Pela primeira vez na história, o rendimento dos dividendos das empresas do Ibovespa supera a taxa básica de juros brasileira – a Selic. Apesar da redução das estimativas dos lucros das empresas neste ano e, consequentemente, do pagamento dos dividendos (em -17% até o momento), os juros continuam em queda, com mais um corte de 75 pontos-base da Selic, levando-a para 2,25% ao ano. Portanto, essa comparação do rendimento dos dividendos com os juros continua positiva, o que mostra a atratividade tanto da Bolsa quanto dos bons pagadores de dividendos.
Além da própria alocação dos investimentos na bolsa, em busca de maior rentabilidade, as taxas de juros mais baixas também têm efeitos diretos para as companhias, como a redução no custo de suas dívidas e incentivo para os investimentos (importante para atividades de capital intensivo).
Veja abaixo a correlação das ações do Ibovespa nos últimos 5 anos contra o CDI curto (proxy pra Selic), da menor para maior. Ou seja, quanto mais negativa a correlação com os juros, a ação é mais impactada positivamente com a queda da Selic.
Nesse sentido, os setores da nossa cobertura mais beneficiados pela queda dos juros são locação de veículos, shoppings, elétrico e varejo. Adicionalmente, com os rendimentos de dividendos acima da taxa de juros para algumas empresas, os investidores ainda possuem uma “garantia” de retorno, além de seus ganhos com a performance da ação.
Porém, vale observar que o foco dos investidores está muito voltado aos rendimentos de 2021, com um cenário de lucros mais normalizado para as empresas, enquanto neste momento desafiador do curto prazo, algumas empresas podem segurar caixa ou terem seus dividendos reduzidos por questões regulatórias (como o caso dos bancos).
Apesar disso, em um mundo de juros baixos (que agora também faz parte da realidade do Brasil) e sem rendimento, o rendimento médio dos dividendos da bolsa acima dos juros apresenta muitas oportunidades aos investidores.
Dessa forma, listamos as ações na nossa cobertura com o maior dividend yield (rendimento dos dividendos), no próximo ano e apresentamos o racional por trás das nossas estimativas.
Os bons pagadores de dividendos
Elétricas e bancos são setores que se destacam como bons pagadores de dividendos. O setor elétrico é dividido entre o segmento de transmissão, geração, distribuição e as empresas integradas. Destavamos o segmento de transmissão de energia como um dos principais pagadores de dividendo por definição, tendo em vista que possuem receitas fixas corrigidas pela inflação e margens elevadas. Em seguida, destacamos o segmento de geração de energia que possuí margens elevadas e um certo grau de previsibilidade, dado que parte da receita já é contratada e as margens também são elevadas.
Temos um maior grau de confiança que alguns papéis do setor elétrico mantenham sua prática de elevados pagamentos de dividendos ainda em 2020, devido a sua posição robusta de caixa. Além disso, nossas estimativas são de que o setor deve conseguir entregar um dividend yield médio de 5,4% entre 2021 e 2023.
Os grandes bancos apresentam altos lucros e uma política que proporciona o pagamento de proventos. Apesar do ano de 2020 ser desafiador, o Dividend yield dos bancos deve ajudar no longo prazo. Como uma indústria madura, não acreditamos que bancos serão capazes de reinvestir um volume alto de capital a retornos atrativos, e isso prejudica os nossos valuations. Por outro lado, nossas estimativas são de que o setor deve conseguir entregar um dividend yield de 8.2-12.6% entre 2021 e 2023 (se incluirmos JCP), o que consideramos atrativo principalmente se levarmos em conta a baixa taxa SELIC.
Lembramos que o dividend yield de 2020 é prejudicado pela Resolução 4.797, que veda o pagamento de dividendos e juros sobre capital próprio acima do mínimo requerido de 25% ou do requerido pelo estatuto do banco (30% para Bradesco) em 2020.
Por fim, há tambem empresas de diferentes setores possuem elevada distribuição de dividendos devido à política de dividendos de cada companhia.
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Entenda por que as empresas abaixo pagam elevados dividendos
AES Tietê (TIET11) – Compra
Setor de atuação: geração de energia elétrica
A AES Tietê apresenta lucros consistentes, embora possa haver um certo grau de volatilidade dependendo da incidência de chuvas. A companhia tem a prática de distribuir 100% do lucro líquido a acionistas com periodicidade trimestral. Destacamos que no curto prazo, não descartamos a possibilidade de uma mudança temporária na prática de pagamentos de dividendos em níveis máximos devido aos investimentos programados no curto e médio prazo nos ativos do complexo eólico de Tucano. Apesar da companhia ter mantido a distribuição máxima de proventos no 1T20, acreditarmos que uma pausa nessa prática seria perfeitamente compreensível no contexto atual de incertezas. Estimamos um dividend yield de 10,8% em 2020-22. Mantemos nossa recomendação de Compra na AES Tietê, com um preço-alvo de R$ 16/unit.
Engie (EGIE3) – Neutro
Setor de atuação: geração de energia elétrica
A Engie ainda se destaca pela capacidade diferenciada de se proteger dos efeitos de baixa incidência de chuvas, além de ter expandido sua atuação para os setores de transmissão de energia e transporte de gás. Apesar disso, acreditamos que, assim como no exercício de 2019, no qual a empresa reduziu a distribuição de proventos de inicialmente 100% para 56%, o mesmo pode ocorrer novamente ao longo de 2020, dadas as previsões de desembolso de caixa de (1) R$ 2,7 bilhões em vencimentos de dívidas em 2020, (2) R$ 2,46 bilhões em investimentos previstos para o 2020, em comparação com nossa estimativa de EBITDA para 2020 de R$ 5,76 bilhões. Por outro lado, acreditamos que após a superação deste período de incertezas, a empresa deverá retomar sua prática de distribuição de 100% do Lucro Líquido a acionistas. Estimamos um dividend yield de 8,0% em 2021.
Cyrela (CYRE3) – Compra
Setor de Atuação: Construção Civil
A robusta geração de caixa da companhia alinhado com o processo em andamento de redimensionamento do seu balanço (redução do seu patrimônio líquido) deve continuar levando a Cyrela a distribuir robustos dividendos nos próximos anos, processo que pode ser temporariamente interrompido em 2020, visando preservar liquidez devido à baixa visibilidade do cenário econômico. De acordo com nossas estimativas, a companhia deve distribuir um dividend yield de 7,5% em 2021
Taesa (TAEE11) – Neutro
Setor de atuação: transmissão de energia elétrica
Temos um maior grau de confiança de que a TAESA seja um dos poucos nomes a manter a distribuição de 100% de lucros em 2020, pois sua posição de caixa de R$ 2,4 bilhões e nossa estimativa de EBITDA para 2020 de R$ 1,3 bilhão são suficientes para fazerem frente aos investimentos em 2020 de R$ 1,0-1,1 bilhão e vencimentos de dívida de R$ 734 milhões. Dito isso, assumimos o pagamento mínimo de 50% previsto no estatuto por conservadorismo e, caso a empresa faça um anúncio nesse sentido, consideraríamos perfeitamente razoável. Estimamos um dividend yield de 6,8% em 2020-22. Temosa recomendação neutra em TAESA, com preço-alvo de R$ 30/ação.
CCR (CCRO3) – Neutro
Setor de atuação: concessão de rodovias
O principal segmento da companhia é o de concessões rodoviárias, cujo volume é historicamente atrelado ao PIB. A companhia possui diversos projetos maduros em seu portfólio, o que em conjunto com as margens elevadas desse modal permite certo grau de visibilidade sobre resultados futuros. A CCR também atua nos segmentos de Mobilidade Urbana e Aeroportos, segmentos, segmentos que foram mais diretamente impactados pela queda de volumes associada à pandemia da COVID-19.
A companhia possui uma política de distribuir dividendos semestralmente, e estimamos um dividend yield para 2021 de ~7,3%.
Sanepar (SAPR11) – Compra
Setor de atuação: saneamento básico
A elevada distribuição de dividendos da Sanepar se deve à política de dividendos da companhia. A política prevê a distribuição do dividendo mínimo de 25% do lucro, além de 25% adicionais caso a situação financeira da empresa o permita (o que acontece desde 2012, com uma pausa em 2019, quando foram distribuídos 30% do lucro líquido). Por conservadorismo, estimamos que a Sanepar distribua menores dividendos em 2020 novamente no mesmo patamar de 2019, e retome a distribuição de 50% a partir de 2021, e estimamos um dividend yield de 7,9% entre 2020 e 2022. Mantemos nossa recomendação de Compra na Sanepar, com um preço alvo de R$32/unit.
Itaú (ITUB4) – Neutro
Setor de atuação: financeiro
O banco combina: i) um investimento de qualidade, com boa gestão e governança que se traduzem em menor beta; e ii) um payout historicamente acima da média do setor.
Lembrando que o dividend yield de 2020 é prejudicado pela Resolução 4.797, que veda o pagamento de dividendos e juros sobre capital próprio acima do mínimo requerido de 25% ou do requerido pelo estatuto do banco em 2020. Por outro lado, para 2021 estimamos um div. yield de 6,4%.
ISA CTEEP (TRPL4) – Neutro
Setor de atuação: transmissão de energia elétrica
No curto prazo, não vemos grandes riscos para a prática de dividendos da CTEEP de pagamento de 75% do lucro líquido regulatório, dada a sua posição de caixa de R$ 2,66 bilhões e nossa projeção de EBITDA para 2020 de R$ 2,24 bilhões, que são mais do que suficientes para fazer frente aos vencimentos de dívidas de R$ 1,07 bilhão e nossa estimativa de investimento de R$ 1,5 bi em 2020. Estimamos um dividend yield de 6,5% em 2020-22. Temos recomendação Neutra na CTEEP, com preço-alvo de R$ 23/ação.
Cesp (CESP6) – Compra
Setor de atuação: geração de energia elétrica
Apesar do Lucro Líquido da CESP ser impactado de maneira significativa pelos efeitos da correção monetária dos seus contingentes passivos (sem efeito caixa), notamos que a companhia tem elevado potencial de distribuição de proventos. O estatuto da companhia prevê a distribuição de dividendos na opção mais benéfica entre as seguintes: (1) 10% do capital social integralizado destas ações (ou R$1,85/ação) ou (2) direito de participar em igualdade de condições com as ações ordinárias na distribuição de 25% do lucro líquido.
Tendo em vista a situação confortável de alavancagem da CESP (1,0x Dívida Líquida / EBITDA, o menor endividamento do setor elétrico), a situação confortável de caixa de R$950 milhões e a existência de reserva de lucros, acreditamos que a companhia deve continuar a distribuir pelo menos o dividendo mínimo de R$1,85/ação, o que implica um dividend yield de 6,6%. Temos recomendação de Compra nas ações da CESP, com preço-alvo de R$34/ação.
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