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Porto Seguro (PSSA3): Explorando o segmento Saúde

Dias atrás, realizamos uma reunião com o Vice-presidente de Seguros da Porto Seguro, Sr. Marcelo Picanço, para comentar sobre os novos rumos do segmento Saúde da companhia. Em função disso, decidimos detalhar como a Porto Seguro vem se posicionando estrategicamente no segmento, dado que a empresa vem apresentando uma diversificação dos negócios cada vez mais […]

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Dias atrás, realizamos uma reunião com o Vice-presidente de Seguros da Porto Seguro, Sr. Marcelo Picanço, para comentar sobre os novos rumos do segmento Saúde da companhia. Em função disso, decidimos detalhar como a Porto Seguro vem se posicionando estrategicamente no segmento, dado que a empresa vem apresentando uma diversificação dos negócios cada vez mais relevante.

A reunião tratou de como a companhia está posicionada no segmento de saúde dada a crise e quais medidas estão sendo tomadas para enfrentar os novos desafios no longo prazo. Dentre as medidas, a companhia comentou sobre as iniciativas de transformação digital focadas na promoção da saúde.

Nossa visão em relação às iniciativas é positiva, mas reiteramos nossa recomendação Neutra para Porto Seguro e preço alvo de R$57,00 devido a baixa visibilidade que possuímos sobre o sucesso da empreitada. Porém acreditamos que seja importante para investidores monitorarem o desenvolvimento da área de saúde e vamos tentar ajudar neste aspecto.

Novos horizontes através da transformação digital

Quanto ao segmento saúde, a companhia reiterou que não convergirá para uma seguradora verticalizada, ou seja, não pretende adquirir redes de hospitais para ganho de eficiência. Para contornar este desafio de eficiência, a Porto Seguro acredita no alinhamento de interesses entre as pontas em prol da promoção da saúde, fortalecendo parcerias, aperfeiçoando algoritmos de inteligência analítica e avançando na transformação digital.

Na ponta dos clientes, a empresa pretende melhorar serviços como o Alô Saúde, que é um serviço de telemedicina com objetivo de orientar os clientes quanto aos cuidados médicos para evitar sinistralidades desnecessárias, e utilizar da transformação digital para aumentar o engajamento dos clientes.

Na ponta dos médicos, a empresa pretende desenvolver métodos de incentivos para médicos e hospitais que aderirem ao alinhamento de interesses e utilizar de algoritmos de inteligência analítica para promovê-los.

Quanto aos produtos, a companhia pretende manter esforços no coletivo empresarial. De acordo com a empresa, a submissão dos produtos individuais às regulações da ANS não favorece a disponibilização deste produto, dado que o órgão regula a cobertura mínima de serviços no produto individual, porém não regula no empresarial.

Até o momento, em termos operacionais, a equipe responsável pelo segmento saúde é liderada pelo Sr. Marcelo Picanço, vice-presidente de Seguros, com uma proposta de melhorar a gestão e agregar com colaboradores mais focados na administração do que no conhecimento técnico em saúde.

Atual posicionamento no segmento Saúde

A operação do segmento Saúde da Porto Seguro ainda é pouco representativa, contando com 12,5% dos prêmios emitidos, 3,5% de market share (saúde + odonto) e cerca de 270 mil vidas seguradas.

Apesar da baixa representatividade, observamos uma taxa de crescimento de 3,6% nos últimos trimestres em prêmios emitidos. Em termos de sinistralidade, a Porto Seguro vem apresentando níveis abaixo da média do setor de acordo com os dados da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). Consequentemente, a rentabilidade sob o patrimônio líquido foi de 16,4% em 2019, acima da média de 15% em 2019 do setor. Lembrando que essa rentabilidade deve aumentar no curto prazo devido ao isolamento social e baixo uso de hospitais por usuários. Além disso, ressaltamos que sua operação é mais relevante na região Sudeste, principalmente na grande São Paulo.

Nossa visão

Em nossa visão, a visibilidade de possíveis avanços ainda é baixa e há o fato de que a operação possui baixa relevância. Sendo assim, o crescimento e a rentabilidade de saúde a patamares acima dos encontrados hoje não entram na nossa modelagem. No entanto, o tamanho enxuto favorece grandes mudanças na gestão e na capacidade de adaptação do modelo de negócio, o que poderia tornar a área de saúde um upside. Por fim, acreditamos que investidores devem passar a olhar mais de perto o desenvolvimento da área de saúde da seguradora.

Nossas maiores dúvidas do segmento saúde referem-se às questões de eficiência e rentabilidade. Um dos grandes desafios do setor no longo prazo é o desalinhamento de interesses entre as operadoras de saúde, clientes e seguradoras. O atual modelo predominante de remuneração e reembolso das apólices, favorece ao maior volume de utilização do serviço e é considerada excessiva em muitos casos e, como resultado, o efeito negativo é refletido em inflação médica que é repassada aos preços das apólices.

Lembramos que a inflação médica é calculada pela combinação da variação das despesas assistenciais (IVDA) com a inflação (IPCA), e no último período de mai/19 até abr/20 o reajuste foi limitado ao valor de 7,35% para os planos individual/familiar pela ANS. O alto valor nos preocupa, pois enquanto à seguradora interessa reduzir seu índice de sinistralidade e às operadoras de saúde interessa maiores volumes, não vemos a dinâmica de alimentação do reajuste positiva ao setor no longo prazo.

No entanto, para a concretização de um alinhamento de interesses entre as partes, acreditamos que haja um passo anterior às conclusões sobre a sustentabilidade do segmento. Este passo seria entender o público alvo, garantindo que haja correspondência do cliente quanto às práticas de redução do uso do benefício, para que não haja utilização excessiva do serviço. Neste sentido, ressaltamos que empresas do setor vêm implementando produtos como planos coparticipativos, justamente para capturar uma base de clientes apta a aderir às boas práticas e que desincentivam a utilização demasiada. Deste modo, mantemos no radar a evolução e a aderência das iniciativas que seguem este movimento.

Portanto,acreditamos que os dados práticos da operação da Porto ao longo do tempo poderão nos esclarecer se: i) a companhia conseguirá de fato entregar avanços na transformação digital e atrativa ao cliente e; ii) se há engajamento por parte do setor de saúde às práticas promovidas pela Porto Seguro, o que coloca em dúvida se a sua estratégia atingirá de fato um público alvo que convergirá em redução do uso do benefício, e consequentemente na possível redução de sinistralidade e ganho de eficiência.

Em relação à rentabilidade, pode ser desafiador. Acreditamos que o sucesso de uma estratégia voltada à promoção da saúde possa ainda levar tempo a se concretizar e que, durante sua implementação, possa comprometer parte da rentabilidade devido a: i) pressão sobre a precificação dos produtos e; ii) potenciais maiores gastos com produtos e serviços inovadores para aumentar o engajamento e retenção dos clientes.

Em termos de competição, o mercado endereçável é grande e fragmentado, apresentando boas oportunidades. Ainda não vemos um player se destacando no meio digital. Portanto, é um mercado fragmentado e com grandes oportunidades de disrupção ainda, além da subpenetração do setor de seguros no Brasil. Lembramos também que, apesar do grande mercado endereçável, a operação da Porto Seguro ainda é mais concentrada nas regiões onde há maior competição e maior taxa de cobertura dos planos privados de assistência médica.

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