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SVB, Renda Fixa e o “FGC americano”

O caso é mais um componente a elevar receios em relação ao crédito e a impactar expectativas de juros nos EUA e no Brasil. Confira aqui como esse evento afeta os investimentos de Renda Fixa.

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  • Na última sexta-feira (10/03), a notícia de que o Silicon Valley Bank (SVB) encerraria suas atividades foi um dos principais focos de atenção de investidores pelo mundo. Os principais clientes do banco eram startups, que depositaram o seu caixa na instituição.
  • A Secretaria do Tesouro dos EUA em conjunto os Conselhos do FDIC (entidade semelhante ao FGC) e do Fed (o banco central norte-americano) determinaram que havia risco sistêmico ao sistema financeiro. Com isso, disponibilizaram fundos do FDIC às empresas afetadas.
  • O caso é mais um componente a elevar receios em relação ao crédito e a impactar expectativas de juros nos EUA e no Brasil.
  • Confira aqui como esse evento afeta os investimentos de Renda Fixa.

Quem é o SVB?

O Sillicon Valley Bank (SVB) é um banco regional localizado no Vale do Silício, nos Estados Unidos. Fundado em 1983, era voltado às empresas de tecnologia, especialmente as startups. Com mais de US$ 200 bilhões em ativos, fazia parte dos 20 maiores bancos dos Estados Unidos.

O que aconteceu?

De maneira resumida, bancos e instituições financeiras também realizam investimentos, visando rentabilizar seu caixa. Estes investimentos são, em sua grande maioria, títulos de baixo risco e alta liquidez, como títulos públicos federais.

O SVB seguiu a mesma linha, comprando, nos últimos anos, Treasuries (títulos públicos do governo americano), incluindo as de vencimentos longos. Como a intenção era mantê-los até o vencimento, eles eram classificados como “hold to maturity” (em tradução livre “segurar até o vencimento”), e não eram marcados a mercado.

No entanto, assim como nos investimentos comuns, o prazo de vencimento das aplicações precisa ser levado em consideração na escolha dos papéis de renda fixa, o qual deve ser compatível com as obrigações financeiras previstas. Ou seja, é preciso “casar” o prazo do investimento com o prazo em que o recurso será utilizado, evitando perdas com a marcação a mercado.

No caso do SVB, ainda que tenha havido consonância com as normas contábeis, trata-se de um exemplo de falha na gestão financeira dos investimentos.

Marcação a mercado também afeta grandes instituições

Durante todo o período em que os títulos ficaram no balanço do banco, foram corrigidos apenas pela taxa de compra, que na época estava abaixo de 2%. No entanto, desde então, o Fed vem subindo juros e o mercado refletiu este movimento elevando as expectativas futuras. Com isto, esses mesmos títulos hoje negociam a taxas próximas a 5%.

Devido à marcação a mercado, houve desvalorização dos títulos nesse período, chamada de deságio. Vale lembrar sobre a relação inversamente proporcional entre taxa e preço, ou seja: quando a taxa sobe, o preço cai. No caso do SVB, o banco comprou títulos préfixados com taxas inferiores ao patamar de 2% e o aumento da taxa básica de juros dos EUA desvalorizou os preços dos papéis.

Não haveria problema caso o banco tivesse mantido a posição até o vencimento, uma vez que neste caso há convergência do preço para a taxa contratada.

É o mesmo racional da renda fixa brasileira, em que desde 2 de janeiro de 2023, os investidores passaram a acompanhar a evolução dos seus ativos ao longo do tempo de acordo com a taxa vigente no mercado. No entanto, se mantidos até o vencimento, permanece a taxa contratada no momento da aquisição.

Mais detalhes sobre marcação a mercado aqui.

Nos últimos meses, as empresas que possuíam recursos depositados no banco passaram a retirá-los mais rapidamente do que o esperado, devido ao cenário desfavorável para o setor de tecnologia. Isto gerou a necessidade de o SVB vender títulos longos desvalorizados para aumentar sua posição de caixa e fazer frente aos resgates, o que gerou um rombo de US$ 1,8 bilhão.

Buscando amenizar a situação, o SVB anunciou a venda de US$ 2,25 bilhões em novas ações, o que gerou o efeito contrário: investidores enxergaram maior risco de solvência do banco e aceleraram seus resgates, apenas piorando o cenário.

FDIC: o “FGC americano”

O Fundo Garantidor de Créditos (FGC) no Brasil tem como modelo o Federal Deposit Insurance Corporation – FDIC – (Companhia Federal Seguradora de Depósitos). Assim como aqui, os depositários nos EUA também têm direito a garantias sobre seus recursos em caso de quebra do banco escolhido, até US$ 250 mil.

Além disso, o FDIC também pode utilizar seus fundos para proteger contas não cobertas (que ultrapassem o valor) caso a Secretaria do Tesouro dos EUA em conjunto com dois terços dos Conselhos do FDIC e do Fed determinem que haja risco sistêmico ao sistema financeiro.

Decisão do Fed visa proteger a economia dos EUA

A leitura realizada durante o final de semana foi a de que havia risco sistêmico com a quebra do SVB. Afinal, sem acesso a seu caixa, startups não teriam recursos para pagamento a funcionários e fornecedores e para manter suas operações. Isto poderia gerar um efeito cascata na economia.

Além disso, havia também o risco de corrida a outros bancos menores por receio de que algo semelhante ocorresse a eles. De fato, na sequência, Signature Bank também foi tomado por controladores.

Sendo assim, ao determinar risco sistêmico, os fundos do FDIC foram disponibilizados para que todos os depositários tenham acesso a seus recursos, após terem sido bloqueados na última semana.

Em complemento, o Fed também criou uma linha de empréstimos de emergência a instituições financeiras impactadas pela falência do SVB. A intenção é fortalecer a capacidade do sistema financeiro para proteger depósitos e garantir a continuidade da concessão de crédito.

Como isso pode afetar a renda fixa local?

A visão do mercado é que o caso SVB (e outros que seguiram na esteira, como o Signature Bank) pode alterar a trajetória dos juros dos EUA, levando a cortes (o oposto do que era esperado), com o intuito de preservar a economia do país.

Alguns dias antes do evento SVB, o presidente do Fed, Jerome Powell, discursou sobre apertar ainda mais a política monetária e reacelerar o ritmo de alta das taxas de juros devido à inflação persistente e aos fortes dados do mercado de trabalho das últimas semanas.

Caso os choques mostrem-se de fato isolados, e as preocupações com o sistema financeiro diminuam, o Fed deve continuar seu ciclo de aperto até obter evidências claras de conversão da inflação para a meta.

Por outro lado, caso o choque no sistema financeiro se revele uma crise sistêmica oriunda de um Cisne Negro (eventos não previstos com grandes reflexos na sociedade), entende-se que o Fed possa flexibilizar a sua política visando suavizar os impactos na economia.

O cenário base do nosso time de Economia é de que não haverá uma deterioração significativa do sistema financeiro e que o Fed manterá o ritmo de aperto em 25 bps em sua reunião de março.

Além disso, é sabido que as taxas de juros globais, notadamente a americana, têm amplo impacto sobre o cenário doméstico. Assim, uma eventual queda na taxa de juros por lá (ainda que não seja nosso cenário base), seria um direcionador para a taxa de juros brasileira, o que poderia desencadear uma redução das taxas na renda fixa local, portanto, aumentando os preços. Isso inclusive pôde ser visto no comportamento da curva futura de juros local após a quebra do SVB:

Apesar do sentimento de aversão a risco, como o vivido neste momento, ser negativo para países emergentes como o Brasil, nosso sistema financeiro é considerado saudável e líquido. Veja mais sobre a situação dos bancos locais aqui.

Como se proteger?

Em época de mares turbulentos, a diversificação e a cautela seguem como as principais proteções neste momento de maior volatilidade dos mercados.

Nossa “regra de bolso” segue mais válida do que nunca para a escolha de seus investimentos:

  1. Identificar o alinhamento entre prazo e horizonte de investimento do investidor.
    • Evite títulos mais longos do que o prazo em que você (investidor) pode carregar um título.
  2. A dose é muito importante! Evitar exposição grande a um único nome e/ou setor.
    • Indicamos entre 1% a 3% da alocação em um mesmo nome.
    • Quanto mais arriscado o emissor, menor deve ser o tamanho da alocação.
  3. Entender o cenário esperado e os riscos envolvidos (risco de mercado).
    • Oscilações no cenário econômico podem levar a variações nos preços dos títulos antes do vencimento.
  4. Atenção à liquidez do papel no mercado secundário.
    • Em caso de necessidade de venda do título antes do vencimento, o investidor pode se deparar com dificuldade em encontrar um comprador em potencial (nas condições oferecidas).
    • O risco de liquidez pode ser reduzido ao buscar-se emissores conhecidos, com boa qualidade de crédito e que já acessaram o mercado diversas vezes.
    • Acontecimentos amplamente noticiados e que elevam a percepção de risco, como Americanas, podem limitar a liquidez do mercado como um todo durante um período.
  5. Compreender o risco de crédito – além do rating, contar com apoio de relatórios de análise.
    • Os ratings são ferramentas muito úteis para a compreensão do risco de crédito de emissores.
    • No entanto, não devem ser utilizados como único critério de escolha; é necessário buscar outros materiais de apoio para melhor compreensão e tomada de decisão.
    • Acesse aqui nosso guia de análises das empresas da nossa cobertura.
  6. Acompanhar o papel, notícias do setor e da empresa com frequência, principalmente créditos mais arriscados.
    • Ao contrário do que muitos acreditam, renda fixa varia e é necessário acompanhar o título e a empresa emissora ao longo da vida do título.
    • Desta forma, torna-se possível evitar surpresas negativas e tomar decisões em momentos adequados.
  7. Contar com a ajuda de especialistas, caso necessário.
    • Ao investir em crédito privado diretamente, em caso de dúvidas, conte com a ajuda de especialistas e de seu assessor de investimentos.

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Os instrumentos financeiros discutidos neste material podem não ser adequados para todos os investidores. Este material não leva em consideração os objetivos de investimento, situação financeira ou necessidades específicas de qualquer investidor. Os investidores devem obter orientação financeira independente, com base em suas características pessoais, antes de tomar uma decisão de investimento. A XP Investimentos não se responsabiliza por decisões de investimentos que venham a ser tomadas com base nas informações divulgadas e se exime de qualquer responsabilidade por quaisquer prejuízos, diretos ou indiretos, que venham a decorrer da utilização deste material ou seu conteúdo. Os desempenhos anteriores não são necessariamente indicativos de resultados futuros. Este relatório é destinado à circulação exclusiva para a rede de relacionamento da XP Investimentos, incluindo agentes autônomos da XP e clientes da XP, podendo também ser divulgado no site da XP. Fica proibida sua reprodução ou redistribuição para qualquer pessoa, no todo ou em parte, qualquer que seja o propósito, sem o prévio consentimento expresso da XP Investimentos. A Ouvidoria da XP Investimentos tem a missão de servir de canal de contato sempre que os clientes que não se sentirem satisfeitos com as soluções dadas pela empresa aos seus problemas. O contato pode ser realizado por meio do telefone: 0800 722 3710.

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