Resumo
No Brasil, a agenda econômica foi cheia de indicadores, mas o ponto mais importante foi o anúncio do novo arcabouço fiscal. Em poucas palavras, as novas regras limitam a expansão das despesas ao crescimento real de receita e ao resultado primário realizado. Na nossa avaliação, as medidas são positivas, mas insuficientes para estabilizar nossa dívida.
Nos EUA, o número de PCE – índice de inflação mais importante para o Fed – veio em linha com a nossa expectativa e indica a continuidade do processo de desinflação. Além disso, a economia americana cresceu 2,0% no ano passado, e o último número de índice de confiança do consumidor mostrou otimismo apesar da crise bancária recente e alta do juro.
Na Europa, o ritmo de desinflação continua, mas ainda existem pressões altistas em outros setores; na China, dados de atividade mostram recuperação da economia após fim das medidas de restrição.
Cenário internacional
Inflação do PCE tem alta menor que projeções
Em fevereiro, o núcleo da inflação medida pelo deflator de consumo dos EUA – medida de inflação preferida do banco central americano (Fed), teve alta mensal de 0,30%, abaixo da projeção de mercado de 0,4% A inflação desacelerou frente aos 0,52% de março, mas a dinâmica desafiadora no setor de serviços persiste e preocupa o Fed. Apesar da preocupação acerca da estabilidade do sistema bancário local, vemos que esses riscos devem terminar logo e não devem afetar o futuro da política de juros no resto do ano.
PIB dos EUA cresce 3,9% no último trimestre
A estimativa final do PIB do quarto tri de 2022 confirmou expansão de 3,9% frente ao trimestre anterior. Com isso, o crescimento acumulado em 2022 ficou em 2,06%. As projeções dão conta de desaceleração da economia americana, refletindo as condições financeiras mais apertadas, e nossa estimativa para o PIB de 2023 é de 0,3% em relação a 2022.
Índice de confiança indica otimismo dos consumidores americanos
A confiança do consumidor dos EUA melhorou em março. O índice do Conference Board aumentou para 104,2, de uma leitura de 103,4 em fevereiro. Os números – que capturaram respostas até 20 de março, pouco mais de uma semana após a quebra do Banco do Vale do Silício – sugerem que, por ora, a turbulência financeira está tendo pouco impacto sobre a confiança do consumidor.
Atividade na China acelera com o fim das restrições anti-Covid
Na China, o índice de gerentes de compra registrou um aumento de 56.4 pontos para 57.0 pontos. Este indicador, que faz uma sondagem com gerentes de empresas de diversos setores, é calculado de forma que leituras acima de 50 indicam expansão. Na quebra por setores, o índice serviços registrou forte aumento de 56.3 pontos para 58.2 pontos. O índice de manufatura registrou uma leve queda de 52.6 pontos para 51.9 pontos, mas se manteve acima de 50. Estes dados sugerem solida recuperação do crescimento da economia após o fim das restrições anti-Covid. Estimamos crescimento de 5,6% para o PIB chinês em 2023.
Inflação na Europa continua arrefecendo
Na Europa, o índice harmonizado de preços ao consumidor (HICP, sigla em inglês) de março registrou um aumento de 0,9% no mês, e a inflação anual diminuiu de 8,5% em fevereiro para 6,9% em março (consenso: 7,1%). A queda foi liderada por preços mais baixos de energia, mas as pressões sobre preços persistem em outros setores. Desta forma, entendemos que o banco central vai continuar subindo juros nos próximos meses.
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Enquanto isso, no Brasil...
Ministério da Fazenda anuncia novo arcabouço fiscal
O Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, apresentou nesta quinta-feira a nova regra fiscal que substituirá o atual teto de gastos. Em linhas gerais, a proposta combina um limite de gastos com metas de resultado primário. O limite de gastos será corrigido pela inflação mais uma parcela (70%) da variação real das receitas. O aumento real será de 0,6% se a variação for inferior a zero e de 2,5% se for maior. As metas de resultado primário foram definidas, partindo de -0,5% do PIB este ano até +1,0% em 2026.
Acreditamos que o arcabouço é positivo ao dar limite a quanto ao crescimento das despesas à frente, especialmente pelo fato de nossa dívida já ser elevada. Entretanto, esse limite é relativamente elevado. Para fechar a conta, será necessário aumentar a arrecadação.
Haddad reforçou essa avaliação, e prometeu apresentar, na semana que vem, um pacote de medidas que elevarão a arrecadação entre 100 e 150 bilhões de reais até 2024.
Para mais detalhes, confira o relatório aqui.
Ata da última reunião do Copom tem tom duro
Publicado na terça-feira, o texto apontou que o processo de convergência da inflação à meta leva tempo e demanda ajuda da política fiscal. Ao explicar os estágios do arrefecimento no ritmo de alta nos preços, apontou que a normalização das cadeias de oferta e arrefecimento da atividade já estão acontecendo, mas medidas ‘para-fiscais’ expansionistas podem aumentar a taxa de juro neutra (aquela que não expande nem contrai a economia), exigindo um patamar de Selic ainda maior para que a desinflação ocorra, e por isso ‘a importância do crédito público e privado permanecer em taxas sensíveis à Selic’. Citou também a desancoragem de expectativas de inflação para os próximos anos e sua importância para a política monetária, referenciando implicitamente o debate acerca do aumento do centro da meta para os próximos anos
Ainda, citou o esforço do ministério da Fazenda na elaboração do novo arcabouço fiscal, mas pontuou que “não existe relação mecânica entre a convergência da inflação e o anúncio do novo arcabouço”.
Nesse sentido, não sinalizou corte de juros nas próximas reuniões, consistente com nosso cenário de Selic no patamar atual de 13,75% em 2023.
Taxa de desemprego em queda, mas criação de vagas formais vem acima do consenso
Conforme publicado nesta manhã (31) na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD Contínua), a taxa de desemprego brasileira subiu de 8,4% no trimestre móvel até janeiro para 8,6% no trimestre móvel até fevereiro, resultado ligeiramente melhor que as expectativas (XP e consenso de mercado apontavam para 8,7%). Segundo nossas estimativas, a taxa de desemprego mensalizada – com ajuste sazonal – ficou estável em 8,6% entre janeiro e fevereiro, após três altas consecutivas na margem. Nossos cálculos indicam que a taxa de desocupação chegou a 8,2% em outubro de 2022. De acordo com as nossas previsões, a taxa de desemprego dessazonalizada atingirá 9,0% no final de 2023, após 8,2% no final de 2022. Por fim, antevemos taxa de desemprego média de 8,9% este ano, após 9,3% no ano passado.
Paralelo a isso, o relatório do CAGED (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), divulgado ontem, mostrou criação líquida de 242 mil empregos formais em fevereiro, muito acima das expectativas (XP e consenso de mercado esperavam adição de 170 mil). Na estimativa com ajuste sazonal, foram criadas 66.5 mil vagas, ante 70 mil em janeiro. Projetamos criação líquida de 800 mil vagas em 2023, após forte aumento de 2,04 milhão em 2022. Nossa previsão para o crescimento do PIB este ano segue em 1%;
Produção industrial tem queda em janeiro
A produção industrial recuou 0,3% em janeiro de 2023 ante dezembro de 2022, em linha com as expectativas (consenso de mercado: -0,3%; XP: -0,1%). Esse resultado veio após dois meses de virtual estabilidade na margem. Em comparação a janeiro de 2022, entretanto, o indicador avançou 0,3%, significativamente abaixo das projeções (consenso: 1,1%; XP: 1,6%). Nosso cenário considera um crescimento de 1% para o PIB total em 2023, com uma leve redução do PIB da Indústria (-0,1%);
Governo central tem déficit em fevereiro
O Governo Central registrou déficit primário de R$ 41,0 bilhões em fevereiro, resultado próximo à nossa estimativa (R$ 40,5 bilhões) e à mediana das previsões do mercado (R$ 36,6 bilhões). Em fevereiro de 2022, a Secretaria do Tesouro Nacional registrou saldo negativo de R$ 20,4 bilhões. Apesar do rombo no mês passado, o Governo Central acumulou superávit primário de R$ 37,8 bilhões no 1º bimestre no ano. Projetamos que o Governo Central apresentará déficit primário ao redor de R$ 110 bilhões em 2023 (1,0% do PIB);
O que esperar da semana que vem
Na próxima semana, a agenda de indicadores será menos agitada.
No Brasil, na seara de indicadores serão divulgados a balança comercial de março, o e o número de venda de veículos da Anfavea. Todavia, o fato econômico mais importante será o conjunto de medidas de aumento de receitas – na ordem de 100 bilhões, de acordo com a estimativa do governo – que ainda não foram detalhados, e são importantes para o objetivo de estabilizar (e reduzir) a dívida pública.
No resto do mundo, números de PMI para China, EUA e Zona do Euro. Em relação a economia americana, o mercado acompanhará atentamente a criação de vagas no setor privado (Non-farm payroll, em inglês) e outros números referentes ao mercado de trabalho, todos para março.
Por fim, publicaremos nosso relatório Macro Mensal de abril
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