O Grupo Raízen é o maior grupo de combustível integrado do mundo, atuante desde a produção de cana-de-açúcar até a distribuição de combustíveis. Além disso, é o principal fabricante de etanol de cana-de-açúcar do país e o maior exportador individual de açúcar de cana no mercado internacional. No início da safra 2020/21, a empresa foi negativamente afetada pelo avanço da pandemia da covid-19 e das medidas de distanciamento social, que foram responsáveis pela redução do consumo de etanol e contração das suas cotações. Porém, a recuperação da atividade econômica a partir de meados de maio foi responsável pelo aumento da demanda por combustíveis no país, ajudando na retomada dos resultados da empresa. No exercício, a Raízen apresentou contração de 3,6% em seu EBITDA ante o acumulado na temporada anterior, para R$ 6,8 bilhões. A dívida líquida totalizou R$ 12,9 bilhões e a relação Dívida Líquida / EBITDA atingiu 2,1x ao fim de março, ante 1,9x em março de 2020. A empresa possui covenant de alavancagem de 3,5x.
Destaques positivos
- Maior produtor de cana de açúcar global em volume de moagem.
- Segunda maior distribuidora de combustíveis no Brasil.
- Verticalização dos negócios de etanol e diversificação das operações.
Pontos de atenção
- Suscetível a quebras de safra.
- Dependência de fornecedores.
- Exposta à volatilidade de preços e de mercado de açúcar e combustíveis
- Eletrificação da rede de carros.
Quem é a Raízen?
História
A Raízen Energia foi fundada em 2011, por meio da integração de parte dos negócios da Cosan, até então maior produtora mundial de açúcar e álcool, e da operação brasileira da Shell. A nova empresa assumiu as unidades da Cosan responsáveis pelas atividades de produção de açúcar e etanol e cogeração de energia e as operações de distribuição e comercialização de combustíveis de ambas as companhias.
Em 2012, a Raízen consolidou parceria com a rede de postos Mime, original de Santa Catarina, reforçando sua presença no sul do Brasil.
O primeiro duto para transporte exclusivo de etanol do mundo foi inaugurado em 2013 pela empresa Logum, a qual a Raízen possui participação. O empreendimento transporta o álcool da cana entre os centros produtores e consumidores de Goiás, Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro.
A primeira emissão de debêntures da companhia ocorreu em 2013, com captação de R$ 750 milhões.
A empresa adquiriu os ativos de refino e distribuição de combustíveis da Shell na Argentina em 2018, primeiro passo para a internacionalização das suas operações.
Em fevereiro de 2021, a Raízen anunciou acordo para aquisição da Biosev, uma das líderes mundiais no setor sucroalcooleiro, com 13 unidades produtoras no país. A transação envolve a emissão de novas ações e o desembolso de R$ 3,6 bilhões, para refinanciamento da dívida da controladora, e foi aprovada pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) no último mês de março.
Atuação
O Grupo Raízen é o maior grupo de combustível integrado do mundo, atuante desde a produção de cana-de-açúcar até a distribuição de combustíveis. Além disso, é o principal fabricante de etanol de cana-de-açúcar do país e o maior exportador individual de açúcar de cana no mercado internacional.
A empresa possui capacidade instalada para moagem de 73 milhões de toneladas de cana-de-açúcar, que produzem cerca de 2,5 bilhões de litros de etanol por ano e 4,2 milhões de toneladas de açúcar.
Com a concretização da aquisição da Biosev, a Raízen aumentará seu número de usinas produtivas no Brasil de 26 para 35. À nível de grandeza, essas 35 usinas juntas foram responsáveis pela moagem de 105 milhões de toneladas de cana na safra 2019/20, o que correspondeu a 17,8% da produção da região Centro-Sul do Brasil.
As atividades voltadas à produção e comercialização de açúcar, etanol e cogeração de energia a partir do bagaço de cana-de-açúcar estão ligadas à Raízen Energia (42,7% do EBITDA da Safra 2019/20), enquanto as atividades de distribuição de combustíveis sob a marca Shell, suprindo rede de postos de serviços, bases em aeroportos e clientes B2B no Brasil e na Argentina, estão ligadas à Raízen Combustíveis (57,3% do EBITDA da Safra 2019/20).
Presença
A Raízen conta com 26 unidades produtivas na região Centro-Sul do Brasil, localizadas nos estados de São Paulo, Mato Grosso do Sul e Goiás. A empresa também opera duas unidades na cidade de Buenos Aires (Argentina).
Entre as unidades produtivas e os postos de combustíveis, a companhia conta com 62 terminais de distribuição espalhados ao redor do país para dar vazão à sua produção. Na Argentina, a Raízen possui três depósitos e dois terminais em aeroportos.
Na frente de distribuição de combustíveis, a companhia atua no Brasil por mais de 5.000 postos e na Argentina por mais de 1.000, ambos sob a bandeira Shell.
Composição acionária
Shell (50,0%): multinacional anglo-holandesa. Atua nos segmentos de energia (petróleo, gás natural e bioenergia) em mais de 130 países. É uma das maiores empresas do mundo em receita bruta.
Cosan (50,0%): é uma das maiores empresas do país, com investimentos nos setores de agronegócio, distribuição de combustíveis e gás natural e lubrificantes. Seus principais negócios são: Raízen, Comgás e Moove. A Cosan S.A. é listada na B3 no mais alto nível de governança corporativa (“Novo Mercado”).
Principais fatores do crédito
Para melhor entendimento, esclarecemos que a safra 2020/2021 na região Centro-Sul do Brasil abrange o período de colheita, entre abril e dezembro de 2020, e a entressafra, entre janeiro e março de 2021. Suas variações também se aplicam (ex: 2019/2020 seria o intervalo de abril de 2019 a março de 2020).
Fonte: Raízen. Elaboração: XP.
Cenário atual
Safra 2020/21
A Safra 2020/2021 do setor sucroalcooleiro foi marcada por choques de oferta e de demanda, inicialmente ocasionados pela guerra de preços de petróleo entre Rússia e Arábia Saudita, mas depois, ditados pela pandemia da covid-19 e seus desdobramentos.
Em um primeiro momento da pandemia, as cotações do açúcar e etanol foram impactadas. Contudo, houve também desvalorização do real frente ao dólar, e, como consequência, a remuneração do açúcar exportado foi maior.
A partir do relaxamento das medidas de distanciamento social, observado com maior intensidade em junho de 2020, os preços dos produtos começaram a se recuperar, beneficiando o açúcar e o etanol no mercado local. Ao fim da safra, em março de 2021, ambos eram negociados a preços favoráveis, fato raramente observado nos últimos anos.
Do lado operacional, as usinas do Centro-Sul apresentaram ganho médio de produtividade da cana de 3,1% no exercício, em virtude das chuvas acima da média no período de entressafra, e crescimento de 8,0% na quantidade de Açúcar Total Recuperável (ATR) produzido por hectare na mesma temporada, dada a estiagem no momento da colheita, já que a cana retém mais açúcar nessas condições. Em razão do avanço dos preços do açúcar, que cresceram mais do que os de etanol, as usinas adotaram um mix mais voltado para a produção do adoçante.
ATR é a sigla para Açúcar Total Recuperável, ou seja, a quantidade de açúcar (em quilogramas) que de fato sai da cana colhida (em toneladas). Nessa conta, por exemplo, é excluído o bagaço da cana, que pode ser reutilizado de outras formas.
Safra 2021/22
Na Safra 2021/2022, a manutenção do clima seco foi responsável pelo atraso no início da moagem. Além disso, a redução da área plantada em função da migração de fornecedores para outras commodities de rentabilidade maior no momento, como milho e soja, o envelhecimento do canavial em razão da diminuição do plantio na safra passada, e a manutenção das condições meteorológicas desfavoráveis, também deverão contribuir para a redução da oferta de cana nesta temporada.
A rentabilidade do açúcar deverá permanecer mais atraente do que a do etanol na safra atual. Contudo, sua produção deverá ser menor do que no último exercício, em função do menor ATR da safra e maior demanda de combustível, com o relaxamento das medidas de distanciamento social.
Destaques operacionais
O processamento de cana pela Raízen na safra 2020/2021 atingiu 61,5 milhões, valor 3% superior ao acumulado na safra anterior. Nesse intervalo, a produção da Raízen seguiu voltada para o açúcar, com 52% da cana processada sendo voltada ao processamento do adoçante, em função da melhor dinâmica de preços. Na temporada anterior, o mix de produção foi de 49% para o açúcar vs. 51% para o etanol.
A companhia registrou produção recorde de 8,3 milhões de toneladas de açúcar total recuperável (ATR), medida de capacidade da cana a ser convertida em açúcar ou álcool, valor 6,5% superior ao apurado no último ciclo. A maior produção é consequência do aumento da produtividade agrícola, que passou de 9,6 ATR/ha para 10,2 ATR/ha, decorrente de maiores investimentos em manejo, plantio e trato.
Na operação de distribuição de combustíveis no Brasil, o volume de ciclo Otto vendido na safra 2020/2021 sofreu queda de 12% ante a última temporada, sendo afetado pelas restrições de mobilidade. Enquanto isso, o volume de diesel apresentou avanço de 4%, beneficiado pelo forte desempenho do agronegócio.
A matriz de combustíveis do Ciclo Otto (etanol hidratado e gasolina) é utilizada na frota de veículos de passeio e carga leve.
Destaques financeiros
A métrica de Earning Before Interests, Taxes, Depreciation and Amortization (EBITDA) é um indicativo da geração de caixa operacional da empresa, sem levar em consideração os efeitos de receitas e despesas financeiras, impostos, depreciação e amortização. Apesar de não ser uma métrica auditada ou enquadrada nos padrões contábeis, é amplamente utilizada para análise de empresas. O EBITDA em relação ao endividamento líquido é uma das principais métricas utilizadas na análise de crédito.
Receita líquida e EBITDA
A Raízen apresentou receita líquida de R$ 120,6 bilhões na safra 2020/21, retração de 5,0% frente à receita da última temporada, explicado em sua maior parte pela menor rentabilidade e volume da distribuição de combustíveis, principalmente na primeira metade da safra.
Enquanto isso, o EBITDA totalizou R$ 6,6 bilhões, queda de 3,6% na mesma janela, com margem de 5,75% (ante 5,67% na última temporada). A melhor margem é reflexo de ganhos de eficiência em custos.
Aponta-se que a margem de distribuição de combustíveis é significativamente inferior à margem da produção de açúcar e etanol.
Endividamento e alavancagem
A dívida líquida ao fim de março totalizou R$ 12,9 bilhões, expansão de 32,2% frente ao apurado no mesmo período do ano anterior, decorrente de novas dívidas contraídas no intervalo, mais notavelmente a emissão de debêntures e Cédulas do Produto Rural Financeiras (CPR-Fs), além do recebimento antecipado referente a exportações em moeda estrangeira.
Enquanto isso, a relação Dívida Líquida / EBITDA atingiu 2,1x ao fim de março, ante 1,9x no mesmo período do ano anterior. O grupo não está sujeito ao cumprimento de índices financeiros.
A Raízen encerrou o exercício com saldo em caixa de R$ 6,5 bilhões, valor suficiente para o cumprimento das obrigações financeiras até meados de 2023. Ao considerarmos nas disponibilidades a linha de crédito rotativa com acionistas e sindicato de bancos de US$ 1 bilhão, o saldo seria suficiente para cumprimento até meados de 2024.
Pontos de atenção
Suscetível a condições climáticas e quebras de safra
A região Centro-Sul do Brasil atravessa períodos de estiagem com uma certa recorrência, o que prejudica a agropecuária na região como um todo. Já que a cana demanda alta disponibilidade de água para seu desenvolvimento, tais períodos de seca podem ocasionar a morte de lavouras, culminando na quebra de safra.
Durante a safra 2018/19, por exemplo, a região de Ribeirão Preto sofreu quebra de safra de cerca de 20% da produção decorrente de estiagem.
Para a Safra 2021/22, a estiagem deverá ser constante, ao contrário da anterior, que apresentou bons índices de precipitação no período de entressafra. Como a estiagem está atingindo várias fases de crescimento da cana, a produtividade das lavouras deverá ser reduzida. Ainda no âmbito de condições meteorológicas, as atuais geadas tendem a reduzir a qualidade da cana, agregar dificuldades no manejo da colheita, e criar desafios ainda maiores para 2022.
Ainda não é possível medir o tamanho do real impacto das condições meteorológicas adversas sobre as lavouras, contexto que deverá ser monitorado ao longo dos meses.
Dependência de fornecedores de carna
No processo produtivo da cana-de-açúcar, a cana a ser processada pode ser de cultivo próprio da usina ou comprada de fornecedores terceiros. Das 26 usinas da Raízen, 24 utilizam metade de cana própria e metade de fornecedores. As duas usinas restantes possuem participação inferior de terceiros.
Portanto, afirma-se que as operações da Raízen são altamente dependentes de terceiros. Sendo assim, a empresa fica exposta aos riscos da rescisão de contratos com fornecedores e da negociação de novos contratos, que, devido à concorrência, pode não conseguir atingir taxas comparáveis.
Além disso, os contratos possuem prazos longos de vigência e preços fixos, o que, por um lado, protege a empresa de possíveis altas de custos, mas, por outro, pode diminuir os ganhos financeiros em períodos de desvalorização da cana.
Exposta à volatilidade de preços e de mercado de açúcar e combustíveis
Os produtos comercializados pela Raízen (açúcar e combustível) estão sujeitos a variação de preços que pode afetar o desempenho financeiro da empresa. Ambos estão expostos às oscilações naturais de preço por dinâmica de oferta e demanda.
No caso do açúcar, os valores de referência no mercado local também são afetados pelos preços em dólar praticados no exterior. Quanto ao mercado de etanol, sua cotação é influenciada pela dinâmica de preços da gasolina.
Visando reduzir a volatilidade, são executadas estratégias de hedge cambial, de açúcar e etanol, que podem ter efeitos adversos nos resultados.
Eletrificação da rede de carros
A produção de carros movidos a energia elétrica se acelera pelo mundo, provocando mudanças na indústria automobilística, mobilidade urbana e dinâmica de combustíveis. Na Europa, continente onde os carros elétricos são bem presentes, países como Noruega, Irlanda, Holanda, França e Reino Unido anunciaram a proibição da venda de carros movidos por motor a combustão em prazos que variam de 2025 a 2040.
No Brasil, a adoção em massa de veículos elétricos ainda é uma realidade distante. Em 2020, segundo dados da Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE), o mix é de apenas 1% do setor automotivo.
Contudo, mesmo que em um horizonte maior, a eletrificação da rede de carros no Brasil reduziria a demanda por combustíveis de maneira significativa, o que afetaria negativamente as vendas da Raízen, seu resultado operacional e desempenho financeiro.
Fonte
Pecege
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