Mohamed El-Erian: quais são os desafios e oportunidades da economia global?

O painel “Economia Global: quais são os desafios e oportunidades” da edição 2024 da Expert XP reuniu Mohamed El-Erian, Presidente da Queen’s College e Conselheiro Econômico Chefe da Allianz, Rachel de Sá, Estrategista de Investimentos do Research XP, e Artur Wichmann, CIO da XP Inc., que discutiram a posição atual da economia global, tanto em termos do ciclo econômico quanto o papel das atuais revoluções tecnológicas em sua evolução de longo prazo.

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O painel iniciou explorando a posição atual da economia dos EUA no ciclo econômico, e El-Erian destacou a volatilidade na narrativa dos últimos meses, concluindo que estamos em um período de grande incerteza cíclica. Ele afirmou que os bancos centrais ocidentais cometeram um dos maiores erros da história em 2021, ao caracterizar a inflação de então como “transitória”, apesar das evidências de custos crescentes fornecidas pelas empresas. Com isso, eles se tornaram excessivamente data-dependent, desconsiderando a quantidade de “ruído” que integra os dados econômicos e os perigos dessa “direção olhando apenas pelo espelho”, o que nos levou a este período de falhas de comunicação e previsão.

EUA e o risco fiscal

Sobre o tema da política fiscal nos EUA, El-Erian afirmou não acreditar no risco de uma crise fiscal no país, mas que existe sim a possibilidade de que a política altamente deficitária atual gere danos à economia do país. Ele afirma que, apesar de o país não ter feito seu dever de ajuste da situação fiscal durante o período em que a economia ia bem, o novo período de crescimento menor acompanhado de alto déficit fiscal não deve gerar uma crise porque os EUA são como a “roupa suja mais limpa” da sua bagagem em um situação em que seu voo é cancelado: eles ainda são a melhor alternativa disponível no universo de investimentos, além de emitirem a moeda de reserva global.

O tema principal da discussão, entretanto, foi o desafio do aumento da produtividade e suas fontes. O economista avalia que, apesar das discussões atuais, devemos concentrar-nos menos no lado da demanda da economia, e mais no lado da oferta, já que é aí que se encontra a resposta para o crescimento global: a produtividade. El-Erian acredita que as fontes do crescimento das próximas décadas estão nos três temas com os quais os EUA mais gastam atualmente: a inteligência artificial e as tecnologias relacionadas, a energia renovável e os avanços científicos no campo da saúde.

Produtividade

O tema da produtividade é especialmente importante porque, nos próximos 5 a 10 anos, El-Erian acredita que o mundo terá um viés inflacionário muito mais forte do que o presente antes da pandemia de COVID-19. As razões para isso são duas, na visão do economista: a primeira é que o fenômeno da globalização parece ter dado lugar à fragmentação, com as cadeias de produção respondendo mais a fatores políticos que econômicos. O segundo motivo é que a pandemia recente despertou nas companhias a avaliação de que elas vinham se dedicando excessivamente à eficiência, deixando de se atentar o suficiente à sua resiliência.

Na conclusão do painel e oferecendo sua visão sobre o Brasil, o economista acredita que os brasileiros têm uma tendência excessiva a olhar o copo “meio vazio” em relação à economia. Ele avalia que o país possui grandes vantagens com relação a países similares em desenvolvimento, como seu grande mercado doméstico, conexões logísticas, matérias-primas, e um perfeito posicionamento para aproveitar o foco atual em segurança alimentar e energia sustentável. Em suas palavras de encerramento, El-Erian destacou que o Brasil ainda libertará seu pleno potencial, e as novas tecnologias podem oferecer uma grande oportunidade para ajudá-lo com o problema da produtividade.