“O verdadeiro soldado luta não porque odeia o que está à sua frente, mas porque ama o que está por trás dele.” (escritor inglês G.K. Chesterton)
- Apesar das fortes altas nas Bolsas na última semana, acreditamos que o momento continua exigindo cautela.
- Do lado da cautela: i) os indicadores econômicos e das empresas continuarão se deteriorando nas próximas semanas, ii) o tempo necessário para voltarmos à normalidade permanece incerto, e iii) as notícias positivas referentes aos pacotes anunciados ao redor do mundo (EUA, Europa) ficaram para trás.
- Do lado positivo: i) os pacotes de resgate que foram anunciados até agora são os maiores da história, e devem ajudar a aliviar os impactos da crise e evitar uma depressão econômica, ii) a China e a Ásia começam a dar sinais de voltar ao normal, o que é positivo para as commodities no Brasil, e iii) Além disso, em nossa live com o Ministro da Economia Paulo Guedes, ficou claro que o governo tem mapeado o tamanho do problema e está agindo com um grande senso de urgência para anunciar as medidas necessárias.
- Quando olhamos para 2021, acreditamos que o mundo voltará ao normal, e essa crise é diferente do que em 2008. Porém, revisamos a nossa estimativa para o Ibovespa ao final de 2020 para 94.000 pontos, de 132.000 pontos anteriormente, dado o forte impacto esperado nos lucros das empresas em 2020. Acreditamos que a volatilidade seguirá elevada no mercado nos próximos meses.
- Nosso time revisou o cenário econômico, além dos preços alvo das ações da nossa cobertura também. Elevamos a nossa recomendação para Compra de Neutro em Klabin e Magazine Luiza. Clique aqui para ver nossas recomendações setoriais.
A geração dos nossos antepassados passou por momentos extremamente difíceis nos tempos da 1ª e 2ª guerras mundiais, tendo que enfrentar o medo constante do que estava por vir, o medo de perder seus entes queridos, o medo de faltar alimento nas suas mesas e o pior, o medo de ser enviado ou de enviar seus filhos para a frente de batalha.
Hoje vivemos uma guerra parecida, porém contra um mal invisível, que se espalha pelo mundo a uma velocidade alarmante. O mundo demorou 3 meses para registrar 100.000 casos de Coronavirus e em 23 dias desde então já estamos próximos de 700.000 casos e mais de 30000 mortes. A curva de crescimento exponencial do COVID-19 continua, apesar de já ter desacelerado na China e em vários outros países asiáticos, com o epicentro agora migrando para a Europa, os EUA e as Américas.
Relativo ao que nossos antepassados viveram durante períodos de guerra, ser obrigado a nos isolar em nossas casas parece um preço ínfimo a se pagar, se isso for em nome de salvar milhares (senão milhões) de vidas.
Porém, esse baixo custo pessoal traz um custo gigantesco para a economia e para as as empresas.
Essa crise pode vir a ser maior que em 2008?
Enquanto há algumas semanas escrevemos que essa crise não seria tão séria quanto foi em 2008 pois provavelmente teria curta duração, as notícias do lado econômico vêm deteriorando de forma expressiva.
Já observamos o fechamento de países inteiros, de estados e de milhares cidades ao redor do mundo, e 1/3 da população mundial se encontra em quarentena. Quanto mais tempo essas quarentenas continuarem, maior será o impacto econômico, e quanto mais aumentar o desemprego e as falências de empresas, mais difícil será a recuperação da economia após o surto passar.
Por isso que a discussão de se realizar uma quarentena parcial– apenas dos mais vulneráveis e grupo de risco – faz sentido do lado econômico, porém não necessariamente do lado médico e da saúde pública. Nos eventos que a XP realizou nos últimos dias com autoridades médicas brasileiras, todos os médicos foram enfáticos sobre a necessidade de realização da quarentena para toda a população, e não apenas para a população de risco.
Em 2008-2009, segundo os dados do Banco Mundial, o PIB global caiu US$3,3 trilhões (-5,1%), em moeda atual. A crise de 2008 foi gerada por excesso de alavancagem no mercado bancário, que geraram uma bolha imobiliária nos EUA, e essa crise se alastrou para a economia real.
Por ter sido uma crise de balanço e de excesso de alavancagem, sair da crise de 2008 demorou muito tempo, sendo a recuperação de crescimento mais lenta da história dos EUA e do mundo no pós crise.
Porém, a recuperação deve ser mais rápida
Essa crise atual é sim muito diferente das crises passadas. Ela não se originou no mercado financeiro (como a bolha da internet em 2000, ou a bolha imobiliária em 2008) e depois se espalhou para a economia real. Essa crise é em primeiro lugar uma crise de saúde, e as vidas das pessoas é e tem que ser a preocupação principal.
O FMI (Fundo Monetário Internacional) e vários economistas no mundo já preveem um impacto de no mínimo US$3,0 trilhões na economia mundial em 2020, com base apenas em dados preliminares de impactos vistos até agora.
Na China, que foi onde o Coronavírus começou a se alastrar, estimativas de vários bancos sobre do PIB do 1º trimestre apontam para uma queda provavelmente superior a 10%, o que será o pior trimestre na história da China.
Nos EUA, vários economistas já estimam queda no PIB Americano de um digito alto no 1º trimestre, e de até –15 ou -20% de queda no 2º trimestre.
Na Europa, os casos e mortes causadas pelo Coronavirus continuam a subir de forma exponencial, forçando medidas cada vez mais drásticas de controle de movimentação de pessoas e quarentas. Isso indica que os impactos poderiam ser tão grandes quanto foram na o China.
Porém, da mesma forma que a queda será brusca, o exemplo da China mostra que a recuperação também pode ser relativamente rápida – os dados mostram que a China já voltou a 85% do consumo de carvão vs. antes do Ano Novo Chinês, enquanto que 84% das pessoas que saíram das cidades Tier 1 e 2 durante o Ano Novo, já retornaram a suas casas, e o tráfego de veículos já voltou a quase normalidade.
As áreas que ainda mostram sinais de fraqueza na China são restaurantes, turismo e varejo e shoppings – o que é natural dado que as pessoas ainda não voltaram aos seus hábitos normais do pré-coronavírus, e o medo de uma nova onda de contaminações continua. Isso traz lições importantes para os países que estão passando pelas quarentenas no momento.
A recuperação se dará em forma de “V”? 10% do PIB em estímulos nos EUA e Europa
Nas últimas semanas, já vimos mais de 40 bancos centrais no mundo cortando juros, além de pacotes de compras de títulos (“Quantitative Easing”) em nível recorde por parte dos EUA, Europa e Japão.
Além disso, o Congresso e o governo americano aprovaram um pacote de US$2 trilhões de auxílio, que equivale a quase 10% do PIB americano.
Na Europa, até a Alemanha já aceita utilizar política fiscal para combater a crise, uma política que eles historicamente foram contra, por sempre buscarem um orçamento balanceado. Esse pacote total poderia ser de EUR750 bilhões, ou também equivalente 10% do PIB alemão. O Banco Central Europeu também anunciou EUR750bn em compras de títulos no mercado.
Apesar das medidas anunciadas serem muito positivas para absorver os impactos da crise, a urgência nos seus anúncios também demonstra a gravidade da crise que os governos também enxergam.
O ponto que mais nos preocupa para determinar quão rápida será a recuperação é o risco de muitas pequenas empresas ficarem pelo caminho, e não conseguirem sobreviver a um cenário sem nenhuma ou com baixa ou nenhuma receita por 2-3 meses. Além de um número recorde de falências, isso também levará a um aumento exponencial no desemprego e também nos gastos fiscais.
A sondagem com empresas privadas brasileiras feitas pela XP na última semana mostrou que 60% das empresas brasileiras não conseguem aguentar um cenário de interrupção de 60 dias, e 40% não sobrevivem até mesmo uma interrupção de 30 dias.
Caso esse cenário ocorra, a recuperação após uma brusca recessão dessa poderá lenta, pois os danos causados às PMEs (pequenas e médias empresas) demoraria muito mais a se resolver.
PMEs têm menos acesso ao crédito, trabalham com um capital de giro e ciclo de caixa curto e são as primeiras empresas que os grandes bancos tiram crédito, justamente por terem um risco maior. Porém, as PMEs são cruciais para as economias, pois representam 99% do número de empresas e 52% dos empregos formais gerados no Brasil, e muito mais quando se incluirmos os empregados informais.
Esse problema de liquidez de pequenas e médias empresas, além dos setores mais afetados como bares & restaurantes, varejo e turismo e transporte aéreo, é a principal preocupação que os governos estão tentando evitar com esses pacotes anunciados.
No Brasil, o ministro da Economia Paulo Guedes nos disse em live feita pela XP Investimentos que o governo já liberou ou está para liberar R$750-800bn (c5% do PIB) em recursos emergenciais para conter a crise. Medidas incluem tanto auxílio ao mercado de crédito quanto novos gastos para auxiliar os empresários e evitar demissões. Acreditamos que essas medidas são positivas, e o governo tem o mapeamento do problema de perto, a dúvida que nos resta é se esses recursos chegarão a quem mais necessita, e se serão suficientes.
Veja aqui o nosso novo cenário Macroeconômico para o Brasil
O que pode reverter esse cenário?
Acreditamos que 4 principais pontos possam acontecer para que esse cenário se reverta:
- Sucesso confirmado nos remédios antivirais ou uma vacina efetiva surgindo no curto prazo (esse último menos provável);
- A curva de mortes associadas ao COVID-19 chegar em um pico e começar a desacelerar nas principais economias do mundo;
- Governos voltarem atrás nas medidas draconianas de quarentenas e fechamento de fronteiras, flexibilizando-as;
- Governos e Bancos Centrais anunciando drásticas medidas de controle da crise e de investimentos na economia e na saúde.
Dessas 4 razões, a 4ª é a que já tem ocorrido de forma mais clara, e o que tem levado a uma recuperação recente dos mercados. Em relação às restrições, é discutível se os governantes conseguirão relaxar as quarentenas sem antes ter havido ainda uma redução no número de mortes geradas pelo coronavírus, ou um importante achatamento da curva.
Momento continua exigindo cautela
Como dissemos no passado, apesar da baixa letalidade do COVID-19, as medidas drásticas que os governos estão sendo forçados a tomar no mundo para conter a pandemia estão tendo grandes impactos para a economia e para as empresas. As restrições estão tendo um enorme choque de demanda e de oferta ao mesmo tempo, para vários setores importantes para a economia.
Com isso, a crise da saúde rapidamente se transforma em uma crise econômica. Dado que as notícias nas próximas semanas devem seguir piorando, tanto do lado da saúde quanto do lado das empresas, e as notícias positivas dos pacotes anti-crise já ficaram para trás, acreditamos que o momento segue exigindo cautela.
Revisando a estimativa do Ibovespa
Nossa equipe revisou o cenário macroeconômico, os preços alvos e estimativas dos setores (link), e assim também revisamos o target para o Ibovespa.
Dado o forte impacto nos lucros das empresas previstos em 2020, porém com a expectativa de uma normalização em 2021, nossa estimativa caiu para 94.000 pontos ao final de 2020, frente a 132.000 pontos anteriormente. Nessa projeção, o índice atingirá um múltiplo de Preço/Lucro de 10,7x o lucro projetado para 2021, ainda abaixo da média histórica de 12,5x e o pico recente de 14x.
É importante frisar, porém, que acreditamos que possam haver novas baixas no mercado no curto prazo, antes que o índice recupere no 2º semestre. Como escrevemos no relatório “A Crise mais rápida da história”, o índice poderia recuar a 60,000 pontos caso o mercado caísse a média do que caiu em recessões globais passadas (equivalente a -18% em relação ao fechamento de sexta).
Caso a situação se deteriore na mesma medida que chegou em 2008, o índice poderia cair para um intervalo de 46,000 até 50,000 pontos, um cenário que hoje nos parece pouco provável.
A rápida atuação dos governos e Bancos Centrais ao redor do mundo visando tentar conter o impacto econômico das medidas de controle do vírus é algo muito positivo, e reduz drasticamente o potencial da crise se deteriorar para uma depressão econômica. Isso é uma mudança drástica de atitude frente ao que ocorreu em 2008, onde grandes bancos foram permitidos de ser levados à falência.
“Em momentos de crise, todos nós temos o potencial de mudar para um novo nível e fazer coisas que nunca pensamos serem possíveis.” (Stuart Wilde)
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