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IPCA de junho: Leitura benigna para além da surpresa baixista em alimentação

O IPCA registrou alta de 0,21% em junho de 2024. O resultado levou aceleração na medida acumulada em doze meses – de 3,93% em maio para 4,23%.

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Divulgado nesta manhã, o IPCA de junho subiu 0,21% m/m, abaixo do esperado (XP: 0,33%. Consenso: 0,30%). Na variação em doze meses, o índice de inflação subiu de 3,93% em maio para 4,23% em junho. Os alimentos foram os que mais surpreenderam para baixo, especialmente hortifrutis, como tubérculos, legumes e frutas. No geral, consideramos a leitura de junho como positiva para as perspectivas de inflação de curto prazo (ver detalhes abaixo).

Desaceleração mensal. O arrefecimento ante o IPCA de maio (0,46%) se deveu à deflação das passagens aéreas (-9,88%, ante 5,91%), já antecipadas pelo IPCA-15, e a alívios em ‘alimentação no domicílio’ (0,47% ante 0,66%). Dentro do último grupo, destacamos o arrefecimento das proteínas em geral, com ênfase para carnes, além dos alimentos in natura – grupo que apresentou forte e surpreendente deflação (-0,52% ante 0,99%) puxado principalmente por hortaliças e verduras, tubérculos raízes e legumes, frutas e ovo de galinha. Também merece destaque a desaceleração dos industrializados, puxada principalmente por vestuário (0,02% ante 0,50%), higiene pessoal (0,77% ante 1,04%) e automóvel novo (0,00% ante 0,54%).

O impacto das enchentes na região Sul. O IPCA do Rio Grande do Sul caiu 0,14% m/m em junho. A principal contribuição para a queda (-0,14pp) veio dos preços de “alimentação no domicílio”, especialmente dos alimentos in natura e das proteínas. Em geral, a recomposição dos preços dos alimentos foi muito mais forte do que o previsto, o que explica a diferença entre a nossa previsão para o grupo em âmbito nacional (0,99% m/m) e sua variação efetiva (0,47% m/m). Relativamente a outros preços livres, o grupo dos bens industrializados aumentou 0,06% m/m em junho, em comparação com -0,15% m/m em maio. Os preços dos serviços, por outro lado, caíram 0,26% m/m no mês passado, de um aumento de 0,43% m/m em maio. De acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Estatística), 30% da coleta de preços no Rio Grande do Sul foi efetuada através da Internet ou de chamadas telefônicas (de 65% em maio), e já se normalizou em julho.

Surpresa baixista nos núcleos de inflação, apesar de alguma aceleração na margem. A média dos núcleos de inflação subiu 0,23% m/m, abaixo da nossa previsão (0,30%). O SAAR 3M (média móvel dessazonalizada e anualizada de três meses) avançou de 3,2% para 3,5%, desviando-se da meta, como antecipou o IPCA-15 de junho. A principal contribuição para a aceleração veio dos preços industriais (novamente). Esperamos que o núcleo da inflação termine 2024 em 3,8%.

Moderação nos preços de serviços. O grupo de serviços subjacentes, que exclui passagens aéreas e itens voláteis, avançou 0,36% m/m, em linha com a nossa previsão (0,38%). O seu SAAR 3M caiu de 5,0% para 4,6%. Por fim, os serviços intensivos em mão de obra, outro indicador monitorizado de perto pelo Banco Central, recuaram para 5,4% (3M SAAR) de 5,9%, a quarta queda consecutiva. Apesar da moderação na margem, os indicadores de preços de serviços ainda estão muito acima da meta de 3%, e não prevemos alívio adicional nos próximos meses, dado o aumento dos salários e a deterioração das expectativas de inflação.

Os bens industrializados continuam a registar uma tendência ascendente, embora abaixo da nossa previsão. Os preços industriais avançaram 0,13% m/m, abaixo da nossa estimativa (exp. 0,22%), com os preços dos veículos novos explicando o desvio. Esperamos que os preços dos bens industrializados acelerem ao longo do 2S24, na esteira de uma taxa de câmbio mais depreciada e em linha com as recentes leituras mais altas em preços aos produtores (especificamente os IPAs da FGV).

Em suma, uma surpresa baixista no IPCA é sempre bem-vinda, como refletido na boa reação do mercado ao dado – tal IPCA pode reduzir a pressão sobre as expectativas de inflação para 2024, que têm aumentado no período recente. No entanto, como temos argumentado, o alívio na inflação de curto prazo não deve compensar a recente depreciação da taxa de câmbio e (mais importante) o aumento das expectativas de inflação para 2025 e 2026. De grande relevância, nossa previsão de 3,8% para o IPCA de 2024 tem viés de alta, dado o recente reajuste nos preços da gasolina e do gás de cozinha, cujo impacto estimado é de cerca de 0,2pp. Em breve divulgaremos uma nota com nossas projeções atualizadas para o IPCA de 2024. Por fim, nossa expetativa para o IPCA de 2025 permanece em 4,3%.

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