sobre implicações geopolíticas do movimento; André Vidal, analista responsável por responsável pelos setores de Óleo, Gás e Materiais Básicos, sobre os impactos em Petróleo e Energia; e Leonardo Alencar, analista responsável por responsável pelos setores de Agro, Alimentos e Bebidas, a respeito dos impactos em grãos.

A transmissão aconteceu às 13h desta quinta-feira (10) no YouTube da XP Investimentos. Leia os destaques da Live e assista à transmissão completa no player acima:

Confira também nosso relatório completo: Entenda a crise entre a Rússia e a Ucrânia, e como investir para se proteger

Com o conflito entre Rússia e Ucrânia se prolongando, para o estrategista-chefe e head do Research da XP Inc., Fernando Ferreira, o cenário aponta para a possibilidade de estagflação.

Em relação à busca por proteção no momento de investir, o estrategista destaca os ativos reais como melhor forma de buscar ganhos acima da inflação nesse cenário.

Duas semanas de conflito

Para Sol Azcune, analista de política internacional da XP Inc., a guerra se mostra “mais complexa que o esperado, apesar das tropas russas terem potencial e equipamentos superiores”. Ela destaca a “moral ucraniana” com um dos motivos pelos quais o conflito ainda se arrasta. “A Rússia tem feitos grandes avanços sobre as principais cidades” e, ao que tudo indica, não há intenção de parar enquanto não forem atingidas as demandas apresentadas.

As pressões para governos internacionais têm sido respondidas através de duras sanções, o que gera “contra-sanções” russas, como a negativa em exportar fertilizantes para diversos países. Em relação ao contato com a China, o apoio à Rússia tem sido cauteloso de forma oficial, mas, em termos práticos, há continuidade na boa relação e Pequim tem condenado as sanções.

Impacto para a economia global e no Brasil

Para Caio Megale, economista-chefe da XP Investimentos, “o efeito direto é sobre custos de produção e preços de commodities”, que passaram a reagir desde que as tensões começaram a escalar, mesmo antes do conflito estourar. Isso gera um impacto grande sobre a inflação, porque são refletidos em aspectos como alimentação, transporte e produção. Esse choque chega em uma economia global já fragilizada.

No Brasil, o movimento de subida de juros do Banco Central já vinha desde o ano passado, somado ao anúncio de hoje da Petrobras informando o aumento de combustíveis. Com esse fato, a distância para a meta da inflação torna-se ainda mais alta.

Com o choque adicional, a inflação de curto prazo tende a ficar mais persistente e não resta alternativa para o BC se não seguir com o aumento de juros, o que pode impactar na atividade econômica mundial e também no Brasil. Ainda que o PIB tenha performado melhor que o esperado, a cautela é pelo sentimento em relação à atividade econômica no Brasil, com um cenário mais complexo, com preços elevados de petróleo e choque de custos de grãos, de acordo com o economista.

Preços mundiais do petróleo e anúncio da Petrobras

Na visão de André Vidal, head do setor de Oléo, Gás e Materiais Básicos, na prática, o setor privado já vinha fazendo embargo aos produtos russos mesmo antes de um anúncio formal do governo dos EUA.

Na Europa, um embargo torna-se mais difícil porque a dependência do petróleo russo é mais forte, especialmente por razões geográficas. Para os EUA, os esforços para diplomacia (como recentes contatos com a Venezuela) e criação de fontes internacionais de petróleo tem sido mais forte que a possibilidade de produção nacional. O incentivo a produção dentro de casa ainda parece não ser uma prioridade dentro do governo Biden.

Para o cenário brasileiro, a Petrobras anunciou um reajuste no preço de derivados. O desconto em relação à paridade chegou a 60%, portanto, mesmo com o aumento, a paridade ainda não foi atingida por completo. Os rumores nas últimas semanas eram no sentido do retorno ao subsídio interno, o que ainda não se confirmou. Ainda segue em discussões, junto ao governo, qual será a atitude em relação aos combustíveis, ainda sem nenhuma definição.

Sobre metais, o níquel teve um aumento muito alto, o que fez com que houvesse mudanças na forma da negociação. Isso se deu porque a Rússia é um dos maiores produtores não somente de níquel mas de outros metais que são imprescindíveis para a produção. Com o aumento do petróleo, os preços sobem invariavelmente e impactam também nas negociações de metais.

Panorama para as commodities

Para as commodities agrícolas, Leonardo Alencar, head de Agro, Alimentos e Bebidas, destaca o timing do conflito, muito próximo da época do plantio na Europa. Sobre fertilizantes, o analista entende que a recuperação será ainda mais lenta. Quase 20% da exportação mundial de trigo vem da Rússia e grande parte do volume já foi exportado, porém, o governo russo restringiu exportações em razão de segurança alimentar. Essa restrição também foi anunciada pela Ucrânia, responsável por quase 10% do trigo mundial, em atenção à segurança alimentar interna.

O que diferencia o trigo destes países em relação a outros que têm plantio do grão é a qualidade do produto e das lavouras. A China, por exemplo, planta 90% do trigo que consome, porém em qualidade inferior ao presente na Rússia, por exemplo.

O impacto nos mercados dependerá de questões climáticas, além da situação do próprio conflito. O que pode prolongar o efeito são os fertilizantes, que são produzidos de forma importante por Rússia e Ucrânia e altamente utilizados no Brasil. Trata-se de um ponto sensível, especialmente com restrições à exportação pelo governo russo (a lista de países vetados não engloba o Brasil).

Meus investimentos estão em risco?

Depende, mas é importante manter uma boa diversificação em sua carteira. Entre as alternativas de investimentos, há uma preferência de pós fixados e atrelados à inflação. Na renda variável brasileira, as negociações estão a patamares mais baratos, especialmente em comparação com as bolsas estrangeiras. “Nossa sugestão não é sair da renda variável global, mas sim usar quedas de preço para aumentar a exposição dentro do indicado para o seu perfil de risco.”

Para buscar a proteção necessária no momento, o estrategista-chefe reforça novamente a preferência com ativos reais, como imóveis, fundos imobiliários, commodities, metais preciosos, entre outros.

Commodities são uma boa alternativa investir nesse momento? Sim, para nosso time, as commodities ainda são bons investimentos. “A gente gosta de papéis que são pouco expostos pelo cenário macro, [em nomes citados pelo estrategista na Live] de atacarejo, farmácias, entre outros.”, explica Ferreira. A visão da XP, para esse momento, engloba commodities e papéis como os mencionados.

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