Resumo
Os destaques dessa semana foram as reuniões dos Comitês de Política Monetária do FED (FOMC), e do Brasil (Copom). Nos Estados Unidos, foi mantida inalterada a taxa básica de juros, como esperado. A grande surpresa, entretanto, foi a mudança no posicionamento dos dirigentes por um aumento de juros ainda em 2023. No Brasil, a decisão foi pela elevação da taxa Selic para 4,25% a.a., um aumento de 0,75 p.p., conforme esperado.
As discussões de cunho fiscal dominaram as pautas políticas dessa semana, entre elas a extensão do auxílio emergencial e potencial aumento do benefício do Bolsa Família a partir do final do ano. O Senado aprovou projeto de lei que abre espaço para a privatização da Eletrobrás e a preocupação com a crise hidrológica sobe, e com ela os riscos para o setor elétrico e inflação.
Para semana que vem, destaque para divulgação da Ata do Copom e dados de inflação no Brasil, além do resultado do setor externo e da arrecadação federal de maio. No cenário internacional, destaque para divulgação do resultado do deflator PCE de maio nos EUA. Teremos também discurso de dirigentes do FED ao longo da semana, além de PMIs de junho na Zona do Euro e nos EUA.
Atualizações Covid-19
A pandemia da Covid-19 continua representando importante risco de curto prazo para a economia global. No Reino Unido, o primeiro-ministro Boris Johnson anunciou a postergação em quatro semanas de seu plano de suspensão das medidas de restrição no país, diante do avanço do número de novos infectados, especialmente pela variante Delta de origem indiana.
Os dados divulgados pelo Ministério da Saúde apontam uma redução na média móvel de óbitos, que foi para 1.998 ao dia, e de casos, que se encontra em 70,2 mil ao dia. Todos os estados reportaram seus dados. A vacinação foi destaque com recorde de doses aplicadas, chegando a 2,3 milhões em um dia. Com doses disponíveis e mudanças nos critérios de vacinação, o ritmo deve continuar acelerado. Até o momento, 61,2 milhões de brasileiros receberam ao menos primeira dose, enquanto 24,2 milhões, as duas.
Cenário Internacional
O principal destaque da semana ficou para a reunião do Comitê de Política Monetária do FED (FOMC). Como amplamente esperado, o Comitê manteve inalterados a taxa básica de juros (entre 0% e 0,25%) e seu programa de compra de ativos. As surpresas ficaram por conta do chamado “gráfico de pontos”, que traz as projeções dos dirigentes do Fed para a evolução dos juros. A mediana das expectativas agora aponta para duas elevações até o final de 2023. Dentre os 18 presidentes dos bancos centrais regionais que compõem o Comitê, 13 esperam alta de juros até o final de 2023, sendo que 7 passaram a prever o início do ciclo de aperto monetário em 2022; na reunião de março, 7 participantes indicavam elevação de juros até o final de 2023 e 4 projetavam início do ciclo de alta em 2022.
Quanto à inflação, o FED elevou sua projeção para 2021, com o núcleo do PCE subindo de 2,2% para 3,0%, mas manteve praticamente inalteradas as expectativas para 2022 e 2023 – reforçando a avaliação do choque inflacionário atual como transitório. No campo da atividade, o FOMC aumentou a expectativa de crescimento do PIB em 2021, de 6,5% para 7,0%. Por fim, ainda acreditamos que o processo de redução gradual das compras líquidas de ativos por parte do Fed (tapering) começará no 1º trimestre de 2022, mas esperamos maior detalhamento em agosto, na ocasião do Simpósio de Jackson Hole. Já para o início do ciclo de alta de juros, passamos a projetar para o 3º trimestre de 2023.
Também foram divulgados resultados das vendas no varejo, produção industrial e índice de inflação ao produtor (PPI) referentes a maio. Em atividade, a produção industrial registrou alta de 0,8% em maio, levemente abaixo do esperado, mas ainda positivamente influenciada pela demanda externa e interna, e por estoques em baixa. Por outro lado, as vendas no varejo surpreenderam para baixo, recuando 0,7% no mês, especialmente diante do fim das transferências de renda por parte do governo e a volta da demanda por serviços com o fim de maior parte das restrições de mobilidade.
Ainda nessa semana, a pauta diplomática também ganhou destaque na seara internacional. Em reunião da OTAN, líderes destacaram a importância de se contrapor de forma unida por supostos riscos apresentados pela China e Rússia. Entretanto, sem convergir sobre a melhor forma de fazer isso. Em comunicado, pediram que Beijing respeite direitos humanos, em linha com declarações do G7 no início da semana.
Europa
Na Zona do Euro, destaque para a leitura final da inflação ao consumidor de maio, que vieram em linha com o esperado. O resultado mostrou alta de 0,3% ante março, levando a taxa acumulada em 12 meses a 2,0% (acima da taxa de 1,6% registrada em abril). A medida de núcleo da inflação – exclui os itens mais voláteis de energia e alimentos – mostrou elevação mensal de 0,2% e taxa de 1,0% em 12 meses.
Enquanto isso, no Reino Unido, a taxa de desemprego de abril ficou em linha com o esperado em 4,7% em abril, mas com criação de vagas um pouco mais fraca e salários mais pressionados. Em inflação, o indicador de preços ao consumidor no Reino Unido de maio ficou um pouco acima das expectativas, subindo 2,1% no ano/ano, de 1,6% em abril.
Ásia
O destaque da semana na China ficou para a intensificação da campanha do governo para conter os preços das commodities e reduzir a especulação, que afetou negativamente o preço de commodities minerais. O país contou também com reunião de política monetária essa semana, com manutenção da taxa de juros de um ano em 2.95%.
Em atividade, a produção industrial desacelerou o ritmo de crescimento em maio, mas seguiu em alta de 8,8% no comparativo anual, enquanto as vendas no varejo ganharam força em maio.
Já no Japão, a autoridade monetária também manteve as taxas de juros constantes, mas estendeu seu programa relacionado à covid até março de 2022 (antes de setembro de 2021). O núcleo da inflação ao consumidor ficou um pouco acima das expectativas em maio, mas ainda muito baixo (em 0,1% no comparativo anual).
Enquanto isso, no Brasil
No cenário doméstico, o principal destaque também foi a reunião do Comitê de Política Monetária do Banco Central. O Copom elevou a taxa Selic em 0,75 p.p., de 3,50% para 4,25%, conforme amplamente esperado pelo mercado. No comunicado, o Comitê destacou a recuperação mais forte da atividade econômica e a persistência da pressão inflacionária, mostrando preocupação com os efeitos secundários do choque atual – ou seja, com a elevação de alguns preços se disseminando para os demais. Este ponto é chave no comunicado, pois, a nosso ver, é o risco desses efeitos secundários que irá determinar os próximos passos da política monetária.
Nesse sentido, o Copom deixou de sinalizar um ajuste “parcial” nas condições monetárias, indicando uma elevação da taxa Selic para “seu patamar neutro” – estimado por nós em 6,50%. A decisão de hoje é consistente com nosso cenário de aumento da taxa Selic para 6,50% no final deste ano, com elevações adicionais de 0,75pp nas duas próximas reuniões do Copom e uma desaceleração no ritmo de alta dos juros mais adiante.
Na seara de indicadores, o íncide de atividade econômica mensal medido pelo Banco Central (IBC-Br) registrou expansão de 0,4% entre março e abril. O resultado veio muito abaixo da nossa expectativa (1,5% MoM; 18,5% a/a) e consenso de mercado (1,35% MoM; 18,2% a/a), especialmente devido à revisão da série histórica. Apesar da surpresa negativa da leitura de hoje, continuamos observando uma rápida recuperação da atividade econômica brasileira após a queda registrada em março.
Cenário político econômico
Destaque para discussões de cunho fiscal nessa semana. O ministro Paulo Guedes confirmou nessa semana a extensão do auxílio emergencial por três meses, até outubro deste ano, nos mesmos moldes do atualmente pago. O custo adicional estimado para o ano, a ser pago por meio de novo crédito extraordinário, é de R$ 20 bilhões.
O benefício deve ser substituído a partir de novembro por um novo programa de transferência de renda, que ocupará o lugar do Bolsa Família. Nesse contexto, o presidente Jair Bolsonaro surpreendeu ao anunciar que o novo Bolsa Família deve pagar, em média, um benefício de R$ 300 por mês. O reajuste não deve caber no teto de gastos de 2022 e está acima do planejado pelo Ministério da Economia, que estuda alternativas como limitar o número de beneficiários e a redução de outros programas existentes.
Além disso, o Executivo enviou ao Congresso um projeto para driblar a regra de ouro e bancar R$ 164 bilhões em despesas com pessoal e previdência por meio de emissão de dívida. A notícia, porém, não é novidade e o Governo Federal tem tomado essa iniciativa desde o primeiro ano de mandato.
Ainda no cenario político, o Senado brasileiro aprovou projeto de lei que abre espaço para a privatização da Eletrobrás. É um passo importante do ponto de vista fiscal e de produtividade. Alguns especialistas do setor afirmam, no entanto, que a conta de energia ou os consumidores podem aumentar sensivelmente.
Finalmente, a crise hidrológica e seus efeitos sobre o fornecimento de energia elétrica continuam uma fonte de preocupação. O nível dos reservatórios está próximo de mínimos históricos. De acordo com jornais locais, especialistas do setor parecem concordar que a probabilidade de um amplo racionamento de eletricidade (semelhante a 2001) é baixa, mas podem ocorrer algumas restrições isoladas. Os preços seguirão elevados, pressionando a inflação de curto prazo.
Publicações
Nessa semana, publicamos nosso Brasil Macro Mensal, destacando os riscos da inflação no Brasil e no mundo. O Brasil vive uma importante melhora cíclica, principalmente no crescimento e nas contas públicas. Inflação mais alta e um banco central mais agressivo são os efeitos colaterais negativos. Mantivemos nossas principais projeções para a economia brasileira.
O que esperar?
Cenário doméstico: destaque para divulgação da Ata do Copom e do Relatório Trimestral de Inflação pelo Banco Central, além de dados de inflação com o IPCA-15 referente a junho, além do resultado do setor externo e da arrecadação federal de maio. Cenário internacional: a divulgação do resultado do deflator PCE de maio nos EUA (medida preferida de inflação do FED) ganha destaque após posicionamento considerado mais hawkish na reunião do FOMC dessa semana. Teremos também discurso de dirigentes do FED ao longo da semana, além de PMIs de junho na Zona do Euro e nos EUA.
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