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Recessão ou inflação persistente? Os principais debates das reuniões do FMI

Neste XPresso, destacamos as principais conclusões das reuniões e das conversas com investidores na semana da conferência do FMI, em Washington.

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Na semana passada, a XP recebeu, em Washington, vários formuladores de política dos governos e bancos centrais do Brasil, México, Chile, Colômbia, Argentina e Peru. O evento aconteceu ao redor das Reuniões Anuais de Outono do FMI – Banco Mundial.

Neste XPresso, vamos destacar as 10 principais conclusões das reuniões e das conversas com investidores:

  1. A inflação pode ter vindo para ficar: todos pareciam concordar que o pico da inflação está próximo, chegando mais cedo em algumas regiões do que em outras. No entanto, vimos um grande consenso de que, embora a redução da inflação para ~4,0-5,0% nos países desenvolvidos seja relativamente “fácil” de acontecer, a próxima etapa de redução (até 2%) será muito mais difícil. Isso provavelmente exigiria taxas de juros muito mais altas, uma recessão mais profunda e/ou um choque sistêmico (como uma crise financeira) que levaria a uma parada repentina na economia global. É claro que nenhum desses cenários seria positivo para ativos de risco.
  2. A desconexão entre taxas de juros e inflação: à medida que o debate da “inflação persistente” se acirrava, vimos um alto grau de discussão sobre qual seria o nível correto para a taxa de juros neutra, que estabilizaria a atual dinâmica de alta inflação. Por enquanto, há pouco consenso sobre qual seria esse nível de juros neutro.
  3. Recessão global, mais “quando” do que “se”: um número cada vez maior de economistas e participantes do mercado estão agora esperando uma recessão nos próximos 12 meses como o “cenário base”. Embora esse ainda não seja o cenário base dos formuladores de políticas, a crescente probabilidade de uma recessão global foi discutida em quase todas as reuniões. A Europa é a região vista com maior risco de entrar em recessão. Vários também reconheceram, no entanto, a resiliência de alguns setores da economia, como o mercado de trabalho e o consumidor. Essa resiliência pode atrasar o início e/ou diminuir a profundidade de uma possível recessão adiante.
  4. A geopolítica está no radar, mas os riscos estão efetivamente precificados? A guerra em curso na Ucrânia, os crescentes sinais de laços entre a Rússia e a China, e as tensões em torno de Taiwan são alguns dos principais eventos geopolíticos no radar. Embora o mercado tenha reduzido recentemente o prêmio de risco atribuído à guerra (como visto na queda dos preços do trigo e do petróleo), qualquer escalada adicional pode levar a uma maior volatilidade nos mercados.
  5. Os mercados são complacentes devido ao grande número de riscos macro? O número de riscos no radar é bastante alto, que inclui geopolítica, inflação alta e pegajosa, um risco crescente de recessão, escassez de energia, turbulência política, para citar alguns. Como tal, alguns investidores com quem conversamos estão decididamente pessimistas quanto às perspectivas e acreditam que os mercados ainda estão complacentes com alguns desses riscos. Achamos esse argumento um pouco difícil de acreditar, pois as carteiras 60/40 já estão experimentando o pior desempenho em 2022 nos últimos 100 anos! Isso não nos parece complacência…
  6. Quando o dólar reverterá sua mega tendência de alt? O desempenho do dólar americano não foi nada aquém de espetacular este ano. O índice do dólar (DXY) subiu 18% no acumulado do ano e +17% em relação ao euro, +20% em relação à libra esterlina e +29% em relação ao iene japonês. Várias razões ajudam a explicar por que o dólar chegou aqui: 1) fuga para a segurança em tempos turbulentos, 2) o diferencial da taxa de juros, pois o Fed está à frente de outros bancos centrais de países desenvolvidos, e 3) diferencial de crescimento – como a economia dos EUA tem se mostrado mais resiliente. A questão é quando essa tendência se reverterá, e vários investidores esperam que isso possa ocorrer em algum momento em breve.
  7. O próximo movimento do Banco Central brasileiro é um corte de juros? Após a recente pausa no aperto monetário no Brasil, a próxima pergunta obviamente é “quando o Banco Central vai cortar as taxas?”. Enquanto o mercado espera cortes na Selic já em março, o discurso do BC parece mais duro, reconhecendo que o núcleo da inflação e a inflação de serviços permanecem teimosamente altos, apesar da recente deflação na manchete. Com isso, o Banco Central reforça a mensagem de que manterá as taxas inalteradas por um período “prolongado” até que o núcleo da inflação e as expectativas de inflação fiquem abaixo da meta. O aperto monetário agressivo nos bancos centrais desenvolvidos também é algo a ser considerado pelo BCB. Nossa equipe espera que os cortes comecem em meados de 2023, e a Selic termine o ano em 10%, vs. 13,75% agora.
  8. Bancos centrais da América Latina aparecem à frente da curva, mas a dinâmica da inflação ainda é um ponto de interrogação: o histórico de inflação na América Latina levou os bancos centrais da região, como no Brasil, a iniciar o aperto monetário antes dos países desenvolvidos. Com isso, a América Latina está agora mais adiantada no ajuste monetário, com taxas de juros de curto prazo em 13,75% no Brasil, 11,25% no Chile, 10% na Colômbia e 9,25% no México. Isso está atraindo investidores para a região, já que a região da América Latina é vista como menos “atrás da curva” quando comparada ao Federal Reserve (EUA), Banco Central Europeu, Banco da Inglaterra e Japão.
  9. A América Latina, especialmente Brasil e México, são um grande consenso: percebemos que os investidores estão bastante otimistas na América Latina, mas principalmente com o Brasil e México. No Brasil, o nível de preço atrativo, a relativa estabilidade em relação à outros emergentes, a alta exposição à commodities e o alto nível das taxas de juros são os principais motivos por trás desse otimismo. No México, os investidores estão otimistas com as perspectivas do país se beneficiar do aumento das tensões entre a China e os EUA, com mais empregos industriais se mudando para o país (“re-shoring”).
  10. A China vai ajudar o mundo a sair do buraco, ou vai arrastar o mundo com ela? A China foi outro tema de debate, dada a relevância para a América Latina como parceiro comercial, para os preços de commodities e para o crescimento global. O consenso da Bloomberg espera que o crescimento do PIB chinês desacelere para +3,3% em 2022 (e vários economistas esperam +2,5%). A política de “zero Covid” teve um impacto relevante na China este ano, e o consenso espera que ela diminua em 2023. Em 2023, o consenso espera uma recuperação para +5,0%, o que pode ajudar o resto do mundo, se acontecer. No entanto, o abrandamento do setor imobiliário, que representa cerca de 30% do PIB, continua a ser motivo de preocupação para a economia chinesa.

Conclusão: Saímos das reuniões do FMI com uma visão positiva para a América Latina e, principalmente, para o Brasil. Os elevados riscos no mundo acabam por destacar a região como um destino atraente para os investidores globais, o que pode fazer com que o descolamento do desempenho continue. Até agora em 2022, o MSCI EM Latin America está praticamente estável, a bolsa no Brasil sobe +12%, enquanto nos EUA, Europa e Ásia caíram entre 20-30%. No entanto, a região não está isolada, e os riscos de uma recessão global profunda e uma escalada de riscos geopolíticos precisam ser monitorados de perto pelos investidores.

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