Resumo
Nos Estados Unidos, a inflação segue persistentemente acima da meta do banco central, enquanto a atividade econômica mostra sinais de desaceleração gradual. Em reunião com tensão elevada, Zelensky e Trump não chegam a um acordo para o fim da Guerra da Ucrânia. Trump sinalizou, ainda, que a elevação de tarifas comerciais para México e Canadá acontecerá no início de março.
Na Alemanha, o PIB contraiu pelo segundo ano consecutivo, reforçando o cenário estruturalmente desafiador para a economia europeia.
No Brasil, incertezas pesaram sobre a taxa de câmbio, que atingiu 5,90 por dólar, o maior patamar desde o final de janeiro. O presidente Lula anunciou Gleisi Hoffman na Secretaria de Relações Institucionais e indicou novas medidas para injetar recursos na economia. Nos indicadores, o IPCA-15 veio abaixo do esperado, mas com composição ainda desafiadora; dados de emprego indicaram que o mercado de trabalho segue aquecido.
Gráfico da Semana

Cenário Internacional
Em reunião tensa, Zelensky e Trump não chegam a um acordo para o fim da Guerra da Ucrânia
O Presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, se reuniu com Donald Trump na Casa Branca para tratar sobre o fim da Guerra da Ucrânia, iniciada em 2022. A reunião foi marcada por tensão elevada entre os líderes. Para que os Estados Unidos participem de um Acordo de Paz, Donald Trump exigiu a formulação de um acordo de exploração mineral no território ucraniano, que conta com ‘terras raras’ – material utilizado em setores de alta tecnologia. O pedido foi rejeitado pela Ucrânia. Zelensky, por sua vez, pediu garantias de segurança e o envio de tropas americanas para a manutenção da paz após um possível acordo de cessar-fogo, mas não foi aceito por Donald Trump.
Com a elevação da tensão, Trump cancelou a coletiva que concederia junto ao líder ucraniano e pediu para que Zelensky se retirasse da Casa Branca. Em suas redes sociais, o Presidente americano postou que Zelensky desrespeitou os Estados Unidos e que pode voltar quando "estiver pronto para a paz"
Trump mantém cronograma para aplicar tarifas no México, Canadá e China
A elevação de tarifas comerciais dos EUA sobre as importações do Canadá e do México estão “dentro do prazo e do cronograma”, afirmou o presidente Donald Trump. O presidente fez a observação depois de perguntado se os países vizinhos tinham feito o suficiente para evitar a ação comercial. O presidente afirmou que as tarifas entrarão em vigência em 04 de março, mesmo dia em que a tarifa de 10% sobre a China será aplicada. As declarações levaram ao aumento do DXY (índice do dólar) e do preço internacional do petróleo (Brent).
Por fim, a semana também contou com novos sinais sobre o tema de tarifas recíprocas. Desta vez, do outro lado das negociações. O Comissário de Comércio da União Europeia afirmou estar disposto a trabalhar com o governo dos Estados Unidos na tentativa de avançar em direção a uma redução tarifária para bens industriais, além do aumento das compras de produtos americanos.
Inflação segue acima da meta em cenário de desaceleração gradual da economia americana
Nos Estados Unidos, o núcleo do deflator do PCE – principal indicador de inflação do país – avançou 0,3% em janeiro ante dezembro, conforme o esperado. Com isso, a variação acumulada em doze meses caiu de 2,8% em dezembro para 2,6% no mês passado. Sem surpresas relevantes, o primeiro PCE do ano corrobora a leitura de uma inflação americana que, ainda elevada, converge mais lentamente e de maneira irregular à meta de 2%.
Além disso, indicadores corroboraram o cenário de desaceleração gradual do mercado de trabalho americano. A confiança do consumidor se deteriorou pelo terceiro mês consecutivo em fevereiro, no mais recente sinal de que as famílias estão preocupadas com o efeito que as tarifas e a inflação podem ter na economia. Os pedidos semanais de seguro-desemprego avançaram de 220 mil para 242 mil na semana passada (dados com ajuste sazonal), acima das expectativas. Além disso, o Departamento de Comércio dos Estados Unidos divulgou ontem sua segunda estimativa para o PIB do 4º trimestre de 2024. O indicador cresceu 2,3% no trimestre passado (taxa de variação dessazonalizada e anualizada), confirmando a primeira leitura e as projeções de mercado.
A incerteza sobre a trajetória da inflação respalda a necessidade de uma postura mais cautelosa do Fed, que manteve os juros de referência no intervalo entre 4,25% e 4,50%. Não projetamos cortes de juros em 2025.
Na Alemanha, economia contrai pelo segundo ano consecutivo
A economia alemã encolheu 0,2% no último trimestre de 2024 em comparação com o trimestre imediatamente anterior, confirmando a leitura preliminar. Para o ano fechado, o PIB recuou equivalentes 0,2%. A crescente concorrência externa, os elevados custos da energia, as taxas de juro elevadas e a incerteza política afetaram a economia, que contraiu pelo segundo ano consecutivo.
Na seara política, a Alemanha foi às urnas para eleger os membros do parlamento federal, que posteriormente define o novo chanceler. A União Democrata-Cristã (CDU), partido de direita, obteve o maior apoio. O partido de extrema-direita Alternativa para a Alemanha (AfD) obteve o segundo maior número de votos. Já a centro-esquerda (SPD), do agora ex-chanceler Olaf Scholz, ficou em terceiro. O partido vencedor vai precisar fazer uma coalizão com uma ou mais siglas para conseguir a maioria do parlamento.
Enquanto isso, no Brasil...
Hoffmann na Secretaria de Relações Institucionais, Padilha na saúde
O Presidente Lula oficializou a nomeação de Gleisi Hoffmann, atual presidente do Partido dos Trabalhadores, como nova ministra da Secretaria de Relações Institucionais. Gleisi substituirá Alexandre Padilha, recém-indicado para assumir o Ministério da Saúde no lugar de Nísia Trindade. As nomeações acontecem em 10 de março. O Ministério de Relações Institucionais é responsável pela articulação política no governo.
Liberação de recursos do FGTS devem impulsionar atividade, mas elevam riscos sobre inflação
O governo deve liberar recursos do FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Serviço) dos trabalhadores que optaram pelo saque-aniversário. A mudança permitirá o acesso às verbas rescisórias para pessoas que foram demitidas nos últimos anos, mas não altera a dinâmica para os trabalhadores que optarem pelo saque-aniversário após a edição da medida provisória. De acordo com a estimativa oficial, um valor de até R$ 12 bilhões poderá ser liberado nos próximos meses. A medida pode impactar positivamente o consumo e elevar a atividade, mas terá efeitos sobre a inflação. Não há impacto fiscal, já que o FGTS não faz parte da conta única do Tesouro.
Incertezas políticas e risco fiscal levaram a taxa de câmbio de volta para R$/US$ 5,90
Depois da forte desvalorização do Real em dezembro, a taxa de câmbio havia se acomodado em patamar mais fortalecido, em torno de R$/US$ 5,70 em fevereiro. No entanto, as recentes incertezas políticas e o risco fiscal voltaram a pesar sobre os mercados. Isto posto, a taxa de câmbio retornou ao patamar de R$/US$ 5,90, o maior patamar desde o final de janeiro.
IPCA-15 abaixo das projeções não altera nossa visão de inflação pressionada em 2025
No Brasil, o IPCA-15 de fevereiro (prévia da inflação do mês) subiu 1,23% ante janeiro, abaixo das expectativas de 1,36%. Com isso, a inflação acumulada em 12 meses do IPCA-15 avançou de 4,50% para 4,96%. O índice foi marcado pela devolução dos descontos do Bônus Itaipu nas tarifas de energia elétrica e pelo aumento do ICMS dos combustíveis, que explicam a variação acima da sazonalidade. Apesar de abaixo das expectativas, o IPCA-15 de fevereiro não altera nossa visão de aceleração da inflação ao longo deste ano. Mantemos nossa previsão para o IPCA de 2025 em 6,1%.
Mercado de trabalho segue aquecido
Em janeiro, o Brasil registrou criação líquida de 137,3 mil empregos formais, acima das expectativas de 71,0 mil. Segundo nossas estimativas dessazonalizadas, o saldo de emprego formal aumentou de cerca de 26 mil em dezembro (surpresa negativa significante) para 165 mil em janeiro. O dado de dezembro foi revisado para baixo. Ainda assim, em nossa visão, a média de adição líquida de 95 mil ocupações nos últimos dois meses é mais condizente com o cenário de desaceleração gradual da atividade econômica. Ademais, a taxa de desemprego subiu de 6,4% em dezembro para 6,6% em janeiro. O indicador tem oscilado em torno de 6,5% desde outubro de 2024. O rendimento médio real do trabalho aumentou 0,2% em janeiro contra dezembro, o quarto ganho consecutivo. O indicador subiu 3,7% em comparação ao mesmo mês de 2024 e 4,4% no acumulado em 12 meses.
Em linhas gerais, as condições do mercado de trabalho continuam robustas. O emprego total vem perdendo força, especialmente nas categorias informais, mas permanece em patamares altos. Essa dinâmica corrobora nosso cenário base de desaceleração gradual da atividade. Projetamos que o PIB crescerá 2,0% em 2025, após expansão de 3,5% em 2024.
Poucas surpresas no resultado primário do governo central em janeiro, mas despesas preocupam
O resultado primário do governo central registrou superávit de R$ 84,9 bilhões em janeiro, ligeiramente abaixo das expectativas. Projetamos menor crescimento das receitas tributárias em 2025, em linha com o arrefecimento da atividade econômica. No entanto, acreditamos que o governo atingirá o limite inferior da meta de resultado primário com um esforço fiscal adicional relativamente pequeno. Nesse sentido, continuamos a ver pressão no lado das despesas e, com isso, um bloqueio de R$ 12,0 bilhões deve ser necessário para o cumprimento do limite de gastos este ano.
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Destaques da próxima semana
No cenário internacional, a semana contará com os principais indicadores de mercado de trabalho nos Estados Unidos. Ademais, destaque para a inflação ao consumidor e decisão de política monetária na zona do euro. Os indicadores PMI’s – pesquisa mensal com gestores sobre o sentimento econômico – para a China, Estados Unidos e zona do euro serão divulgados ao longo da semana.
No Brasil, semana relativamente calma devido ao feriado de Carnaval. O destaque será a divulgação do PIB de 2024. Projetamos aceleração nos setores de serviços e da indústria em relação a 2023. Por outro lado, a queda prevista para Agropecuária deve-se à forte safra de grãos vista no ano retrasado – portanto, uma alta base de comparação. Veja nossas projeções abaixo.


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