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Entendendo as quedas dos fundos de Renda Fixa e os sinais de melhora que já estão surgindo

Apesar de mais um mês difícil, mercado de crédito privado mostra sinais de recuperação

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Sim, as últimas 6 ou 7 semanas foram algumas das piores do século para os fundos de renda fixa. Para os fundos dedicados ao investimento em títulos de crédito privado, foi o pior período da história para a grande maioria deles, em uma época em que, curiosamente, não houve calotes nos fundos focados em títulos “High Grade” (baixo a médio risco), mas sim uma queda estrondosa nos retornos por conta da Marcação a Mercado (pra quem não lembra direito o que é isso, clique aqui para entender melhor).

Títulos de Crédito High Grade

No mundo dos investimentos em Renda Fixa, talvez você já tenha ouvido falar no termo High Grade. O que isso quer dizer?

High Grade: esse termo refere-se a empresas ou títulos que possuem uma alta nota de crédito. Quanto melhor for a qualidade e capacidade creditícia de uma companhia, maior a sua nota, que geralmente é expressa por letras como “AAA, “AA”, “A+” ou variantes.

Essas notas são dadas por empresas especializadas, as agências de risco, cujas principais e mais famosas são a Standard & Poor’s (S&P), Moody’s e a Fitch. A escala de notas de cada agência é a apresentada abaixo:

Fonte: UOL, S&P, Moody’s, Fitch

E a crise? Não há risco de as empresas darem calote?

Definitivamente a crise atual não pode ser ignorada e ela terá fortes impactos nos resultados trimestrais e até anuais de milhares de empresas nos mais diversos setores da economia. Contudo, será baixo o reflexo negativo na capacidade creditícia das empresas que são foco de investimento dos fundos de crédito High Grade em geral. Tais fundos concentram bastante suas alocações em títulos emitidos por bancos (Letras Financeiras e CDBs, principalmente) e no investimento em títulos de empresas que possuem notas de crédito entre AAA e A, geralmente. Tanto os bancos, que vinham trabalhando com caixa bastante alto nos últimos meses, quanto as empresas foco desses fundos, possuem risco de calote baixo, por mais que algumas delas estejam em setores mais afetados pela paralisação do país.

Empresas como a Localiza, Lojas Americanas ou Shopping Iguatemi terão forte impacto em suas receitas no curto prazo e, numa primeira análise, podem até causar bastante temor em alguns investidores. No entanto, são extremamente sólidas, bem capitalizadas e contam com ótimo relacionamento com bancos. Em última instância, caso venham a precisar de recursos adicionais para continuarem com o dia a dia de suas operações, conseguiriam se utilizar de linhas que possuem com grandes bancos ou até mesmo emitir mais ações para serem vendidas na bolsa de valores.

Essa dinâmica é verdadeira para a grande maioria dos ativos presentes nas carteiras dos fundos de crédito High Grade.

Mesmo assim em um momento de redução de risco generalizado tanto por gestores de fundos quanto por investidores diretos, os títulos carregados por tais fundos se desvalorizaram de maneira desproporcional à capacidade pagadora dos devedores, levando a uma marcação a mercado bem ruim em março, o suficiente para que fundos que oscilavam muito pouco no mês a mês fechassem o período com retornos  de -3.0%, -4.0%, -5.0% ou até menos do que isso.

A tabela abaixo, compilada pela gestora AZ Quest, mostra o tamanho do estrago. Em alguns casos, a queda nos preços das debêntures fica próximo a quedas que usualmente só vemos no mundo de ações:

Fonte: AZ Quest

Mas se o risco de a empresa dar calote não é grande, por que as debêntures e letras financeiras caem? 

Dado o momento de grande aversão a risco, tanto os Títulos Públicos quanto os Títulos Privados têm sido vendidos no mercado secundário a preços descontados, muitas vezes com deságio – em semelhança a quando os preços dos imóveis caem por um mau humor com a região ou com a situação econômica.

  • Alguns vencimentos de NTN-Bs (Tesouro IPCA) não tão longos caíram cerca de 5% em março. Existe uma componente da desvalorização atrelada ao mercado de juros futuros (assunto pra outro dia) e existe também outra componente atrelada ao risco de crédito.  Será que o risco de o governo federal não pagar os investidores aumentou tanto assim, justificando essa queda? Nossa opinião é que não. No entanto, como há muito mais vendedores de ativos arriscados do que compradores, nesse momento, os preços caem.
  • Analogamente, Letras Financeiras de grandes bancos e Debêntures de empresas com baixo risco de crédito (“High Grade”) também sofrem, pois obviamente tais ativos possuem risco (ainda que baixo, na média) e há muitos investidores que não querem carregar nenhum ativo com risco no momento, nem títulos públicos, nem títulos privados! Novamente, pelo fato de haver um número maior de vendedores do que compradores, os preços ficam pressionados e acabam caindo.

Essa dinâmica afetou os fundos de Renda Fixa dedicados a Crédito no final de 2019 e voltou a impactar fortemente tais fundos agora em março e abril novamente.

O que está acontecendo com os fundos

Como há pouca liquidez no mercado secundário, quando gestores de fundos sofrem resgates, precisam vender debêntures e letras financeiras (principalmente) aos preços disponíveis no mercado, que têm sido preços muito abaixo dos praticados há poucas semanas.

Isso acaba gerando prejuízos nas vendas e, por consequência, leva a rentabilidade dos fundos como um todo para o terreno negativo

As cotas negativas acabam assustando muitos investidores, que não esperavam que um fundo dedicado a empresas de baixo e médio risco de crédito pudesse ter prejuízos de curto prazo (no dia, na semana ou no mês). Tais investidores assustados, muitas vezes achando que o fundo possui ativos que deram calote em sua carteira, acabam também pedindo resgate, que levam ao problema do mercado secundário novamente, levando gestores a terem que vender posições com mais prejuízo novamente…..e assim continua o processo.

Onde acaba essa espiral negativa?

Já vimos os preços dos títulos de crédito privado apresentarem uma boa melhora nas últimas semanas, mas ainda falta muito para voltarem aos patamares anteriores à crise. Olhando o “Ibovespa das debêntures”, que é o índice Idex-JGP, consegue-se observar que as taxas médias de negociação dos títulos mais líquidos do mercado saíram de algo em torno de CDI+5,0%, no auge do estresse, para uma média abaixo de CDI+4,0%.

É possível que, ao longo das próximas semanas, conforme as medidas do Banco Central e BNDES passem a ter mais efeito na economia como um todo e no mercado secundário de crédito, as taxas estressadas que esses ativos têm apresentado continue caindo e, por consequência, os preços dos títulos suba, levando a valorização nos fundos dedicados a crédito. Essa recuperação tende a minimizar as perdas observadas nas últimas semanas, desde a volta do Carnaval.

Mais compradores para os papéis de crédito privado

Essa melhora nos papéis de crédito privado é uma consequência na melhora da liquidez no mercado secundário. As altas taxas sendo pagas em papéis de empresas com baixo risco de crédito tem atraído outros compradores, além dos fundos créditos high grade.

Fundos de crédito high yield, que normalmente investem em papéis com maior risco de crédito, além de fundos de ações e multimercados estão bastante ativos no mercado secundário. Com as taxas das debêntures em alta, ações em queda e muitas empresas reduzindo ou adiando dividendos, alguns gestores tem preferidos as debêntures às ações, que têm oferecido uma relação entre risco e retorno melhor.

Apesar da recente melhora, os ativos negociam com taxas muito atrativas ainda

As taxas dos papéis de crédito high grade ainda se encontram em patamar bastante atrativo. Antes da crise, as taxas estavam em torno de CDI + 1,20% a 1,30%. Como vimos, agora estão entre CDI + 3,50% a 4,00%. Se as taxas se mantiverem nos patamares atuais, os retornos dos fundos podem oscilar entre CDI + 2,0% e CDI + 3,0% ao ano, líquido de taxas. Levando em conta o fato de o risco de crédito desses fundos ser baixo, esse patamar de retorno é bastante atrativo

Como aproveitar essa oportunidade e quais os riscos?

Dentre as diversas maneiras possíveis de se aproveitar das oportunidades no mercado de crédito, vamos focar em duas:

  1. Comprando ativos diretamente: se você possui conhecimentos suficientes sobre as empresas emissoras dos títulos de crédito de modo a ter conforto com a exposição direta e mais concentrada a esses ativos, ou se você conta com a assessoria de um especialista, essa pode ser uma boa oportunidade para alocar a parcela de baixo a médio risco de sua carteira.
  2. Alocando via fundos de crédito: para tanto, demanda-se muito menos conhecimento do mercado, dado que um gestor profissional e uma equipe de analistas fará a seleção e acompanhamento dos ativos que entrarão ou não na carteira. Além disso, é uma maneira de aumentar a diversificação dado que, tipicamente, um fundo conta com pelo menos de 20 a 25 a ativos diferentes na carteira.

Mas em que fundos alocar?

Existem dezenas de boas opções de fundos de crédito na plataforma da XP e você pode conferi-las aqui: Lista de Fundos

Alternativamente, você pode acessar uma lista mais resumida preparada pela área de Análise de Fundos da XP. Essa lista é atualizada todo mês e fica em um grupo que chamamos de “Top 50”. Na seção de fundos de Renda Fixa e Crédito você poderá encontrar boas alternativas. Confira aqui: Top 50

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