Resumo
O banco central dos Estados Unidos (Fed) manteve os juros no intervalo de 5,25% – 5,50%. Na coletiva de imprensa após a decisão, o presidente do Fed trouxe mensagens mais otimistas. Corroborando a sinalização da autoridade monetária, os dados de mercado de trabalho americano vieram abaixo das expectativas de mercado.
Os bancos centrais do Japão e da Inglaterra também decidiram juros. A decisão por aumento de juros no Japão foi um dos fatores que explicaram a depreciação do Real nesta semana. No Reino Unido, o banco central reduziu a taxa referencial – alegando que ficou restritiva por tempo suficiente.
No Brasil, o banco central manteve a taxa Selic em 10,50%. No entanto, mostrou um balanço de riscos assimétrico para cima. Além disso, o dólar superou 5,75 reais nesta semana – movimento que foi explicado por fatores domésticos e externos.
Gráfico da Semana
Cenário internacional
Fed deve iniciar ciclo de corte de juros em setembro
Como amplamente esperado, o Fed (banco central dos EUA) manteve o intervalo para a taxa de juros em 5,25%-5,50%. Os juros estão neste nível desde julho de 2023. O comunicado que acompanhou a decisão foi mais cauteloso, mas os comentários feitos pelo presidente da instituição, Jerome Powell, na coletiva de imprensa foram mais otimistas. Powell mencionou que a redução de juros foi discutida pelo Comitê. Mais importante, ele destacou que o corte pode vir “já na próxima reunião”, e que isso poderia acontecer se a economia se comportasse como esperado (inflação em linha com as previsões, crescimento firme e mercado de trabalho “ok”, disse ele na coletiva de imprensa). Quanto à inflação, Powell acredita que a melhoria recente é mais sustentável do que a observada no ano passado, o que dá mais confiança ao Fed. Na esteira da sinalização de Powell, revisamos nossa projeção para o primeiro corte de juros de dezembro para setembro.
Dados do mercado de trabalho reforçam sinalização de Powell
Os EUA criaram 114 mil vagas de emprego em junho, resultado abaixo das expectativas de 175 mil. A taxa de desemprego subiu de 4,1% para 4,3%, enquanto os salários reais crescerem menos do que o esperado. Os dados revelam que o mercado de trabalho está desaquecendo, caminhando para níveis mais equilibrados, e reforçam a sinalização do presidente do Fed, Jerome Powell, de que as taxas de juros já podem começar a cair. De fato, os mercados futuros apontam três cortes de 0,25 p.p. até o final do ano.
Escalada dos conflitos no Oriente Médio pode pressionar preços do petróleo
O líder do Hamas, Ismail Haniyeh, foi morto no Irã, o que aumentou as tensões no Oriente Médio. Segundo o jornal norte-americano “The New York Times”, o líder supremo iraniano, Aiatolá Ali Khamenei, ordenou retaliação pelo assassinato de Ismail, indicando uma possível escalada no Conflito do Oriente Médio.
A região é muito importante para a produção de petróleo. Desse modo, um desdobramento do conflito pode impactar em maiores altas nos preços da commodity, o que atrapalharia o processo de desinflação do Brasil, por exemplo.
Dados de PIB e inflação na zona do euro vieram acima das expectativas de mercado
O PIB da zona do euro cresceu mais do que o esperado no 2º trimestre ao avançar 0,3% ante o 1º trimestre e aliviar preocupações de enfraquecimento da atividade econômica. Foi o segundo crescimento consecutivo após quatro dados sucessivos que mostraram a economia estagnada. Já a inflação ao consumidor medida pelo HICP ficou estável em julho, acima das expectativas. No acumulado em 12 meses, o indicador aumentou de 2,52% para 2,60% (consenso: 2,5%). O núcleo de inflação – que exclui os preços voláteis, como alimentos e energia – caiu 0,2%, também acima das expectativas. Mais uma vez, a diferença em relação às expectativas foi explicada pela persistência da inflação nos serviços.
No geral, os dados, apesar de mais fortes do que o antecipado, não devem impedir que o Banco Central Europeu reduza as taxas de juros pela segunda vez na reunião de setembro. No entanto, a inflação de serviços mais alta exige cautela no processo.
Decisão de juros no Japão impactou as moedas emergentes
O Banco do Japão elevou a taxa de juros de referência de 0,0 – 0,1% para 0,25%. Além disso, a autoridade monetária delineou um plano detalhado de aperto quantitativo – retirada de reservas financeiras em circulação no mercado, visando contrair as condições monetárias – que reduzirá a compra mensal de títulos públicos para metade do valor atual até o início de 2026.
O movimento levou investidores a desfazerem posições de carry trade – operação que envolve pedir empréstimos em moedas de países com juros baixos (como o Japão) e investir em moedas de uma economia com juros altos (como o Brasil). A inversão da operação fez com que o iene se valorizasse e as moedas emergentes perdessem valor. Esta foi uma das razões pelas quais o real (e outras moedas da américa latina) se desvalorizou esta semana.
Banco central da Inglaterra reduz juros em decisão dividida
O Banco de Inglaterra (BoE) concluiu a rodada de decisões de taxas do banco central desta semana. Em decisão dividida (5×4), a autoridade reduziu os juros de referência em 0,25 p.p., para 5,00%. O comunicado pós-decisão indicou que será apropriado deixar a política monetária “restritiva por tempo suficiente”. Em nossa opinião, o banco central britânico não reduzirá a taxa de juros na próxima reunião, que será realizada em setembro. Adicionalmente, acreditamos que a taxa de juros terminal do BoE ficará entre 3,25% e 3,50%.
Enquanto isso, no Brasil…
Dólar supera R$ 5,75
Resultado de uma combinação de fatores, a taxa de câmbio superou 5,75 reais por dólar nesta semana (e fechou um pouco abaixo disso). No ano, a moeda brasileira se depreciou 17% contra o dólar. Fatores domésticos e externos explicam o movimento. No mundo, (i) o receio de uma desaceleração brusca na economia americana; (ii) a redução das posições globais de carry trade por conta da alta de juros no Japão (ver comentário acima) e (iii) uma possível escalada do conflito no Oriente Médio. No Brasil, o tom mais brando do que o esperado pelo Copom (ver abaixo) e incertezas na gestão da política fiscal.
Nossa projeção para a taxa de câmbio está em 5,4 reais por dólar para o final do ano. A valorização frente ao patamar atual é explicada pela perspectiva de queda de juros nos EUA e alguma descompressão de prêmios de risco. Mas reconhecemos o elevado grau de incerteza da projeção, dada a volatilidade dos mercados internacionais e local.
Copom monitora riscos inflacionários
O Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) manteve a taxa Selic em 10,50%, como amplamente esperado. Também em linha com as expectativas, as suas projeções de inflação subiram, refletindo a taxa de câmbio mais depreciada, a forte atividade econômica e as expectativas de inflação mais elevadas. O Comitê ressaltou a necessidade de “ainda maior cautela na condução da política monetária” e afirmou que os riscos inflacionários, “se persistentes, corroboram a necessidade de maior vigilância”. Lemos esta sinalização como: se os determinantes da inflação – câmbio, expectativas, incerteza fiscal, crescimento salarial – não se estabilizarem (pelo menos) daqui para frente, o Copom poderá optar por aumentar os juros no segundo semestre.
Ainda assim, a interpretação do mercado foi de um comunicado menos severo ao não sinalizar explicitamente os riscos assimétricos para a inflação.
Continuamos vendo uma Selic constante até o final de 2025 como o cenário mais provável, mas reconhecemos que o cenário alternativo de taxas mais altas está ganhando probabilidade;
Para mais detalhes, leia o relatório “Comunicado do Copom: Alta de juros não é o plano de voo, mas os riscos aumentaram”
Mercado de trabalho no Brasil permanece robusto e sustentará a demanda interna nos próximos trimestres
O relatório do Caged mostrou criação líquida de 201,7 mil empregos formais em junho, acima das expectativas de mercado de 165 mil. Todos os setores se recuperaram em junho. No primeiro semestre deste ano, a adição líquida de empregos totalizou 1,300 milhão, significativamente acima dos 1,030 milhão registrados no mesmo período de 2023 – destacamos principalmente a maior contratação de trabalhadores no setor de serviços. Adicionalmente, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD Contínua), a taxa de desemprego caiu para 6,9% no trimestre móvel até junho, de 7,1% no trimestre móvel até maio. Estimamos que a taxa de desemprego mensal ajustada sazonalmente tenha caído para 6,8% em junho – próximo dos níveis mais baixos da série de dados que começou em 2012. O rendimento real do trabalho permanece firme. Ajustado pela inflação, o rendimento médio habitual do trabalho aumentou 5,8% em junho ante o mesmo mês do ano anterior.
Mantemos a nossa visão otimista sobre as condições do mercado de trabalho, que continuará sustentando a demanda interna nos próximos trimestres.
Produção industrial cresce acima das expectativas em junho
A produção da indústria brasileira aumentou 4,1% em junho ante maio, consideravelmente acima das expectativas. O resultado ocorreu após a queda de 1,5% vista na divulgação anterior, em meio às enchentes que atingiram o Rio Grande do Sul. Todas as categorias econômicas retomaram o crescimento. Destacamos o forte aumento na produção de bens de consumo – 6,8% em junho ante maio –, em linha com o aumento contínuo da renda disponível às famílias. Além disso, a produção de bens de capital permanece em trajetória ascendente, um sinal positivo para a Formação Bruta de Capital Fixo no curto prazo.
Prevemos que a produção industrial brasileira subirá cerca de 3% em 2024.
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O que esperar da semana que vem
A agenda internacional está um pouco mais calma na semana que vem. As sondagens empresariais PMI de julho serão divulgadas em diversos países, incluindo Estados Unidos, Europa, Reino Unido, China e Japão – o índice PMI é uma sondagem com empresários para avaliar as perspectivas das condições econômicas e de negócios nos países. Na 5ª-feira, destaque para dados de comércio exterior na China. No mesmo dia, países vizinhos publicarão a inflação ao consumidor de junho, incluindo o Chile, Colômbia e México.
No Brasil, a semana de indicadores econômicos também será mais calma. O destaque será a divulgação do IPCA de julho. Projetamos inflação de 0,35%. Além disso, teremos a divulgação da ata do Copom, que discorrerá melhor sobre a decisão de manutenção da taxa Selic pelo Banco Central.
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