Resumo
No cenário internacional, o mercado continua dividido com relação à magnitude do corte de juros nos EUA (0,25 p.p. vs. 0,50 p.p.) na reunião de setembro, após dados de mercado de trabalho com sinais mistos. Ademais, a OPEP+ estendeu o período de cortes de produção de petróleo até o final de novembro, o que não impediu a queda do preço internacional em cerca de 9% na semana (barril do tipo Brent).
No Brasil, o PIB do 2º trimestre veio acima das expectativas, impulsionado pela demanda doméstica. Refletindo a surpresa, revisamos nossa projeção para o crescimento do PIB em 2024, de 2,7% para 3,1%.
No âmbito fiscal, o governo detalhou o Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA) de 2025 – documento que mostra as estimativas do governo de receitas e despesas para o próximo ano. De modo geral, o cenário de cumprimento da meta de resultado primário nulo permanece desafiador.
Gráfico da Semana
Cenário internacional
Dados mostram equilíbrio no mercado de trabalho dos Estados Unidos
Os indicadores de mercado de trabalho dos Estados Unidos referentes a agosto foram divulgados nesta semana. O principal relatório, o Nonfarm Payroll, registrou geração líquida de 142 mil empregos formais, abaixo das expectativas de 165 mil. Outros dados do mercado de trabalho vieram com sinais mistos. O relatório JOLTS sugeriu reequilíbrio. Por outro lado, o relatório ADP, que apresenta a criação líquida de vagas no setor privado, veio abaixo das estimativas, enquanto o indicador ISM de emprego – uma sondagem com empresários sobre o sentimento da economia – veio mais forte e o pedido de auxílio-desemprego continuou em patamares baixos.
O mercado continua dividido com relação à magnitude do corte de juros nos EUA (0,25 p.p. vs. 0,50 p.p.) na reunião de setembro. Em linhas gerais, os dados sugerem que o mercado de trabalho está se reequilibrando, mas ainda em patamar sólido. Esperamos que o Fed (banco central dos EUA) corte os juros em 0,25 p.p.. A fala do Diretor Christopher Waller, após a divulgação dos dados, corrobora nossa visão. Waller avaliou que o mercado de trabalho está equilibrado e não fraco, enquanto a economia continua sólida e sem sinais de recessão. Na visão dele, uma aceleração seria apropriada no caso de deterioração (e não arrefecimento) das condições de emprego e renda. Esta comunicação é consistente com um início gradual do ciclo de corte de juros, deixando as portas abertas para uma aceleração a depender dos dados econômicos.
Presidente do Banco do Japão afirma que continuará aumentando as taxas de juros, caso necessário
O Presidente do Banco Central do Japão (BoJ, em inglês), Kazuo Ueda, indicou que a autoridade monetária continuará subindo a taxa de juros caso a economia mostre riscos de aceleração inflacionária. Ueda acredita que, mesmo após o aumento da taxa básica em julho, a economia permanece estimulada, uma vez que os juros reais seguem consideravelmente negativos.
Os próximos passos do BoJ serão importantes, tendo em vista que a decisão de subir os juros em julho foi um dos motivos por trás da depreciação das moedas emergentes no início de agosto. Leia a seção “Decisão de juros no Japão impactou as moedas emergentes” do Economia em Destaque: Fed indica queda de juros, enquanto Copom mostra cautela para entender melhor.
OPEP+ estende período de cortes de produção de petróleo como tentativa de reanimar o mercado
Os preços do petróleo do tipo Brent caíram cerca de 9% nesta semana, para US$ 71 por barril, o menor valor desde junho de 2023. O movimento ocorreu devido à percepção de recuo na demanda da commodity em meio à desaceleração econômica global. Dados recentes da China – principal consumidor de petróleo – mostraram fraqueza no setor manufatureiro. Adicionalmente, a notícia de potenciais aumentos na oferta de petróleo da Líbia – graças a sinais de acordo para resolver uma disputa que interrompeu a produção e as exportações de petróleo do país – também contribuiu para a queda dos preços.
Como tentativa de recuperar os preços, a Opep+ concordou em estender os cortes de produção – que deveriam finalizar em outubro – até o final de novembro. Por ora, os efeitos do anúncio foram limitados.
A queda nas cotações do petróleo ajuda na inflação global, mas afeta a balança comercial e a arrecadação de tributos de países produtores, como o Brasil.
Enquanto isso, no Brasil…
Novamente, PIB surpreende para cima…
O PIB do Brasil cresceu 1,4% no 2º trimestre quando comparado ao 1º trimestre de 2024, acima das expectativas (ao redor de 1,0%). O resultado veio após avanço de 1,0% no 1º trimestre e confirmou a força da atividade doméstica no curto prazo. De maneira geral, o crescimento econômico no período foi impulsionado pela sólida demanda interna, com destaque à resiliência do consumo e recuperação dos investimentos. O mercado de trabalho aquecido, o elevado nível de transferências fiscais e o aumento das concessões de crédito vêm contribuindo para essa dinâmica favorável.
Para mais informações, leia nosso relatório “PIB surpreende mais uma vez e cresce 1,4% no segundo trimestre de 2024”.
…refletindo a surpresa, revisamos nossa projeção para o crescimento do PIB em 2024, de 2,7% para 3,1%
Divulgamos nosso relatório Brasil Macro Mensal de setembro. Entre os destaques, a projeção para crescimento do PIB em 2024 subiu de 2,7% para 3,1%, refletindo as surpresas positivas no 2º trimestre e a demanda interna aquecida. Além disso, a expectativa de déficit primário recuou de 0,4% para 0,3% do PIB, devido ao aumento de receitas extraordinárias. Assim, a probabilidade de cumprimento da meta de resultado primário subiu. Para 2025, entretanto, o objetivo de elevar a arrecadação e controlar as despesas será desafiador. O cenário de política monetária continua a indicar elevação da taxa Selic dos atuais 10,50% para 12,00% até janeiro de 2025.
Para detalhes, leia o relatório “Brasil Macro Mensal: PIB mais forte, meta fiscal mais próxima”.
Governo detalha o PLOA de 2025
O Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA) de 2025 – documento que mostra as estimativas do governo de receitas e despesas para o próximo ano – trouxe que o limite geral de gastos no ano que vem será de R$ 2,249 trilhões. A consolidação fiscal recairá quase exclusivamente sobre as receitas: o órgão projeta R$ 168,3 bilhões em receitas adicionais, sendo R$ 121,5 bilhões em medidas extraordinárias e R$ 46,7 bilhões em receitas condicionais. Entretanto, as receitas extraordinárias são incertas – para 2024, por exemplo, o governo já diminuiu em quase 40% sua estimativa inicial, que ainda possui baixa probabilidade de realização –, e as condicionais podem enfrentar restrições políticas, visto que dependem de aprovação legislativa. Com relação às despesas, o projeto do orçamento incluiu uma revisão de R$ 25,9 bilhões nos gastos, principalmente nas áreas previdenciária e de assistência social. Avaliamos que o “pente-fino” não é uma medida de ajuste fiscal eficaz, dado seu pequeno efeito sobre o valor médio dos benefícios e/ou fluxo de novos beneficiários de previdência social e assistência social, que devem continuar a crescer em função do envelhecimento da população.
As incertezas sobre o orçamento seguem para 2025. Nossas projeções apontam para déficit de R$ 63,7 bilhões, abaixo do indicado pelo PLOA. Nossa visão é que o orçamento se baseou em medidas incertas que devem ter desempenho abaixo do esperado, sendo necessária a busca de novas fontes ao longo do ano para atingir o limite inferior da meta, assim como em 2024. Do lado das despesas, vemos subestimação na previdência social e no BPC/LOAS, mesmo com as medidas de revisão que devem ser implementadas.
Secretário da Fazenda esclarece questões fiscais
Em entrevista ao jornal “Estadão”, o Secretário Executivo da Fazenda, Dario Durigan, afirmou que o programa “Auxílio-Gás” voltará a ser contabilizado no Orçamento de 2025 e respeitar as regras fiscais, após o PLOA 2025 indicar que a medida seria majoritariamente financiada por renúncia de receitas, contornando assim o teto de despesas determinado no arcabouço fiscal, o que gerou preocupações no mercado. Além disso, quando questionado se existe a possibilidade de colocar um limite para que despesas como previdência, saúde e educação cresçam até 2,5% acima da inflação – teto imposto para as despesas gerais no arcabouço fiscal -, afirmou que isto está em debate, amadurecendo no governo e que na “hora certa” irão anunciar.
Durigan afirmou ainda que o compromisso do governo é manter a meta deste ano, e que não exclui a adoção de uma medida adicional no final de 2024 visando tal objetivo.
Diretor do Banco Central sugere que o começo do ciclo de alta de juros será gradual, caso ocorra
O Diretor de Política Econômica do Banco Central, Diogo Guillen, afirmou que “a última ata foi uma forte sinalização de que o começo de um ciclo de ajuste de juros seria gradual”. A autoridade acrescentou que tanto o começo como o fim de ciclos costumam ser marcados por movimentos graduais. O Diretor reforçou que as decisões de política monetária seguem dependentes do comportamento dos dados econômicos e que o mandato do Banco Central é levar a inflação à meta.
A nosso ver, a comunicação recente dos membros do Copom (Comitê de Política Monetária) corrobora nosso cenário de início de um ciclo moderado de alta de juros na reunião deste mês.
Apesar da queda em julho, produção industrial segue em tendência de alta
No Brasil, a produção industrial recuou 1,4% em julho contra junho, abaixo das expectativas. Quando comparamos com os resultados de julho de 2023, entretanto, a indústria total saltou 6,1%. A abertura setorial mostrou resultados favoráveis, com 18 das 25 classes de atividade crescendo em julho. Ademais, destacamos a forte expansão nas categorias de Bens de Capital, um sinal encorajador para a Formação Bruta de Capital Fixo no 3º trimestre, e Bens de Consumo Duráveis. O segundo agrupamento refletiu a alta mensal acentuada na produção de: Veículos; Máquinas, Aparelhos e Materiais Elétricos; e Móveis.
Em linhas gerais, os dados de julho não alteram nossa visão de sólida tendência de crescimento da indústria brasileira no curto prazo.
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O que esperar da semana que vem
Na agenda internacional, destaque para os dados de inflação ao consumidor e ao produtor na China referentes a agosto (sábado). Nos Estados Unidos, também serão divulgados os dados de inflação ao consumidor (4ª-feira) e ao produtor (5ª-feira). A decisão de juros na zona do euro será publicada na 5ª-feira, com expectativa de segundo corte no ciclo de afrouxamento monetário do BCE. Na 6ª-feira, uma série de indicadores econômicos da China será publicada – relativa a agosto. Entre eles, produção industrial, vendas no varejo, investimentos em ativos fixos, taxa de desemprego e índice de preços de imóveis.
No Brasil, o IPCA de agosto terá protagonismo (3ª-feira). A expectativa é de forte desaceleração em relação ao mês anterior, sobretudo pelo recuo nos preços de energia elétrica e passagens aéreas, ao passo que combustíveis e mensalidades de cursos devem acelerar. Do lado da atividade econômica, haverá publicações relevantes referentes a julho. O IBGE divulgará a Pesquisa Mensal de Serviços na 4ª-feira e a Pesquisa Mensal de Comércio na 5ª-feira, enquanto o BCB publicará o IBC-Br – proxy mensal do PIB – na 6ª-feira. Veja as nossas projeções abaixo.
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