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Primeiras impressões sobre a política de saque do FGTS e PIS/Pasep

De forma resumida, vemos o anúncio como uma boa notícia para o crescimento de curto prazo, mas não esperamos que a medida promova mudanças drásticas no quadro econômico. Ainda vemos uma recuperação lenta à frente. Para as empresas, vemos o setor de varejo como um dos mais beneficiados e nossas principais recomendações são Renner e B2W.

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Colaboração: Mariana Vergueiro e Luis Gandolfi (setor varejo)

Sumário Executivo

  • O governo anunciará nesta semana uma regra que permite a retirada de recursos das contas do FGTS e do PIS/Pasep.
  • Maiores detalhes serão divulgados em breve, mas os valores liberados podem chegar a 0,9% do PIB.
  • A notícia é positiva uma vez que este choque de liquidez sustentará o consumo de curto prazo.
  • O endividamento das famílias deverá diminuir, mas não está claro se a medida será suficiente para reverter a tendência de alta recente.
  • Cálculos preliminares mostram que o crescimento real do PIB pode aumentar em cerca de 0,3 pontos percentuais entre 2019 e 2020.
  • Vemos o setor de varejo como um dos mais beneficiados. Nossas principais recomendações são Renner e B2W.
  • De forma resumida, vemos o anúncio como uma boa notícia para o crescimento de curto prazo, mas não esperamos que a medida promova mudanças drásticas no quadro econômico. Ainda vemos uma recuperação lenta à frente.

O que se sabe por enquanto

Os principais jornais do Brasil informaram hoje que o governo anunciará nesta semana uma regra que permite a retirada dos recursos das contas do FGTS e do PIS/Pasep.

Essa medida tem como objetivo principal recuperar a convalescida atividade econômica e, segundo o governo, o montante máximo de recursos disponível será de R$ 63 bilhões, embora alguns jornais tenham levantado algumas incertezas sobre esse valor (entre R$ 42 e 63 bilhões). Além disso, espera-se que os recursos sejam liberados de forma escalonada: quem ganhar até R$ 5,000 pode sacar 35% dos recursos, quem ganhar até R$ 10,000 poderá sacar 30% e quem ganhar R$ 50,000 e acima pode retirar 10%. Outras faixas de renda e seus percentuais ainda estão sendo analisados.

Essa medida é similar em natureza e tamanho à anunciada em dezembro de 2016 e colocada em prática em março de 2017 pela administração do presidente Temer. O cronograma de retirada baseou-se na data de nascimento dos indivíduos e um total de R$ 44,3 bilhões das contas inativas do FGTS foi totalmente liberado entre março e agosto de 2017.

Como o anúncio oficial ainda não foi feito, não está claro quando os fundos ficarão disponíveis para os indivíduos e qual será o cronograma de retirada. Se seguir o padrão de retirada observado em 2017, a maior parte dos fundos (aprox. 87%) poderá ser retirada nos quatro meses (T4) após o primeiro mês (T1) dos saques. O gráfico abaixo ilustra isso:

Principais diferenças entre as políticas de 2017 e 2019

Nós vemos três diferenças principais entre as duas medidas.

Em primeiro lugar, o montante esperado de recursos que podem ser liberados agora é maior que o de 2017. Naquele ano, as retiradas atingiram 0,7% do PIB, enquanto agora espera-se que chegue a um valor máximo de 0,9%. Existem incertezas em relação ao valor total, mas o menor valor considerado até o momento é comparável ao de 2017.

Em segundo lugar, as condições financeiras são ligeiramente mais apertadas porque o endividamento das famílias é um pouco maior do que era em 2017. Atualmente, o nível de endividamento das famílias atingiu 43,6% da massa salarial, enquanto em dezembro de 2016 (quando a primeira medida foi anunciada) o endividamento era de 42,4% (1,2 pontos percentuais abaixo) – conforme tabela abaixo.

A dívida de outros créditos (exceto financiamento imobiliário) tem impulsionado a dívida total e é provável que os atrasos verificados nas dívidas de financiamento imobiliário estejam de alguma forma relacionados a esse aumento. Por essa razão, combinada ao desempenho fraco do mercado de trabalho do Brasil, acreditamos que os agentes estarão menos propensos a alocar os fundos do FGTS e do PIS/Pasep em entradas para novos empréstimos (imobiliário e automóvel). Em outras palavras, é mais provável que a maior parte dos fundos seja alocada em pagamentos de redução da dívida (cartão de crédito, cheque especial e outros). Assim, acreditamos que essa nova alocação de recursos pode ser mais favorável ao crescimento do crédito no curto prazo, uma vez que abrirá mais margem de crédito relacionadas ao consumo.

Por fim, enquanto a medida de 2017 focou nas contas inativas do FGTS, a nova medida considera também as contas ativas. Assim, não está claro o potencial desse efeito, já que parte desses recursos pode ser revertida em poupança privada.

O que esperar nos níveis macro e micro?

O desafio em estimar o impacto dessa medida é duplo: i) falta de detalhes e ii) falta de informação quanto à composição da remuneração dos trabalhadores e a composição das contas do FGTS. Cálculos preliminares sugerem que a taxa de crescimento do PIB real entre 2019 e 2020 pode aumentar em torno de 0,30 ponto percentual com a medida. A lógica por trás dos exercícios é que parte dos fundos é diretamente traduzida em consumo privado, enquanto a parte restante se transforma em maior margem de crédito (que se traduz, por sua vez, em consumo futuro). Há também efeitos positivos defasados que são ​​difíceis de serem medidos.

Para as empresas, vemos o setor de varejo como um dos mais beneficiados por este anúncio. Conforme destacado no gráfico abaixo, o crescimento de vendas para o setor acelerou ao longo de 2017 e atingiu +7,0% (contra +0,8% no ano anterior). Embora a melhora no ambiente macroeconômico e a base de comparação mais fácil também tenham contribuído para esse desempenho, acreditamos que essa aceleração esteja de certa forma relacionada ao saque das contas do FGTS durante o governo de Temer.

Além disso, destacamos que a maioria das ações de varejo da nossa cobertura tiveram desempenho acima do Índice Ibovespa naquele ano, especialmente as relacionados a consumo discricionário, como o Magazine Luiza, a Via Varejo e a B2W.

Nossa preferência no setor é pelas ações da Renner (LREN3) e B2W (BTOW3) ambas com recomendação de Compra e preços-alvo de R$53/ação e R$41/ação, respectivamente, para final de 2019. Para mais detalhes acesse nosso relatório.

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