Resumo
Jerome Powell, presidente do banco central americano (Fed), passou uma mensagem mais dura durante evento do FMI. A fala reforçou cenário de menos cortes de juros neste ano. Projetamos o início do ciclo de flexibilização monetária nos EUA em dezembro (julho anteriormente). No mesmo evento, Roberto Campos Neto, presidente do BCB, emitiu sinais que também levaram à reprecificação sobre a taxa Selic.
Diante do cenário de juros americanos mais altos, câmbio mais depreciado, demanda doméstica resiliente e alta dos preços das commodities, o time de economia da XP revisou suas projeções para as principais variáveis macroeconômicas.
Na semana, o Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias trouxe mudanças nas metas de resultado primário para os próximos anos. Ainda vemos baixa probabilidade de cumprimento das metas, o que deve requerer (mais) medidas de aumento de arrecadação.
Cenário internacional
Postergamos o início do ciclo de flexibilização pelo Fed
As principais autoridades do banco central dos EUA não forneceram qualquer indicação sobre quando as taxas de juros poderão ser cortadas, dizendo, em vez disso, que a política monetária precisa ser restritiva por mais tempo. Jerome Powell, por exemplo, disse que “os dados recentes claramente não nos deram maior confiança e, em vez disso, indicam que é provável que leve mais tempo do que o esperado para alcançar essa confiança”. Ele também acrescentou que “neste momento, dada a força do mercado de trabalho e a inflação pressionada até o momento, é apropriado dar mais tempo para que a política restritiva funcione e deixar que os dados e a evolução das perspectivas nos guiem”.
Acreditamos que a inflação deva permanecer acima da meta por mais tempo. Agora vemos o Fed começando o ciclo de flexibilização em dezembro (antes: julho). Continuamos estimando a taxa neutra em 3,5%, embora essa não deva necessariamente ser alcançada no próximo ano.
Para mais informações, leia nosso relatório “Revisão de Cenário Brasil: Fed mais conservador, demanda doméstica aquecida e incertezas fiscais exigem cautela com política monetária”.
PIB da China supera expectativas, mas dados de atividade de março indicam enfraquecimento
O PIB chinês avançou 5,3% no 1º trimestre de 2024 em relação ao mesmo trimestre do ano passado, superando as expectativas do mercado de 5,0%. O resultado significou a expansão anual mais acentuada desde o segundo trimestre de 2023, em linha com as medidas contínuas de apoio do governo e gastos mais robustos relacionados às festas do Ano Novo Lunar. Nos primeiros três primeiros meses do ano, os investimentos em ativos fixos cresceram 4,5% a/a, a maior variação em três anos e acima do consenso de 4,3%. Os resultados mostram uma base sólida para o cumprimento da meta de crescimento do PIB de 5,0%.
No entanto, os dados publicados referentes a março mostraram um crescimento mais fraco do que o esperado na produção industrial e nas vendas no varejo, indicando que estímulos adicionais podem ser necessários. Enquanto isso, a taxa de desemprego atingiu 5,2% em março, ante 5,3% no mês anterior, permanecendo ainda em nível elevado.
Inflação na zona do euro corrobora cenário de primeiro corte de juros em junho
A inflação da zona do euro desacelerou para 2,4% a/a no mês passado, de 2,6% a/a em fevereiro, em linha com a estimativa preliminar divulgada no início deste mês. Enquanto isso, o núcleo da inflação – que exclui os preços voláteis de alimentos e energia – caiu de 3,1% a/a para 2,9% a/a. Apesar do arrefecimento do índice, os preços de serviços se mantiveram em 4,0% a/a, nível desconfortavelmente alto.
Projetamos que o Banco Central Europeu (BCE) reduzirá as taxas de referência a partir da reunião de junho. Embora o BCE não tenha se comprometido com um ritmo de flexibilização monetária, vemos espaço mais confortável para cortes sequenciais de 0,25 p.p. até o final de 2024.
Reações moderadas de mercado à crescente tensão no Oriente Médio
No final de semana, o Irã lançou ataque com mísseis e drones a Israel, embora a maior parte dos artefatos tenham sido interceptados pela defesa de Tel Aviv e não tenha gerado efeito relevante sobre os mercados. Na madrugada desta sexta-feira, Israel respondeu com ataques aéreos ao Irã. A princípio, os preços de ativos reagiram fortemente à notícia, mas, como Teerã minimizou os efeitos sobre sua infraestrutura e sugeriu não escalar o conflito, os mercados se acalmaram. Será necessário monitorar os acontecimentos no Oriente Médio, uma vez que os preços de petróleo e derivados seguem pressionados.
Para maiores detalhes, leia nosso relatório “O Voo do Petróleo | Gráfico da Semana”.
Gráfico da Semana
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Enquanto isso, no Brasil…
Revisamos nossas projeções macroeconômicas após reuniões do FMI
Diante dos dados recentes e das sinalizações dadas pelas autoridades monetárias, revisamos nossas projeções para o cenário macroeconômico de 2024 e 2025. No cenário externo, projetamos que o banco central americano (Fed) iniciará o ciclo de corte de juros em dezembro (antes prevíamos em julho). Agora, projetamos a taxa de câmbio em de 4,70 para 5,00 reais por dólar ao final de 2024 e de 4,90 para 5,15 ao final de 2025. O PIB de 2024 foi elevado de 2,0% para 2,2%, enquanto o de 2025, reduzido de 2,0% para 1,7%. Diante de câmbio mais depreciado, atividade resiliente e alta nos preços de commodities, revisamos o IPCA deste ano de 3,5% para 3,7%, enquanto o IPCA de 2025 segue em 4,0%. Por fim, esperamos que a taxa Selic encerre o atual ciclo de flexibilização monetária em 10,0% (antes 9,0%), com três cortes de 0,25 p.p. nas próximas nas próximas reuniões do Copom, e mantenha-se neste patamar até o final de 2025.
Para mais informações, leia nosso relatório “Revisão de Cenário Brasil: Fed mais conservador, demanda doméstica aquecida e incertezas fiscais exigem cautela com política monetária”.
Fala de presidente do Banco Central aponta para desaceleração no ritmo de cortes da taxa Selic
O Presidente do Banco Central do Brasil, Roberto Campos Neto, participou de uma reunião com investidores organizada pela XP em Washington, durante a conferência do Fundo Monetário Internacional (FMI). A autoridade falou a respeito dos impactos da deterioração no cenário externo e da mudança na meta fiscal sobre os preços de ativos financeiros, além de delinear cenários possíveis para a política monetária adiante.
Segundo Campos Neto, o Banco Central não terá medo de fazer o que é preciso para atingir suas metas. Além disso, também no evento, o diretor de política econômica do Banco Central, Diogo Guillen, teria reforçado preocupação sobre a evolução do cenário econômico e reforçou a possibilidade de reduzir o ritmo de flexibilização monetária, hoje em 0,50 p.p., nas próximas reuniões do Copom.
PLDO estabelece meta de déficit zero para 2025
O governo enviou ao Congresso o Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (PLDO), estabelecendo meta de déficit zero para o próximo ano. Isto representa uma redução no ritmo de ajuste fiscal inicialmente previsto pelo governo quando da apresentação do novo arcabouço fiscal, que previa um superávit de 0,5% do PIB para 2025. Vale ressaltar que, apesar da mudança, o governo necessitará apresentar medidas adicionais de elevação de arrecadação para atingir a meta. O texto também reduziu o esforço fiscal para os próximos anos, o que gerou desconforto entre especialistas do tema. Ao todo, o anúncio representa um aumento do risco fiscal e, consequentemente, das taxas de juros de longo prazo.
Para maiores informações, leia nosso relatório “PLDO 2025: Mudança de meta na lei de diretrizes orçamentárias mostra os limites da estratégia de consolidação fiscal do governo”.
IBC-Br sobe pelo quarto mês consecutivo, conforme o esperado
O Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) – proxy mensal para o PIB – avançou 0,4% em fevereiro contra janeiro, em linha com as expectativas. O resultado marcou a quarta elevação mensal consecutiva. Em comparação a fevereiro de 2023, o indicador cresceu 2,6%. Em síntese, a atividade doméstica ganhou tração nos últimos meses. O consumo das famílias permanece sólido em meio ao forte aumento da renda disponível. Além do mercado de trabalho firme e do elevado nível de transferências governamentais, chamamos a atenção para os efeitos dos pagamentos de precatórios no 1º trimestre de 2024.
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O que esperar da semana que vem
Na agenda internacional, serão divulgadas as sondagens empresariais PMI de abril no Japão, Estados Unidos, Reino Unido e na zona do euro. O PMI é uma sondagem com empresários sobre as condições econômicas e de negócios nos países. Na China, teremos a decisão das taxas de juros de 1 e 5 anos (2ª-feira). Na 5ª-feira, destaque para a primeira estimativa do PIB dos EUA do 1º trimestre. Na 6ª-feira, será divulgado o núcleo do deflator das despesas de consumo pessoal (PCE) nos Estados Unidos relativo a março – o principal índice de inflação para o Fed e o evento mais aguardado da semana.
No Brasil, o protagonismo da agenda econômica ficará pela divulgação do IPCA-15 de abril na 6ª feira. Esperamos que os preços administrados e de alimentos cedam na margem, enquanto subitens de Comunicação devem refletir altas de impostos estaduais e tarifas, exercendo pressão altista sobre o índice. Ainda sem data, serão divulgados os dados de arrecadação federal de março pela Receita Federal – sua prévia trouxe resultados frustrantes.
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