Semanalmente, aos sábados, um novo episódio do Outliers é divulgado nos agregadores de podcasts. Até aí, sem novidades. As boas novas são que os episódios passaram a ser transmitidos também em vídeo no Youtube da XP e que o time de analistas da XP passou a cobrir esses episódios para serem publicados em um relatório, como esse, que se aprofunda mais ainda em informações e detalhes sobre a gestora e/ou sobre o(s) fundo(s) discutido(s) em cada episódio. Nosso objetivo é ir mais fundo para ajudá-lo na análise desses produtos, por isso apresentamos o “Indo a Fundo no Outliers”.
Aproveitaremos a grande qualidade dos assuntos abordados e escolheremos um para analisarmos a fundo. No caso desta versão discorremos com mais detalhes sobre as três diferentes estratégias em multimercados da Kadima Asset, que tem como sócios Sérgio Blank e Rodrigo Maranhão, que foram os gestores recebidos no 49° episódio do Outliers.
Conheça com mais detalhes a filosofia de investimentos da Kadima e as estratégias dos fundos Kadima II, Kadima High Vol e Kadima XP Seg Prev FIM
Conheça a Kadima
Foi em 2007, quando ainda não existiam fundos quantitativos no Brasil que a Kadima foi fundada. Sendo pioneira no segmento, a Kadima buscou trazer para os investidores brasileiros a mesma tecnologia já existente dentro de parte dos grandes hedges funds americanos: uma gestão puramente realizada por algoritmos.
Com o avanço da tecnologia no mercado de capitais brasileiros, cada vez mais gestores estão utilizando o rápido poder computacional para processar informações e auxiliar na tomada de decisão, porém, vale pontuar que a gestão puramente quantitativa se diferencia da gestão discricionária justamente no uso de algoritmos em todo processo de gestão.
Em termos práticos, isso envolve desde a tomada de decisão de investimento, até a execução das ordens. Nesse caso, nos fundos quantitativos o papel do gestor passa a ser o desenvolvimento de modelos, e não a movimentação dos ativos em si – que passa a ser feita de forma sistematizada, através dos algoritmos criados.
Para a Kadima, são três os pilares que consolidam uma gestão quantitativa: (i) tomada de decisão, (ii) execução e o (iii) rigor científico. Em seu modelo de gestão, a gestora reforça que não há espaço para a subjetividade. Dessa forma, todos modelos matemáticos gerados pela gestora funcionam com base na análise de dados macros e dos preços dos ativos, sem a interferência humana na tomada de decisão.
Com cerca de R$ 4 bilhões sob gestão, a Kadima conta com 11 fundos distintos, separados em 08 estratégia, que envolve fundos de renda fixa, variável, multimercados e fundos de previdência. Conheça a seguir os principais modelos utilizados pela gestora em seus fundos multimercados.
Diferentes modelos, para diferentes objetivos
Entender a complexidade que envolve a criação de um modelo para a gestão quantitativa é importante para que o investidor compreenda o rigor científico adotado na elaboração de cada algoritmo. Na Kadima por exemplo, o processo de investimento é realizado em ciclos, cujo início é modelagem do algoritmo, que irá surgir através da observação de padrões comportamentais do mercado que geram ineficiências – que serão exploradas a fim da obtenção de rentabilidade.
O viés científico da criação dos modelos operado pela Kadima é detalhado no episódio. Onde os gestores pontuam que o trabalho começa na observação da natureza e dos fenômenos de mercado, para dessa forma elaborar teorias que poderão ser executadas em forma de experimentos. Nessa etapa, são abordadas as ineficiências do mercado, que caso possuam alguma repetição, poderão gerar modelos ganhadores no decorrer do tempo.
A origem da idealização desses modelos pode variar, podendo vir de livros, papers acadêmicos, research especializados, observações de mercado – a equipe possui liberdade na geração de ideias, desde que seja realizado todo um processo de consolidação da tese, que envolve obtenção de base de dados, validação de rentabilidade, consistência de ganhos e exequibilidade.
A Kadima se trata de uma gestora cética, ou seja, a análise de mercado não possui um viés de previsão – apenas de observação, tanto que a gestora não possui analistas macroeconômicos nem economistas entre os colaboradores. Além disso, os modelos criados a partir dessa observação precisam ser testados historicamente – processo também conhecido como “BackTest” a fim de confirmar seu funcionamento em uma base de dados “limpa”, testando o comportamento dos algoritmos naquela série histórica. Tudo isso faz parte do processo de otimização, que busca encontrar os pontos ótimos de entrada e saída da operação, além de mensurar o tamanho de cada aposta – e assim obter um controle de riscos. Dentre as linguagens utilizadas pela gestora estão: Pynthon, Maltlab,Java, R e C#.
Tendência de curto prazo, Long/Short Estatístico, Modelos de Fatores, Event Driven, Contra-tendência, Pattern Recongnition, Arbitragem, Tendência de Longo Prazo, Fatores Macro: são algumas das estratégias operadas pela Kadima em seus fundos. Um ponto de destaque referente ao episódio do Outliers, é que os gestores ao serem questionados sobre a quantidade de modelos operados, reforçam as várias camadas de operação dos algoritmos, dificultando a mensuração total de modelos. Abaixo você pode conferir com mais detalhes os três modelos mais utilizados pela Kadima em seus fundos multimercados:
Trend Following
Essa família de modelos busca identificar tendências, seja de alta ou de baixa, a partir do preço histórico de um ativo. Para fazer isso, os gestores buscam padrões nesse histórico de preços, a fim de montar modelos que consigam se posicionar apostando na continuidade da tendência. Vale pontuar que uma condição necessária para existência desse modelo é que o ativo referido possua volatilidade, dessa forma, esses modelos tendem a obter melhores performances em períodos de maior volatilidade, e baixo desempenho em períodos mais calmos do mercado.
É possível classificar os modelos “seguidores de tendências” como de curto e longo prazo. Onde o de curto prazo possui foco em tendências rápidas, que duram de 1 a 3 dias, e os de longo prazo podem durar semanas. Esse é um modelo reativo, por isso o algoritmo precisa perceber o movimento para se posicionar, demandando parâmetros bem estabelecidos para que a ordem ao ser executada com agilidade, gere retornos positivos com a saída em momento oportuno.
Modelo de Fatores
O modelo de fatores busca comprar e vender ações que possuam características desejáveis para a configuração do algoritmo. Vale pontuar que o termo “fatores” dentro do mercado financeiro é utilizado para explicar a diferença de retorno entre ações no longo prazo. E dentro dos modelos quantitativos, esses fatores podem ser fundamentalistas (P/E, P/B, dividend/yield, endividamento, etc) ou técnicos (momentum, low risk, etc). Esse modelo é aplicado na construção de uma carteira de ações long, onde o objetivo é montar uma estratégia menos sensível as variações da bolsa, ao mesmo tempo que se realiza uma venda do Ibovespa futuro (short) em uma mesma proporção do beta da carteira long (beta neutro). O portfólio da carteira long por sua vez é bastante diversificado, possuindo historicamente mais de 50 ações em média. É o principal tipo de modelo dentro dos nossos fundos de renda variável.
A família de fundos multimercados da Kadima possui estratégias com maior foco nos modelos “Trend Following” ou como visto anteriormente: seguidores de tendências. Para os fundos Kadima II e Kadima High Vol e Kadima Prev o modelo mais utilizado é o de tendências de curto prazo. Confira mais detalhes sobre os fundos a seguir:
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Kadima II
Se tratando de um fundo multimercado quantitativo, o Kadima II FIC FIM foi lançado em 2008, e faz parte da principal família de fundos da Kadima – a Flagship Quant, que possui o maior período de existência, bem como conta com o maior número de modelos desenvolvidos pela gestora.
O fundo é destinado aos investidores em geral, e com uma gestão quantitativa, possui grande amplitude de operação, tanto nos mercados locais quanto no exterior (respeitando a limitação de 20% de exposição direta). Dentro dos modelos mais utilizados, temos o de tendências de curto prazo em primeiro lugar, seguido do modelo de tendências de longo prazo, de fatores e sua exposição internacional que possuem a mesma proporção.
Desde o início (02/05/2008), o Kadima II FIC FIM acumula resultado de +288,87%, contra retorno do CDI de +229,89% neste período. O fundo possui aplicação mínima de R$ 500,00.
Kadima High Vol
Lançado em 2012, o Kadima High Vol FIM é um fundo exclusivo para investidores qualificados. O fundo possui um mandato similar ao Kadima II, composto por parte dos modelos presentes no fundo, porém com maior alavancagem. Atualmente o fundo está fechado para aplicações, tendo aberturas pontuais de acordo com a decisão da gestora.
Kadima FIFE Previdência FIM
Com um mandato semelhante ao do Kadima II, o Kadima FIFE Previdência FIM é um fundo de previdência multimercado FIFE que se destina a acolher indiretamente recursos de planos PGBL e VGBL. Em nosso relatório que abordamos a recente evolução dos fundos de previdência, mostramos o diferencial desse fundo em relação a versão 555 – Kadima II, que na época de estruturação do produto, as restrições da legislação vigente limitavam a exposição internacional, o que dificultava a replicação da estratégia em sua totalidade.
Mesmo com as mudanças regulatórias recentes, a gestora optou por não realizar alterações no produto, mantendo a convicção na estrutura criada. Atualmente a gestora conta com 3 diferentes estratégias de previdência. Dentro do universo dos fundos de previdência, existem fundos da mesma gestora, com estratégias idênticas, mas que ficam disponíveis em seguradoras distintas. Como é o caso do Kadima FIFE Previdência, que está disponível através da XP Seguros e da Icatu.
Desde o início (25/07/2013), acumula resultado de +141,92%, contra retorno do CDI de +100,24%. O fundo é aberto aos investidores em geral e possui aplicação mínima de R$ 500,00.
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Baixa correlação com a indústria
Para montar um excelente portfólio de investimentos é importante não só uma visão macroeconômica e selecionar bons ativos, mas também como esses ativos se correlacionam entre si, ou seja, quanto caminham ou não juntos, dado período. Quanto menor for a correlação entre os ativos, maior o benefício da diversificação.
Uma das grandes vantagens de ter fundos cuja gestão é sistemática, como os fundos da Kadima, é geralmente eles possuem baixa correlação com os demais fundos multimercados. Para ilustrar esse ponto, selecionamos dez fundos multimercados que tiveram os melhores retorno acumulado em 2021*, em cada uma das subclasses existentes: (i) multimercados sistemáticos, (ii) multimercados Long and Short (iii) multimercados globais sem exposição cambial, (iv) multimercados globais com exposição cambial, (v) multimercados macro.
* Os fundos selecionados são classificados como multimercados pela ANBIMA e sua subclassificação conforme classificação da plataforma XP. Após a seleção das subclasses, não utilizamos nenhuma análise qualitativa, apenas foi considerado o retorno absoluto dos fundos em 2021.
Analisando as três primeiras linhas que representam a correlação dos três principais multimercados da Kadima com os demais – representadas em cinza claro, é possível notar que realmente as correlações deles com os demais é extremamente baixa. A maior correlação entre eles é 50 – representada em laranja – considerando o Kadima Previdência com o Fundo B, que é quantitativo. O dado mais impressionante é a correlação dos três com o índice de multimercados da ANBIMA – IHFA representado em cinza escuro – chegou a ser negativo em 2021, ano em que o fundo teve retorno de 6,53% e o índice 2,04%.
Uma transformação tecnológica a seu favor
Não há dúvidas sobre como o fator tempo é decisivo no mercado financeiro. Atualmente um único comando pode movimentar milhões de dólares no mercado e é só o começo de uma transformação tecnológica que está mudando todas estruturas da humanidade.
Em nosso recente relatório dados que valem ouro, trouxemos a importância dos avanços tecnológicos no mercado de capitais brasileiro. Nesse caso, abordamos sobre como gestores discricionários estão utilizando os algoritmos para auxiliar na toda de decisão. A tendência é que com o tempo, mais gestores utilizem algoritmos e modelos estatísticos em sua gestão, mas é importante compreender que a gestão quantitativa envolve todas esferas de movimentações.
Por fim, mais importante do que ficar a par das tendências, ter velocidade suficiente para capturar oportunidades no início fará toda diferença. Por esse motivo, o investidor deve contar com a gestão quantitativa como uma aliada importante da sua carteira de investimento.