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Conflito entre Paulo Guedes e Jair Bolsonaro

No ano passado, escrevemos que, passada a reforma da Previdência, Jair Bolsonaro teria suas convicções liberais testadas novamente e precisaria provar que continuava preferindo abastecer no Posto Ipiranga, sem recorrer aos atalhos da gasolina batizada. A tentação pelo combustível mais barato não é de agora: os militares terem recebido tratamento especial na reforma da Previdência talvez […]

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No ano passado, escrevemos que, passada a reforma da Previdência, Jair Bolsonaro teria suas convicções liberais testadas novamente e precisaria provar que continuava preferindo abastecer no Posto Ipiranga, sem recorrer aos atalhos da gasolina batizada.

A tentação pelo combustível mais barato não é de agora: os militares terem recebido tratamento especial na reforma da Previdência talvez tenha sido a mais vistosa delas no primeiro ano do mandato. Houve também o bloqueio à discussão sobre a CPMF, defendida por Guedes em algum momento, na reforma tributária.

Recentemente se juntaram ao grupo as indefinições sobre o timing da reforma administrativa, o desafio aos governadores para zerar o ICMS em combustíveis, a proibição de “taxar o sol”, a discussão sobre benefício ao consumo de energia de templos religiosos e, a mais nova delas, o espanto com o preço dos pedágios. A lista só crescerá até o final dos quatro anos de governo – é parte do perfil de Bolsonaro.

Quem trabalha com Paulo Guedes diz que ele já tinha isso em conta quando embarcou na empreitada – e que, apesar do jeito explosivo, ele sempre foi maleável para contornar essas restrições.

Esse mesmo grupo, no entanto, reconhece que isso cansa – e que o cansaço se acumula.

Ainda há na conta um horizonte menos favorável ao ministro no Congresso a partir do ano que vem, já que (em tese) Rodrigo Maia deixa o posto de presidente da Câmara e, com isso, Guedes perde o principal motor da agenda econômica.

Outro ponto importante: os números menos favoráveis do que o previsto em termos de crescimento também não ajudam. Quanto maiores forem as boas notícias que Guedes puder entregar a Bolsonaro, mais peso tem o ministro nas decisões do presidente. O contrário é verdadeiro: quanto menos notícias boas, mais fácil é para Bolsonaro ouvir outros interlocutores com agendas distintas.

Hoje, o grupo do ministério avalia que Bolsonaro não pode prescindir do ministro – e que ele sabe disso. A esperada reação do mercado à possibilidade de saída de Guedes é vista pelo time da Economia como mais um elemento que deve fortalecer essa percepção no presidente.

Bolsonaro e Guedes nunca esconderam que se juntaram mais por conveniência do que por amor. E por isso, o casamento permanece enquanto for conveniente para os dois. Perceber o custo que lhe cairia no colo caso Guedes fosse embora pode servir para que o ministro recupere espaço que hoje vê limitado e continue com liberdade para encaminhar sua agenda.

Mas, caso isso não aconteça e as divergências se acentuem no lugar de se suavizar, o relógio para a saída de Guedes passará a girar ainda mais rápido. Este é um risco real.

Por ora, segue o casamento – como gosta de dizer o Presidente Bolsonaro. Porém, nossas incursões nos bastidores de Brasília, dão conta de que é fato: a paixão acabou.

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