Resumo
Os indicadores de atividade e inflação nos Estados Unidos desta semana apoiaram a narrativa de que a economia americana segue desacelerando, mas não em de forma abrupta como temia o mercado inicialmente. Os dados de inflação mostraram sinais de arrefecimento das pressões inflacionárias, enquanto, no ramo da atividade, as vendas no varejo vieram acima das expectativas de mercado. Na China, os indicadores econômicos reforçaram a necessidade de medidas adicionais de estímulo à economia no curto prazo.
No Brasil, os diretores do Banco Central endurecem o discurso e o governo pretende anunciar o novo nome do presidente da autoridade nas próximas semanas. O nome mais cotado para a vaga é o do atual diretor de política monetária, Gabriel Galípolo.
No fiscal, o parecer sobre a desoneração da folha de pagamentos foi apresentado ao Senado e será avaliado na próxima semana. O documento inclui novas medidas de compensação à renúncia de receitas.
Gráfico da Semana
Cenário internacional
Dados de inflação e atividade nos Estados Unidos afastaram preocupações de recessão abrupta na economia
O índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) atingiu 2,9% no acumulado em 12 meses, em linha com as expectativas – a menor taxa de inflação desde março de 2021. A inflação no atacado veio abaixo das projeções, sugerindo menor pressão de custos. Os resultados confirmam que a inflação vem se aproximando da meta do banco central, o que permitirá redução de juros já no mês que vem.
Do lado da atividade, as vendas no varejo superaram as expectativas de mercado, reduzindo o temor de uma recessão econômica. Por outro lado, a produção industrial de julho caiu 0,3%, abaixo da expectativa do mercado. Os preços de importação cederam na margem e mostram alguma perspectiva benigna para a dinâmica de preços de bens no curto prazo.
Os indicadores desta semana apoiaram a narrativa de que a economia americana segue desacelerando, embora com ritmos setoriais distintos, e afastaram a possibilidade de uma desaceleração mais brusca da economia americana – impedindo um início de corte de juros mais agressivo pelo banco central americano. A percepção de desinflação sem recessão impulsionou o mercado acionário nos EUA e no Brasil. Projetamos início do ciclo de corte de juros em setembro.
Dados econômicos na China mostram necessidade de novos estímulos à economia no curto prazo
Na China, as vendas no varejo cresceram 2,7% em julho de 2024 em relação ao mesmo mês do ano passado, acima do avanço de 2,0% registrado em junho e da expectativa do mercado de 2,6%. Por outro lado, a produção industrial subiu 5,1% na base interanual, abaixo do ritmo de 5,3% observado no mês anterior e do consenso de mercado de 5,2%. Além disso, os investimentos em ativos fixos tiveram expansão de 3,6% de janeiro a julho de 2024 ante o mesmo período de 2023, desacelerando frente à elevação de 3,9% observada em junho (a mediana das estimativas era 3,9%). No mesmo sentido, os preços das novas residências na China recuaram ao ritmo mais forte em nove anos (-4,9% em julho, o pior número desde junho de 2015), já que as medidas governamentais de apoio não conseguiram elevar a confiança no setor imobiliário. A taxa de desemprego chinesa subiu de 5,0% em junho para 5,2% em julho.
Os dados reforçaram a necessidade de medidas adicionais de estímulo à economia no curto prazo. Projetamos recuperação modesta da atividade chinesa nos próximos meses.
Casa Branca alerta que Irã pode realizar um ‘grande ataque’ contra Israel após morte de líder do Hamas
A Casa Branca disse acreditar que o Irã realizará “uma série de grandes ataques” contra Israel ainda nesta semana. As tensões no Oriente Médio aumentaram após a morte do líder do Hamas, Ismail Haniyeh, na semana retrasada que, segundo Irã, foi orquestrado por Israel. Em comunicado, o governo iraniano afirmou que recuaria do conflito apenas se houvesse um cessar-fogo na Faixa de Gaza. O país rejeitou o apelo da comunidade internacional para evitar retaliação a Israel.
A região é muito importante para a produção de petróleo. Desse modo, um desdobramento do conflito pode impactar em maiores altas nos preços da commodity, dificultando o cenário de desinflação no Brasil, por exemplo.
Enquanto isso, no Brasil…
Diretores do Banco Central endurecem o discurso
Em discursos em diferentes eventos, os diretores do Banco Central reforçaram o firme compromisso da autoridade com a meta de inflação, em linha com as falas da semana passada. Gabriel Galípolo, por exemplo, apontou que a possibilidade de alta da taxa Selic “está na mesa”, em linha com o tom mais conservador da semana passada. Também em tonalidade mais dura, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, ressaltou que a autoridade monetária vai fazer o que for preciso para levar a inflação à meta.
Apesar da volta do dólar ao patamar de R$ 5,50, o aumento nas expectativas de inflação e a robustez da atividade econômica vêm preocupando os mercados. Nossa projeção de taxa Selic estável em 10,50% possui viés de alta.
Governo avalia antecipar indicação de novo presidente do Banco Central
O Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, confirmou que o anúncio da indicação para o novo presidente do Banco Central deve vir nas próximas semanas. A intenção é apontar o novo presidente antes das eleições municipais de outubro. O nome mais cotado para a vaga é o do atual diretor de política monetária, Gabriel Galípolo. O mandato de Roberto Campos Neto, atual presidente, termina em dezembro.
Solução para desoneração da folha caminha no Congresso
Foi apresentado no Senado o parecer sobre a desoneração da folha de pagamentos de 17 setores e dos municípios. De grande importância, a proposta foi mantida, mas com uma redução gradual do benefício ao longo dos anos até 2028 – a alteração trouxe um efeito positivo relevante para o arcabouço fiscal no médio prazo. Como compensação à desoneração, a proposta incluiu novas receitas: 1) atualização de bens no imposto de renda; 2) repatriação de recursos no exterior, 3) elevação da alíquota de IRRF incidente sobre juros sobre capital próprio; 4) renegociação de multas aplicadas por agências reguladoras; 5) apropriação de depósitos judiciais e extrajudiciais, e 6) destinação de recursos esquecidos em contas de depósito ao Tesouro Nacional.
Avaliamos que, no total, as medidas têm impacto de R$ 20,3 bilhões, valor um pouco abaixo do necessário (R$ 26,3 bilhões). Também foram incluídas como medida compensatória ações de “pente-fino” em benefícios previdenciários e assistenciais. Embora exista uma grande incerteza quanto às estimativas apresentadas, é provável que o projeto de lei, se aprovado em sua versão substitutiva, compensará ao menos parcialmente as perdas decorrentes da desoneração da folha neste ano, ajudando o governo a atingir a meta de resultado primário. Da parte das despesas, embora o efeito seja menor, o alívio de curto prazo poderia reduzir a necessidade de bloqueios adicionais nos próximos relatórios bimestrais.
Projeto de renegociação da dívida dos estados é aprovado pelo Senado
O Senado aprovou um novo projeto de lei de renegociação da dívida dos Estados com a União. A proposta dá uma nova alternativa aos estados para pagamento de suas dívidas, que somam mais de R$ 700 bilhões, sendo a maior parte gerada pelos estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro. Atualmente, os estados têm juros de IPCA + 4%. Pela proposta, haverá a possibilidade de abater os juros da dívida com: (i) entrega de ativos; (ii) investimentos locais, sobretudo nas áreas de educação, infraestrutura e segurança pública; e (iii) aplicação de recursos em um fundo de equalização – ainda a ser criado. A proposta segue agora para análise da Câmara dos Deputados.
Setor de serviços e varejo avançam no 2º trimestre
As receitas reais do setor de serviços avançaram 1,7% em junho ante maio e 0,7% no 2º trimestre ante o 1º trimestre, acima das expectativas iniciais. A maioria dos segmentos de serviços cresceu no último trimestre, reforçando nosso cenário de atividade doméstica sólida no curto prazo. Do lado dos consumidores, as vendas no varejo ampliado cresceram 0,4% em junho contra maio, abaixo das expectativas (ao redor de 1,5%). Dito isso, o indicador avançou 0,3% no 2º trimestre em comparação ao 1º trimestre deste ano, com sinais positivos em oito das onze atividades acompanhadas.
Em nossa visão, o mercado de trabalho aquecido e a expansão da renda real disponível às famílias e das concessões de crédito deve manter o consumo em trajetória de alta nos próximos meses. Nossa projeção para o PIB de 2024 – atualmente em 2,2% – tem viés de alta.
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O que esperar da semana que vem
Na economia global, o destaque será a divulgação da ata do FOMC – comitê de política monetária dos Estados Unidos – na 4ª-feira. A última reunião trouxe estabilidade nas taxas de juros americanas e a ata trará os principais tópicos discutidos e visões dos membros sobre variáveis econômicas e financeiras. Além disso, o índice PMI, uma sondagem com empresários sobre o ambiente de negócios, será divulgado em vários países ao longo da semana, incluindo Japão, Europa, e Estados Unidos – este indicador será referente a agosto. Na China, o banco central definirá as taxas de empréstimos de 1 e 5 anos na 2ª-feira, para as quais o mercado antevê estabilidade, mesmo após dados fracos de atividade divulgados na última quarta-feira. Por fim, haverá a divulgação da leitura final da inflação ao consumidor de julho na Europa 3ª-feira.
No Brasil, haverá a divulgação dos dados de arrecadação, para os quais esperamos um crescimento anual robusto, puxado pela sólida atividade econômica e pelas medidas de aumento de receitas aprovadas pelo governo. Além disso, o Senado deve votar o projeto de lei que altera a desoneração da folha de pagamento de 17 setores e municípios. O projeto em discussão estabelece uma redução gradual do benefício até 2028 e institui medidas para compensar as perdas de receitas decorrentes da desoneração neste e nos próximos anos.
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