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Como será a saída da economia brasileira após o fim dos auxílios emergenciais?

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Mercado de trabalho sugere recuperação mais forte que o inicialmente previsto.

Retomada do emprego e a poupança circunstancial gerada durante a pandemia devem compensar parte da perda de renda gerada pelo fim do Auxílio Emergencial.

Estimamos esses efeitos. Nossas contas sugerem que a resultante destes efeitos reduzirá o crescimento do consumo e do PIB, mas seguirão, em geral, positivos.

A sustentabilidade fiscal segue o principal risco para este cenário.

Este artigo tem como objetivo aprofundar as discussões sobre uma das principais fontes de incerteza para a economia brasileira em 2021: como será o desempenho da economia após o fim dos auxílios emergenciais. A retomada dependerá da evolução do mercado de trabalho e da poupança circunstancial feita durante a pandemia, e em que medida estes fatores compensam o fim dos programas dos governamentais.

O estudo é dividido em três partes: i) como está o mercado de trabalho no Brasil, ii) avaliação do impacto das transferências governamentais na renda disponível da população e a evolução da poupança circunstancial e iii) como essa combinação de fatores impactam o consumo privado em 2021.

1) Mercado de Trabalho: CAGED e PNAD mostram retomada gradual, apesar da aparente contradição entre seus resultados recentes 

Os números recentes do mercado de trabalho indicam retomada desde agosto, embora com uma aparente contradição entre eles. Os dados do CAGED, que refletem o mercado formal, apresentam forte criação líquida de postos de trabalho. Já a PNAD do IBGE, que abrange formais e informais (algo como 45% da força de trabalho), denota uma recuperação lenta, mais puxada pelo setor informal. Nossa impressão é que o CAGED tem refletido melhor a temperatura do mercado, embora a PNAD traga elementos relevantes como o ritmo de volta da renda do trabalho.

A análise sob a régua dessas duas estatísticas é relevante neste momento de disfuncionalidade gerado pela COVID-19. As razões são os programas de transferência de renda e em especial pelo choque negativo sobre o setor de serviços, o qual foi quem mais sofreu com as medidas de distanciamento social e é o maior empregador da economia brasileira.

1.1) CAGED: Surpresa positiva mês após mês

Os dados do CAGED vêm mostrando consistente retomada da criação de postos de trabalho. Na última quinta-feira publicou a criação de 370 mil vagas de emprego em outubro no dado dessazonalizado. Algumas análises sugerem que os números estão exagerados, pois a crise levou a subnotificação das demissões. Não nos parece ser o caso. O Novo CAGED promoveu uma importante mudança no início do ano em sua coleta de informações[1]. UUma das suas principais alterações, a checagem com os dados do Seguro Desemprego para refletir de forma mais acurada as informações de demissões. A readequação dos reports sobre admissão e demissão feito pelas empresas ao e-Social podem apresentar alguma defasagem, mas que esta deveria ser corrigida nos dados revistos mais a diante. Hoje o empregado, por exemplo, é impossibilitado de receber o seguro-desemprego se a empresa não informar seu desligamento ao e-Social.


[1] https://www.gov.br/economia/pt-br/canais_atendimento/imprensa/notas-a-imprensa/2020/marco/esclarecimento-sobre-a-divulgacao-do-caged


O que pode, de fato, trazer ruído às informações sobre os saldos mensais do CAGED são os programas de manutenção do empregado formal. O BEm[2], programa de Benefício Emergencial do Governo Federal, propõe a redução proporcional da jornada de trabalho e salário bem como a suspensão temporária de contratos. No critério do Novo CAGED isso não se caracteriza como demissão, o que vem “retendo” essas informações de quedas mais expressivas desde abril deste ano. Uma forma (não-usual) de analisar essa estatística para não incorrer nesta distorção, é observar os dados apenas de fluxo de emprego (admissões). Em outubro, este número superou em mais de 200 mil a leitura de 2019.


[2] https://servicos.mte.gov.br/bem/


Do ponto de vista laboral, o programa pode ser considerado bem-sucedido. Segundo números do Governo Federal, o BEm preservou cerca de 9,8 milhões no período. Entretanto, o custo fiscal do programa também foi significativo, pois além assegurar a renda do trabalhador, ela propõe o pagamento do seguro-desemprego sob alguns critérios.

As informações até outubro do CAGED, podem ser consideradas positivas e em especial alguns setores como a indústria, agricultura e comércio. Entretanto, dois aspectos para os próximos meses ligam o sinal de alerta. Em que medida será o número de novas demissões no momento do fim do programa BEm e em que ritmo se dará a volta de contratações no setor mais relevante, o de serviços.

1.2) PNAD Contínua: desemprego elevado

A estatística mais ampla do mercado de trabalho brasileiro é a PNAD Contínua. Uma das maiores pesquisas do IBGE, com mais de 100 mil domicílios na amostra em um espaço de três meses, sofreu um atraso na coleta das informações durante a pandemia. Por conta do distanciamento social, o sindicato da autarquia reivindicou que a coleta da pesquisa não fosse mais presencial e feita por telefone. Isso causou atraso na tempestividade de publicação dos dados e levantou dúvidas sobre a qualidade amostral da pesquisa. A combinação entre a PNAD Covid e a PNAD Contínua também não se mostra satisfatória. De qualquer modo, é a partir dessa leitura que temos as melhores interpretações sobre o movimento do mercado de trabalho brasileiro.

A pesquisa é divulgada em médias móveis de três meses e, portanto, carregam informação do passado. Dado o caráter de urgência no entendimento das estatísticas durante a pandemia, o Banco Central em seu Relatório Trimestral de Inflação (RTI) de junho replicou um trabalho do IPEA (Hecksher, 2020) onde mensaliza os dados da PNAD Contínua. Com o avanço do método econométrico, é possível interpretar melhor os movimentos na ponta. A última leitura de setembro da PNAD Contínua oficial apresenta leve alta no número da População Ocupada, enquanto observando a PNAD Contínua mensalizada a PO de setembro apresentou a segunda alta consecutiva, +2,1% em setembro.

Analisada sob a métrica mensal, uma das informações mais relevantes é a massa de renda do trabalho da população brasileira. Deprimida por conta da pandemia, a massa de renda efetiva[3] do trabalho, caiu entre março e julho o que levou três anos para alcançar. Em agosto e setembro houve leve recuperação por conta de recuperação do número de criação de postos de trabalhos, tanto formais quanto informais.


[3] A renda efetiva tem melhor cobertura que a renda habitual por captar recebimentos atípicos. Além disso para o exercício proposto foi corrigido o problema de mudança metodológica do IBGE em 2016.


 1.3) Diferenças entre CAGED e PNAD Contínua

A comparação entre as duas estatísticas sempre foi na ótica da formalidade. Entretanto houve um descasamento nos últimos meses. Acreditamos que: i) em algum momento de revisão das duas pesquisas haverá certo fechamento deste gap, ii) a PNAD Contínua tem chance maior de apresentar problemas por conta da coleta atualmente ser via telefone. Uma das motivações é para a possibilidade, dos domicílios estarem omitindo a real situação de renda, uma vez que há receio de perda do auxílio emergencial por muitas famílias. Desta forma, entendemos que os resultados da PNAD vão acabar convergindo para o CAGED, como começou a indicar o resultado de setembro.

Nossa conclusão é, portanto, que por trás da volatilidade e ruído dos dados, está um processo mais consistente de retomada. Com efeito, nos últimos dois meses, a PNAD já mostra uma retomada na criação de postos de trabalho. Esta tendência deve se consolidar em 2021, sustentada pelas condições monetárias expansionistas e a gradual reabertura do setor de serviços permitida pelas vacinas contra a Covid-19. A taxa de desemprego deve continuar elevada, mas por conta do movimento de elevação da força de trabalho (pessoas economicamente ativas) e a nossa projeção aponta para um pico de desemprego entre março e abril de 2021.

Se este cenário se confirmar, a renda de trabalho tende a ser um vetor a compensar – ainda que parcialmente – a retirada dos programas governamentais ligados à pandemia mesmo com a pressão sobre a taxa de desemprego.

2) Renda disponível na Pandemia: Auxílio Emergencial e Poupança Ciscustancial

O Auxílio Emergencial (AE) mais do que compensou a queda da massa de renda provocado pela pandemia. Criado no início da pandemia, o AE reduziu a pobreza do país em mais de 23,0% de acordo com estudo da FGV Social[4]. Segundo o DataPrev[5], 66 milhões de brasileiros eram elegíveis a receber o AE de R$ 600 inicialmente e que foi reduzido para R$300 em setembro. Indiretamente quase 125 milhões de brasileiros se beneficiaram da transferência governamental, o que representa quase 60% da população brasileira. Para objetivo de ilustração, o número[6] de pessoas que perderam seus empregos desde o início da crise foi algo próximo de 11,2 milhões.

Há inúmeros debates[7] se a cobertura do programa foi além do razoável, se houve fraude, ou se fosse possível estendê-lo, ainda que em menor volume. O objetivo desta seção não é avaliar o mérito do programa, mas observar o quanto a renda das famílias foi complementada pelo AE.

A renda disponível da população também foi afetada pela queda de consumo das classes média e alta, onde houve pouca – ou nenhuma – perda de renda. Estes reduziram o consumo por falta de oferta, especialmente serviços, gerando uma poupança circunstancial. Nesta seção, estimamos também o volume desta poupança


[4] https://www.cps.fgv.br/cps/bd/docs/CovidEAsClassesEconomicas_FGV_Social_Neri-OUT-2020.pdf

[5] https://portal2.dataprev.gov.br/covid-19

[6] Números oficiais da PNAD Contínua

[7] https://valor.globo.com/opiniao/coluna/exageros-no-auxilio-emergencial.ghtml


2.1) Massa Ampliada de Renda – XP

Dada a relevância do acompanhamento das estatísticas de emprego e renda com alta tempestividade e para melhor compreensão de como está se comportando o mercado de trabalho, construímos uma série de Massa Ampliada de Renda (MAR-XP) contemplando a metodologia utilizada pelo Banco Central[8] e que o IFI[9] abordou com maior detalhamento no início de 2019.

A diferença na construção deste indicador para o do Banco Central, se dá em duas frentes: utilização dos dados da PNAD Contínua Mensalizada e da inclusão dos repasses governamentais extraordinários, como as liberações de FGTS em 2017, 2019 e 2020, do PIS/PASEP em 2018 e dos Auxílios Emergenciais em 2020.


[8] https://www.bcb.gov.br/htms/relinf/port/2010/06/ri201006b2p.pdf

[9] https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/553547/NT_26_2019.pdf  (IFI – Instituto Fiscal Independe)


No gráfico acima, observa-se que o nível de renda da população brasileira caiu no mês de março e que após o início do pagamento dos auxílios emergenciais em abril, este mais que compensou a queda trazida pela pandemia na renda do trabalho. Com a última leitura de PNAD disponível de setembro, a Massa Ampliada de Renda atingiu R$ 282,5 bilhões está apenas 1,1% abaixo do visto em fevereiro mesmo após a redução dos AE de R$600 para R$300. Vale ressaltar que a massa de renda da população cresceu apenas 7,3% desde a saída da última recessão[10] ao final de 2016, ou seja, um crescimento médio anual de 1,8% sob a ótica deste indicador que contou também com aportes do FGTS e PIS/PASEP no período.


[10] Datação CODACE/FGV


2.2) Estimando a poupança circunstancial

Uma forte característica desta crise, foi o efeito-substituição da população no consumo de serviços (paralisados na pandemia) pelo consumo de bens industriais (varejo/alimentação). Essa mudança de mix na cesta de preferência das pessoas foi capaz de mitigar parte da queda do Consumo das Famílias no segundo trimestre de ano (-12,5%).

Este fato gerou uma poupança circunstancial das famílias, seja pela impossibilidade de contratar serviços (viagens, restaurantes, bares, eventos etc.), seja pela falta de confiança/medo latente por conta da questão sanitária. Esta variável tornou-se relevante até nas comunicações oficiais do Banco Central e uma das medidas que a própria autoridade monetária tomou foi a criação da cédula de R$ 200 diante deste entesouramento.

A mensuração dessa poupança circunstancial não é simples, por conta da falta de informação sobre o meio circulante da base monetária, sobre quais faixas de renda sociais tiveram impacto positivo ao longo da pandemia e principalmente quanto dos recursos do auxilio emergencial foi poupado pelas famílias que o receberam, uma vez que o pagamento muitas vezes é feito em papel-moeda[11].

Entretanto, é possível fazer uma aproximação, a partir da diferença entre a Massa Ampliada de Renda – XP aqui apresentada, e uma proxy indicador do Consumo Privado mensal construída a partir dos números do PIB do IBGE[12].


[11] https://www.bcb.gov.br/content/ri/relatorioinflacao/201803/RELINF201803-ri201803b3p.pdf

[12] Varejo Ampliado (42,5%), PMS – Serviços às Famílias (28,0%), PMS – Serviços às Empresas (14,3%) e PIM -Bens de Consumo (15,2%).


Segundo o exercício, o período de maior acúmulo de poupança circunstancial na pandemia foi o mês de abril, quando o consumo privado teve o seu pior desempenho enquanto foi iniciado o programa de auxílio emergencial recompondo boa parte da renda da população. Até setembro, havia cerca de R$ 54,3 bilhões de poupança circunstancial na economia brasileira, o que já é maior que toda liberação do FGTS do ano de 2020 (cerca de R$ 37,8 bi). Estimamos que essa poupança circunstancial deverá se manter em terreno positivo até o final do primeiro trimestre.

Por mais que as estatísticas do varejo e da indústria já marquem níveis acimas do pré-pandemia, o consumo dependerá ainda de uma recuperação mais forte do setor de serviços. A diferença média entre a massa de renda e o consumo privado desde o final de 2016 (última recessão) até fevereiro de 2020 (antes da pandemia) foi de 3,5 ponto percentual. Na última leitura de setembro essa diferença estava em 19,2 pontos percentuais. O que sugere que a população já possa ter consumido boa parte dessa renda recomposta, entretanto com nível ainda significativamente acima da média histórica. A recente compressão nos índices de inflação ao consumidor também corrobora para essa interpretação.

Entre os motivos para acreditar que essa razão se normalize apenas ao longo do primeiro trimestre são, i) antecipação de consumo de bens duráveis não indica o varejo com desempenho forte para os próximos trimestres, ii) recuperação, ainda que lenta, do setor de serviços favorece a recuperação da massa de renda do trabalho no quarto trimestre de 2020 e primeiro trimestre de 2021 e por ser o mais relevante na composição da massa de renda (mais de 70%) deve iii) mitigar a redução dos auxílios emergenciais e, não obstante, da antecipação de 13º de aposentados e pensionistas.

3) Estimando o consumo privado em 2021

Nesta seção, utilizamos os cálculos de renda disponível e poupança circunstancial da seção anterior para estimar o consumo privado em 2021.

O consumo das famílias pode ser explicado por duas grandes variáveis macroeconômicas, a renda e o crédito. Entretanto, um balizador deste ímpeto ao consumo é o sentimento geral da população aqui traduzido sob a forma do ICC[13]. Elaboramos uma regressão que busca estimar o impacto dessas três variáveis no consumo privado das famílias em bases trimestrais e buscando reduzir a endogeneidade da confiança com a renda ampliada e o crédito às famílias.


[13] Índice de Confiança do Consumidor. IBRE/FGV


A regressão para captar o ritmo do consumo se dá sob a forma de:

O modelo foi estimado utilizando uma janela de observações entre o primeiro trimestre de 2006 e o quarto trimestre de 2019 e todas as suas variáveis explicativas se mostraram significativas (p-valor < 0.05) e com sinais economicamente coerentes.  O modelo indica que um incremento da renda (B1 = 0.1231) implica positivamente no consumo bem como um aumento nas concessões de crédito (B2 = 0.1369). O crédito aponta uma relevância maior por contribuir por consumo de bens de maior valor agregado (carros ou imóveis, por exemplo) e passiveis de aquisição através de financiamento. De fato, o crédito vem sido o principal motor da atividade econômica nos últimos três anos. A inclusão da variável (B3 = 0.009) logarítmica do ICC (em nível e estacionária por construção) buscar reduzir a endogeneidade imposta ao modelo, especialmente neste momento de pandemia, na relação entre a confiança da população e o ímpeto em consumir. O modelo também foi submetido a método HAC (Newey-West) para corrigir eventuais erros auto correlacionados. As dummies sazonais apresentam coeficientes para os primeiro, segundo e terceiro trimestres são, respectivamente, B4 = -0.06,  B5 = -0.01, B6 = -0.01 e para a crise de 2009, B7 = 0.02.

O intuito prevalece que diante de cenário de elevada incerteza, por mais que as condições financeiras impostas possam impactar (positivamente ou negativamente) o consumo, haverá sempre uma restrição pela via da confiança. No momento atual observamos isso, em especial para as famílias mais ricas, que diante da pandemia postergaram consumo mesmo diante de relativa manutenção da renda. Desta forma, com base no modelo especificado anteriormente projetamos um crescimento de 10,2% no terceiro trimestre de 2020 no Consumo das Família sob a ótica de despesa do PIB a ser divulgado no próximo dia 3 de dezembro pelo IBGE. Essa recuperação será mais forte que o crescimento estimado do PIB Total no período; +8,4%.

Entretanto, este ritmo de recuperação a partir do quarto trimestre de 2020 e o primeiro trimestre de 2021 aponta para uma gradual redução. Para o final deste ano, os dados de renda mostram que a antecipação do 13º salário de parcela significativa da população e a redução das parcelas dos auxílios emergenciais serão suficientes para que a alta do Consumo das Famílias (CF) desacelera para +3,2%. Com certo grau de inércia da poupança circunstancial criada e reabertura do setor de serviços colaborando para a criação de empregos, entendemos que o primeiro trimestre de 2021 deverá ter crescimento de +0,9% no CF, mas uma retração de -0,7% no trimestre seguinte.

O ponto de inflexão e incerteza paira sobre este segundo trimestre de 2021, quando projetamos o pico de desemprego em 16,0% e nenhum efeito das políticas de recomposição de demanda agregada do ano anterior. Por mais que nossa projeção seja de uma variação negativa no consumo, esta não será suficiente para que o PIB entre em terreno negativo (+0,5%) por conta de uma recuperação do consumo do governo no período.  

Pelo lado da renda, além dos motivos elencados anteriormente, algumas evidências apontam que uma resolução sobre a questão pandêmica será o principal motivo para um ímpeto ao consumo maior, especialmente o de serviços. Em pesquisa realizada em outubro, o IBRE[14]/FGV apontou que a incerteza em relação à pandemia do COVID-19 é o principal motivo para postergação do consumo de bens e serviços. Quando analisado sob a ótica de faixa de renda dos consumidores, observa-se que este receio é maior nas famílias mais ricas.


[14] https://blogdoibre.fgv.br/posts/o-desempenho-do-consumo-e-o-setor-de-servicos


A mesma pesquisa, também aponta que 31,2% das famílias estão “poupando por precaução” o que vai de encontro com diversas falas de dirigentes do Comitê de Política Monetária do BC e ao nosso cenário macroeconômico. Essa informação tem potencial de alimentar as expectativas que após o fim dos auxílios emergenciais, haja na economia ao final do primeiro trimestre um colchão de liquidez das famílias brasileiras, maior que a vista antes do início da pandemia. Contudo, e somente se, isso poderá se concretizar caso a retomada do mercado de trabalho reaja, mesmo em um ritmo gradual.

4) Conclusão

A criação do auxílio emergencial, a antecipação do 13º e o auxílio ao emprego formal foram medidas essenciais para mitigação da queda de PIB em 2020. O fim do programa traz preocupação sobre o ritmo de atividade em 2021.

No entanto, entendemos que há sinais de que a recuperação no mercado de trabalho deve sustentar o crescimento do PIB em 2021, ainda que em ritmo menor do que neste segundo semestre. De fato, a renda do trabalho é a componente de maior relevância para a massa de renda ampliada e consequentemente para a demanda agregada.  Além disso, a poupança circunstancial feita durante a pandemia deve colaborar com o consumo privado até a virada do primeiro para o segundo trimestre de 2021.

Entre os riscos para este cenário, o principal é o fiscal. Se o governo ou o executivo sinalizarem com medidas não compatíveis com a estabilidade da razão dívida/PIB, a expectativa de inflação e os juros tendem a subir, e a desorganização macroeconômica acabará por abortar a recuperação.

Não cabe outra alternativa a não ser perseverar na agenda de reformas, destaque para a PEC Emergencial, e as reformas Administrativa e a Tributária. Esta é a única capaz de trazer uma resolução sobre os ativos domésticos. Em tempo, a economia brasileira crescia em um ritmo entre 2,8% a 3,0% ao final de fevereiro e antes de a pandemia pousar no Brasil. Sinal que a Reforma da Previdência de 2019 provocava efeitos positivo sobre o PIB, porém essas informações só vieram à público em meados de abril e no meio da crise provocada pelo novo COVID-19.

Outro risco, de dimensão mais exógeno, ainda é a possibilidade do Brasil ser assolado com uma segunda onda de coronavírus semelhante da vista na Europa e nos Estados Unidos. Há motivos para acreditar que uma solução da vacina venha até o fim deste ano e que a resposta da sociedade seja de uma volta à normalidade mais acelerada.

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