Resumo
Semana agitada no Brasil. O governo divulgou o pacote de contenção de despesas e uma proposta de mudanças no imposto de renda. O ajuste fiscal foi lido como insuficiente, elevando a volatilidade dos mercados. A taxa de câmbio fechou acima de 6 reais por dólar, o índice Ibovespa caiu quase 3,5% e a curva de juros abriu cerca de 1,0 p.p. na semana.
Em relação aos dados econômicos, a forte elevação dos preços de passagens aéreas pressionou o IPCA-15 de novembro, e nos levou a revisar projeção de inflação em 2024 de 4,9% para 5,0%. No mercado de trabalho, a taxa de desemprego caiu e salários reais reaceleraram.
No cenário internacional, Donald Trump anunciou Scott Bessent como futuro Secretário do Tesouro dos Estados Unidos – indicação bem avaliada pelo mercado. Ainda, o próximo presidente ameaçou elevar tarifas de importação para China, México e Canadá, caso os países não controlem melhor suas fronteiras.
Na geopolítica, Israel e Hezbollah anunciaram acordo de cessar-fogo após um ano de conflito.
Gráfico da Semana
Cenário internacional
Trump anuncia Scott Bessent como secretário do Tesouro e defende taxações adicionais sobre México, Canadá e China
Escolhido por Donald Trump, Scott Bessent, gestor de fundos que trabalhou com George Soros, foi nomeado o futuro Secretário do Tesouro dos Estados Unidos – o cargo é o equivalente a Ministro da Fazenda no Brasil. Bessent pretende implementar um plano econômico que chamou de “plano 3-3-3”, que objetiva atingir 3% de déficit público até 2028, 3% do crescimento real do PIB e produzir um volume adicional de 3 milhões de barris de petróleo. A indicação foi bem avaliada pelo mercado.
Donald Trump afirmou que o governo dos Estados Unidos adotará tarifas de importação de 25% ao México e Canadá quando assumir a presidência em 20 de janeiro, caso os países não controlem melhor suas fronteiras. O presidente eleito também ameaçou impor uma tarifa adicional de 10% sobre todas as importações chinesas até que Pequim interrompa o fluxo de drogas ilegais, especialmente fentanil, para os Estados Unidos. A sinalização reforça o risco de uma guerra comercial global sob a nova administração americana.
Dados de inflação e PIB vieram em linha com as expectativas
A inflação ao consumidor nos Estados Unidas medida pelo deflator de despesas do consumo pessoal – o dado de inflação mais relevante para o banco central americano – acelerou de 2,1% para 2,3% no acumulado em 12 meses, em linha com as expectativas. O núcleo de inflação, que exclui itens com preços mais voláteis, também subiu: de 2,7% para 2,8%, confirmando as projeções. Em relação ao PIB do 3º trimestre, a segunda leitura permaneceu em 2,8%, um ritmo forte.
Com os dados de atividade doméstica fortes e a inflação ao consumidor ainda acima da meta de 2,0%, o mercado se divide sobre as próximas decisões de política monetária. Continuamos a esperar um corte de 0,25 p.p. na próxima reunião (em 18/12) e uma taxa terminal de 3,5% no final de 2025.
Israel e Hezbollah anunciam acordo de cessar-fogo
Israel e Hezbollah anunciaram um acordo de cessar-fogo. O acordo foi mediado pelos EUA e prevê a retirada gradual das forças israelenses do Líbano em 60 dias, enquanto o Hezbollah será impedido de reconstruir sua infraestrutura no sul do país. Os Estados Unidos e a França ajudarão na implementação do acordo, mas sem envio de tropas americanas ao território libanês. O conflito entre Israel e Hezbollah começou há um ano, após o grupo disparar foguetes em solidariedade ao Hamas.
Enquanto isso, no Brasil...
Governo anuncia isenção de IR para quem ganha até R$ 5 mil junto com o pacote contenção de gastos
O Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciou nesta semana o pacote de medidas para conter o crescimento das despesas. Como esperado, as principais estão relacionadas às mudanças no salário-mínimo, no abono salarial, no BPC/LOAS, nas emendas parlamentares e nas pensões militares. A medida estrutural mais importante é a regra do salário-mínimo. Contudo, mesmo essa alteração não é suficiente para que despesas, como benefícios previdenciários, cresçam abaixo do teto de gastos. Além disso, há uma série de mudanças pequenas que alteram apenas o nível de gasto no curto prazo, sem modificar sua trajetória de crescimento. Para detalhes, leia nosso relatório “Ajuste gradual. Será suficiente? Nossa análise inicial sobre o pacote fiscal”.
No mesmo comunicado, o Ministro anunciou a ampliação do limite de isenção do imposto de renda para R$ 5.000 por mês, dos atuais R$ 2.824 – à qual o mercado reagiu negativamente (ver abaixo). Para compensar o impacto fiscal, o governo proporá a taxação dos “super-ricos”, uma tributação mínima para pessoas físicas que recebem mais de R$ 50.000 por mês.
.... e mercado reage negativamente às medidas
Na semana, a taxa de câmbio encerrou em cerca de 6 reais por dólar (depreciação de 3,3%), o maior nível da história do Real, enquanto praticamente toda a curva de juros abriu cerca de 1,0 pp., com expectativas de que a taxa Selic atinja 15%. Por sua vez, o Ibovespa caiu pouco mais de 3% na semana.
Em nossa avaliação, mesmo com as novas regras, a sustentabilidade do arcabouço fiscal continuará desafiadora nos próximos anos. Segundo nossas projeções, o espaço para despesas discricionárias deve atingir níveis preocupantes já em 2027. A partir de 2028, novas reformas serão necessárias para que o limite de despesas seja mantido de forma sustentável. Calculamos que as medidas anunciadas pelo governo totalizem R$ 43 bilhões em contenção de despesas até 2026, abaixo das estimativas oficiais de R$ 70 bilhões. Ademais, o anúncio da proposta de isenção do IRPF até R$ 5 mil (com medidas de compensação) adicionou incertezas no debate fiscal.
Revisamos nossa projeção de inflação em 2024 de 4,9% para 5,0%
O IPCA-15 – prévia da inflação do mês – avançou 0,62% entre outubro e novembro, acima das expectativas de 0,50%. A dinâmica do grupo de serviços reforçou nossa visão de deterioração nos próximos meses, impulsionada pela forte demanda doméstica, pelo mercado de trabalho aquecido e pelas expectativas de inflação desancoradas. Além disso, vale mencionar que os preços de passagens aéreas (subitem volátil) dispararam 22% no mês, acima de nossa projeção de 6%. Ao incorporar esta surpresa, elevamos nossa projeção para o IPCA de 2024 de 4,9% para 5,0%. No geral, o IPCA-15 de novembro não alterou nossa visão de um cenário de inflação desafiador adiante. Para maiores detalhes, leia o relatório completo “Projetamos IPCA de 5,0% em 2024, após IPCA-15 acima do esperado”.
Ainda sobre inflação, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) decidiu postergar a distribuição do valor de R$ 1,3 bilhão do bônus de Itaipú nas contas de luz para janeiro. Esse valor refere-se ao bônus de comercialização da parte brasileira da Usina Hidrelétrica Itaipu Binacional e resulta em um desconto na conta de luz dos consumidores no mês correspondente. Consequentemente, projetamos impacto baixista de 0,6 p.p. no IPCA de janeiro com alta correspondente em fevereiro. Desse modo, a medida não afetará a inflação fechada de 2025, que projetamos em 4,7%.
Lula anuncia três novos diretores do Banco Central
O presidente Lula indicou os três nomes restantes para as diretorias do Banco Central. Para o cargo de Diretor de Política Monetária, que atualmente é ocupado por Gabriel Galípolo, futuro presidente da autoridade, foi escolhido Nilton José Scheider, que é chefe de Operações de Tesouraria do Banco Bradesco. Para a Diretoria de Relacionamento Institucional, Cidadania e Supervisão de Conduta, o nome indicado foi Izabela Correia. Por fim, Gilneu Vivan foi escolhido para a Diretoria de Regulação.
Mercado de trabalho permanece sólido
No Brasil, o relatório CAGED – Cadastro Geral de Empregados e Desempregados – mostrou criação líquida de 132,7 mil empregos formais em outubro, abaixo das expectativas. Todos os setores registraram criação líquida de ocupações, embora em ritmo mais moderado. Enquanto isso, segundo nossas estimativas mensalizadas, a taxa de desemprego – medida pela PNAD Contínua – subiu para 6,4% em outubro ante 6,2% de setembro, o primeiro aumento desde fevereiro. A despeito disso, os salários reais voltaram a subir nessa leitura - ajustado pela inflação, o rendimento médio habitual cresceu cerca de 1,0% entre setembro e outubro, mais que compensando a queda de 0,5% registrada no mês anterior.
Em linhas gerais, as condições do mercado de trabalho permanecem sólidas, sustentando nosso cenário-base de um “pouso suave” na atividade doméstica no próximo ano – cenário em que há relativo controle da inflação sem recessão econômica. O consumo das famílias continuará em trajetória de alta, embora de forma mais moderada. Com relação ao PIB, projetamos crescimento de 3,4% em 2024 e 2,0% em 2025.
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O que esperar da semana que vem
No cenário internacional, destaque para divulgações de estatísticas de mercado de trabalho nos Estados Unidos, com destaque para o relatório de emprego (Payroll) de novembro na 6ª-feira. Na 4ª-feira, será a vez do Livro Bege ser divulgado – trata-se de um documento que compila estatísticas regionais de atividade econômica pelas autoridades monetárias locais. Por último, os índices PMI de novembro serão divulgados nos Estados Unidos, Zona do Euro, Reino Unido e China – o índice PMI reflete uma sondagem com empresários sobre as condições econômicas e de negócios nos países.
No Brasil, o protagonista da próxima semana será o PIB do 3º trimestre na 3ª-feira. Esperamos avanço de 0,9% em comparação ao 2º trimestre e de 4,1% ante o 3º trimestre de 2023. Revisamos recentemente nossa projeção para o PIB de 2024, de 3,1% para 3,4%. Ademais, o IBGE divulgará a Produção Industrial (PIM-PF) de outubro na 4ª-feira – estimamos alta moderada na comparação mensal, após avanço expressivo em setembro. Veja nossas projeções abaixo.
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