Este guia é destinado a um público amplo, incluindo investidores fundamentalistas que desejam integrar técnicas quantitativas em sua abordagem de investimento e investidores sistemáticos que buscam aprimorar seus modelos de fatores. Nele, apresentamos diversas atualizações em nosso framework proprietário para a construção de portfólios de fatores, com foco em três melhorias significativas: (i) a incorporação da expertise de analistas fundamentalistas para uma identificação de fatores relevantes para cada setor; (ii) a atribuição de maior peso a métricas mais relevantes no cálculo da exposição fatorial; e (iii) a revisão do nosso framework de avaliação de fatores, combinando insights fundamentais com uma validação mais rigorosa usando métricas quantitativas.
Desde o início de nossa jornada de pesquisa focada em fatores, que começou com nosso relatório inicial “Um Guia sobre Factor Investing no Brasil”, realizamos diversas discussões com investidores institucionais. Desde investidores fundamentalistas tradicionais até especialistas quantitativos sistemáticos, eles compartilharam os mesmos objetivos: construir portfólios de fatores robustos e identificar fontes persistentes de retornos.
Neste relatório, exploramos potenciais melhorias no processo de seleção de fatores que os investidores podem utilizar para otimizar sua performance. Apresentamos uma atualização do nosso framework de fatores proprietário, projetado para obter um processo de screening mais transparente e, em última análise, gerando resultados melhores.
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Um resumo da nossa metodologia. Para comparar fatores e avaliar sua eficácia histórica, construímos portfólios de fatores neutros em termos de exposição (para cada R$1 comprado, temos R$1 short). Esses portfólios assumem posições longas no quintil superior (maior exposição) e posições short no quintil inferior (menor exposição) com rebalanceamento mensal. Os scores individuais dos fatores resultados dos percentis das métricas avaliadas em cada fator, considerando tanto o universo inteiro de ações quanto o grupo seus pares. Esses scores individuais dos fatores são então agregados para calcular um score geral.
Nossas principais conclusões incluem: (i) incorporar insights de analistas fundamentalistas para identificar métricas específicas do setor e atribuir-lhes maior peso no processo de construção de fatores, melhora a intuitividade e o desempenho de portfólios fatoriais; (ii) historicamente, Momentum e Valor produziram os retornos mais altos e consistentes; (iii) a combinação dos fatores de Valor em sua forma de “séries temporais” com o tradicional Valor “transversal” potencializa o desempenho geral do fator de Valor; (iv) os ativos de alta Qualidade também proporcionaram retornos positivos ajustados ao risco no longo prazo, com especial destaque para as métricas de ROE e ROIC.
Sumário executivo
O investimento em fatores ou factor investing é uma estratégia baseada em análise de dados que envolve a escolha de ativos com base em drivers sistemáticos de retornos das ações. Esses fatores buscam explicar por que certas ações se movem em conjunto ou têm retornos esperados mais altos. Ao longo dos anos, vários fatores foram estabelecidos como determinantes no desempenho esperado das ações, incluindo Valor, Qualidade, Momentum e (Baixo) Risco. Por manterem relação linear com a valorização de ações, espera-se que os papéis com maior exposição a esses fatores tenham desempenhos melhores. A análise de fatores, portanto, é uma parte fundamental do processo de seleção de ativos de investidores.
Neste relatório, atualizamos nosso framework e fornecemos um conjunto de ferramentas proprietárias para ajudar os investidores a navegar pelo cenário de fatores e a entender melhor as características subjacentes das ações brasileiras. Com dados abrangendo o período entre 2008 e 2023, e uma ampla variedade de 53 métricas fundamentalistas e técnicas, construímos portfolios fatoriais para o mercado brasileiro a fim de melhor capturar os prêmios de risco associados a eles.
Qual é o diferencial da nossa metodologia?
- Incorporação das perspectivas dos analistas na identificação de fatores. Nossa metodologia se destaca ao incorporar não apenas a literatura acadêmica e análise quantitativa, mas também insights de nossos analistas fundamentalistas. Essa combinação nos permite selecionar as características que melhor explicam os retornos das ações, oferecendo uma perspectiva mais abrangente e intuitiva.
- Um processo de screening fatorial mais profundo. Fazemos a distinção de quais métricas são mais relevantes para cada setor e atribuindo pesos mais altos a essas características quando olhamos para as ações, indo além de um sistema de classificação básico de fatores. Os valores dessas variáveis são comparados tanto ao universo inteiro de ações brasileiras quanto às companhias pares. Essa abordagem, guiada pelas contribuições de nossos analistas, demonstra a superioridade de nosso modelo de fatores em relação a modelos simplistas que classificam as ações com base em características isoladas.
- Portfolios fatoriais mais robustos. Para capturar mudanças nos mercados e ajudar os investidores a analisar ações de forma eficaz, construímos portfolios fatoriais robustos para cada fator de estilo.
Ao mesclar rigor quantitativo com conhecimento aprofundado do setor, nossa metodologia empodera os investidores para navegar com confiança pelo complexo cenário de fatores no mercado brasileiro.
Nossas principais descobertas
- Uma abordagem aprimorada com base na identificação de métricas relevantes para diferentes setores gera historicamente retornos ajustados ao risco mais altos em relação a implementações mais simples.
- Fatores vencedores no longo prazo. Ações de forte Momentum e alto Valor tiveram historicamente os melhores e mais consistentes desempenhos da nossa análise, com retornos anualizados de 12% e 14% respectivamente.
- 1 + 1 = 3. A interação entre fatores de Valor na sua forma de “série temporal” (valuation da ação comparada ao seu próprio histórico) com a sua forma “transversal” (valuation da ação comparada a outras ações) melhora o desempenho do fator Valor no longo prazo.
- Uma decepção em performance (um pouco injusta). Os fatores de Baixo Risco tiveram um desempenho ligeiramente decepcionante no Brasil nos últimos anos, apresentando uma performance inferior aos outros três fatores estudados. Atribuímos esse resultado a diferenças na implementação (neutra em termos de alocação versus neutra em termos de beta).
- A demanda por ativos de alta Qualidade permanece forte. Nosso portfólio de Qualidade também entregou retornos ajustados ao risco positivos de forma consistente, com investidores preferindo ações lucrativas, especialmente aquelas com melhorias recentes nas margens e indicadores de lucratividade. ROE e ROIC mostraram ser indispensáveis na avaliação da exposição à Qualidade.
Conclusão
Factor investing, sem dúvida, desempenha um papel crucial no processo de seleção de ações para muitos investidores. Ele se baseia em fatores bem estabelecidos que historicamente geraram prêmios ao longo de períodos prolongados, com exposição a riscos sistemáticos e solidamente ancorados na literatura acadêmica. Consequentemente, alocações baseadas nesses fatores, incluindo aqueles examinados nesta análise (Valor, Qualidade, Momentum e Baixo Risco), historicamente geraram retornos mais altos no longo prazo, sustentados por fundamentos teóricos robustos.
Neste relatório, exploramos possíveis melhorias no processo de análise de fatores que os investidores podem utilizar para otimizar o desempenho. Nossos resultados indicam que a incorporação de insights de analistas fundamentalistas para entender quais são as métricas mais pertinentes para cada setor resulta em scores de fatores mais intuitivos, especialmente para os fatores de Valor e Qualidade. Além disso, uma abordagem que leva em consideração características específicas de cada setor, alinhadas com a atribuição de maior peso às métricas mais relevantes para cada um deles, resulta em resultados mais intuitivos e melhores retornos ajustados ao risco. Notavelmente, todos os nossos portfólios de fatores “aperfeiçoados” apresentaram performance superior comparado a versões genéricas dos mesmos fatores.
Entre os principais destaques da nossa análise, incluímos o desempenho histórico de nossos portfólios de Valor e Momentum, que consistentemente entregaram os retornos altos e consistentes, com retornos anualizados de 12% e 14%, respectivamente. A integração de fatores de valor em sua forma de “série temporal” ao lado de fatores em sua forma “transversal” (mais tradicional) apresentou uma contribuição considerável ao desempenho de nosso portfólio de Valor. Fatores relacionados ao EBITDA Yield se destacaram como contribuidores excepcionais.
Embora os fatores de Baixo Risco tenham mostrado um desempenho ligeiramente decepcionante no Brasil nos últimos anos, atribuímos essa diferença à nossa implementação neutra em termos de alocação, que difere substancialmente de uma abordagem neutra em termos de beta. Essa distinção naturalmente produz resultados diferentes.
A demanda por ativos de Alta Qualidade permanece robusta, como evidenciado pelo nosso portfólio de Qualidade, que consistentemente gera retornos ajustados ao risco positivos. Os investidores seguem favorecendo ações lucrativas, especialmente aquelas que demonstram expansões de margens e indicadores. Em relação à métricas individuais, destacamos o desempenho excepcional de ROE, ROIC e suas derivadas de crescimento, que se tornaram indispensáveis na avaliação dos fatores de Qualidade.