A Lojas Renner anunciou hoje sua primeira aquisição (link) depois do seu aumento de capital de R$ 4 bilhões, com os recursos previstos para serem utilizados na construção de seu ecossistema de moda e lifystyle. A empresa está adquirindo 100% da Repassa, uma plataforma online de vestuário, calçados e acessórios usados com presença nacional. Vemos a transação como positiva, uma vez que está alinhada com a estratégia da companhia de fortalecer as iniciativas digitais e agenda ESG, embora seja imaterial em termos de impactos financeiros, o que pode ter decepcionado os investidores quando comparado ao tamanho da oferta concluída em abril.
Dados limitados sobre a transação. Embora a empresa não tenha divulgado o valor pago, o pagamento será feito 100% em dinheiro, sendo que a equipe da empresa (junto com seu fundador) irá permanecer na operação, com uma estrutura de earn-out (pagamento adicional vinculado ao atingimento de algumas metas pré-estabelecidas) de 3 a 5 anos.
Olhando para as potenciais sinergias. Embora não vemos a transação como material em termos de impactos financeiros, acreditamos que exista valor a ser capturado através da (i) alavancagem da base de clientes da Lojas Renner e capilaridade para ganho de escala; (ii) aumento do tráfego online para Repassa e LREN; e (iii) expansão dos serviços financeiros da Realize para a operação da plataforma Repassa.
Aprimorando iniciativas ESG. Embora a Lojas Renner já esteja bem posicionada em termos de suas iniciativas ESG (veja a visão do nosso time aqui), a aquisição deve fortalecer essa frente ainda mais, ao mesmo tempo em que abre uma nova avenida de crescimento em direção à economia circular, o que esperamos ser uma forte tendência no setor daqui para frente, especialmente porque a Geração Z está mais inclinada para o consumo consciente.
Ainda há mais por vir. Esperamos que a empresa continue ativa em operações de M&A (fusões e aquisições) e busque outras oportunidades que complementem e fortaleçam seu ecossistema (veja nossa visão aqui). Apesar de vermos a transação anunciada como positiva, ela não justifica a necessidade de captação feita de R$ 4 bilhões em abril, enquanto também não muda o jogo em termos de perspectivas de crescimento para a Renner.
Mantemos nosso preço-alvo de R$ 50,0/ação e recomendação Neutra para o papel dada a baixa visibilidade sobre os potenciais alvos de M&A assim como dos resultados dos investimentos da empresa na construção de seu ecossistema.
Fortalecendo a agenda ESG
Análise por: Marcella Ungaretti e Giovanna Beneducci
Na perspectiva ESG, também vemos a aquisição de forma positiva, reforçando o comprometimento da Lojas Renner com essa agenda. Na nossa opinião, a companhia está bem posicionada, com destaque para: (i) E: sólidas iniciativas visando a redução da emissão de carbono dos produtos em toda a sua cadeia de valor; (ii) S: robustas políticas em relação à gestão de sua cadeia de suprimentos; e (iii) G: uma cultura resiliente e ótima Governança, com maioria independente no Conselho de Administração (7 dos 8 membros).
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Para o setor de moda e vestuário, vemos a frente Social como a mais importante das três, seguida pelos pilares de Governança e Meio Ambiente, respectivamente. Temos observado que empresas nesse setor estão cada vez mais reconhecendo a necessidade de atender ao interesse dos investidores e consumidores que desejam entender melhor e opinar sobre como suas roupas são obtidas, produzidas e recicladas.
Nesse sentido, vemos que a transação, ainda que pequena, reforça a agenda ESG da Lojas Renner, principalmente no que se refere ao pilar E (ambiental). Por ser uma plataforma online e possuir seu business focado na revenda de roupas, calçados e acessórios, a Repassa promove a adesão à moda circular, entando diretamente envolvida com o consumo responsável.
Uma vez que os produtos comercializados são reparados e reaproveitados ao invés de serem descartados, a Repassa contribui para o sistema ao permitir, através de uma gestão eficiente, que matérias-primas e recursos naturais sejam utilizados de forma a minimizar ou erradicar a geração de resíduos – prolongando, na medida do possível, a vida útil e o valor do produto.
De acordo com a thredUp, a indústria da moda é um dos setores mais poluentes do mundo, com destaque para alguns números que, além de importantes, impressionam: (i) uma média de £ 75 de CO2 é emitida para a produção de calças jeans; (ii) 700 galões de água são necessários para a produção de uma nova camiseta; e (iii) 1 em cada 2 pessoas joga suas roupas indesejadas direto no lixo. Além disso, de acordo com a mesma pesquisa, se todos comprassem um item usado no lugar de um novo durante um ano, haveria uma redução de £ 5,7 bilhões de emissões de CO2, 25 bilhões de galões de água e £ 449 milhões de lixo. Isso posto, o modelo de negócios da Repassa colabora com a redução do impacto ambiental advindo da indústria da moda, incentivando a reutilização e revenda de peças de vestuário sem função, o que entendemos como muito positivo.
Dito isso, vemos a aquisição da Repassa, mesmo que pequena, como um forte indicativo do compromisso ESG da Lojas Renner, nos levando a reafirmar nossa visão positiva para a companhia na perspectiva ESG
Intenção de mudança dos consumidores por categoria nos próximos 5 anos (% de pessoas)
Uma rápida descrição da Repassa
Fortalecendo os laços com a GeraçãoZ e agenda ESG
Conforme discutido em nosso relatório de início de cobertura das ações do Enjoei (aqui), acreditamos que o mercado de segunda mão está bem posicionado para crescer em meio ao aumento da consciência do consumidor e de sua aderência à agenda ESG, com as gerações mais jovens se tornando consumidores mais conscientes, o que favorece a moda circular. Após o anúncio feito hoje, a diretoria da Lojas Renner realizou uma teleconferência para dar mais detalhes sobre a transação com o mercado, na qual afirmou que o crescimento do mercado de roupas de segunda mão deve superar o de vestuário tradicional com um GMV potencial de ~R$ 31 bilhões até 2025 (mercado total). Isso se compara com R$ 6 a 7 bilhões hoje.
O que é a plataforma Repassa? A empresa foi fundada por Tadeu Almeida, que viu uma oportunidade de reduzir o impacto ambiental da indústria do vestuário através da expansão da vida útil dos produtos por meio da economia circular. A startup nasceu como uma plataforma online de produtos de segunda mão, calçados e acessórios, que já conta com presença nacional e teve uma rodada de capitalização feita em 2020 (de R$ 7,5 milhões) para expandir sua atuação e atender à crescente demanda desse mercado.
Marketplace gerenciado como foco principal. Diferentemente da Enjoei, a Repassa aposta no modelo de marketplace gerenciado, com a empresa sendo responsável por todo o processo desde a (i) coleta dos produtos nas casas dos clientes, que são colocados dentro da chamada Sacola do Bem, (ii) curadoria dos itens, selecionando aqueles que são adequados para serem comercializados na plataforma; e (iii) venda e entrega desses itens ao cliente final. A taxa de comissão (take rate) da empresa é de aproximadamente 50%, com o vendedor tendo a opção de usar o saldo da venda na própria plataforma da Repassa, com um desconto de 10%.
A Renner como um amigo conhecido. A Lojas Renner anunciou em novembro de 2020 uma parceria onde a Sacola do Bem da Repassa era utilizada para arrecadação de itens usados. Nesse sentido, vemos uma grande oportunidade de alavancar a capilaridade da operação, pois as lojas físicas da Renner podem futuramente se tornar pontos de entrega/retirada.
Parceria com outros varejistas. Além da Lojas Renner, a Repassa conta também com outros varejistas em sua plataforma, como C&A, Adidas, Zara, Hering, H&M, Farm etc. Vemos isso como oportunidade e risco. Embora a parceria com a Renner dê à Repassa outra escala, o que seria atraente para mais varejistas aderirem à plataforma, isso também pode representar um risco, pois os varejistas podem ver a plataforma como um concorrente.
Estimativas da evolução do mercado de moda no Brasil
Percentual de pessoas de cada geração que estariam dispostas a comprar roupas de segunda mão
Mapeando a competição
Enjoei (ENJU3) e TROC (ARZZ3) como os principais nomes a serem monitorados
Empresas C2C. Embora seja sabido que o Mercado Livre (MELI) é uma companhia respeitada e referência no setor de comércio eletrônico, acreditamos que o posicionamento do MELI, OLX e Enjoei difere da proposta de valor da Repassa em ser um marketplace gerenciado, enquanto (i) na Enjoei, o vasto sortimento e a experiência de mídia social são os principais pilares por trás da experiência do consumidor e (ii) o foco da MELI/OLX é em escala e produtos mais básicos/commoditizados.
Marketplaces gerenciados para a massa. Acreditamos que este segmento deve ser monitorado mais de perto, já que a TROC foi recentemente comprada pela Arezzo&Co (ARZZ3), e a Enjoei está bem à frente em termos de escala (de acordo com o SimilarWeb, a Enjoei teve 10,5 milhões de visitas mensais nos últimos 12 meses, mais de 22x mais que a Repassa e perto de 140x mais que a TROC). No entanto, acreditamos que a aquisição da Repassa pela Lojas Renner deve permitir que ela ganhe escala com relativa rapidez principalmente por vermos muito espaço para o crescimento do mercado de segunda mão como um todo.
Marketplaces gerenciados de luxo. A exposição da Repassa ao segmento de luxo é limitada e, portanto, vemos pouca sobreposição com essas empresas que atuam nesse segmento.
Marketplaces de aluguel. Embora vejamos isso como uma tendência muito alinhada com a tendência de clientes mais conscientes, e esperamos que esta ganhe força daqui para frente, não vemos isso como uma competição direta para a Repassa já que i) luxo não é o foco da empresa; e ii) embora os produtos sejam mais acessíveis em comparação com itens novos, os preços estão bem acima do tíquete médio praticado na Repassa.
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