1. McCarthy demovido da presidência da Câmara Negociações sobre o orçamento devem atrasar, aumentando o risco de um shutdown
2. Volatilidade nas treasuries, dados mistos de emprego Treasuries alcançam novos recordes em 16 anos à luz de dados de emprego, incerteza política e fiscal
3. Petróleo cai em relação aos picos recentes Após atingir máxima anual, petróleo retrocede devido à queda da demanda esperada
4. Greves continuam Trabalhadores de uma das maiores organizações de saúde nos EUA iniciam greve que se soma à onda de paralizações
5. Sinais mistos em feriado chinês Dados positivos de atividade na China e avanço regulatório
1. McCarthy demovido da presidência da Câmara
Para evitar o início de um shutdown, que paralisaria atividades não essenciais do governo americano, em 1º de outubro, o Congresso americano aprovou durante o final de semana uma Continuing Resolution, orçamento temporário também conhecido como medida de stopgap, que adia a decisão sobre o orçamento, com validade de 45 dias.
O risco de que ocorra um shutdown nesse ano, entretanto, aumentou durante essa semana pois o presidente da Câmara dos Deputados dos EUA desde o início do ano, Kevin McCarthy (Republicano), foi removido de sua função, acontecimento inédito na política americana. A última votação para remover um presidente da Câmara ocorreu em 1910, e foi sem sucesso. Mais recentemente, em 2015, John Boehner (também Republicano) renunciou ao cargo antes que um processo semelhante pudesse ocorrer.
Foram 216 votos favoráveis e 210 votos contrários à remoção de McCarthy de seu cargo. Oito congressistas republicanos alinhados ao grupo Freedom Caucus, conhecido por ser o mais conservador do Congresso americano, foram favoráveis à medida, liderada por Matt Gaetz (Republicano eleito pela Flórida) e contaram com 100% dos votos do partido Democrata para formar a maioria.
A remoção de McCarthy ocorre em meio à preocupação com a situação fiscal dos EUA. Após remover o teto da dívida pública até janeiro de 2025, membros do Freedom Caucus viram na discussão do orçamento do ano fiscal de 2024 uma última chance de impor maior austeridade e controle sobre os gastos do Poder Executivo. Com aa aproximação de McCarthy dos democratas e para a aprovação do stopgap, o grupo conservador que havia concedido seus votos a McCarthy em troca de maior apoio às suas causas, sentiu-se traído e chamou a votação. Sem o apoio dos democratas desta vez, Kevin McCarthy deixa o cargo após 269 dias, o mandato mais curto em 147 anos.
Até que o cargo volte a ser ocupado, nenhuma lei poderá ser votada, o que inclui as leis orçamentárias que precisam ser aprovadas até o dia 14 de novembro para evitar um shutdown do governo americano. No momento, não há candidato claro ou consenso para uma eleição, o que pode prolongar o processo. Os principais postulantes ao cargo são os republicanos Steve Scalise, líder da maioria na Câmara e próximo de McCarthy, e Jim Jones, um dos líderes do Freedom Caucus e apoiador do ex-presidente Donald Trump. O nome de Trump inclusive, aparece com frequência como possível candidato ao cargo, uma vez que não há impeditivo legal para um não-congressista o ocupe, embora seja algo inédito.
Com o aumento da incerteza política e fiscal, as taxas das treasuries longas atingiram nível recorde em 16 anos, provocando reações negativas em ativos de risco. A taxa dos títulos de 10 anos, por exemplo, subiu 23 pontos-base e teve a maior alta semanal desde 19 de maio deste ano.
2. Volatilidade nas treasuries, dados mistos de emprego
Para além do risco político e fiscal, dados de emprego também contribuíram para a volatilidade dos juros americanos na semana. O relatório JOLTS revelou uma abertura de vagas maior que o esperado pelo mercado, o ADP mostrou um crescimento menor que o esperado nas vagas de emprego privadas, já o payroll, dado oficial acompanhado mais de perto pelo Federal Reserve, apresentou uma alta maior que a esperada, especialmente entre emprego do setor público (contribuindo para a percepção da falta de perspectiva de melhora da situação fiscal dos EUA).
A treasury de 10 anos chegaram a bater 4,88% na quarta-feira, retrocederam até 4,70%, atingiram novo pico após o payroll a 4,87% e encerraram a semana em 4,80%. A taxa de 30 anos atingiu 5,05% após o payroll, e encerraram a semana em 4,96%.
Costumamos dizer que a curva de juros americana é a mãe de todas as curvas, impactando todos os ativos de risco em todo o mundo, que reagiram negativamente.
3. Petróleo cai em relação aos picos recentes
O petróleo (Brent) atingiu a máxima em 2023 na semana passada, a US$ 96,55 por barril, por conta de pressões de oferta. Desde então, o petróleo corrigiu e vem em queda, encerrando a semana em US$ 84,43. O movimento recente é motivado por uma revisão de projeções de demanda e comunicado da última reunião da OPEP, que indicam que os níveis de estoques devem ser suficientes para atender o consumo, além de uma queda menos pronunciada de oferta que o esperado.
Nos EUA, a demanda por gasolina tem caído, conforme dados divulgados pelo Departamento de Energia (DoE), que apontam uma retração da compra do combustível pelos americanos (demanda por gasolina é a mais baixa desde 1998), o que pode ser atribuído à queda na renda e ao crescimento da parcela de veículos elétricos no mercado, cuja oferta segue aumentando.
A alta nas treasuries e os dados de emprego reforçam um cenário de juros mais altos por mais tempo, o que também é negativo para o petróleo, uma vez que a mãe de todas as curvas se reflete na demanda global.
Com um consumo mais bem comportado, principalmente por conta da China, e uma expectativa de aumento da produção nos próximos meses com a retomada da produção da Arábia Saudita e da Rússia para o nível anterior às restrições anunciadas em abril, as projeções do mercado para o preço do petróleo foram reduzidas.
4. Greves continuam
Uma greve histórica no setor de saúde dos Estados Unidos teve início na quarta-feira, 04 de outubro de 2023. Cerca de 75 mil trabalhadores da Kaiser Permanente, uma das maiores organizações de saúde do país, cruzaram os braços por três dias em protesto contra as condições de trabalho e salariais.
A empresa, que conta com mais de 300 mil funcionários entre médicos, enfermeiros e outros profissionais, está em negociação com os sindicatos desde maio, mas não chegou a um acordo. Os grevistas reivindicam reajustes salariais, participação nos lucros, aumento do quadro de pessoal e garantias contra a terceirização e a automatização de serviços.
A paralisação, que afeta milhões de pacientes em cinco estados e no Distrito de Columbia, é a maior já realizada por trabalhadores da saúde nos Estados Unidos. Embora esteja prevista para terminar no sábado, 07 de outubro, os sindicalistas alertam que podem retomar a greve se suas reivindicações não forem atendidas.
Essa nova greve se soma a outras, que comentamos aqui, como a dos entregadores da UPS e dos escritores de Hollywood, já finalizadas, e a do setor automobilístico, que ainda segue sem um desfecho.
No caso da greve dos roteiristas a WGA (Writers Guild of America) chegou a um acordo com a AMPTP (Alliance of Motion Picture and Television Producers) após 150 dias de paralização que afetou a produção de diversos filmes e séries em empresas como Warner Bros Discovery (que recentemente entrou na nossa lista Top 10 Ações Internacionais (BDRs), Netflix, Paramount e Disney. Na negociação os roteiristas conseguiram, principalmente: i) um aumento na compensação mínima; ii) uma nova fórmula para calcular os direitos autorais provenientes de streaming baseada em uma porcentagem em vez de um valor fixo e; iii) um compromisso do AMPTP de não usar a inteligência artificial para substituir os roteiristas ou gerar conteúdo original sem o seu consentimento.
No caso dos trabalhadores do setor automobilístico, o presidente da UAW (United Auto Workers), Shawn Fain, anunciou nesta sexta-feira, exibindo uma camiseta com a frase “EAT THE RICH” que está vendo sinais de progresso nas negociações. A General Motors, por exemplo, prometeu estender os benefícios dos trabalhadores das fábricas de automóveis aos seus pares em linhas de montagens de baterias. Com isso, o líder sindicalista, apesar de afirmar que ainda não já acordo, decidiu não expandir as paralisações.
5. Sinais mistos em feriado chinês
A semana foi de feriado na China continental. A bolsa de Xangai permaneceu fechada, e a de Hong Kong retomou na terça-feira. Apesar do feriado, foram divulgados dados de atividade do país, como os índices de gerentes de compras (PMI) da indústria, de serviços, e composto, que vieram acima do esperado. Todos tiveram aumentos no mês (50,2, 51,7 e 52,0, respectivamente), sendo a indústria o principal destaque ao voltar a ficar em território positivo (acima de 50 sinaliza expansão).
Do lado regulatório, o país voltou a anunciar flexibilizações que tem como objetivo melhorar o ambiente de negócios no país. Nesta semana, o regulador de segurança cibernética da China divulgou um projeto que propõe flexibilizar as regras sobre a exportação de informações pessoais e dados considerados importantes para o exterior. O projeto permite a transferência gratuita de dados transfronteiriços em determinadas situações, o que, se aprovado, irá facilitar diversos aspectos em relação ao processo atual, tendo um impacto relevante para empresas estrangeiras e multinacionais que tem presença no país.
Na contramão desse avanço do ponto de vista da geopolítica e das relações com o ocidente, a China voltou a barrar um executivo estrangeiro de sair do país. Desta vez, o alvo foi um executivo de uma empresa americana de consultoria de risco, a Kroll. Este tipo de postura do governo ainda é um entrave relevante para as relações diplomáticas chinesas e desencoraja fluxos de capitais estrangeiros para o país.
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