- O SFN é fortemente concentrado em cinco bancos. Por este motivo, seus balanços costumam indicar o que esperar para o sistema financeiro como um todo e a provisão é um bom preditivo de inadimplência.
- A inadimplência de grandes e médias empresas continua controlada e em baixos níveis históricos. Para micro e pequenas empresas, já é possível observar uma tendência de retomada nos indicadores de atraso, mas a provisão realizada em 2020 deve ser suficiente pra absorver.
- Um ponto relevante de atenção é o alto patamar de comprometimento de renda das famílias, assim como o aumento do nível de endividamento, ambos com trajetória crescente.
- Continuamos em ambiente de alta incerteza e cenário de elevação de juros. A depender da evolução do cenário macroeconômico, esses indicadores podem ser modificados de maneira relevante.
Assim como demonstramos em nosso primeiro relatório de acompanhamento trimestral do mercado de crédito brasileiro, os resultados das medidas tomadas pelo Governo Federal e Banco Central para contenção dos efeitos da covid-19 têm sido positivos, com baixa inadimplência e crescimento na carteira de crédito dos bancos.
Mas é importante acompanhar até onde estes estímulos conseguem segurar a qualidade de crédito dos bancos, uma vez que vem sendo gradualmente retirados ou deixando de surtir efeitos. Isto torna-se ainda mais verdadeiro à medida em que a taxa básica de juros mantém sua trajetória crescente, com expectativa de atingir 7,25% ao final deste ano e riscos fiscais permanecem no radar.
PDD e Inadimplência do SFN
O sistema financeiro brasileiro é bastante concentrado, com os cinco maiores bancos correspondendo por mais de 70% do crédito concedido. Historicamente, observamos que os bancos privados costumam efetuar uma provisão prospectiva, baseadas em modelos estatísticos e análises históricas do comportamento dos clientes e na estrutura das operações de crédito.
É possível ver esse comportamento no gráfico abaixo, onde o pico de provisão / carteira na crise passada ocorreu no início de 2017 para os bancos privados, sendo que para os bancos públicos ocorreu quase 2 anos depois. Para o período atual, temos uma importante informação ao analisar esse mesmo gráfico, pois em 2020 os bancos privados efetuaram uma provisão considerável, muito em função da expectativa de aumento de perdas devido à pandemia. Não tivemos mudança relevante nesses indicadores no 2º trimestre de 2021.
Entretanto, uma dúvida que pode surgir é se tivemos de fato essa inadimplência projetada pelos bancos privados. Nos gráficos a seguir, temos o histórico do SFN para atrasos de 15 a 90 dias, que são mais voláteis, mas importante preditivo, além do atraso acima de 90 dias.
Observamos que o atraso e inadimplência estão em patamares mínimos históricos, o que pode parecer contra-intuitivo. Entretanto, vale lembrar das medidas emergenciais que foram adotadas pelo Governo e Banco Central. Destaque para a repactuação das parcelas, além do auxílio emergencial e linhas de crédito para pequenas e médias empresas.
PDD e Inadimplência dos grandes bancos
Dada essa concentração e pelo fato de os bancos privados serem bons preditores, iremos analisar alguns indicadores publicados nos relatórios do Itaú, Bradesco e Santander, além de incluir o Banco do Brasil, dada a grande representatividade no mercado.
É possível observar um aumento de provisão dos grandes bancos privados relativos à carteira em 2020; para 2021, a expectativa é de redução dessa medida, retornando a patamares próximos ao período de 2018 a 2019. Através do guidance para 2021 e com os dados observados para o 2º trimestre de 2021, podemos reforçar essa questão, também mencionadas na divulgação trimestral de resultados desses bancos. Além disso, pudemos observar uma redução dessa previsão de custo de crédito divulgado pelo Itaú e Banco do Brasil, reforçando a expectativa positiva para o ano.
Da mesma forma que observamos uma baixa inadimplência no sistema financeiro, podemos notar esse mesmo comportamento nos grandes bancos. Vale salientar que cada banco fornece uma abertura diferente em relação à inadimplência.
Um ponto de atenção foi o aumento de inadimplência de pequenas e médias empresas (PMEs) no 1º trimestre de 2021 para Itaú e Bradesco, dados que esses bancos fornecem nos relatórios de divulgação. Já no 2º trimestre de 2021, houve estabilidade desse indicador, como podemos ver nos gráficos abaixo.
Evolução do crédito e inadimplência PJ
O saldo de crédito para pessoa jurídica (PJ) evoluiu de forma considerável ao longo de 2020. Apesar dos programas governamentais para PMEs, o destaque de evolução do saldo foi por conta da concessão de capital de giro para as maiores companhias.
Em 2020 foi observado um incremento acima de 25% no saldo de crédito PJ, representando R$ 325 bilhões. Desse incremento, capital de giro contribuiu com R$ 270 bilhões, sendo que R$ 200 bilhões foram originados para grandes e médias empresas. Para 2021 vemos certa estabilidade na carteira PJ.
A inadimplência para grandes e médias empresas continua controlada e em baixos níveis históricos. Para micro e pequenas empresas, apesar do nível de inadimplência estar baixo historicamente, já é possível observar uma tendência de retomada nos indicadores de atraso.
Evolução do crédito e inadimplência PF e endividamento das famílias
O saldo de crédito para pessoa física evoluiu com menor intensidade em 2020 (pouco acima de 10%), com destaque positivo para crédito imobiliário e consignado. Como contribuição negativa nessa evolução, temos linhas relacionadas ao consumo, como cartão de crédito e linhas rotativas. O auxílio emergencial contribuiu de maneira decisiva para não termos uma situação de queda de crédito, além de contribuir com atividade econômica e na inadimplência mais controlada.
Na primeira metade de 2021, o crescimento de quase 5% no crédito no sistema financeiro vem sendo puxado pelo crescimento de 7% no crédito para PFs, dado que para PJs o incremento foi de pouco mais de 2% nesse no mesmo período.
Um ponto relevante de atenção é em relação ao alto patamar de comprometimento de renda das famílias, assim como o aumento do nível de endividamento. Ambos indicadores estão em alto patamar e com trajetória crescente, muito em função da queda da renda como um todo.
Status das repactuações de crédito
A repactuação teve uma grande aderência ao longo de 2020 no sistema financeiro brasileiro, com cerca de um terço do estoque tendo algum tipo de repactuação. A expectativa de as operações de crédito repactuadas gerarem perdas relevantes para o SFN se reduziu, como podemos ver no gráfico 18, onde mais da metade dessas operações estão em dia e por volta de 5% com atraso acima de 30 dias.
Essa carteira precisa ser acompanhada porque, dependendo do andamento da vacinação e eventuais novos avanços da doença, pode se tornar mais vulnerável num cenário adverso de retomada da economia.
Mesmo sem atualizações deste indicador do gráfico 18 pelo Bacen desde o último relatório (atualização semestral), podemos observar na Figura 1 a carteira do Bradesco, divulgada nos demonstrativos trimestrais. Nela, podemos inferir uma certa estabilidade nesse indicador de inadimplência das operações repactuadas, dado que o Bradesco possui uma boa relevância o SFN.
Conclusões
Não temos mudanças relevantes desde o último relatório divulgado em 10 de maio de 2021. O Sistema financeiro está capitalizado e com boa liquidez.
As provisões realizadas pelos grandes bancos ao longo de 2020 devem ser suficientes para acomodar um aumento de inadimplência. Itaú e Banco do Brasil revisaram o guidance de 2021 com melhora na expectativa de custo do crédito e patamar semelhante a 2019.
O crédito no SFN está crescendo por volta de 5% nesse primeiro semestre, com destaque positivo para a retomada do crédito para PF (+7%) e linhas com garantias, como financiamento imobiliário, consignado e veículos.
Veja mais
Fonte
Banco Central
Itaú
Santander
Bradesco
Banco do Brasil
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