A tendência é sua amiga

Para dar a você mais insights sobre estratégias quantitativas, quero me concentrar nos benefícios dessa abordagem. Uma das principais vantagens de uma estratégia puramente sistemática é a eliminação dos vieses comportamentais. Esses vieses podem fazer com que os participantes do mercado reajam de forma exagerada, motivo chave para o mercado apresentar e mostrar suas tendências.

Um bom exemplo desse fenômeno é o chamado “viés de ancoragem”, tendência comum entre os investidores de confiar demais nos preços recentes como um indicador de “valor justo”. Isso causa longos períodos de tendência. O quão normal e tentador é, para nós, acreditar que algo que recentemente aumentou de preço continuará sua trajetória ascendente?

Assim como na vida fora dos mercados, de forma geral, os investidores buscam por confirmação e, naturalmente, procuram informações que endossem suas opiniões e crenças, o que se traduz na compra de ativos em alta e na venda de ativos em queda. E, novamente, reforço aqui: isso causa fases prolongadas de tendência nos mercados.

Constantemente, vemos os investidores reagirem de forma exagerada a novas informações, como notícias, movimentos de mercado mais recentes, rumores, fofocas, barulho… notícias falsas! Isso cria movimentos de preços maiores do que as informações e fatos concretos garantem, o que, mais uma vez, causa tendências ainda mais fortes.

Já perceberam como os investidores em geral têm tendência para uma mentalidade de rebanho? Eles agem como um grupo, perseguem os preços em alta e tentam escapar dos preços em queda. Os investidores seguem o que outros investidores estão fazendo, se juntam e acabam aplicando exatamente da mesma forma. Bem, você já deve até saber o que vou falar: essa conduta tão comum, novamente, cria… tendências de mercado!

Como podemos nos beneficiar dessas tendências? Não faria sentido criar uma estratégia ativa que buscasse alavancar os movimentos de alta e de baixa no mercado, capturando e controlando as tendências do mercado? Isso é exatamente o que fazem as estratégias de Trend Following, área a que tenho dedicado grande parte da minha carreira como gestora e investidora.

O objetivo desse tipo de estratégia de investimento é gerar retornos explorando as características estatísticas dos mercados, usando algoritmos para detectar tendências e remover vieses humanos. As estratégias de acompanhamento de tendências geralmente abrangem várias classes de ativos, como ações, renda fixa, commodities e moedas e são uma forma eficiente de obter exposição em toda essa ampla gama de mercados.

A maioria das outras estratégias de investimento concentra-se em um segmento específico do universo de investimento, por exemplo, uma classe de ativos ou geografia específica, como, por exemplo, Ações das bolsas norte-americanas ou títulos High Yield dos mercados emergentes. A Trend Following tende a ter baixa correlação com essas outras estratégias de investimento, o que a torna uma adição benéfica, pois diversifica mais ainda a maioria das carteiras de investimento.

No contexto recente do ambiente de mercado, no qual temos observado correlações crescentes entre classes de ativos mais tradicionais, como ações e bonds globais, adicionar uma verdadeira fonte de diversificação como a Trend Following parece mais relevante do que nunca.

Mais importante ainda, em particular em períodos de estresse dos mercados, o principal desafio para uma carteira de investimentos é que as correlações entre as classes de ativos aumentem de forma constante. Esse efeito indesejável pode prejudicar a capacidade de muitas estratégias de oferecer diversificação durante períodos de extrema volatilidade ou desaceleração nos mercados. Mas acontece o contrário, na verdade: durante as quedas nas bolsas, a correlação entre as estratégias de acompanhamento de tendências e os mercados de ações normalmente diminui.

A estratégia de Trend Following não apenas proporcionou preservação de capital, mas gerou retornos absolutos positivos em alguns dos piores momentos dos mercados, como na crise financeira de 2008, a liquidação do 4º trimestre de 2018 e a pandemia da covid-19, que estamos vivenciando.

Ouça Leda Braga e conheça mais sobre a Systematica no podcast Outliers, parceria entre a XP e o Infomoney

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