Engie: “Transição energética já aconteceu”, diz Eduardo Sattamini no Expert Talks – Na Mesa com CEOs

“A transição energética no país já aconteceu no setor elétrico.” A afirmação é de Eduardo Sattamini, Country Manager da Engie Brasil (EGIE3), convidado do podcast Expert Talks – Na Mesa com CEOs desta quinta-feira (11). No episódio, disponível no YouTube da XP, Sattamini compartilhou sua trajetória e os principais desafios e estratégias da companhia.

A conversa foi conduzida por Fernando Ferreira, estrategista-chefe e head do Research da XP, com participação de Raul Cavendish, head do setor de utilities da XP. Assista ao episódio completo para entender os bastidores da liderança da maior empresa de energia renovável do país:

A transição energética

Segundo estudo da Aneel, a matriz de geração de energia elétrica do Brasil passou por uma profunda transformação desde 2001. Hoje, o país é o 6º maior produtor de energia eólica onshore e de energia solar fotovoltaica do mundo, com destaque para a diversificação das fontes renováveis. Aproximadamente 50% da capacidade de geração ainda vem das hidrelétricas.

Engie Brasil: liderança em energia renovável

Nesse contexto, a Engie é referência em energia limpa no Brasil, com cerca de 13 GW de capacidade instalada em 116 usinas, o que representa aproximadamente 6% da capacidade nacional. A geração provém de fontes renováveis e com baixas emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE), como hidrelétricas, eólicas, solares e biomassa. Além disso, a empresa opera a maior malha de transporte de gás natural do país, com 4.500 km de extensão.

“Ter um controlador global traz vantagens à empresa. Temos controles e processos muito bem definidos, organizados. Isso traz segurança”, afirmou Sattamini.

Essa estrutura robusta é essencial em um setor que exige capital intensivo, maturação de longo prazo e forte regulação, como destaca o relatório setorial da XP.

A trajetória de Eduardo Sattamini

Formado em economia, Sattamini iniciou sua carreira na área naval, atuando em empresas de navegação e estaleiros. Ingressou na Engie em 2000, passando por áreas de gestão, desenvolvimento de negócios e finanças. Desde abril de 2025, é Country Manager da Engie Brasil e também diretor-presidente da Engie Brasil Energia S.A.

No Expert Talks – Na Mesa com CEOs, o executivo contou como foi seu tempo de estudante e o início de sua carreira. “Chegava em casa morto, para começar de novo no dia seguinte. Tem que trabalhar, tem que se esforçar, fazer com que sua vida tenha sentido.”

Transição energética e competitividade do setor elétrico

O Brasil possui uma matriz energética majoritariamente renovável. Ainda assim, o setor enfrenta desafios regulatórios e de custo para o consumidor final.

“A transição energética no país já aconteceu no setor elétrico”, disse Sattamini. Ele destaca que, embora a energia seja barata na origem, os encargos e subsídios embutidos nas tarifas encarecem o custo final, comprometendo a competitividade do país.

O papel do gás natural na transição energética

O gás natural é considerado um combustível estratégico para a transição energética, especialmente na indústria. No entanto, a baixa disponibilidade e a infraestrutura limitada dificultam sua expansão.

“A conexão é muito importante para que o mercado se fortaleça e que todos os agentes contribuam para uma malha, uma infraestrutura que tenha seu uso otimizado”, afirmou.

Resultados da Engie no 2º trimestre

A companhia divulgou resultados fracos no 2º trimestre de 2025, com Ebitda ajustado de R$ 1,54 bilhão, ficando 6,5% abaixo do consenso e 10% abaixo das nossas projeções. O principal motivo do desvio foi o impacto maior do que o esperado com o curtailment, que pressionou o lucro bruto de energia (8% abaixo da nossa estimativa).

O curtailment, ou corte obrigatório da produção de energia, tem sido um obstáculo para o setor, especialmente em regiões com infraestrutura de escoamento limitada.

“Ele tem origem não só na falta de demanda, mas na infraestrutura de escoamento”, explicou o executivo. “Pra que a gente não tenha uma situação dramática no setor, eu acho que cabe uma discussão negociada, que não venha a pesar única e exclusivamente no bolso do consumidor.”

Crescimento via M&A e projetos de transmissão

A estratégia de crescimento da Engie passa por aquisições contratadas, como a compra de ativos da EDP no Amapá. Novos projetos greenfield em renováveis não estão no radar, mas a companhia aposta em expansão via transmissão, com projetos como Asabranca e Graúna.

“A gente tem buscado fazer o crescimento através de M&A contratado. Novos projetos de renováveis, greenfield, principalmente, não estão no nosso cenário.”

Reestruturação global e nova organização interna

Segundo o executivo, recentes mudanças na diretoria da Engie foram motivadas por uma reestruturação global do grupo, que criou áreas de negócio específicas para facilitar a comunicação e a transferência de tecnologia.

“Hoje nós temos três grandes áreas de negócio, que são: renováveis, transmissão de energia e comercialização e gestão de energia.”

Sobre o pagamento aos acionistas, a Engie mantém o compromisso de distribuir o payout mínimo de 55%, o que equivale a um dividend yield anualizado de aproximadamente 4%. A redução no pagamento de dividendos está relacionada ao ciclo atual de investimentos e ao aumento da alavancagem, que chegou a 2,9x no segundo trimestre de 2025.

“Tem um compromisso de 55%. A gente, quando pode, paga dividendos 100%. Tivemos que reduzir por causa do ciclo de investimento”, disse Sattamini.

Compromisso ESG e impacto social

Desde 2020, a Engie definiu 19 objetivos não-financeiros alinhados aos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável da ONU para 2030. Segundo Sattamini, a companhia tem um histórico de atenção às comunidades e ao meio ambiente, reforçando seu compromisso com práticas ESG.

“A gente abraçou as três letrinhas [ESG] há muito tempo […] Isso fez com que a companhia tivesse um olhar muito cuidadoso para as comunidades e para esses aspectos sociais e ambientais.”

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