Resumo
Os dados econômicos nos Estados Unidos foram consistentes com o cenário de “pouso suave” da economia – redução da inflação sem causar recessão. O PIB americano confirmou a robustez da economia no terceiro trimestre do ano; os preços medidos pelo deflator do consumo (PCE deflator), continuam sinalizando um cenário de desinflação gradual em curso; e os dados de mercado de trabalho apontam para o equilíbrio.
Na Ásia, o governo chinês considera aprovar novos estímulos como tentativa de reanimar a economia. Na Europa, o PIB da zona do euro veio acima das expectativas. Parte do crescimento reflete eventos pontuais, mas a surpresa positiva afastou temores de recessão no curto prazo.
No Brasil, o Real se aproximou de 5,90 reais por dólar, o maior patamar desde maio de 2020, com influências domésticas e externas. Ademais, o mercado permanece atento ao anúncio de um pacote medidas de revisão de gastos pelo Executivo, mas a apresentação ainda não possui data prevista, conforme indicado pelo noticiário.
Com relação aos dados econômicos, a taxa de desemprego atingiu o menor valor da série histórica iniciada em 2012, corroborando o cenário de robustez do mercado de trabalho.
Gráfico da Semana
Cenário internacional
Economia robusta nos Estados Unidos afasta ainda mais riscos de recessão...
O PIB dos Estados Unidos cresceu 2,8% entre o 2º e o 3º trimestre de 2024 (na métrica anualizada) - levemente abaixo da projeção de mercado, mas confirmando que a economia americana segue robusta. O consumo das famílias (PCE, na sigla em inglês), que representa quase 70% do PIB, avançou 3,7%, superando as expectativas e permanecendo em trajetória altista, impulsionado pela resiliência do mercado de trabalho e pelo efeito riqueza decorrente da performance positiva do mercado acionário no país. As importações – que impactam negativamente o PIB – também aumentaram, refletindo a forte demanda doméstica. Prevemos desaceleração gradual nos próximos trimestres, em linha com o reequilíbrio do mercado de trabalho e a continuidade da alta de juros.
Já no campo da inflação, o núcleo do PCE – que exclui preços de itens voláteis – medida pelo PCE, principal indicador de inflação do Fed, o banco central dos Estados Unidos, continua apontando para um cenário de desinflação gradual, permanecendo relativamente estável em cerca de 2,7% no acumulado em 12 meses nas últimas 3 leituras. No entanto, riscos seguem no radar. O consumo robusto, a continuidade do ciclo de queda de juros, e o estímulo significativo das autoridades chinesas (que podem pressionar o preço de commodities globalmente) figuram entre tais.
...e dados de mercado de trabalho apontam para equilíbrio
Dados de mercado de trabalho nos Estados Unidos apontaram para criação líquida de apenas 12 mil vagas (abaixo das expectativas de 100 mil vagas), em divulgação que também revisou para baixo os dados de agosto e setembro. Por outro lado, o crescimento salarial ficou acima do esperado, enquanto e a taxa de desemprego manteve-se estável em 4,1%. A leitura mais fraca, entretanto, deve ser lida com cautela, uma vez que foi influenciada por eventos específicos, como os furacões Helene e Milton – que impactaram, em diferentes magnitudes, o Sudeste – e a greve dos trabalhadores na Boeing e na Textron. Acreditamos que o resultado mensal não reverte a tendência de um mercado de trabalho que se aproxima do equilíbrio.
Como observado, os dados recentes são consistentes com o cenário de “pouso suave” na economia americana – queda da inflação sem causar recessão. Assim, reforçamos nossa projeção de cortes de 0,25 p.p. da taxa básica de juros nas próximas reuniões do Fed esse ano - na semana que vem e em dezembro. Para 2025, prevemos cortes de mesma magnitude a cada duas reuniões, atingindo 3,5% no quarto trimestre do ano que vem.
Pesquisas eleitorais nos Estados Unidos seguem acirradas
As eleições gerais nos Estados Unidos serão na semana que vem. Segundo o site agregador de apostas RealClearPolling, o candidato Donald Trump está virtualmente empatado com Kamala Harris nas médias das pesquisas nacionais. No entanto, no mercado de apostas, Trump é considerado o favorito. Embora as pesquisas sejam bons indicadores de popularidade dos candidatos, elas não são a melhor forma de prever os resultados – diante da natureza do sistema do colégio eleitoral, no qual cada estado recebe um número de votos proporcional ao tamanho de sua população.
Em relação à pauta econômica, os mercados tendem a associar a vitória de Trump a um dólar mais forte e a intensificação de conflitos de natureza comercial (ex: imposição de tarifas). Ambos os candidatos, no entanto, apresentam visões e propostas que podem resultar em aumento do déficit público, o que pode atrapalhar o processo desinflacionário no país.
China considera aprovar novas medidas de estímulo
Segundo a agência de notícias Reuters, o governo da China considera aprovar na próxima semana a emissão de mais de 10 trilhões de yuan (o equivalente a US$ 1,4 trilhão) em dívida adicional nos próximos anos, como uma tentativa de reanimar sua economia.
O país continua a implementar novas políticas para tentar restaurar a confiança e o crescimento econômico. Na visão de parte dos investidores, uma potencial vitória de Trump levaria à elevação dos estímulos fiscais no país asiático, em resposta à imposição de tarifas contra produtos chineses. Dado que a China é o maior parceiro comercial do Brasil, suas medidas econômicas têm impacto significativo na valorização das commodities brasileiras, podendo contribuir para apreciação futura do Real.
Preços de petróleo Brent são influenciados por conflitos geopolíticos e decisões de produção da OPEP+
Os preços do petróleo Brent encerraram a semana em torno de US$ 73 por barril, com alta nos preços nos últimos dois dias. O movimento é atribuído à antecipação do mercado de uma possível resposta do Irã aos recentes ataques retaliatórios de Israel. Além disso, há especulações de que a OPEP+ possa adiar o aumento planejado na produção da commodity em dezembro, devido a preocupações com a demanda fraca e o aumento da oferta.
Como o petróleo é insumo para inúmeros bens no mundo todo, movimentos nos preços da commodity impactam a inflação global.
PIB e inflação da zona do euro são consistentes com corte de 0,25 p.p. na próxima reunião de política monetária
Na zona do euro, o PIB avançou 0,4% entre o 2º e o 3º trimestre, acima das expectativas de 0,2%. Atribuímos parte do crescimento à eventos pontuais, como os Jogos Olímpicos na França, país cujo PIB cresceu 0,4%. A Alemanha, maior economia da zona do euro, surpreendeu o mercado ao registrar crescimento de 0,2% (expectativas: -0,3%), impulsionada pelo aumento do consumo público e privado.
Com relação à inflação, o índice de preços ao consumidor subiu de 1,7% em setembro para 2,0% em outubro no acumulado em 12 meses, acima da expectativa de mercado. O núcleo da inflação – que exclui preços de itens voláteis – registrou crescimento de 2,7% em 12 meses, estável com relação a setembro.
Entendemos que os dados afastam os temores de recessão no curto prazo, e reforçam que, embora a inflação corrente esteja perto da meta, a convergência sustentável ainda não foi atingida. Portanto, o estado atual da economia é consistente com corte gradual de juros de 0,25 p.p. nas próximas reuniões do Banco Central Europeu.
Enquanto isso, no Brasil...
Real tem a pior performance entre os países emergentes
O Real fechou a semana em R$5,87, maior patamar desde maio de 2020, quando atingiu sua máxima nominal histórica em R$5,90. Foi a pior performance entre as moedas emergentes na semana. Lá fora, a moeda enfraqueceu em meio ao aumento da percepção de vitória de Donald Trump - o que estimula o chamado "Trump trade", isto é, a valorização de ativos que se devem se beneficiar da vitória republicana nas eleições, como o dólar. Aqui, o Real foi influenciado principalmente pela piora da percepção de risco fiscal - diante de incertezas sobre a dimensão do pacote de cortes de despesas a ser divulgado pelo governo.
Mercado segue atento às novas informações sobre o pacote de medidas de revisão de gastos
Ao longo da semana, os ministros Fernando Haddad, Rui Costa e outras autoridades se reuniram para tratar das medidas de revisão de despesas. De acordo com a ministra Simone Tebet, o Presidente Lula ainda não tomou a decisão final sobre o potencial pacote de medidas, apesar de já estar ciente das propostas da equipe econômica. Segundo o noticiário, não há expectativa pela apresentação das propostas na próxima semana, visto que Haddad estará em viagem à Europa.
Mercado de trabalho no Brasil segue robusto
O mercado de trabalho no Brasil permanece aquecido. A taxa de desemprego mensal e dessazonalizada recuou para 6,2% em setembro. É o nível mais baixo da série de dados iniciada em 2012. Os rendimentos reais do trabalho cederam moderadamente no mês, mas continuam em níveis elevados. Projetamos elevação de 4,5% para o rendimento médio em 2024 vs. 2023. Para 2025, projetamos desaceleração gradual (alta de 3%), em linha com a redução do impulso fiscal e o aperto das condições monetárias. Para mais informações, consulte nosso relatório especial “Renda real disponível às famílias deve crescer 3% em 2025, após salto de 7% em 2024”. Ademais, houve criação líquida de 247,8 mil empregos formais em setembro, acima das expectativas, também reforçando o cenário de mercado de trabalho aquecido. Praticamente todos os setores mostram saldo positivo de emprego.
Em geral, as condições do mercado de trabalho sustentam a demanda doméstica no curto prazo, fator positivo para as projeções de PIB. Ao mesmo tempo, essa dinâmica mantém as preocupações sobre inflação mais alta – especialmente em serviços – adiante. A nossa projeção para a taxa de desemprego no final do ano de 2024 – atualmente em 6,5% (com ajuste sazonal) – está viesada para baixo. Esperamos que o PIB do Brasil cresça 3,1% em 2024 e 1,8% em 2025.
Preço de carnes pressiona a inflação deste ano
O mercado continua revisando a projeção de inflação de 2024 para cima. Nesta semana, as expectativas de mercado no boletim Focus para o IPCA deste ano subiram de 4,50% para 4,55%. A alta recente se deve, majoritariamente, à dinâmica dos preços de alimentação no domicílio, impulsionada principalmente pelos maiores preços das proteínas, em especial a carne bovina. Os preços do boi gordo subiram quase 20% em São Paulo apenas no mês de outubro, enquanto as coletas de preços ao consumidor continuam a mostrar dinâmica de alta para as carnes. A alta reflete a inversão do chamado “ciclo do boi”, sendo ainda impulsionada pela seca, que afeta os pastos, e pela forte demanda por bovinos no Brasil e no exterior. Nossa projeção de IPCA, atualmente em 4,6%, tem viés altista.
Clique aqui para receber por e-mail os conteúdos de economia da XP
O que esperar da semana que vem
Na agenda internacional da semana que vem, o mercado estará atento no resultado das eleições dos Estados Unidos, que deve ser conhecido na 3ª-feira. Será definido o próximo presidente (Donald Trump ou Kamala Harris), 1/3 dos assentos do Senado, e a totalidade dos assentos da Câmara dos Deputados. Os mercados de aposta apontam para favoritismo do candidato Republicano. Além disso, destaque para a reunião de política monetária do Fed, na qual é amplamente esperada uma redução de 0,25pp na taxa básica de juros (5ª-feira). O Banco da Inglaterra também anunciará sua decisão no mesmo dia, com expectativa de redução na mesma magnitude. Na agenda de dados, indicadores serão divulgados na China, incluindo os resultados do comércio exterior (5ª-feira) e leituras de inflação ao consumidor e ao produtor (6ª-feira). Os dados são referentes a outubro.
No Brasil, a semana conta com eventos importantes. O destaque será a reunião do Copom na 4ª-feira. Acreditamos que o fluxo de dados desde a última reunião foi mais preocupante em relação à inflação. Assim, o Copom deve acelerar o ritmo de alta de juros para 0,50 p.p.. Na 6ª-feira, será divulgado o IPCA de outubro. Esperamos que os dados indiquem aceleração nos preços de alimentação no domicílio, majoritariamente devido a alto dos preços de proteínas, e de energia elétrica contribuam, devido ao acionamento da bandeira vermelha 2 no mês. Na seara fiscal, teremos o resultado primário do governo central na 5ª-feira. Veja nossas projeções abaixo.
Se você ainda não tem conta na XP Investimentos, abra a sua!