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Vale e as siderúrgicas: O que fazer?

Revisamos nossas estimativas para o setor siderúrgico, com a Gerdau como nosso nome favorito, agora seguido de CSN, cujas ações ainda devem permanecer sustentadas, e reduzindo a recomendação da Usiminas de Compra para Neutro.

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Os últimos meses têm sido de muita volatilidade para o setor de mineração e siderurgia. A tragédia de Brumadinho levou a uma fortíssima correção das ações da Vale, mas conforme temos destacado, acreditamos que os riscos já estão precificados, e recomendamos a COMPRA, mesmo após a alta recente. Na siderurgia, resultados aquém do esperado no 4T, somado a um começo de ano mais fraco para a Gerdau e Usiminas, têm pesado nas ações de ambas as empresas, enquanto que a CSN se beneficiou de um minério mais forte e entregou na frente de venda de ativos, o que levou a alta expressiva dos papéis. Após esses movimentos, revisamos nossas estimativas para o setor siderúrgico, com a Gerdau como nosso nome favorito, agora seguido de CSN, cujas ações ainda devem permanecer sustentadas, e reduzindo a recomendação da Usiminas de Compra para Neutro.

Em linhas gerais, as ações do setor de siderurgia não nos parece o setor mais claro para se beneficiar do atual cenário no Brasil, pelo menos não em 2019. Em nossa visão, as expectativas de consenso refletiram essa retomada antes na siderurgia do que em outros setores, e agora estão sendo ajustadas para uma retomada mais gradual, enquanto que os múltiplos não nos parecem muito atrativos. Gerdau talvez seja a exceção, motivo pelo qual a preferimos no setor, com uma retórica que deve ganhar tração ao longo dos próximos trimestres, acelerando em 2020, somado à uma potencial surpresa positiva em relação aos dividendos. No que se refere à Vale, ela se destaca frente às siderúrgicas, com múltiplo muito descontado e gradualmente voltando a negociar em fundamentos. Dito isso, preferimos Vale frente à Gerdau, seguido de CSN e, por fim, Usiminas. 

Gerdau (GGBR4): COMPRA – R$21,0/ação, 35% de alta potencial

Os resultados surpreenderam em 2018, mas após um 4T fraco e um começo de ano com tendência similar em 2019, as ações corrigiram do pico de quase R$17 em setembro, para perto de R$15 hoje. Entendemos o movimento dos últimos meses, mas ressaltamos que:

  1. Esperamos uma aceleração dos resultados - no Brasil, a retomada de volume deve ser, de fato, gradual, e conservadoramente assumimos volume estável contra 2018, mas vemos espaço para surpresa positiva, principalmente no segundo semestre, especialmente a medida que nos aproximamos de 2020, enquanto que um possível aumento de preço ao longo dos próximos meses também pode ajudar, com paridade entre 0-5%. Nos EUA, assumimos de forma conservadora margem de 10% em 2019-20, com potencial de surpresa positiva;
  2. Dividendos podem surpreender – estimamos que a Gerdau atinja sua meta de endividamento de 1,2x no final de 2019. Assim sendo, vemos potencial de um expressivo aumento no pagamento de dividendos ao longo dos próximos anos, podendo representar 10% do valor de mercado das ações já em 2020;
  3. Múltiplos descontados, sólida geração de caixa - mesmo assumindo um EBITDA muito similar em 2019 vs. 2018 (R$6,9bi vs R$6,7bi), vemos a ação negociando a 4,9x EBITDA em 2019, 15-30% de desconto em relação a Usiminas e CSN e 25% abaixo do que consideramos justo, com geração de caixa representando 11% do seu valor de mercado em 2019-20.

CSN (CSNA3): COMPRA – R$18,5/ação, 13,5% de alta potencial

Conforme destacamos desde agosto, quando mudamos nossa recomendação de Neutro para Compra, a CSN é o nome mais alavancado do setor e o plano de desinvestimento poderia gerar resultados interessantes. O anúncio de um pré-pagamento de minério de ferro de US$0,5bi, em conjunto com a expectativa de mais vendas potenciais, deu forte sustentação às ações. Além disso, o cenário de minério de ferro mudou substancialmente após a tragédia de Brumadinho, o que deve sustentar os resultados acima do que se esperava. Após a forte alta recente, destacamos que: 

  1. Resultados devem seguir sustentados – estimamos um preço de minério de ferro em US$75/t para 2019, enquanto que os resultados de siderurgia deveriam gradualmente acelerar ao longo do ano – destaque para potencial aumento de preço no 2-3T, à medida que fortes descontos foram dados no 1T e o preço agora se encontra a 10% de desconto em relação ao importado;
  2. Vendas de ativos ainda podem trazer sustentação – após o anúncio do pré-pagamento de minério de ferro, a CSN ainda tem como potenciais ativos para vender: (1) SWT na Alemanha, com potencial estimado de US$0,5bi, (2) desinvestimento das ações da Usiminas (R$2,25bi a valor de mercado) e (3) mais uma operação no minério de ferro, com potencial valor de US$0,5-1bi;
  3. Múltiplo não é atrativo, mas pode ficar sustentado – apesar de negociar a 6,5x EBITDA, +30% e +70% de prêmio em relação à Gerdau e à Vale, respectivamente, o fato da CSN ainda ser a empresa mais alavancada do setor, com geração de caixa próxima a 10%, e com potenciais vendas de ativos, devem manter as ações sustentadas.

Usiminas (USIM5): NEUTRO – R$12,0/ação, 15% de alta potencial

As ações da Usiminas têm sido pressionadas pela decepção de resultados no final de 2018, o que deve se estender para o começo de 2019. Um aumento de preço é provável no segundo trimestre, com preço no mercado doméstico negociando a desconto de 5-10% em relação ao importado. Entretanto, destacamos que já incorporamos um aumento de 10% e as nossas estimativas estão em linha com o consenso, enquanto que implementar o aumento não deve ser trivial, com demanda ainda fraca - sem o aumento, as nossas estimativas ficariam 10% abaixo do consenso. Além disso, o potencial desinvestimento por parte da CSN da sua participação na Usiminas pode pesar na performance das ações da Usiminas ao longo dos próximos meses – a CSN detém 20% das ações preferenciais USIM5, 15% das ações ordinárias USIM3. Vemos a ação negociando a 5,7x EBITDA 2019, prêmio de +17% em relação à Gerdau. Com uma série de desafios e múltiplo próximo do valor justo, reduzimos nossa recomendação de Compra para Neutro.

Vale (VALE3): COMPRA – R$68/ação, 35% de alta potencial

Conforme temos mencionado nos nossos relatórios ao longo das últimas semanas, os overhangs / riscos potenciais estão sendo cada vez mais mitigados, o que gradualmente deve permitir que a ação volte a negociar com base em fundamentos. Os principais destaques são:

  1. Potencial acordo em foco - a Vale está em negociações com o objetivo de assinar um Termo de Ajuste de Conduta (TAC) com todos os stakeholders, incluindo o MP, órgãos estaduais e federais, assim como ambientais. O acordo colocaria um fim às incertezas operacionais e legais, permitindo que a companhia volte a focar nos seus negócios e o mercado quantifique o risco, fazendo com que as ações gradualmente voltem a negociar com base nos seus fundamentos;
  2. Menos produção = minério de ferro mais alto - a Vale está hoje com 83mt de minério de ferro paradas, 40mt voluntárias devido ao plano de segurança de barragens, 30mt devido à suspensão temporária da licença de Brucutu (que eventualmente pode ser normalizada após um TAC) e recentemente 13mt devido à suspensão de Timbopeba na última semana – as notícias de fechamento trazem volatilidade no curto prazo, mas, em última instancia, sustentam o minério de ferro em patamares superiores, o que ajuda a compensar a perda de produção. Estimamos US$75/t em 2019-20;
  3. Múltiplos descontados - a ação da Vale segue muito descontada em relação aos pares (20-25%), negociando a 3,9x EBITDA 2019, e esperamos uma convergência gradual. Reiteramos nossa recomendação de COMPRA, preço alvo de R$68/ação.
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