Na temporada de resultados do primeiro trimestre de 2024 (1T24), os mercados irão monitorar de perto os resultados das companhias brasileiras em meio a cenários macro global e doméstico ainda desafiadores.
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O que esperar para as empresas brasileiras
Os primeiros três meses de 2024 foram positivos para ativos de risco globais, com ações globais (medido pelo índice MSCI ACWI) subindo 7,8% registrando seu melhor 1T desde 2019. Durante esse período, começamos a ver o desempenho forte das empresas de tecnologia expandindo para outros setores após os principais bancos centrais sinalizarem que podem estar prontos para cortar juros em breve.
Porém, ações brasileiras ficaram para trás. Como mencionamos em nosso Raio XP, a Bolsa brasileira foi pressionada por uma combinação de: (i) posicionamento, com maioria dos gestores de mercados emergentes já sobrealocados no Brasil no 4º tri, e mercados emergentes, no geral, não atraindo novos fluxos; (ii) ruídos políticos afetando nomes importantes do índice como Petrobras e Vale; e (iii) uma história micro ainda desafiadora, com uma temporada de resultados do 4T23 não tão positiva.
Consequentemente, durante o 1T24, o Ibovespa caiu 4,5% em reais e, em meio a um Real mais fraco contra o Dólar, o índice registrou queda de 7,4% em dólares.
Desde o começo do ano, estimativas de Lucro Por Ação (LPA) para o ano tem sido revisadas para baixo por volta de 4%, enquanto estimativas para 2025 foram revisadas por -1%. As estimativas para o 1T24 têm sido revisadas para baixo por quase 11% durante o mesmo período, impulsionadas principalmente por uma forte revisão para baixo no setor de Materiais (-38%), enquanto Consumo Discricionário tem visto as revisões mais positivas (+31%).
Outro trimestre não tão positivo adiante
De forma geral, a perspectiva para essa temporada de resultados é de outro trimestre não tão positivo, embora com uma contração de lucros menor do que o trimestre anterior.
Em comparação com o 1° tri de 2023, o consenso do mercado, segundo dados do Bloomberg, espera uma queda do LPA (lucro por ação) de 4,5%, mas um crescimento positivo para EBITDA (lucros operacionais) e receita de 11,6% e 3,9%, respectivamente. A contração nos lucros reflete um cenário macro mais difícil domesticamente e globalmente, mas uma leve melhora depois de um 2023 difícil.
Durante o trimestre, os preços de commodities subiram, com o índice Bloomberg Commodity em alta leve de 1% em relação ao trimestre anterior, mas em queda de 5% na comparação A/A. A média trimestral do preço do Brent caiu 2% T/T, refletindo maior risco geopolítico recentemente. Ao mesmo tempo, o Real teve uma desvalorização de ao redor de 3% contra o Dólar em relação ao 4T23, o que deve pressionar exportadores de commodities.
Já olhando para os setores domésticos, ainda vemos o cenário brasileiro como desafiador para as companhias, com o consumo afetado por conta de taxas de juros ainda elevadas. Embora o cenário macro tenha começado a melhorar no inicio deste ano, após os eventos de abril, temos agora um cenário de “mais alto por mais tempo” para juros globais, o que deve pressionar nomes mais cíclicos e focados em consumo.
Para esse trimestre, esperamos que os seguintes setores sejam os destaques:
- Bancos, com expectativa de que os incumbentes, Banco do Brasil (BBAS3) e Itaú (ITUB4), continuem a mostrar uma tendência positiva no crescimento da carteira de crédito e apresentar taxas de inadimplência estáveis;
- Distribuidoras de energia, devido a temperaturas mais elevadas que resultaram em um aumento no consumo de energia durante o 1T24;
- Educação, com a maior parte das captações ocorrendo nos 1Ts;
- Papel & Celulose, com uma forte desempenho para os preços de celulose de +8% no acumulado do ano, vendo Suzano (SUB3) como o destaque do setor;
- Shoppings, devido a níveis sólidos de ocupação e despesas financeiras mais baixas impulsionando expansão do FFO, com Iguatemi (IGTI11) como o destaque da temporada;
- Telecom, com expectativa de que Vivo (VIT3) e Tim (TIMS3) deem continuidade para a tendência de forte crescimento das receitas;;
Agenda ESG
A temporada de resultados do primeiro trimestre para as empresas brasileiras é um bom momento para definir as prioridades dentro da agenda ESG para o restante do ano. Conforme mencionado em nosso relatório temático ‘ESG em 2024: Da euforia à consolidação?’ (acesse aqui), à medida que o mercado de investimento ESG amadurece, o ambiente regulatório continua se desenvolvendo, revelando uma gama mais ampla de questões relacionadas à sustentabilidade que merecem divulgação. Em nossa visão, a forma como uma gestora de ativos ou uma empresa integra temáticas ESG em sua estratégia provavelmente desempenhará um papel cada vez mais importante adiante.
Assim, com o crescente interesse de agentes reguladores e investidores na divulgação e padronização de informações relacionadas à agenda ESG, consideramos o momento do 1T como oportuno para a preparação e planejamento de ações ao longo do ano, principalmente por meio de: (i) coleta de indicadores, métricas e dados relevantes associados às necessidades de divulgação de relatórios; (ii) definição das principais ações; além do (iii) mapeamento dos últimos desenvolvimentos e mudanças nos padrões para o reporte de informações – entre os quais se destacam a Global Reporting Initiative (GRI), o Sustainability Accounting Standards Board (SASB), a Task Force on Climate-related Financial Disclosures (TCFD) e o Carbon Disclosure Project (CDP).
Para as empresas que estabeleceram objetivos ou metas nos últimos anos, o 1º trimestre também é importante para acompanhar o progresso e rever metas de curto e médio-longo prazo. Além disso, as empresas são cada vez mais incentivadas por agentes reguladores a incluir resultados e iniciativas ESG em relatórios anuais – geralmente publicadas no início do ano – como o 10-K, o Relatório Anual 20-F ou até mesmo os Relatórios de Sustentabilidade.
Por fim, à medida que continuamos monitorando as menções das empresas ao termo ‘ESG’, observamos que houve um aumento do uso de palavras-chave relacionadas ao tema, incluindo expressões como “economia verde”, “transição energética” e “neutralidade de carbono”. De modo geral, em linha com o que vimos nas últimas temporadas, é provável que os temas relacionados ao pilar (E) predominem, com as empresas especialmente interessadas em monitorar os riscos climáticas que impactam os negócios.
O que esperar para cada um dos setores
Agronegócio, Alimentos e Bebidas
AmBev: Estamos projetando que a ABEV apresente resultados pouco excitantes. Seguindo os fortes dados do setor de produção de bebidas (fevereiro ficou 4,5% acima de nossa projeção), projetamos que os volumes da BR Beer aumentem 2,5%, enquanto o EBITDA ajustado da BR Beer deve aumentar 24% A/A, beneficiando-se de menores COGs/hl de caixa. No entanto, os fortes resultados do Brasil não devem ser suficientes para compensar a fraqueza da LAS e do Canadá. Projetamos que o EBITDA ajustado consolidado permaneça praticamente estável A/A, enquanto o EPS deve diminuir perto dos 10%, refletindo uma taxa de imposto mais alta, apesar dos melhores resultados financeiros sequenciais devido a uma menor posição de hedge cambial. Em nossa opinião, o mercado estava ficando otimistas com os dados do setor no Brasil, e resultados não muito animadores poderiam causar uma ação negativa no preço das ações da ABEV
Açúcar e Etanol: Estamos projetando um trimestre sólido para os participantes do setor de S&E, refletindo a melhoria da produtividade e os melhores preços do etanol na entressafra. A combinação de boas produtividades e melhores preços do etanol deve impulsionar as margens, enquanto os preços do açúcar permanecem em níveis de crescimento.
Agronegócios: Esperamos um trimestre fraco para os participantes do agronegócio em nossas coberturas. Projetamos que os produtores (AGRO e SLCE) ainda serão responsáveis por preços e margens mais baixos. Esperamos que os participantes do setor de serviços agrícolas apresentem resultados mistos, já que a turbulência no setor está afetando cada elo da cadeia de suprimentos de forma diferente.
Frigoríficos: Estamos projetando outro trimestre sólido para os frigoríficos. Com números sólidos de exportação, os participantes do setor de aves baseados no Brasil (BRF e Seara/JBS) devem se beneficiar de preços e volumes melhores, enquanto a perspectiva doméstica também é resiliente. O mercado de carne suína continua com excesso de oferta, com forte disponibilidade doméstica e um pequeno prêmio de preço para as exportações, enquanto a China continua com uma tendência de queda nas importações.
Os participantes do mercado de carne bovina com baseados no BR (MRFG, BEEF, JBS) também estão experimentando uma perspectiva animadora, tanto no mercado doméstico quanto no de exportação, já que os volumes permanecem fortes para este último, apesar da queda nos preços. Do lado negativo, o setor de carne bovina dos EUA continua desafiador, refletindo a oferta limitada de gado, o que deve afetar negativamente os resultados da JBS e da Marfrig.
Bancos & Mercado de Capitais
Bancos: Para os grandes bancos incumbentes, apesar da sazonalidade historicamente negativa do primeiro trimestre (conhecida como “efeito Pindaíba”, que envolve uma taxa de inadimplência ligeiramente maior devido ao aumento das despesas relacionadas às festas de fim de ano e aos impostos anuais concentrados no início do ano), esperamos que o primeiro trimestre mantenha as tendências observadas no quarto trimestre. Os NPLs ainda se encontram a um nível elevado, mas espera-se que continuem a sua trajetória descendente, e o custo do crédito também deverá diminuir. Consequentemente, prevemos um maior apetite ao risco, com alguns bancos a apresentarem oportunidades de crescimento em linhas de crédito mais arriscadas. BB e Itaú, apesar de enfrentarem comparações desafiadoras, devem manter a recente tendência positiva de crescimento da carteira de crédito e apresentar taxas de inadimplência relativamente estáveis. De forma geral, acreditamos que os resultados do 1T estarão bem alinhados com nossas preferências setoriais, com Itaú e Banco do Brasil se destacando como destaques positivos da temporada.
Mercado de Capitais: Historicamente o primeiro trimestre apresenta menor atividade, em grande parte devido aos feriados (“o ano no Brasil só começa depois do Carnaval”). No entanto, prevemos uma temporada sólida para a maioria das empresas que cobrimos. Após um 2023 turbulento, a maioria das empresas destes setores fizeram progressos nas suas iniciativas de melhoria da eficiência. Além disso, o ciclo de redução das taxas de juro internas ainda está em vigor e deverá ser cada vez mais um fator favorável para o setor. Especificamente, para Neobanks e empresas de pagamentos, a tese de focar no aumento da participação na carteira dos clientes ainda é válida e ainda vemos isso impulsionando o crescimento. Com isso, antecipamos Nu, BTG Pactual, BR Partners, Stone e PagBank como destaques.
Veja aqui a prévia completa do setor de Bancos & Mercado de Capitais e Neo-Banks e Fintechs para o 1T24
Bens de Capital
Antecipamos 1T24 misto para nomes de Bens de Capital, em um trimestre marcado por sazonalidade mais lenta para a maioria dos subsegmentos industriais.
Esperamos que a WEG apresente resultados resilientes, com receita melhorando A/A devido ao desempenho sólido de GTD externo (novamente), e margens permanecendo em um nível saudável (apesar das expectativas de normalização de médio prazo).
Quanto às empresas de Autopeças, vemos a Marcopolo se mantendo como destaque positivo, apesar de impactos pontuais (com desempenho sólido dos ônibus rodoviários compensando as entregas ainda acelerando para o Caminho da Escoladeste ano).
Um desempenho lento de veículos pesados nos EUA deve impactar os resultados da Tupy, com as vendas de implementos da Randon prejudicadas também (parcialmente compensadas pela Frasle e outras divisões).
Por fim, esperamos resultados fracos da Iochpe-Maxion, com volumes mais fracos levando a uma rentabilidade ainda pressionada.
Veja aqui a prévia completa do setor de Bens de Capital para o 1T24
Construtoras
No segmento de baixa renda. As prévias operacionais mostraram um forte aumento das vendas líquidas (+32% A/A na nossa cobertura), reforçando um cenário de demanda aquecida, apesar de lançamentos razoáveis (+3% A/A na nossa cobertura, excluindo MRV e Tenda). Acreditamos que este poderá ser um forte impulsionador do crescimento de receita nesta temporada, embora continuemos a ver uma rentabilidade mista. CURY3 e DIRR3 deverão estar no centro das atenções, combinando um crescimento robusto de receita (+41% e +23% A/A, respetivamente) e uma forte rentabilidade, o que poderá levar a uma expansão notável dos lucros (+55% e +65% A/A, respetivamente). Devemos estar atentos à PLPL3, uma vez que os distratos mais elevados no 1T24 (+136% A/A) poderão aumentar as provisões, o que poderá afetar a receita líquida, embora continuemos a ver um crescimento sólido A/A. Os pontos mais baixos deverão ser a TEND3 e a MRVE3, dada a pressão sobre os resultados, apesar de uma recuperação gradual da margem bruta (esperamos um crescimento da margem bruta ajustada de +1,4 p.p. e +0,9 p.p. T/T, respectivamente).
No segmento de média/alta renda. As prévias operacionais mostraram um forte crescimento das vendas líquidas para a maioria dos nomes (+60% A/A na nossa cobertura), impulsionado por lançamentos robustos (+120% em média, excluindo a Trisul e a JHSF), apesar das condições das taxas financiamento imobiliário estarem sob pressão. Acreditamos que esta conjuntura poderá conduzir a um crescimento positivo de receitas A/A, embora antecipemos uma rentabilidade mista. LAVV3 e CYRE3 devem estar em destaque, mantendo uma forte margem bruta (33,5% e 31,5%, respetivamente), potencialmente levando a um crescimento robusto dos lucros (+144% e +57% A/A, respetivamente). Os pontos mais baixos deverão ser a EVEN3 e a EZTC3, uma vez que vemos (i) níveis de margem bruta ajustada ainda fracos na Even (27%); e (ii) uma pressão nos lucros da EZTEC.
Veja aqui a prévia completa do setor de Construtoras para o 1T24
Educação
Esperamos que as empresas de educação apresentem resultados positivos no 1T24. Para essa temporada de resultados, esperamos que as empresas apresentem: (i) crescimento da base de alunos, especialmente devido aos sólidos números de captação; (ii) comportamento sustentável dos tickets, uma vez que as empresas podem continuar a ser mais racionais em relação à preços; (iii) maturação das faculdades de medicina, em conjunto com aumentos de preços acima da inflação nesse segmento; e (iv) despesas financeiras líquidas ainda elevadas, que devem consumir uma parte relevante dos resultados operacionais das empresas. Esperamos que a Cogna (COGN3) seja o destaque positivo nesta temporada de resultados.
Veja aqui a prévia completa do setor de Educação para o 1T24
Elétricas e Saneamento
Temperaturas mais elevadas resultaram em um aumento expressivo no consumo de energia durante o 1T24. Com isso, devemos ver um aumento relevante nos volumes para as distribuidoras A/A. Além disso, as distribuidoras que também devem refletir os processos de revisão tarifária ocorridos nos últimos 12 meses. Assim, esperamos que as distribuidoras reportem um EBITDA mais forte.
Com relação à geração, tivemos um trimestre bastante fraco em termos de recursos eólicos, o que deve impactar negativamente os resultados do 1T24 das geradoras com maior exposição a energia eólica. Apesar da hidrologia mais restrita no trimestre e um GSF abaixo das nossas estimativas no trimestre (85%), os reservatórios continuam em níveis confortáveis, especialmente no subsistema que concentra as principais usinas do país (Sudeste/Centroeste). Assim, esperamos que as geradoras reportem um EBITDA mais fraco A/A.
No caso das empresas de saneamento, esperamos que as empresas reflitam os reajustes tarifários mais recentes.
Sem surpresas, as empresas de transmissão de energia devem refletir o reajuste inflacionário do ciclo 23/24 da RAP.
Veja aqui a prévia completa do setor de Elétricas e Saneamento Parte 1 e Parte 2 para o 1T24
Mineração & Siderurgia
Com os preços do minério de ferro apresentando trajetória negativa ao longo do 1T24 (-27% YTD) e a indústria siderúrgica no Brasil ainda enfrentando um ambiente desafiador, vemos a exposição da Gerdau a condições de mercado relativamente melhores na América do Norte e as iniciativas bottom-up da Usiminas para reduzir custos como fatores atenuantes em meio a um macro mais fraco, com ambas as empresas apresentando melhora operacional T/T. Do lado negativo, Vale, CSN e CMIN devem ser impactadas negativamente pelo desempenho em queda dos preços do minério de ferro no 1T24. Por fim, a Aura deve apresentar resultados positivos (apoiados por um sólido desempenho de produção no 1T24), com números ainda pressionados para a CBA (todos de olho na recente recuperação dos preços do alumínio, no entanto).
Veja aqui a prévia completa do setor de Mineração & Siderurgia para o 1T24
Papel & Celulose
Com um forte (e inesperado) desempenho dos preços de celulose de +8% YTD, vemos um trimestre relativo melhor para as empresas expostas à celulose, com o atual ambiente de preços definindo um tom positivo para o 2T24. Dito isso, vemos a Suzano como destaque do setor, com a empresa também sendo beneficiada pela continuidade de um melhor desempenho de custos no 1T24. Do lado negativo, esperamos um trimestre marginalmente mais fraco para a Irani, impactado por preços de embalagens de papelão ondulado ligeiramente mais baixos e custos mais altos relacionados ao OCC.
Veja aqui a prévia completa do setor de Papel & Celulose para o 1T24
Petróleo, gás e petroquímicos
A queda no preço médio do Brent no trimestre (US$ 82/bbl -2% QoQ), juntamente com a desvalorização do BRL resultou em uma leve queda nos preços do petróleo denominados em moeda local (R$ 394/bbl -4,7% QoQ). Além do desempenho da commodities, cada empresa pode ter suas próprias circunstâncias de negócios. A PetroRecôncavo apresentou uma recuperação promissora da produção em janeiro, mas ficou aquém das expectativas nos dois meses seguintes devido à interrupção temporária da produção no RN por 10 dias, que levou a problemas de produtividade com aumento no percentual de poços com falhas. Além disso, foram impactados por chuvas que superaram o volume esperado para o ano, tanto na Bahia quanto no RN. Enquanto isso, a PRIO deve apresentar uma queda na sua receita, devido à menor produção decorrente principalmente de problemas operacionais pontuais em Frade e Albacora.
Veja aqui a prévia completa do setor de Petroleiras para o 1T24
Saúde
Até o momento, esperamos que as empresas de saúde apresentem resultados mistos no 1T24. Destacamos: (i) os pagadores podem continuar aumentando os preços e reduzindo a sinistralidade, e, ainda, neste trimestre, possivelmente apresentando adições líquidas no portfólio de planos de saúde; (ii) os hospitais podem continuar lentamente entregando melhorias de receita e margens, mesmo que o relacionamento com os pagadores ainda esteja difícil; (iii) a Hypera (HYPE3) pode apresentar números melhores do que os apresentados nos últimos trimestres, enquanto a Blau deve continuar sofrendo tanto em relação ao crescimento quanto a margens; (iv) acreditamos que a Fleury possa apresentar melhorias na receita, o que pode se traduzir em alguma expansão de margem; e (v) Kora Saúde pode apresentar um aumento tímido na receita e ganho de margem, mas a alavancagem financeira deve consumir o lucro mais uma vez. Por mais um trimestre, esperamos que a Hapvida (HAPV3) seja o destaque positivo, mas acreditamos que as melhorias já foram precificadas pelo mercado.
Veja aqui a prévia completa do setor de Saúde (Parte 1, Parte 2, Parte 3, e Parte 4) para o 1T24
Shoppings e Propriedades Comerciais
Níveis sólidos de ocupação, mas crescimento razoável da receita de aluguel. Operacionalmente, as vendas dos lojistas dos shoppings mostraram um desempenho positivo no início de 2024, com a Iguatemi e a Multiplan já registrando um crescimento de ~9% nas vendas dos lojistas em janeiro, o que acreditamos que deve ter continuado ao longo do trimestre. Além disso, esperamos que a taxa de ocupação esteja em níveis mais fortes A/A (estimamos uma expansão média da taxa de ocupação de 73 bps A/A em nossa cobertura), apesar do efeito sazonal no 1T. Em nossa opinião, isso deve deixar espaço para um crescimento razoável da receita de aluguel (esperamos um crescimento médio da receita de aluguel de 2,5% A/A para shoppings), embora compensado pelo impacto negativo dos efeitos de ajuste do IGP-M e IGP-DI sob pressão. Além disso, estimamos um crescimento robusto da receita de estacionamento (+11% A/A, cobertura da XP), apoiado por uma combinação de (i) forte fluxo de veículos e (ii) tarifas de estacionamento mais altas A/A, o que deve ajudar na expansão da receita.
Despesas financeiras mais baixas impulsionam a expansão do FFO. Estimamos um cenário misto de margem EBITDA A/A, com IGTI aumentando 7,1 p.p., enquanto MULT e ALOS diminuindo 3,0 p.p. e 0,8 p.p., respectivamente. No entanto, estimamos uma queda notável das despesas financeiras A/A, impulsionada por uma combinação de (i) sólida gestão de passivos ao longo de 2023 e (ii) um cenário de taxas de juros mais baixas. Acreditamos que isso deve continuar apoiando a expansão do FFO (estimamos um crescimento médio do FFO de 18% A/A), deixando espaço para uma sólida expansão da margem FFO (+5,3 p.p. em média).
A Iguatemi deve ser o destaque do 1T24. Para a Iguatemi, esperamos que a empresa continue operando no breakeven no segmento de varejo, o que poderia potencialmente levar a uma forte expansão do EBITDA A/A (esperamos um crescimento de +14% A/A no 1T24). Quanto à Allos, esperamos que o sólido ritmo de contratos assinados no 4T23 (+261 contratos assinados) apoie o crescimento da taxa de ocupação T/T (vemos uma expansão de 20bps T/T), apesar da sazonalidade do 1T.
Veja aqui a prévia completa do setor de Shoppings e Propriedades Comerciais para o 1T24
Telecomunicações, Mídia e Tecnologia
Setor de Telecomunicações: De modo geral, esperamos resultados positivos tanto para a Vivo quanto para a TIM, dando continuidade à tendência de forte crescimento das receitas. Esperamos que a Vivo atinja um aumento de 9% A/A na receita de serviços móveis, enquanto a TIM deverá registrar um aumento de 7% A/A. As estratégias da Vivo nos segmentos pós-pago e fixo, juntamente com os ajustes de preços, devem contribuir para o crescimento da receita e expansão da margem. Projetamos que a Vivo atinja uma margem EBITDA de 40% no 1T (+110bps A/A). Da mesma forma, o crescimento da receita da TIM é impulsionado por aumentos de preços e uma dinâmica competitiva favorável. Esperamos que a TIM atinja uma margem EBITDA de 47,4% no 1T (+140bps A/A). Do outro lado, mantemos uma visão neutra sobre os resultados do 1T24 para os ISPs dentro de nossa cobertura, incluindo BRIT3, FIQE3 e DESK3. É importante notar que as condições macroeconómicas desafiadoras e a intensificação da concorrência tiveram um impacto negativo nas adições líquidas das companhias. A combinação de uma concorrência acirrada e um ambiente económico difícil, dificultou a capacidade de repasse de aumentos nos preços para os consumidores.
Setor de Tecnologia: No setor de Tecnologia/Mídia, esperamos que a Eletromidia seja o destaque positivo tanto em crescimento de receita quanto em rentabilidade. Esperamos que a TOTVS apresente resultados neutros no 1T, refletindo a manutenção de um bom ritmo de vendas e repasses contratuais, mostrando a resiliência de seu modelo de negócios no segmento de Gestão e a boa evolução em Business Performance. No entanto, as vendas de clientes corporativos devem ser mais fracas neste trimestre, impactando o crescimento e a rentabilidade do segmento de gestão, que historicamente é maior no 1T.
Veja aqui a prévia completa do setor de Telecomunicações, Mídia e Tecnologia para o 1T24
Transportes
Os pontos positivos são: (i) Santos Brasil com EBITDA de R$ 335 milhões (+119% A/A, +19% vs. consenso), devido às fortes Operações Portuárias, com (a) volumes de movimentação/armazenagem +30%/+24% A/A e (b) tarifas de movimentação +61% A/A; e (ii) Rumo com EBITDA de R$ 1,7 bilhão (+44% A/A, +10% vs. consenso), onde o yield positivo (+19% A/A) é o destaque, já que os volumes foram reportados (+8% A/A) .
Do lado negativo, destacamos a Hidrovias do Brasil, pelo atraso no aumento tarifário devido aos volumes restantes do 4T23 no Corredor Norte e os baixos níveis de calado no Corredor Sul afetaram os resultados (EBITDA de R$ 167 milhões, -20% A/A e vs. consenso).
Veja aqui a prévia completa do setor de Transportes para o 1T24
Varejo
Outro trimestre desafiador à frente. Esperamos um trimestre fraco para o setor, com o cenário macro permanecendo como um desafio, enquanto ajustes tributários, como aumento das alíquotas de ICMS, cobrança de PIS/COFINS sobre subvenções e maiores alíquotas de imposto de renda devem impactar tanto o crescimento de receita quanto os níveis de rentabilidade. Além disso, destacamos que a páscoa antecipada (em março vs. em abril em 2023) beneficiou os supermercados mas impactou o fluxo no varejo.
Alta renda desacelerando mas baixa/média renda melhorando. No segmento de consumo discricionário, esperamos que o crescimento dos players de alta renda desacelere, impactado por ajustes tributários, demanda mais fraca do canal B2B e base de comparação normalizada. Por outro lado, as empresas de baixa/média renda devem ter vendas mesmas lojas acelerando por ganho de volume, bem como expansão de margens com alavancagem operacional, enquanto os níveis de inadimplência devem continuar se estabilizando. Por fim, esperamos sinais de melhora em teses de transformação, como ALPA, NTCO e SBFG, enquanto Petz deve ser o destaque negativo, por conta de um cenário competitivo ainda pressionado.
Inflexão da inflação alimentar. Esperamos que a aceleração da inflação alimentar deva contribuir para a performance do varejo alimentar, suportando uma aceleração de vendas mesmas lojas vs. 4T. Quanto a rentabilidade, alavancagem operacional e a maturação das conversões e expansão deve contribuir para melhoria de margens. ASAI e GMAT devem ser os destaques.
E-commerce ainda fraco. O crescimento de receita deve continuar fraco, com a demanda por bens duráveis ainda pressionada pelo cenário macro. Contudo, MGLU deve reportar melhora nas margens, enquanto os resultados de BHIA ainda devem ser impactados por sua reestruturação.
Farmácias provando sua resiliencia. No segmento de varejo farma, esperamos que as vendas mesmas lojas maduras superem a inflação em todas as companhias, se beneficiando da forte demanda por produtos relacionados a Dengue/Covid e outras categorias. Como resultado, esperamos ver expansão de margem operacional.
Relembrando nossa pesquisa de posicionamento. Em nossa última pesquisa de posicionamento (link), adicionamos uma sessão dedicada à expectativa para os resultados do Q1, com os investidores já esperando um trimestre fraco. Segundo a percepção dos investidores, ASAI, CEAB e SMFT foram citadas como os três principais destaques, enquanto PETZ, ARZZ e VIVA foram citadas como os destaques negativos.
Veja aqui a prévia completa do setor de Varejo para o 1T24