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Momentos turbulentos pela frente: revisando a carteira Top 10 ações XP

Relatório especial consolida respostas às principais dúvidas que o time de especialistas de análise da XP recebeu de investidores nos últimos dias.

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Relatório especial consolida respostas às principais dúvidas que o time de especialistas de análise da XP recebeu de investidores nos últimos dias.

Um cenário de alta turbulência e grande aumento da volatilidade e aversão a risco atingiu o mundo há cerca de um mês, chegando ao Brasil com fortes efeitos na Bolsa de Valores e provocando mudanças na nossa projeção de PIB e, por consequência, na nossa visão para o próprio Ibovespa em 2020 e 2021.

Nesse texto, você se aprofundará sobre os seguintes temas:

  1. A Bolsa brasileira pode cair ainda mais? Mudanças na carteira Top 10 ações
  2. Algo estrutural mudou?
  3. Correções fortes no Ibovespa no passado – qual a comparação com o momento atual?
  4. Nada bate o CDI? O futuro será diferente
  5. Devo investir em Investimentos Internacionais?
  6. Nossa projeção para o Ibovespa em 2020 e o os riscos a se monitorar.

A Bolsa brasileira pode cair ainda mais?

Sim, acreditamos que a Bolsa brasileira possa corrigir ainda mais no curto prazo, apesar das fortes quedas recentes. Isso porque as bolsas nos países desenvolvidos, e principalmente nos EUA e Europa, podem continuar sofrendo por conta do aumento dos riscos para a economia advindos dos impactos das restrições de oferta e demanda impostas pelo alastramento do Coronavírus – mais sobre isso abaixo. O Índice Ibovespa já caiu 18% desde o pico atingido no dia 23 de Janeiro, e já opera abaixo dos 100.000 pontos, pela primeira vez desde Agosto de 2019. Apesar dessa queda brusca, caso as Bolsas internacionais continuem em queda no curto prazo, dificilmente os ativos no Brasil conseguirão escapar ilesos desse cenário global mais conturbado.

Mudanças na carteira Top 10 – dado que o cenário externo tem se mostrando ainda mais desafiador, revisamos novamente nossa carteira Top 10 Ações XP, com a saída de JBS e Vale e inclusão de AmBev e Engie. Com isso, aumentamos ainda mais a exposição ao setor elétrico e consumo doméstico, reduzindo a exposição aos setores cíclicos globais e também o Beta da carteira - ou seja, a sensibilidade aos movimentos do mercado. Por ser uma carteira mensal, acreditamos que manter um portfólio mais defensivo no curto prazo é importante. Apesar disso, continuamos otimistas com as ações da JBS e da Vale, com recomendação de Compra nos dois papéis. Temos R$39/ação de Preço-Alvo para as ações da JBS e R$64/ação de Preço-Alvo para a Vale. Assim, esse movimento tático visa apenas reduzir o risco da carteira, migrando para papéis mais defensivos durante esse mês de março.

Para mais detalhes sobre cada um dos papeis acesse nossa Carteira Top 10 ações XP.

Além disso, ressaltamos a Carteira de Dividendos como uma boa alternativa no momento atual de mercado volátil e aumento da aversão a risco.

Algo estrutural mudou?

No Brasil, não vimos até agora mudanças estruturais que alterem a nossa visão positiva de médio prazo. Porém, no mundo, o alastramento do coronavírus pode levar a um grande choque tanto do lado da oferta quanto de retração de demanda, dada a grande restrição de circulação de pessoas, como cancelamento de eventos, voos, cruzeiros, funcionários de quarentenas e férias coletivas. Do lado da oferta, isso traz impactos para as cadeias de suprimentos, que são fortemente impactadas pela falta de produtos quanto mais tempo a restrição durar. Isso traz a dúvida no mercado se o mundo entrará em recessão ainda esse ano.

A forte alta nos preços dos títulos do governo americano, que trouxeram o rendimento dos Títulos do Tesouro Americano de 10 anos de 1,9%a.a no começo do ano para 0,66% na última sexta feira, mostram que o mercado está sim muito preocupado com o risco de uma recessão. Isso evidencia que investidores estão migrando seus investimentos rapidamente para ativos livres de risco, como as Treasuries (títulos do governo americano).

Além disso, o mundo vem de um ciclo de crescimento econômico que já dura 11 anos. Nos EUA, esse é o mais longo ciclo de crescimento da história – um ciclo longo porém com crescimento médio mais baixo do que ciclos passados.

O S&P500, principal índice da Bolsa Americana, negociava até Janeiro com múltiplos de avaliação bastante acima da média histórica. Em Janeiro, o múltiplo de Preço/Lucros estimados pros próximos 12 meses do S&P estava em 19x, contra uma média histórica de 15.8x. Após a recente queda de 12% desde o pico, o P/L reduziu para 16,7x, que ainda está acima da média histórica.

Além disso, vários estrategistas globais estimam que caso o mercado passe a precificar uma recessão nos EUA, o índice S&P500 poderia cair ainda mais 10-15% dos níveis atuais, trazendo o índice para a zona de um “Bear Market”, ou seja, correções acima de 20%.

Caso esse cenário se confirme, é difícil imaginar que a Bolsa Brasileira (e o Ibovespa) passaria incólume de mais uma forte correção das bolsas globais.

Correções fortes no IBOV no passado: como a atual se compara?

A tabela abaixo mostra todos os episódios de fortes correções no Ibovespa nos últimos 30 anos, ou seja, momentos no qual o índice caiu mais de 15% do pico ao vale. A correção média foi de 27,5% em 19 desses períodos, vs. -18% na correção atual. A duração média dessas correções foi de 115 dias, comparado a 43 dias da correção atual.

Além disso, caso haja recessão nos EUA ou no Brasil, as correções tendem a demorar mais (173 dias vs. 94 dias para correções na qual não houve recessão), e a correção também tende a ser mais forte. A média em períodos de recessão é de 36% de queda, de 26% em recessões apenas no Brasil e de 52% em períodos de recessão global. Os casos de correções mais fortes no Ibovespa (2001, 2008) não por coincidência ocorreram em momentos de recessão no mundo.

Do lado positivo, a Bolsa havia se recuperado já 1 e 3 meses após a correção, com uma média de performance de +13% após 1 mês e +34,6% nos 12 meses após atingir o vale nas correções.

Nada bate o CDI? O futuro será diferente

No Brasil, existe uma famosa frase no mundo dos investimentos: “Nada bate o CDI”. Faz sentido essa frase existir, pois nos últimos 20 anos realmente o CDI teve uma performance muito superior à da Bolsa, e com um risco muito menor. Porém, o futuro será muito diferente.

Como escrevemos no relatório A Nova Normal na semana passada, o Brasil está se tornando um país mais “normal”, no qual choques externos abrem espaço para cortes de juros pelo Banco Central. No passado, o oposto era verdade, e os juros subiam fortemente toda vez que havia uma crise externa, gerando um grande impacto sobre as empresas. Com a nova projeção da XP para a Selic em 3,50% para 2020, o CDI irá passar a render 2,5%a.a após impostos, menos que a inflação projetada em 3.0%aa.

Para se ter uma base de comparação, nos últimos 20 anos a Bolsa (medida pelo Ibovespa) rendeu 8,64%a.a, contra o CDI que rendeu 12,74%a.a. Nessa comparação, fica claro o porquê seguimos otimistas com Renda Variável no médio-longo prazo. Investidores terão que sair da sua zona de conforto e tomar maior risco para terem retornos mais altos.

Assim, fortes baixas na Bolsa abrirão oportunidades de investimentos para muitos investidores que: 1) já investem, porém mantem uma grande parcela de caixa e 2) ainda não investem, e podem passar a investir em empresas sólidas e com preços mais atrativos.

Além disso, o retorno da volatilidade na Bolsa faz lembrar aos investidores a importância de ter uma parcela relevante do seu patrimônio em caixa e ativos de renda fixa. Clique aqui e veja a carteira recomendada para o mês de Março do nosso time de alocação.

Devo investir em Investimentos Internacionais?

Dado que o dólar não para de subir frente ao Real e a outras moedas de mercados emergentes, essa é uma das perguntas mais frequentes que temos recebido recentemente. Projetar para onde vai o nível do câmbio é sempre extremamente difícil, porque moedas são impactadas por muitos fatores, como crescimento, juros, inflação, prêmio de risco, fluxos de investimentos, e é sempre uma conta relativa entre dois países. Por exemplo, no caso do Real vs. o Dólar Americano, todos esses fatores têm que ser considerados no Brasil vs. os EUA.

Por isso, é sempre importante manter uma parte do seu portfólio investido em moedas fortes, como o Dólar, Euro e Libra. Qual o percentual ideal de investimentos no exterior, e quais os melhores ativos para comprar?

Uma conta que achamos interessante fazer para determinar qual o melhor % de investimentos internacionais na sua carteira é estimar qual o percentual dos gastos anuais que são dolarizados, por exemplo em viagens internacionais, compra de produtos eletrônicos (telefones, televisão e afins) e produtos importados (bebidas, comidas) entre outros. Caso esse valor seja entre 20-30% dos seus gastos anuais, seria ideal manter uma parcela semelhante de investimentos em moedas como o Dólar. Isso irá proteger sua carteira contra grandes desvalorizações da moeda brasileira e atuará como um hedge para que os gastos em despesas internacionais consigam se manter nos níveis.

Veja uma lista de ativos internacionais para investir e as carteiras recomendadas do nosso time de alocação. Além disso, clique aqui e veja a lista de COEs emitidos pela XP.

Esse ano a Bolsa no Brasil já acumula perdas de 26,5% em dólares, sendo a pior Bolsa de valores no mundo em 2020. Grande parte desse movimento se deu pela alta do dólar frente ao Real (-11%), mas também pela queda do índice em moeda local (-15%). Em algum momento, essa queda brusca em dólares pode voltar a atrair os estrangeiros a comprar Brasil. Porém, para isso acontecer, o cenário externo tem que voltar a se acalmar – o que não deve ocorrer no curto prazo.

Target para o Ibovespa em 2020 – quais os riscos a se monitorar?

Na semana passada reduzimos nosso target para o Ibovespa em 2020 de 140.000 para 132.000 pontos, pois havíamos reduzido a projeção de lucros de consenso para a Bolsa em 2020 em 6%.

Os 2 maiores riscos que existem em relação a essa estimativa são: 1) caso a desaceleração global continue aumentando e uma recessão se confirme, os lucros poderiam cair bem mais, principalmente dos setores mais cíclicos da Bolsa (commodities são 25% do índice), e 2) os múltiplos de avaliação (Preço/Lucro) continuem contraindo no mundo, por conta da elevação do prêmio de risco e incertezas. Por exemplo, apesar do P/L do Ibovespa já ter caído de 13 para 11,5x, o ponto mais baixo desse múltiplo foi em 2008, quando o P/L da Bolsa chegou a negociar a 5,0x.

Continuaremos monitorando esses dois fatores ao revisarmos nossos cenários no próximo mês.

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