Este ano está se mostrando como um dos mais desafiadores dos últimos tempos. Guerra entre Rússia e Ucrânia, crise energética na Europa, inflação alta em praticamente todos os cantos do mundo, entre outros fatores que vêm prejudicando a rentabilidade da maioria dos investimentos. Os ativos de risco foram ainda mais impactados por conta da alta de juros, determinada pelos bancos centrais e não há previsibilidade de quando esse aperto monetário irá diminuir.
Diante deste cenário, vale a pena investir em criptoativos?
Diferente dos outros ciclos de queda como 2014 e 2018, o cenário macroeconômico vem sendo o mais decisivo na direção dos preços dos criptoativos. Porém, se olharmos o desenvolvimento dos setores em si, houve um crescimento significativo de novos projetos em infraestrutura, DeFi e NFTs, acompanhado de uma onda de regulação, que traz mais segurança a todos participantes. Além disso, investidores institucionais estão cada vez mais presentes nesse mundo, como por exemplo:
- BlackRock: A maior gestora de ativos do mundo anunciou em agosto deste ano, uma parceria com a Coinbase, com o objetivo de tornar mais fácil a negociação e gerenciamento dos investimentos em Bitcoin, por parte dos investidores institucionais.
- Fidelity: A corretora de valores americana, com mais de 30 milhões de clientes, anunciou que haverá negociação de Bitcoin e outras criptomoedas em sua plataforma.
- BNY Mellon: Um dos bancos mais antigos dos EUA lançou uma plataforma de custódia digital para proteger as participações de Ether e Bitcoin (BTC) de clientes selecionados.
- Nasdaq: Na mesma linha do BNY Mellon, a bolsa americana de tecnologia está planejando adentrar no segmento de serviços de custódia de criptomoedas para investidores institucionais, iniciando pelo Bitcoin.
A maioria dos projetos novos podem levar tempo até a concretização de suas teses, dependendo do cenário que nos encontramos. Dos milhares criptoativos que existem hoje, os dois maiores e mais consolidados são o Bitcoin e Ethereum. Abaixo, discorremos sobre algumas razões para alocar uma parte do seu portfólio nesses dois principais ativos digitais.
Bitcoin
O primeiro e maior criptoativo atualmente, surgiu em 2009, com o propósito de criar um sistema que permitisse o envio e recebimento de dinheiro virtual sem a necessidade de um intermediador, como bancos comerciais e reguladores financeiros. Vemos dois principais motivos para a exposição em Bitcoin:
Ouro digital
Dado algumas características como escassez, pela sua oferta limitada de 21 milhões de unidades, o fato de poder ser transacionado entre qualquer pessoa ao redor do mundo e ter liquidez, o Bitcoin é considerado por alguns uma reserva de valor.
Por que ainda há um consenso no mercado tradicional que ele não é? Por causa de sua alta volatilidade. Outras reservas de valor, como o ouro e dólar se provaram mais estáveis ao longo do tempo.
Conforme uma maior adoção de pessoas, investidores institucionais e governos nesse mercado, é esperada maior estabilidade da cotação desse criptoativo.
Em complemento a este ponto, a oferta total nas mãos dos HOLDers atingiu seu recorde histórico de mais de 13,5 milhões de Bitcoins. Isso mostra que mais de 70% da oferta em circulação está nas carteiras dos investidores por mais de 155 dias, reiterando a convicção de que o valor do Bitcoin é um investimento de longo prazo.
Cada vez mais escalável
A rede do Bitcoin é maior do que nunca. Existem mais carteiras, exchanges e plataformas disponíveis para os usuários do que 13 anos atrás. No entanto, ela não é capaz de processar um número muito alto de transações por segundo comparado a outras redes e isso pode prejudicar a adoção em massa de pessoas para utilizarem o ativo digital no dia a dia.
Para resolver este problema surgiu a Lightning Network, um protocolo que permite aos usuários criar canais de pagamento (payment channels) onde as transações podem ocorrer fora da blockchain principal, mas ainda se beneficiam da segurança e descentralização do Bitcoin. Esta solução de segunda camada pode processar 1.000.000 TPS (transações por segundo), enquanto a primeira camada (rede principal) processa 7 TPS.
Recentemente, a capacidade histórica da Lightning Network atingiu 5.000 BTC, indicando o crescimento da rede ao mesmo tempo que mais liquidez está disponível. Como resultado, os usuários podem realizar transações mais rápidas e com maiores volumes. Adicionalmente, mais empresas, principalmente no setor de varejo, estão aceitando criptomoedas como forma de pagamento, impulsionando seu uso.
Ethereum
Lançada em 2015, a Ethereum é considerada a “internet” do universo cripto, pois trata-se da principal plataforma que permite a programação de aplicativos descentralizados, contratos inteligentes e transações do criptoativo Ether e inúmeros tokens. Vemos dois principais motivos para ter uma exposição em Ethereum:
Futuro multichain
Desde sua criação, a busca do mercado por outras plataformas de smart contracts se deu pela insatisfação provocada pelas altas taxas e tempo de transação da rede. Como a Ethereum prioriza a descentralização e a segurança da rede, há períodos de congestionamento e suas taxas podem ficar maiores que o valor do ativo que está sendo transacionado.
Por conta desses fatores, blockchains como BNB Chain, Avalanche, Solana, Polygon, entre outras, ganharam notoriedade por seus mecanismos de escalabilidade e grande velocidade de transação, atraindo muito investimento e usuários.
Nós enxergamos que o futuro será multichain, no qual essas e outras redes, além da Ethereum, exercerão um papel diferente no mundo cripto, conectadas entre si. Pela sua relevância ao centro desse contexto multirede, a maioria das aplicações serão compatíveis com EVM, software que executa todos os tipos de transação na blockchain da Ethereum. Dessa forma, haverá ainda mais chances de absorver valor para o seu ecossistema.
A Ethereum tem a vantagem do pioneirismo sobre as outras plataformas, possuindo o maior Value Locked, indicador que avalia a escala de adoção de um projeto DeFi, calculando o valor total de todos os ativos depositados nos contratos inteligentes.
Evolução e deflação
Em setembro deste ano, a Ethereum fez umas das maiores atualizações já vistas no universo cripto. Ela mudou seu modelo de consenso de Proof-of-Work (PoW) para Proof-of-Stake (PoS), aprimorando diversos aspectos de sua tecnologia, principalmente a diminuição do gasto energético para gerar novos blocos na rede. Estima-se que o PoS é 2.000 vezes mais eficiente em termos de uso de energia, o que reflete na diminuição de 99% em comparação ao PoW.
Ao longo dos próximos anos, a Ethereum pretende fazer novas atualizações, principalmente focada em escalabilidade. Atualmente ela suporta 30 transações por segundo (TPS), o que ainda pode gerar atrasos e congestionamentos na rede. Em 2023, é esperado a implementação de Shared Chains, separando o seu banco de dados em segmentos menores. Espera-se, com essa mudança, o processamento 100 mil transações por segundo, reduzindo as taxas e mantendo o nível de segurança da blockchain.
Como o The Merge representou o fim da atuação de mineradores, a recompensa de Ether pelo poder computacional exercido foi eliminado, diminuindo mais de 90% na taxa de criação do criptoativo. Combinado com a EIP-1559, uma atualização ocorrida em 2021, se iniciou a “queima” de Ether, conforme a demanda por validações, o que implica em sua característica deflacionária.
Em outras palavras, quanto mais atividade na rede, menos Ether estará em circulação e poderá impactar positivamente no preço do ativo.
E os indicadores fundamentalistas?
As redes do Ethereum e Bitcoin geram constantemente dados financeiros abertos e incorruptíveis que nos permitem entender em qual fase do ciclo de mercado estamos, como também o sentimento e o comportamento dos participantes. Elencamos dois indicadores que nos mostram o atual momento, como promissor para o investimento em ambos os ativos.
NUPL
O NUPL (Net Unrealized Profit/Loss) mede a proporção de ativos digitais na rede que têm lucro em comparação com aquelas que não têm. Ou seja, o intuito desse indicador é mostrar hipoteticamente, se todas as unidades do ativo digital fossem vendidos hoje, os investidores ganhariam ou perderiam. Se o NUPL está acima de 0, há mais investidores com lucro. Abaixo de 0, a maioria deles estão com prejuízo, se caracterizando um momento de capitulação. Para o Bitcoin, o indicador está em -0.07 e para a Ethereum, -0.05.
MVRV
Outro indicador também utilizado por muitos investidores, é o MVRV (Market Value to Realized Value). Ele mede a relação entre o valor de mercado do ativo e seu valor de mercado realizado, sendo o segundo, a média de quanto os detentores atuais de um criptoativo pagaram por ele. Valores acima de 1 mostram que o ativo está sobrevalorizado, enquanto os valores abaixo de 1, mostram o contrário. Atualmente, o MVRV do Bitcoin e Ethereum se encontra em 0.92, e 0.85, respectivamente.
Algumas considerações
Como pudemos ver, o Bitcoin e Ethereum podem ser vistos como opções consideráveis para a sua exposição nessa classe de ativos, visto que suas tecnologias subjacentes detêm potencial de serem implementadas em várias frentes da revolução digital que ocorre hoje em dia, além do atual momento ser promissor para investir.
Aqui, também cabe ressaltar os riscos envolvidos. Neste ano, com o colapso da Terra (LUNA) e a falência de outros players como Celsius Network, uma das grandes empresas de financiamentos e a Three Arrows Capital (3AC), um dos maiores hedgefunds, nos demonstra que o mercado ainda precisa amadurecer.
Em relação ao tamanho da posição, a alta volatilidade observada nos dois criptoativos pode prejudicar o retorno financeiro dasua carteira. Por isso, sugerimos uma pequena alocação nessa classe de ativos, sendo ma. Recomendamos que invista pensando nos retornos do longo prazo, ou seja, um valor que você não precisará no curto prazo. Dessa forma, você poderá obter um desempenho positivo ao longo do tempo, mitigando (porém, não eliminando por completo) os riscos.
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