Na próxima semana não haverá publicação do Top 5 Temas Globais
Confira nossas Perpectivas Globais para 2024
Boas festas!
1. Bolsa americana tem oitava semana seguida de alta – Dados econômicos foram lidos como benignos para a narrativa do soft landing
2. China sinaliza novas regulações para jogos online, geopolítica segue no radar – Mercado teme que as novas regulações impliquem intervenções similares às ocorridas recentemente no setor de educação e tecnologia
3. Petróleo enfrenta semana de volatilidade ante escalada de tensões no mar vermelho – Estados Unidos anunciaram operação naval para conter ataques do grupo Houthi, do Iêmen
4. Últimos resultados corporativos do ano mostram sinais mistos. Nike e Fedex decepcionam e Micron voa – O ano ainda não acabou, resultados revelam importantes sinais relacionados à demanda na economia
5. Apple – China, patentes e a luta pelo crescimento – A maior companhia do mundo enfrenta desafios relacionados à venda do Apple Watch e geopolítica na China
1. Bolsa americana tem oitava semana seguida de alta
O índice S&P 500 encerrou a semana com alta de 0,9%, a oitava semana consecutiva de ganhos para o principal índice da bolsa americana. O índice vinha em alta até quarta-feira, quando uma queda de cerca de 1,7% apagou ganhos de cinco dias, mas dados econômicos condizentes com a narrativa de cortes de juros em breve deram novo impulso para o mercado nos pregões finais da penúltima semana do ano.
O “apagão” de quarta-feira não teve um motivo aparente específico. Explicações das mais variadas surgiram e oscilaram entre o “geopolítico” e os fatores técnicos, conforme os índices americanos se aproximam das máximas históricas, porém, na nossa opinião, a liquidez reduzida de final de ano e o crescimento do mercado de opções de curtíssimo prazo (as chamadas 0DTE – zero days to expiration) são o principal suspeito, dado que essas operações podem envolver valores bastante altos e com potencial de manip… mexer os mercados.
Já no front dos dados econômicos, a nova leitura do PIB americano do terceiro trimestre indicou expansão menor que a divulgação anterior apontava (4,9%, contra 5,2% anteriormente), e a inflação medida pelo deflator do índice de consumo pessoal (PCE) trouxe sinais de desaceleração maior que o antecipado pelo mercado, com destaque para serviços. Ambos os sinais foram lidos como benignos para a trajetória de desinflação e desaceleração da atividade econômica, dando impulso para a narrativa do soft landing e impulsionando os ativos de risco.
A taxa dos títulos de 10 anos caiu 2 pontos-base e terminou a semana em 3,89%, enquanto os títulos de 30 anos encerraram a semana em 4,05%, uma alta de 4 bps em relação ao fechamento da semana anterior.
2. China sinaliza novas regulações para jogos online, geopolítica segue no radar
O anúncio de novas regulações para jogos online pelo governo chinês provocou perdas no setor que chegaram a cerca de US$ 80 bilhões em valor de mercado. As ADRs da Tencent Holdings, companhia por trás de nomes como League of Legends, caiu 9,8% e da NetEase, mais focada em jogos, caiu 16,1%. O principal temor é que as novas regulações impliquem intervenções similares às ocorridas recentemente no setor de educação e tecnologia, que se acreditava já terem sido encerradas.
As novas regras são concebidas para reduzir os incentivos ao gasto excessivo de tempo e dinheiro em jogos online. Algumas medidas incluem limites de gastos de usuários por jogo, proibição de recompensas por logins frequentes e duelos forçados de jogadores, e uma proibição de conteúdo que possa “violar a segurança nacional”.
Embora a regulação no setor de videogames na China não seja algo novo, as novas determinações da NPPA (National Press and Publication Administration) foram uma surpresa para o mercado. Haverá um período de um mês para que as empresas manifestem opiniões sobre a nova regulação e, também, um período para que as novas regras entrem em vigor. Do lado positivo, a agência colocou um limite de 60 dias para aprovação de novos jogos, evitando os longos períodos de espera que eram comuns no país.
A semana também foi marcada por manchetes ligadas à geopolítica. Veio à luz que no último encontro de Xi Jinping com Joe Biden, o líder chinês declarou que planeja uma reunificação com Taiwan. A notícia é divulgada às vésperas das eleições em Taiwan (a ser realizada na segunda semana de janeiro). Apesar dessa notícia, a semana trouxe bons sinais de reaproximação entre China e Estados unidos, com a primeira reunião de líderes militares dos dois países em mais de um ano e o anúncio da primeira entrega de um Boeing 787 Dreamliner para a China desde 2019, abrindo a possibilidade que a companhia possa entregar aviões 737 Max ao país.
Do lado negativo, a notícia de proibição de exportações de tecnologia chinesa ligada às terras raras, insumo essencial para a produção de baterias e veículos elétricos, pode ser uma pressão significativa sobre o desenvolvimento dos veículos. A China justificou a decisão com base em preocupações ligadas à segurança nacional.
3. Petróleo enfrenta semana de volatilidade ante escalada de tensões no mar vermelho
O preço do petróleo (Brent) teve alta de 3,3% na semana, passando de US$ 76,55 por barril para US$ 79,07 devido ao intenso fluxo de notícias relacionadas à commodity. Tensões no mar vermelho já vinham aumentando nas últimas semanas, desde a escalada do conflito entre Israel e Hamas, com ataques do grupo iemenita Houthi (financiado pelo Irã) a navios no mar vermelho.
A escalada do conflito faz com que navios desviem da região e tenham que fazer o contorno da África para fazer a rota do Oceano Índico ao Mediterrâneo, o que acarreta atraso de cerca de 7 semanas no envio de cargas, impactando preços de fretes globais e do petróleo. Isso gera impacto inflacionário relevante do lado da oferta (algo contra o que os bancos centrais não têm instrumentos para lidar).
Os Estados Unidos anunciaram a operação naval “Prosperity Guardian” na qual, junto ao Reino Unido, Bahrein, Canadá, França, Itália, Países Baixos, Noruega, Seychelles e Espanha, irá defender as frotas da região e evitar uma disrupção prolongada na região, pela qual transita cerca de 10 a 15% de todo o comércio global.
Para além do conflito, nesta semana o governo americano endureceu as regras de limite de preços ao petróleo russo. Para reforçar o cumprimento das regras, passou a ser exigido que os prestadores de serviços reportem cada carregamento de petróleo russo. Além disso, quatro empresas de trading foram incluídas na lista da OFAC (Office of Foreign Assets Control), organismo responsável pela gestão das sanções impostas pelos EUA.
Para adicionar incerteza sobre a produção de petróleo, Angola anunciou sua saída da OPEP, cartel que regula a oferta de petróleo, ante divergências quanto ao nível de produção. A última reunião do grupo já tinha sido adiada por alguns dias devido à falta de acordo de países africanos com o restante do cartel em relação às suas cotas de produção (conforme comentamos aqui). Angola era membro da OPEP desde 2017, e produz cerca de 1,1 milhões de barris de petróleo por dia (contra cerca de 30 milhões de toda a OPEP). Esta notícia causou descompressão dos preços de petróleo no final da semana, uma vez que a saída do país do bloco é motivada pelo desejo de elevar seu nível de produção.
4. Últimos resultados corporativos do ano mostram sinais mistos. Nike e Fedex decepcionam e Micron voa
Na última semana “útil” de 2023, três importantes empresas reportaram resultados e, pelas variações nos preços de suas ações, mostraram que o ano ainda não acabou.
Para começar, a boa notícia: a Micron, fabricante de chips de memória, reportou sólidos resultados que vieram acima das expectativas do mercado e, além disso, a empresa baseada no estado de Idaho-EUA anunciou um guidance de receita para o próximo trimestre consideravelmente acima do que o mercado esperava (US$ 5,3bi x US$ 4,9bi). Os bons números são frutos da elevada demanda pelos produtos de maior margem, usados de datacenters que fazem processamento de dados para AI. O CFO da empresa, inclusive, falou que toda a produção de2024 dessas placa de memória ultra-rápidas já está vendida. As ações reagiram subindo 8,6%.
Mas nem tudo são flores no mundo dos resultados corporativos.
A FedEx, terceira maior empresa de entregas dos EUA (atrás de UPS e Amazon), decepcionou os investidores ao reportar resultados abaixo do esperado (4% abaixo em lucro e 1% abaixo em receita) e indicar uma queda de receitas em 2024 ante uma expectativa de pequeno crescimento do mercado. A fraqueza nos números pode-se atribuir ao segmento Express, que engloba o serviço de entregas globais e representa cerca de 50% do total de receitas. O CEO Raj Subramaniam atribuiu as dificuldades ao cenário macroeconômico e enalteceu os esforços em cortes de custos que a companhia tem feito ao longo do ano. As ações reagiram caindo 12,1%.
Já a Nike, maior empresa de produtos esportivos do mundo, mandou um duro recado aos investidores, mesmo tendo reportado bons resultados. A companhia revisou suas projeções de receita para o próximo semestre consideravelmente para baixo e anunciou um programa de corte de custos de até US$ 2 bilhões (4% da receita) em 3 anos. As razões para as mudanças foram, segundo o CFO Matt Friend, “indicações de um comportamento do consumidor global mais cauteloso”, citando China e Europa como principais preocupações. As ações reagiram caindo 12%.
5. Apple – China, patentes e a luta pelo crescimento
A semana não trouxe notícias positivas para a maior empresa do mundo. Com mais de US$ 3 trilhões de capitalização de mercado, a Apple não tem um crescimento anual positivo de receitas há 4 trimestres (como comentamos aqui) e ainda não tem um plano claro de retomada.
Matéria da Barron’s, na quinta-feira, trouxe um tom bem negativo com a empresa apesar do rally de quase 50% no ano. Com vendas estagnadas há praticamente um ano e negociando a 30x preço/lucro, a revista destaca que o crescimento de lucro por ação da empresa se deu, majoritariamente, pelo elevado índice de recompras de ações, que diminuem a base acionária e tendem a diminuir de ritmo conforme o caixa da empresa é consumido.
Sem grandes lançamentos de produtos à vista, dado que os óculos de realidade virtual que virão a mercado em 2024 não tem grande potencial de vendas, a Apple busca melhora de margem, serviços e há grandes especulações sobre aquisições de grandes empresas como Disney, Peloton, Tesla entre outras. A empresa nega os rumores e parece mais focada em construir do que em adquirir.
Porém, durante a semana a companhia liderada por Tim Cook recebeu duas notícias bastante negativas. A proibição de venda dos mais novos modelos do Apple Watch e a ampliação das proibições do uso de iPhone na China.
Devido a uma disputa de patentes envolvendo a Apple e a empresa de tecnologia médica Masimo com relação a inteligência por trás dos oxímetros de pulso, usados para medir o nível de oxigênio no sangue, a Comissão Internacional de Comércio (ITC) dos EUA proibiu a venda do Apple Watch Series 9 e Apple Watch Ultra 2. Caso a proibição seja mantida, a Apple só poderá vender esses modelos em 2028, quando expiram as patentes.
A Apple está supostamente trabalhando em uma série de opções legais e técnicas para garantir que o Apple Watch continue disponível para os clientes. Isso inclui apelar da decisão da ITC e, potencialmente, mudar os algoritmos usados para o sensor de oxigênio no sangue no Apple Watch para contornar as patentes da Masimo. No entanto, o CEO da Masimo, Joe Kiani, não acredita que essas medidas resolverão os problemas de violação de patente. O segmento de wearables, que engloba relógios e fones de ouvido, representam cerca de 10% da receita da Apple.
Já do outro lado do mundo, matéria da Bloomberg afirma que, na China, as proibições ao uso de iPhones estão aumentando e se expandindo para mais províncias e estatais, envolvendo empresas e cidades menores. A orientação é não levar para o ambiente de trabalho nenhum aparelho de marcas não-chinesas (isso inclui, também, a Samsung). Em setembro as primeiras notícias sobre esse tipo de proibição afetaram a performance das ações da Apple (falamos sobre isso aqui!) embora não tenham sido confirmadas pelos oficiais chineses. Num momento que a maior empresa do mundo luta para crescer, notícias ruins vindas da China, que representa cerca de 20% da receita, são um balde de água fria nas expectativas.
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