Encerramos a primeira edição da XP Telecom Week com participação de 8 empresas listadas e a Anatel. Nesse relatório, trazemos alguns temas e destaques discutidos durante o evento.
Visão do Regulador (Anatel):
Na reunião com o Conselheiro da Anatel, Sr. Carlos Baigorri, foram abordados diversos temas relevantes para o setor.
- O regulador destacou o sucesso do leilão do 5G, ressaltando a participação das ISPs nos blocos regionais. Ausência de um quarto interessado nos blocos nacionais foi uma surpresa para o Conselheiro. No entanto, o arremate do bloco remanescente 700MHz por um operador de rede neutra poderá complementar as faixas das ISPs.
- O Sr. Baigorri destacou a eficiência das maiores ISPs no deployment de seus investimentos, competindo de igual para igual com as Big Telcos, compensando a falta de escala relativa com uma forte execução operacional, chegando a ter custos por HC e HP inferiores aos maiores players. O Conselheiro também destacou a aceleração recente na consolidação das micro ISPs
- Confiante no cronograma para implementação e ativação do 5G nas capitais até junho/22
- Em relação as discussões sobre o processo de migração das concessões para autorização, a precificação dos valores ainda está em discussão, incluindo as novas contrapartidas que deverão substituir as obrigações atuais (i.e banda-larga). A arbitragem solicitada pela Oi poderá atrasar esse processo, podendo levar até 2 anos para conclusão.
- Tema de escassez na cadeia de suprimentos e a falta de semicondutores não tem preocupado o regulador, pois os impactos no setor de telecomunicações têm sido limitados.
Visão dos fornecedores:
As reuniões com os fornecedores WDC (LVTC3) e PADTEC (PDTC3) trouxeram alguns insights interessantes sobre a dinâmica de mercado das ISPs e potenciais novas demandas com o advento do 5G.
- WDC possui mais de 4 milhões de modems de banda-larga em 4 milhões de domicílios no Brasil hoje. A companhia comentou sobre a desaceleração ocorrida no 3T21 na venda de novos equipamentos, e acredita que o movimento de consolidação no setor está trazendo uma desaceleração no crescimento orgânico das companhias. A companhia também destacou o crescimento de grandes operadoras de rede neutra como a V.tal.
- Pequenos provedores regionais continuam alavancando o modelo de negocio de TaaS (tecnologia as a service) evoluindo aos poucos do aluguel de equipamentos básicos como Modem para outros de maior valor agregado. WDC está avaliando criar outras soluções de infraestrutura.
- 5G: a nova tecnologia do 5G exigirá um numero grande de mini data centers perto das torres levando conteúdo para mais próximo dos consumidores de forma a entregar uma experiência diferenciada alavancando todas as possibilidades que a tecnologia traz em termos de baixa latência e alta velocidade. Segundo a WDC, a Verizon já construiu 40 mil mini datacenters nos EUA. Esses novos sites do 5G também demandarão fontes de energia limpa como a Solar.
Sobre as empresas da nossa cobertura e outras do setor, os principais destaques foram:
Brisanet (BRIT3| Compra; TP R$17,0)
FTTH: Competição no core business e impacto macro:
Companhia destacou o ambiente competitivo mais agressivo no Nordeste. As micro ISPs estão baixando o ticket para diminuir o churn de clientes. Inflação tem afetado o poder de compra das famílias , principalmente nas classes C e D, diminuindo o ritmo de adições brutas. Historicamente quando a Brisanet entra nas periferias das capitais, o cliente topava migrar para um provedor de melhor qualidade pagando mais, hoje essa sensibilidade preço/demanda é mais evidente dado o cenário macroeconômico. Apesar dessa pressão, companhia destacou uma melhora em novembro em relação ao ritmo dos meses anteriores.
5G: Planos ambiciosos para o Nordeste e Centro Oeste
A companhia se destacou recentemente como a ISP mais agressiva no leilão do 5G levando as frequências regionais do 2,3Ghz e 3,5Ghz.
O projeto no Nordeste é um pouco diferente do projeto Centro Oeste. Nordeste tem metade da população rural do Brasil (~5mn de domicílios) e a penetração de banda-larga fixa está próximo de 60% com ticket médio de R$55, portanto a banda do 2,3GHz poderá atender nas Capitais fazendo a função da banda de 700Mhz de uso indoor num raio de 500 metros e no interior esse raio pode ser maior chegando 4/5 km. Com a aquisição das 2 frequências, a companhia reduzirá seu plano original reduzindo pela metade o número previsto de Sites, no entanto o investimento em equipamentos por Site aumentará. No Centro Oeste a Brisanet só tem o bloco 3,5GHz, e não descarta alugar a frequência do 700MHz de terceiros. A Companhia seguirá seu projeto inicial de montar 1 site para cada 6 mil habitantes. A Brisanet começará sua expansão greenfield em fibra no Centro Oeste a partir de 2023. O CEO e fundador Roberto destacou que a companhia realizou diversos testes prévios em todas as faixas de frequência do 5G criando um entendimento diferenciado sobre as capacidades e limites da tecnologia.
A companhia espera construir infraestrutura em fibra e operar nas capitais e cidades maiores (~12 localidades). Nas cidades menores a companhia espera replicar o modelo de franquia da Agility, construindo infraestrutura e deixando a operação por conta do franqueado.
O 5G vai mudar e trazer algumas eficiências no Capex previsto originalmente para o business de FTTH. A Brisanet fará um adensamento menor, a quantidade de portas vai ser menor (antes 75% de penetração de portas e no novo projeto nas classes C/D/E vão abaixar a densidades). Nas classes A/B a densidade não muda, pois na visão da companhia o usuário de maior renda terá os dois serviços: a fibra residencial (FTTH) e o 5G. Na periferia, a companhia estima que aproximadamente 40% dos usuários que estão no pré-pago vão migrar diretamente pro 5G, tendo essa tecnologia como única alternativa de conexão de banda-larga. No seu plano de negócios, a companhia espera ofertar planos 5G de R$ 30 reais com 100/150 GB de franquia.
A companhia forneceu o seguinte cronograma de investimentos para os próximos anos:
- 2022: R$ 950mn-1bn (150mn-200mn projeto piloto 5G)
- 2023: R$ 1,3bn (5G maior parte)
- 2024: 1,5bn (5G ~60% alcançando o seu pico esse ano)
- 2025: Não divulgou valor mas sinalizou que o investimento do 5G retorna pro patamar de 2023
A Companhia destacou que não possui necessidade de financiamento em 2022 e o seu investimento de curto prazo será viabilizado com os recursos do IPO. Em 2023 a companhia acessará o mercado de dívida e avaliará um follow-on para ajustar o free-float mínimo de 25% exigido pelo Novo Mercado da B3.
Unifique (FIQE3| Compra; TP R$13,0)
Durante a reunião, a companhia destacou suas duas estratégias de crescimento: Orgânico e Inorgânico. Ao que se refere a primeira, a Unifique vem construindo redes e ampliando sua capilaridade na região Sul. Ao passo que na estratégia de M&A, a companhia está focando mais esforços no estado de Rio Grande do Sul, onde tem uma penetração inferior do que Santa Catarina e pretende consolidar a região nos próximos anos.
Outro ponto destacado foi um potencial incremento de receita de ~R$400mn de em 2022, atingindo uma Receita Bruta de +R$1bn em 2022 (acima da nossa estimativa de R$950mn).
Além disso, conforme mencionado em nosso relatório de início de cobertura da empresa, a Unifique é a ISP que se destaca na frente de tecnologia, sendo a pioneira na adoção do XGSPON. Dito isso, Fabiano Busnardo comentou que estão criando uma diretoria de inovação de transformação digital para aprimorar os sistemas e serem cada vez mais competitivos e eficientes nessa frente no médio/longo prazo. Hoje, 7% do faturamento bruto é consumido para o aprimoramento tecnológico.
Por fim, os executivos comentaram sobre a estratégia que realizaram no Leilão do 5G junto com a Copel Telecom, no Consórcio 5G Sul, onde a Unifique ficará com os espectros dos estados de Rio Grande do Sul e Santa Cataria, onde tem mais capilaridade de rede, enquanto a Copel ficará com o estado do Paraná.
TIM (TIMS3 I Compra; TP R$21,0)
Pietro Labriola (CEO) iniciou a reunião destacando que os rumores de venda do controle da Telecom Itália não estão atrapalhando o dia-a-dia da TIM Brasil e a companhia tem mantido o foco na execução de seu plano. A TIM Brasil tem cada vez mais autonomia gerencial, segundo o CEO. Nesse contexto, Pietro ressaltou a confiança no atingimento do guidance para o ano.
Sobre o processo de aquisição da Oi Móvel Pietro acredita que o Cade deverá aprovar em janeiro/22 e ressaltou o parecer favorável da superintendência geral do órgão.
Pietro também comentou sobre o Network Sharing Agreement (NSA) com a Vivo destacando a evolução do projeto e a expansão em novas cidades no 4G. O “Desligue 2G” trará economias relevantes também. Sobre a possível expansão do escopo do acordo do NSA para o 5G, o executivo prefere aguardar a aprovação do final do CADE para comentar.
Sobre a Plataforma de Clientes, avançando em parcerias e serviços além da conectividade, a companhia espera anunciar mais duas parcerias até o final do ano. Pietro também demonstrou confiança sobre o fechamento da arbitragem com o C6 no próximo ano, destravando um valor importante para a TIM.
Desktop (DESK3 | Sem Cobertura)
Desde seu IPO, a companhia já adquiriu três empresas: Starnet, LPNet e NetBarretos, em linha com a estratégia apresentada pela Desktop em seu roadshow com investidores. Hoje, com +620k assinantes em São Paulo, a companhia está consolidando sua liderança de mercado e realizado integração das redes e tecnologia. Vale ressaltar que, segundo a diretoria, estão com 7 NBOs assinados com previsão de fechar esses deals nos próximos meses.
Com relação ao perfil dos targets para M&A, a companhia mantém o seu foco em aquisições de empresas maduras, com posição de liderança e que estejam localizadas em regiões adjacentes as cidades onde já possui operação, como é o caso de Starnet, NetBarretos e LP Net. Além disso, contrataram a consultoria Pragmatis para auxiliar no processo de integração das companhias adquiridas. Por outro lado, na seleção de oportunidades de crescimento orgânico. selecionam cidades conurbadas, por ser mais rápido fazer operação em uma cidade que já tenham uma operação e pela eficiência operacional.
No que diz respeito ao Leilão do 5G, a companhia explicou que não entrou no leilão por querer manter seu foco na fibra (FTTH) e a eventual entrada na telefonia móvel poderia trazer uma perda de foco no seu core business. Na visão do CEO da companhia, o 5G não apresenta ameaça, mas sim um business complementar que exigirá toda a capilaridade que a companhia possui hoje no FTTH.
OI (OIBR3 | Sem Cobertura)
Em nossa reunião com a companhia, o CEO Rodrigo Abreu comentou sobre a expectativa de aprovação do deal da Oi Móvel. Sob a ótica do Anatel, a recomendação do corpo técnico da agencia é a aprovação do deal sem restrições com apenas alguns remédios comportamentais, o conselheiro relator pode aprovar em reunião extraordinária em semanas até o inicio de janeiro. Não acredita em nenhuma dificuldade. No CADE, está na mesma fase também com a recomendação também de poucos remédios comportamentais (MVNOs, Mercado de atacado), o prazo formal limite para aprovação do CADE é fevereiro/21. Ocorrendo todas as aprovações até essa data, Rodrigo Abreu espera avançar com as etapas societárias para realizar o closing no final de março ou inicio de abril.
Com o recebimento desses recursos da móvel, a cia quitará sua dívida com o BNDES, além do bridge da móvel, também teria a possibilidade de pagamento antecipado dos Bonds´26. O Eventual saldo remanescente será usado para o funding da operação que só terá geração de caixa positiva em 2023.
Sobre a aprovação da Infraco, o CADE já aprovou só restando a Anatel que deverá concluir em janeiro. Diferente da operação da Oi Móvel, não existe nenhuma complexidade societária à ser executada. Parte do valor da parcela secundária poderá ser utilizada para quitação dos Bonds´26.
Vivo (VIVT3 | Sem cobertura)
Durante a reunião com a Vivo, a empresa comentou sobre os preparativos que vem fazendo sobre o 5G, onde começaram a expansão da fibra nos sites e continuam expandindo rapidamente a fibra (FTTH) para a capilaridade da nova tecnologia. Vale ressaltar que muitos aparelhos celulares ainda não estão habilitados para o 5G e isso deve melhorar a partir do segundo semestre de 2022 com o maior volume de vendas desses novos aparelhos.
No que diz respeito a estratégia de M&A da companhia, todos os olhos estão voltados para a oportunidade de fibra (FTTH) e, junto a isso, pretendem chegar em 2024 com 29 milhões de casas passadas (HP). Isso será feito tanto de forma orgânica, quanto inorgânica através da Fibrasil (companhia de rede neutra que criaram) que vai permitir ser mais rápido e fazer M&A. A diretoria se diz aberta à M&As, mas de forma seletiva – as companhias precisam de qualidade a altura e nível da Vivo – dado que muitos dos ISPs eram cias pequenas que cresceram via demanda local, não necessariamente tem a melhor qualidade. Hoje, o custo de HP é de R$ 160 (há dois anos era 400 reais) e o custo de passar fibra nas cidades é relativamente baixo.
Por fim, ao que se refere a remuneração dos acionistas, a companhia (I) quer continuar com payout de 100% e isso não deve mudar (ii) pretende acelerar o programa de recompra; (iii) distribuir dividendos competitivos e (iv) sempre revisar a estrutura de capital, dado que possui + R$8bi em caixa.

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