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Riscos políticos aumentam novamente, o que vem depois?

Nesse relatório, analisamos os impactos do aumento dos riscos políticos após as manifestações de 7 de setembro.

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Os ativos brasileiros estão sofrendo novamente por conta de maiores riscos políticos, após as manifestações de 7 de setembro, feriado do Dia da Independência. Durante discursos, o presidente Bolsonaro criticou a decisão de ministros do Supremo Tributal Federal (STF), particularmente o ministro Alexandre de Moraes, e disse que não cumprirá suas decisões judiciais, elevando a tensão entre os poderes constitucionais. O ministro Moraes conduz no Supremo as investigações contra “fake news“, inquérito que tem como alvo aliados do presidente.

Após os discursos de Bolsonaro durante o feriado, os presidentes da Câmara, do Senado e do Supremo se posicionaram:

  1. O presidente da Câmara, Arthur Lira, fez fala moderada em que tentou esfriar a crise, criticou excessos e disse que era hora de um basta, mas se ofereceu para ser intermediário de uma trégua entre Executivo e Judiciário;
  2. O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, ainda não havia feito um pronunciamento em resposta, mas, no próprio dia 7 de Setembro, decidiu cancelar as sessões do restante da semana em função do tensionamento do clima político;
  3. O presidente do STF, ministro Luiz Fux, fez o pronunciamento mais duro até então. Em resposta ao discurso do presidente, disse o desprezo às decisões judiciais representa um “atentado à democracia e configura crime de responsabilidade a ser analisado pelo Congresso Nacional”.

Como resultado, a Bolsa acelerou a queda, com o índice Ibovespa e fechou a quarta-feira com uma queda de -3,8% enquanto o Dólar subiu 2,9% batendo R$ 5,32. O CDS, medida de risco-país, disparou 180bps, e o CDI de 10 anos também subiu para 10,98%. Nos últimos três meses, ativos brasileiros têm se descolado dos mercados globais por conta de maiores riscos domésticos, apesar do desconto expressivo no valuation e revisões sólidas nos lucros para cima.

O que vem depois?

Segundo o nosso time de Política, o aumento das tensões políticas podem ter algumas das seguintes consequências:

  • o grupo dos partidos políticos de centro que, hoje, já não dá suporte a Bolsonaro deve aumentar a pressão pelo procedimento de impeachment de Bolsonaro; o presidente da Câmara, a quem cabe a decisão, no entanto, não tem dado mostras de que pretende adotar esse caminho;
  • as negociações com o STF para uma solução para os pagamentos dos precatórios de 2022 vão ser dificultadas, o que torna a discussão do Orçamento do ano que vem ainda mais incerta; caso elas de fato não avancem, o Congresso deve voltar a discutir uma saída por meio de emenda constitucional, o que traz riscos de alterações em regras fiscais;
  • os avanços na agenda de reformas e privatizações no Congresso vão ser mais difíceis a medida em que as atenções se voltam para a crise política;
  • cria-se também uma expectativa sobre o desfecho das promessas de Bolsonaro de não cumprir as decisões de Moraes, o que, caso seja efetivado, elevará a temperatura da crise.

Esta não será a primeira e nem a última crise política no Brasil. Nesse caso, há chances de que o aumento da tensão do clima político não se dissipe rapidamente, uma vez que ainda estamos há mais de um ano das eleições presidenciais.

Impacto nos mercados

No nosso último relatório mensal Raio XP, fizemos uma análise de cenários para o Ibovespa, assumindo um cenário pessimista, base e otimista.

  1. Sensibilidade aos juros reais de longo prazo: usamos as NTN-Bs de longo prazo para chegarmos incorporarmos ao custo de capital do nosso modelo de Fluxo de Caixa Descontado (DCF) do Ibovespa. Hoje, essa taxa se encontra em IPCA + 4,7% ao ano, e estava em 3,90% no mês passado. Para cada +/-1% nessa taxa, o valor justo do Ibovespa em nosso DCF mexe em cerca de 13%.
  2. Sensibilidade ao indicador de Preço/Lucro: assumimos um P/L de 9,5x agora para o Ibovespa, vs. 12x anteriormente, e 8,5x que o índice se encontra no momento. Acreditamos que os riscos mencionados acima devem manter pressão sobre o valuation da Bolsa no curto prazo, “atrasando” o retorno às médias.
  3. Sensibilidade ao indicador de EV/EBITDA: assumimos um EV/EBITDA (Valor da Empresa / Lucro Operacional) de 6,0x agora para o Ibovespa, vs. 7,0x anteriormente, e 5,5x que o índice se encontra no momento. Acreditamos que os riscos mencionados acima devem manter pressão sobre o valuation da Bolsa no curto prazo, “atrasando” o retorno às médias.
  4. Cenário otimista, base e pessimista: também fizemos uma análise de cenários para o Ibovespa, assumindo um cenário pessimista, base e otimista. No cenário base, utilizamos as projeções de lucro atuais do mercado para 2021 e 2022, e também usamos as taxas de juros do mercado atuais. Assumimos uma pequena melhora nos indicadores até o final do ano. A conclusão dessa análise de cenários corrobora com nosso otimismo para a Bolsa, pois ela indica uma pequena queda potencial frente a um ganho expressivo potencial: no cenário conservador, 110 mil no conservador; 135 mil pontos no base; e 152 mil no cenário otimista.

Em um cenário ainda pior, com crescimento econômico mais fraco, juros mais altos, risco-país maior e múltiplos ainda mais deprimidos, o cenário pessimista acima pode piorar um pouco mais.

Os últimos acontecimentos reforçam o cenário de “stock picking”, na medida em que o Macro predomina nas preocupações do mercado, ao mesmo tempo que a história Micro das empresas continua sólida. Nesse ambiente, gostamos de empresas exportadoras que têm mais exposição ao crescimento internacional, além de setores mais defensivos, ao invés de ações altamente cíclicas que se valorizaram durante o início do ciclo de recuperação econômica. No nosso último Raio XP, também preparamos 2 listas de ações para ajudar os investidores a procurar essas ações: 1) uma lista de 20 ações entre as que mais caíram nos últimos três meses, e que são recomendadas como “Compra” pelos analistas do consenso de mercado, e 2) 20 ações com crescimento robusto pela frente e que têm sólidos balanços. 

Daqui pra frente, as tensões políticas devem continuar a pressionar os ativos brasileiros no curto prazo. Mas apesar desse cenário de maior cautela, manter-se investido continua sendo a melhor estratégia. Além de uma carteira diversificada em diferentes setores, também enfatizamos a importância da diversificação nas carteiras em diferentes classes de ativos e geografias como a principal alavanca de bons resultados com um risco adequado na sua carteira de investimentos: ativos internacionais, dólar, títulos de renda fixa, que voltaram a ficar atrativas, e commodities são opções de investimento que ajudam na proteção de patrimônio nesses momentos de incerteza (veja mais em Como proteger seu patrimônio em momentos de cenário Macro mais desfavorável?)

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