1. As idas e vindas de Sam Altman – CEO da OpenAI é demitido e reinstituído ao conselho em menos de uma semana
2. Reunião da Opep+ é adiada – Petróleo enfrenta volatilidade durante a semana
3. Governo chinês concede novos estímulos ao setor imobiliário – Crédito às incorporadoras é alvo de novo pacote
4. Eleições na Argentina: “Viva la libertad, caramba*” – Javier Milei é eleito presidente da Argentina
5. Nvidia – Mais uma surpresa positiva, mas será suficiente? – Nvidia apresenta novo lucro recorde
1. As idas e vindas de Sam Altman
No fim de semana, o mercado foi pego de surpresa por uma disputa interna na OpenAI, laboratório de pesquisa em inteligência artificial que criou o ChatGPT, em que foi anunciada a demissão de Sam Altman (CEO), seguida de sua recontratação, apenas quatro dias depois. A organização sem fins lucrativos criou uma subsidiária com fins lucrativos em 2019, a OpenAI LP, para captar investimentos externos e firmar parcerias comerciais. A principal parceira comercial, com participação na empresa, é a Microsoft.
Com a justificativa de que Altman “não foi consistentemente confiável em suas comunicações” e preocupações relacionadas à segurança no avanço de pesquisas em AI, sua demissão foi anunciada na sexta-feira, dia 17 de novembro, pelo conselho da OpenAI, com substituição imediata pela diretora de tecnologia Mira Murati. Simultaneamente, o conselho anunciou que o presidente do conselho, Greg Brockman, seria removido de seu cargo, mas permaneceria como presidente da empresa, reportando-se à nova CEO.
A Microsoft teve apenas um breve aviso prévio da demissão, e Greg Brockman renunciou ao seu cargo poucas horas depois. Enquanto organização mais inovadora dos últimos tempos, uma troca no comando da OpenAI tem grande potencial de impacto sobre o avanço das tecnologias e usos de Inteligência Artificial (AI). A notícia extrapolou o conselho da companhia e foi alvo de intenso escrutínio e discussão nas redes sociais, notadamente no X (antigo Twitter).
Imediatamente após o anúncio da demissão, os principais investidores iniciaram esforços para reinstituir Sam Altman ao cargo de CEO. No domingo, dia 19 de novembro, o ex-presidente-executivo do Twitch, Emmett Shear foi nomeado como CEO após insucesso nas negociações iniciais para a volta de Altman, e a Microsoft anunciou que Altman se juntaria à Microsoft para dirigir uma nova equipe de pesquisa de inteligência artificial. Os funcionários da OpenAI reagiram negativamente: 745 entre 770 assinaram uma carta ameaçando pedido de demissão coletivo caso o conselho que demitiu Altman não renunciasse.
Na terça-feira, dia 21 de novembro, Altman foi reintegrado ao conselho da OpenAI, após um acordo que inclui sua entrada em um conselho provisório, juntamente a Bret Taylor, Adam D’Angelo e Larry Summers.
Mesmo após a volta de Sam Altman à companhia, as controvérsias envolvendo a OpenAI não pararam. Uma carta de funcionários que alerta o conselho para um “risco à humanidade” proveniente de novas descobertas de um projeto chamado “Q*” veio à tona, reacendendo as discussões acerca do uso ético de AI.
2. Reunião da Opep+ é adiada
Esta semana foi marcada pelo adiamento de uma reunião da OPEP+ após aparente falta de acordo entre os países do bloco em relação à oferta da commodity. A reunião foi adiada do fim de semana de 25 e 26 de novembro para o dia 30 de novembro.
Em abril desse ano, alguns membros da OPEP+ anunciaram corte de produção de 1,7 milhões de barris de petróleo por dia. Para a próxima reunião, há expectativa de anúncios de prorrogação dos cortes por parte da Arábia Saudita e Rússia, que até o momento, são válidos até o final do ano. De acordo com a imprensa, a Arábia Saudita estaria insatisfeita com o elevado nível de produção de alguns países do bloco.
Diante disso, o preço do petróleo (Brent) apresentou volatilidade, chegando a cair US$ 3 no dia do anúncio, devido à falta de consenso em relação a um corte na produção, mas encerrou a semana estável, mantendo o nível de 80 dólares por barril. O mercado já antecipa uma manutenção dos cortes de produção saudita para 2023. A commodity vem apresentando queda desde outubro, e o pico recente coincide com a data da máxima das taxas das treasuries longas: 19 de outubro. Neste dia, o petróleo chegou a atingir US$ 92,38, enquanto a taxa de 10 e 30 anos chegaram a 4,99% e 5,11%, respectivamente. O preço do petróleo tem permanecido em nível sensivelmente inferior a 2022, especialmente devido à recuperação mais fraca que o esperado da economia chinesa, recomposição dos estoques dos EUA e desaceleração da atividade global. O risco geopolítico segue no radar, mas não chegou a produzir efeitos materiais sobre os preços.
3. Governo chinês concede novos estímulos ao setor imobiliário
O governo chinês anunciou novas medidas de estímulo para o setor imobiliário via expansão do crédito disponível para as incorporadoras e projetos de infraestrutura de governos regionais. O setor, que foi um dos principais motores do crescimento econômico chinês nas últimas décadas, passa por uma crise prolongada, iniciada pelo colapso da Evergrande em 2021, e não dá sinais de recuperação. Nos dados de outubro da inflação ao consumidor, o item de novas moradias teve a queda mensal mais expressiva em 8 anos.
O governo chinês autorizou emissão de dívida por bancos estatais para cobrir pagamentos de LGFV (sigla para local government financing vehicles, títulos de dívida de governo local chinês) que vencem entre este ano e o final de 2024. Com isso, o spread dos bonds LGFV caiu para nível recorde. A queda no spread é um bom sinal para a redução de risco fiscal dos governos regionais chineses, altamente dependentes da arrecadação proveniente dos empreendimentos imobiliários.
Para além de incentivos à retomada do consumo, que o governo chinês também tem promovido, a medida de estímulo ao crédito é importante, uma vez que a crise do setor é de crédito. Se tratando de uma crise de crédito, há aumento do prêmio de risco, o que restringe novos projetos e inviabiliza a recuperação das empresas. Apesar dos estímulos, a semana foi de perdas para bolsas chinesas. O índice da bolsa de Xangai, CSI 300, teve queda de -0,9% na semana, que também registrou fluxo de saída de capitais por investidores estrangeiros, refletindo a cautela do mercado em relação à atividade econômica do país ao longo do próximo ano. Já o FXI, ETF representativo das maiores companhias chinesas e concentrado em ações dos setores de mídia, tecnologia e consumo discricionário, teve alta de 0,8% na semana.
4. Eleições na Argentina: “Viva la libertad, caramba*”
Javier Milei, nascido em 22 de outubro (mesmo dia de um dos co-autores deste relatório) de 1970, foi eleito o novo presidente da Argentina, marcando uma nova fase da política Argentina, por décadas dominada pelo peronismo. Milei é economista e autor de vários livros como “O fim da inflação”, “Pandenomics” e “Liberdade, Liberdade, Liberdade”. Defensor da escola austríaca de economia e auto-entitulado um anarco-capitalista, o político argentino também é conhecido por sua personalidade extravagante, opiniões fortes e uma forte presença na mídia.
O processo eleitoral na Argentina exige que um candidato receba pelo menos 45% dos votos para vencer diretamente. Na eleição presidencial de 2023, Milei enfrentou o Ministro da Economia, Sergio Massa, do movimento peronista de esquerda. Patricia Bullrich, ex-ministra da segurança conservadora, ficou em terceiro lugar. Milei, que havia ficado em primeiro lugar nas primárias em agosto, caiu para o segundo lugar com 30% dos votos no primeiro turno. No entanto, com o apoio de Patricia Bullrich e Mauricio Macri, do Juntos por el Cámbio, ele derrotou Massa no segundo turno da eleição presidencial por 55,8% a 44,2%.
Milei fez várias promessas durante sua campanha. Comprometeu-se a cortar os gastos estatais e eliminar cerca de 10 ministérios. Ele também planeja substituir o peso argentino pelo dólar americano e eliminar o Banco Central como forma de combater a inflação. Milei também prometeu renunciar ao seu salário e privatizar todas as 34 empresas estatais da Argentina. Como se não bastasse, propôs ainda reduzir ou eliminar a maioria dos impostos no país.
Com uma situação econômica calamitosa, a Argentina enfrenta inflação de 143% ao ano, uma moeda desvalorizada e índices de pobreza que superam os 40%. No entanto, a eleição de Javier Milei e suas ideias diametralmente opostas às da chapa de Alberto e Cristina Fernandez, que governou o país nos últimos 4 anos, injetaram um novo ânimo nos ativos dos atuais campeões do mundo de futebol (ouch!). Apesar das dificuldades que provavelmente enfrentará no Congresso, os mercados subiram violentamente na semana liderados pela estatal de petróleo YPF que saltou quase 57%. Títulos da dívida argentina em dólares também tiveram performance positiva na semana sendo a emissão com vencimento em 2030, a mais líquida, saindo de 30 para 36 centavos por dólar.
Nosso time de economia também escreveu sobre o tema nesta semana aqui.
*tomamos a liberdade poética de traduzir o termo original usado por Javier Milei
5. Nvidia – Mais uma surpresa positiva, mas será suficiente?
Grande expoente do boom de inteligência artificial a gigante dos semicondutores Nvidia reportou resultados acima de todas as expectativas e, como tem sido de praxe nas últimas divulgações, elevou o guidance de receita do próximo trimestre (de US$ 17,9bi para US$ 20bi) num sinal de continuidade do bom momento da empresa.
Embora os resultados tenham sido excelentes, a reação do mercado foi negativa e as ações que chegaram a cair 6% após a divulgação na terça-feira após o mercado, fecharam a semana em queda de 3,1% e foi a única Big Tech a cair no período.
Com expectativas bastante altas, sendo a Nvidia o papel de maior valorização do S&P 500 no ano com mais de 200% de alta, o mercado já precificava a surpresa positiva. Além disso, o comentário da empresa de que as vendas para a China deverão cair “significativamente” no próximo trimestre devido às sanções impostas pelos EUA pesou nas ações, mesmo que a empresa tenha dito que as perdas serão compensadas por aumento de vendas em outras regiões.
Começam a preocupar os investidores, também, questões relativas à capacidade de produção dado que a empresa terceiriza toda sua produção, sendo a maior parte para a Taiwan Semiconductor Company (TSMC), e quanto à ascensão de concorrentes, tanto na China quanto nos seus próprios clientes, que investem no desenvolvimento de seus próprios chips customizados para otimizar custos e criar diferencial competitivo.
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