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A economia global no pós-pandemia: Reversão dos estímulos e risco inflacionário

Veja o que os especialistas Ben Bernanke e Mohamed El-Erian acreditam que será para o cenário pós-pandemico

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Os bancos centrais enfrentam um grande desafio atualmente: Pilotar a reversão de um processo que se mostra tão delicado e incerto para a economia mundial no pós-pandemia. Neste painel Expert, o estrategista global da XP, Alberto Bernal, a chefe de economia da Rico, Rachel de Sá, e o economista chefe da XP, Caio Megale, conversam com o ex-presidente da Federal Reserve dos estados Unidos, Ben Bernanke, e o presidente do Queens College e assessor econômico chefe da Allianz, Mohamed El-Erian, para discutir esse e outros desafios do mundo pós-pandemia.

Inflação: Choque transitório ou alta persistente?

O primeiro tema abordado foi a inflação americana. Ben Bernanke lembrou que a inflação ao consumidor nos Estados Unidos, medida pelo PCE, surpreendeu recentemente as expectativas de mercado ao registrar variação muito acima do esperado, com cenário ainda de muita incerteza, mas acredita que a inflação tem caráter transitório e deve convergir para a meta (2%) no próximo ano. Ele destacou alguns pontos que devem colaborar para o arrefecimento inflacionário, como a normalidade do consumo com a volta no pós-pandemia, assim como as correções na cadeia de suprimentos e outros gargalos de oferta. Outros fatores que contribuem para queda nos preços são a diminuição/fim dos estímulos fiscais, a recuperação da oferta de mão de obra e a estabilidade no preço de commodities.

Já para El-Erian, a transitoriedade na alta dos preços não parece tão clara. As companhias sentem elevação de custos e esperam que preços continuem subindo. Ele cita ainda que a interrupção de fornecimento de insumos não é um problema conjuntural e deve se prolongar por mais tempo, uma vez que as cadeias de suprimentos estão sendo redesenhadas e as empresas estão concentradas na resiliência do processo. Além disso, o que vem ocorrendo no mercado de trabalho ainda é uma incógnita e as empresas contam histórias diferentes das que aparecem nas pesquisas, segundo o economista. A oferta de mão de obra pode não se normalizar tão rapidamente como imaginam.

Jackson Hole e a possível renomeação de Powell

Bernanke avalia que Powell tem feito um ótimo trabalho na condução de política monetária na crise pandêmica, tendo sua condução de política monetária sido muito proativa e efetiva na crise. Outra realização importante de Powell teria sido melhoria da posição política do Fed, mantendo sua independência e bom diálogo com o Congresso. 

Para o simpósio do Jackson Hole, que acontece nesta semana, Bernanke não espera grandes anúncios. O comitê de política monetária americano ainda espera divulgação de alguns indicadores de mercado de trabalho para avaliar se a economia já está forte o suficiente para que se inicie o processo de redução de compras de ativos. No evento, Powell deve se concentrar em mostrar o progresso substancial no emprego, mas ainda com bastante incerteza da continuidade da recuperação.

Modelos macroeconomicos vs dados empíricos das empresas

El-Erian explica que modelos macroeconômicos são ótimos até que ocorram mudanças estruturais, devido à sua natureza. O problema que antes costumava ser na demanda agregada agora reside na oferta, e os modelos têm muita dificuldade de capturar isso, mas as empresas o fazem. Ele cita a mobilidade de mão de obra e os custos de transportes como algumas dessas mudanças, mas acrescenta que as mudanças não são necessariamente ruins ou inflacionárias e que muitos problemas são apenas uma má combinação entre a demanda e oferta. El-Erian e  Bernanke concordam que a produtividade deve aumentar no intervalo dos próximos 5 anos, porém El-Erian acredita que a jornada econômica será muito mais acidentada ao longo do processo.

Desvalorização das moedas dos mercados emergentes

Para El-Erian, quando olhamos a trajetória de crescimento econômico global, observamos um elegante “V”, porém quando olhamos para o processo de reabertura podemos notar muita dispersão, estando os países emergentes muito defasados em relação às economias desenvolvidas. Podemos observar também um processo de divergência entre essas economias, devido ao efeito da pandemia e à instabilidade política. O que pode ajudar essas moedas são os preços de commodities em alta e a política monetária frouxa do Fed.

Política fiscal: Nova grande crise da dívida ou “desta vez é diferente”?

Bernanke lembra que os Estados Unidos têm posição privilegiada, sendo detentores da moeda de reserva internacional, a qual usam para se financiar. Além disso, em ambiente de juros extremamente baixos, o serviço da dívida é quase o mesmo de duas décadas atrás, quando a dívida era bem menor. Já a Europa se encontra em uma situação um pouco mais complicada, porque os países precisam do euro para comprarem suas dívidas, mas não têm autonomia individualmente sobre a moeda. Ainda assim, o ex-presidente do Fed enxerga situação controlada para a região.

Agora versus 2009

A situação hoje é muito diferente da enfrentada em 2009. Em 2020, a economia estava saudável quando fomos surpreendidos pela crise sanitária, em 2009, na depressão, não foi o caso. Uma crise de saúde é muito diferente de crise de crédito, pontuou o ex-presidente do Fed. Ele acrescentou que os setores afetados foram diferentes e o sistema financeiro agora era mais útil do que prejudicial para a economia. Para ele, a política econômica foi rápida e efetiva para mitigar efeitos da crise, mas viu falhas nas políticas de saúde, principalmente em relação à vacinação.

El-Erian complementou: Em 2007, quando as instituições financeiras deixaram de confiar umas nas outras, o Fed interveio como garantidor de confiança. Agora nessa situação mais recente em que ainda vivemos, há desconfiança generalizada por medo de contaminação pelo vírus, e há ninguém nem nenhuma instituição que possa cumprir esse papel de fiadora para restaurar a confiança.

Por fim, os convidados destacam que são fundamentais mudanças na política fiscal para garantir crescimento, podendo estas ser feitas de forma muito mais focalizada e tendo maior eficácia que a política monetária.

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