Nesta terça-feira (21), aconteceu a 76ª Assembleia Geral da ONU, em Nova York. Em formato híbrido, o evento é uma preparação para a Conferência da Organização das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP-26), prevista para 1 a 12 de novembro em Glasgow, na Escócia, e contou com a presença de mais de 20 lideranças mundiais, dentre as quais Jair Bolsonaro, Joe Biden e Xi Jinping.
Na abertura do evento, o secretário-geral da ONU, António Guterres, iniciou o encontro com um discurso rígido, destacando, principalmente, a necessidade de maiores esforços globais no combate à pandemia e a situação crítica do clima, reforçando o chamado para humanidade feito pelo IPCC. Na sequência, Jair Bolsonaro, primeiro a discursar no “debate geral” da Assembleia, optou por um tom mais próximo do defendido por sua base do que por seu entorno político, ainda que tenha adotado linha diplomática na pauta ambiental, conforme defendido por ministros e pelo Itamaraty.
De forma geral, destacamos três principais mensagens que ficaram da Assembleia Geral da ONU:
(i) A situação climática é alarmante e representa um código vermelho para o mundo – embora o ponto de “não retorno” para cumprimento do Acordo de Paris ainda não tenha sido atingido, é preciso agir rápido para converter o cenário atual;
(ii) A recuperação econômica pós-pandemia já mostra traços de desigualdade e, agora, mais do que nunca, é preciso fortalecer a governança global para uma gestão eficaz dos bens públicos;
(iii) A pandemia do coronavírus, a situação climática, a paz e a segurança mundial são todos desafios deste tempo, e há um consenso a cerca da importância da cooperação global para os enfrentarmos, com o objetivo comum de construção de um futuro melhor.
Ao longo deste relatório, destacamos os principais tópicos abordados durante a abertura da 76ª Assembleia Geral da ONU.
“O mundo nunca esteve tão ameaçado”, diz António Guterres na abertura da 76ª Assembleia Geral da ONU
Responsável por realizar a abertura da 76ª Assembleia Geral da ONU, António Guterres, secretário-geral da ONU, iniciou o encontro com um discurso rígido em defesa do multilateralismo, afirmando que o mundo está profundamente dividido, e também ressaltando as ameaças apresentadas pela pandemia do coronavírus e pelas mudanças climáticas.
Para ele, a Covid-19 e a crise climática expuseram fragilidades nas sociedades e no planeta, com a recuperação econômica pós-pandemia já mostrando traços de desigualdade. Segundo o secretário-geral, os países mais ricos podem atingir taxas de crescimento pré-pandêmica até o final deste ano, enquanto os impactos podem durar anos nos países de baixa renda. Em números, António mencionou que enquanto as economias avançadas estão investindo quase 28% de seu PIB (Produto Interno Bruto) na recuperação econômica, para os países de renda média esse número cai para 6,5% e, indo além, quando considera-se países menos desenvolvidos, o percentual é de 1,8% – uma pequena porcentagem de um valor muito menor.
Segundo Guterres, o sistema multilateral de hoje é muito limitado em seus instrumentos, muito focado no curto prazo e com pouca capacidade de uma governança eficaz da gestão de bens públicos globais. “Precisamos fortalecer a governança global. Precisamos nos concentrar no futuro. Precisamos renovar o contrato social. Precisamos garantir uma ONU adequada para uma nova era.”, diz António.
Além disso, ao abordar o relatório publicado recentemente pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças do Clima (IPCC), o secretário-geral diz que o estudo é um código vermelho para a humanidade e os continentes já deram sinais de alerta. O acelerado aumento da temperatura, perda de perda de biodiversidade, poluição e desastres naturais estão cada vez mais presentes no mundo, e isso preocupa. Entretanto, “cientistas do clima nos dizem que não é tarde demais para manter viva a meta de 1,5°C do Acordo de Paris sobre o Clima, mas a janela está fechando rapidamente”, ele diz.
Clique aqui para acessar o nosso relatório | “Relatório do IPCC: Um chamado para todos, inclusive para o mercado, frente a um cenário alarmante do clima“
“Estamos a semanas da Conferência do Clima da ONU em Glasgow, mas aparentemente a anos-luz de alcançar nossas metas. Devemos levar a sério. E devemos agir rápido.”
António Guterres
“O futuro do emprego verde está no Brasil”, diz Bolsonaro
O presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, foi o primeiro a discursar no “debate geral” da 76ª Assembleia Geral da ONU – desde 1947, o representante do Brasil é encarregado de abrir oficialmente as falas dos líderes mundiais participantes.
Em aceno a suas bases, a fala do presidente iniciou com críticas a governos passados e a imprensa, assim como destaques das conquistas do atual governo, em especial na área de infraestrutura. Além disso, Bolsonaro afirmou apresentar um “novo Brasil, diferente daquele mostrado por jornais e mídia”, ao mesmo tempo em que retomou a defesa do “tratamento precoce” e avaliação de que assumiu o Brasil “à beira do socialismo”.
Na visão do time de Política da XP, pressionado pelos episódios recentes em que precisou aliviar o discurso depois do Sete de Setembro, Bolsonaro optou por um tom mais próximo do defendido por sua base do que por seu entorno político, ainda que tenha adotado linha diplomática na pauta ambiental, conforme defendido por ministros e pelo Itamaraty. Segundo o time político, a fala deve engajar os apoiadores do presidente e revigorar o discurso bolsonarista. No entanto, pode gerar reações adversas do mundo político e diplomático devido à defesa do tratamento precoce.
Em relação à pandemia, Bolsonaro afirmou que sempre defendeu “combater o vírus e o desemprego da mesma forma”, e que as políticas de isolamento social resultaram em inflação, em especial na produção de alimentos, em todo o mundo.
Já sobre a pauta ambiental, o presidente da República destacou a política de preservação ambiental do Brasil, afirmando que “nenhum país tem uma legislação tão completa como a nossa”, ressaltou que 83% da geração da energia do Brasil é proveniente de renováveis. Nessa linha, Bolsonaro afirmou que “nosso código florestal serve de exemplo para outros países” e fez um convite para que os demais líderes presentes conheçam a Floresta Amazônica, que, segundo ele, possui 84% de sua área “intacta”. Além disso, Bolsonaro também exaltou a agricultura brasileira, que “alimenta mais de 1 bilhão de pessoas no mundo”, utilizando “apenas 8% do território nacional”, ao mesmo tempo em que destacou um dado de que o desmatamento na Amazônia reduziu 32% A/A em agosto de 2021, o que, segundo ele, ocorreu frente à destinação do dobro de recursos pelo governo no combate ao desmatamento ilegal.
Por fim, para o futuro, o presidente retomou o compromisso assumido pelo Brasil no início deste ano, da antecipação, em 10 anos (de 2060 para 2050), do objetivo de alcançar a neutralidade climática no país, além de afirmar que o governo deve buscar um consenso global sobre mercado de crédito carbono e incentivar a indústria de baixa emissão.
De forma geral, vemos que Bolsonaro adotou uma linha diplomática na pauta ambiental, conforme defendido por ministros e pelo Itamaraty. O reconhecimento por parte de Bolsonaro da significância da pauta é positivo, embora valha ressaltar que não foram apresentados detalhes concretos de como os objetivos serão atingidos.
“O futuro do emprego verde está no Brasil: energia renovável, agricultura sustentável, indústria de baixa emissão, saneamento básico, tratamento de resíduos e turismo”
Jair Bolsonaro
“Nós vamos liderar e vamos combater todos os desafios deste tempo”, diz Joe Biden
Na sequência de Bolsonaro, discursou Joe Biden, presidente dos Estados Unidos. Em sua fala, Biden reafirmou a meta do país de diminuir as emissões de gases do efeito estufa em 50-52% até 2030 e neutralidade climática até 2050. Para que isso seja possível, ele destacou os investimentos que o país está realizando, como os em energia verde e produção de veículos elétricos. Segundo Biden, esses investimentos são grandes oportunidades para gerar emprego e trazer crescimento econômico, juntamente com qualidade de vida para todas as pessoas.
Em abril, o presidente anunciou que dobrou o valor a ser utilizado para o financiamento climático de países em desenvolvimento e, agora, ele anuncia que o país irá dobrar esse valor novamente, tornando os EUA um líder em financiamento global nessa agenda. No total, serão aproximadamente US$11,5 bilhões a serem utilizados nesta ação.
Biden finalizou seu discurso com uma mensagem inspiradora: “nós vamos liderar e vamos combater todos os desafios deste tempo: da covid ao clima, paz e segurança, dignidade humana e direitos humanos. Vamos liderar juntos, com parceiros e aliados, e todos aqueles que acreditam naquilo que fazemos. Isso está em nossas mãos: encarar esses desafios e construir o futuro”.
“Senhoras e senhores, nós não podemos perder mais tempo. Vamos trabalhar! Vamos fazer o nosso futuro melhor agora! Nós podemos fazer isso. Está em nosso poder e capacidade.”
Joe Biden
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