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Inflação americana, pausa do BCE, recuperação chinesa, sindicatos e ARM | 🌎 Top 5 temas globais da semana

1. Sinais mistos na inflação americana 2. BCE anuncia pausa 3. China: Estímulo nosso de cada dia nos dai hoje 4. Sindicatos em alta 5. ARM – A gigante invisível

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1. Sinais mistos na inflação americana

Importantes dados de preços foram divulgados nessa semana nos EUA, referentes ao mês de agosto. A inflação ao consumidor (CPI) voltou a acelerar (de 3,18% em julho para 3,67% em agosto no acumulado em 12 meses), mas sua medida de núcleo permaneceu em trajetória de queda em termos interanuais (de 4,65% para 4,35%). O índice de preços ao produtor (PPI) teve um resultado similar, com núcleo bem-comportado e uma aceleração no índice cheio. A esta aceleração pode-se atribuir a alta nos preços de combustíveis: em agosto, o petróleo (Brent) teve alta de 1,5%, e acumula alta de 8,5% até o momento em setembro, devido ao aumento de estoques na China e redução da produção da OPEP+.

A medida de núcleo da inflação, acompanhada de perto pelos bancos centrais como indicativo mais confiável de inflação futura, não considera preços voláteis e pouco responsivos à política monetária como combustíveis e alimentação, mas nem por isso estes preços deixam de ser importantes para a perspectiva futura da atuação das autoridades monetárias ao redor do mundo, uma vez que estes preços se espalham pela economia a depender da magnitude e persistência do choque.

Após a divulgação dos dados, os juros americanos de 10 anos caíram de 4,31% para 4,25% ao final do dia da divulgação do CPI, refletindo a desaceleração do núcleo em linha com a expectativa. Os números divulgados nessa semana sugerem que a economia americana tem conseguido sustentar o crescimento atual, a despeito do gradual enfraquecimento do consumidor. Essa resiliência da economia americana, aliada a uma necessidade de financiamento do governo elevada dado o seu deficit fiscal, levaram as taxas de 10 anos de volta para a trajetória de alta e terminou a semana subindo 7 pontos base, para 4,33%.

Os mercados continuam esperando que na reunião da próxima semana, o comitê de política monetária do Federal Reserve (FOMC) mantenha a taxa dos Fed Funds inalterada, no nível de 5,25-5,50%.

2. BCE anuncia pausa

Nessa semana, o Banco Central Europeu (BCE) elevou suas três taxas de referência em 0,25pp. As expectativas estavam divididas entre a realização da décima alta do ciclo de aperto monetário e manutenção do nível anterior. No comunicado da divulgação da decisão, foi revelado que os diretores estavam divididos entre alta e manutenção, e sinalizaram que os juros já alcançaram patamar suficientemente restritivo: “as taxas de juros do BCE atingiram níveis que, se mantidas por um período suficientemente longo, contribuirão substancialmente para o retorno da inflação à meta”.

Após o anúncio, políticos da Itália e de Portugal se manifestaram contrariamente à decisão de elevação de juros, que disseram ser mais danosa às suas respectivas economias locais que para o restante do bloco, evidenciando os desafios da política monetária conjunta. Matteo Salvini (vice-primeiro-ministro italiano), Antonio Tajani (líder da Forza Italia) e Fernando Medina (ministro das finanças português) expressaram preocupações em relação à perspectiva de crescimento e pressão sobre famílias e empresas.

Com o aparente fim das altas de juros na Europa, o Euro passa pela maior sequência de perdas semanais desde sua criação em 1999 e fecha a 1,07, em queda de 0,4%, na nona semana seguida de baixa e cerca de 5% abaixo do pico de meados de julho. O enfraquecimento da moeda reflete expectativas piores para o desempenho da região nos próximos meses. A taxa alemã de dez anos avançou 6 bps para 2,68%.

3. China: Estímulo nosso de cada dia nos dai hoje

Dados econômicos divulgados nessa semana indicaram uma aceleração na atividade econômica chinesa. Na semana passada, dados de inflação e crédito já tinham dado pistas de uma volta do crescimento, o que se reafirmou nessa semana com a produção industrial e vendas no varejo de agosto surpreendendo as expectativas para cima.

Ainda nessa semana, o banco central chinês (PBoC) chinês anunciou corte nos requerimentos de reservas bancárias, medida de estímulo ao setor bancário, e injeção de liquidez por meio do seu instrumento de médio prazo no montante de 191 bilhões de yuans (cerca de US$ 26,3 bi). As medidas dão continuidade à política de estímulos à conta gotas do governo chinês.

Do lado da geopolítica, a semana foi turbulenta: a China anunciou sanções às empresas americanas Lockheed Martin e Northrop por vendas de armas à Taiwan, e senadores republicanos pediram que o Congresso americano aprove sanções às empresas chinesas de tecnologia Huawei e SMIC.

Nessa semana, o FXI, ETF representativo das maiores empresas chinesas, teve alta de 1,1% por conta dos dados positivos.

4. Sindicatos em alta nos EUA

O desemprego baixo (3,8%), a baixa taxa de participação da força de trabalho (62,8%) e o alto número de vagas abertas em relação ao número de trabalhadores disponíveis mostram a persistência das condições apertadas do mercado de trabalho nos Estados Unidos. Um efeito, no mínimo, curioso desse cenário é o retorno dos sindicatos ao centro das atenções.

Após décadas de declínio sindical, o percentual de trabalhadores ligados a sindicatos, que já foi de 33% na década de 1940, caiu para o menor nível histórico, aos 10,1% em 2022 de acordo com o Departamento do Trabalho dos EUA. Por outro lado, a população tem tido uma visão cada vez mais favorável em relação aos grupos trabalhistas. De acordo com pesquisa da Gallup, cerca de 67% dos americanos têm uma visão positiva, número significativamente maior que os 48% vistos em 2009 e semelhante às décadas de 1940 a 1970.

Em 2023, sindicatos têm tido duras negociações com as empresas após 2 anos de alta inflação e condições apertadas do mercado de trabalho. Alguns exemplos recentes são os casos da UPS, dos escritores de Hollywood e do setor automobilístico.

No caso da empresa de entregas UPS, a empresa chegou a um acordo com o sindicato Teamsters no qual se comprometeu a atingir um piso de US$ 170.000 (mais cerca de US$ 50.000 em benefícios) para seus motoristas de tempo integral em até 5 anos.

Já em Hollywood, o sindicato dos escritores WGA, Writers Guild of America, entrou em greve no dia 2 de maio e o caso ainda segue sem um desfecho. O WGA exige das empresas de mídia uma série de benefícios, como maior compartilhamento das receitas provenientes de streaming e a limitação do uso de inteligência artificial no exercício da profissão.

E hoje, sexta-feira dia 15 de setembro, o sindicato que representa trabalhadores do setor automobilístico UAW, United Auto Workers, anunciou a paralização de 3 fábricas das principais montadoras baseadas nos EUA: Ford, GM e Stellantis. Historicamente, a UAW negociava individualmente com cada empresa mas, neste ano, o grupo adota essa nova tática que tem como objetivo maximizar os ganhos de seus filiados. A UAW pede um aumento de 36% em 4 anos enquanto as empresas ofereceram 17,5% (Stellantis), 18% (GM) e 20% (Ford).

Em meio à paralização de mais de 10 mil trabalhadores o presidente Joe Biden demonstrou apoio ao sindicato afirmando que: “As empresas fizeram algumas ofertas significativas, mas acredito que elas deveriam ir além para garantir que os lucros corporativos recordes signifiquem contratos recordes para o UAW.”

As ações das montadoras fecham a semana em alta, mesmo com o anúncio da greve, na expectativa de que as negociações evoluam durante um final de semana e que um acordo seja anunciado em breve. O prolongamento das paralizações seria negativo para toda a cadeia produtiva do setor e teria impactos negativos no PIB (menor produção), nos dados de inflação (alta de preços dos carros) e na performance das empresas envolvidas.

5. ARM – A gigante invisível

A ARM é uma renomada empresa britânica de tecnologia com uma trajetória impressionante no setor. Desde a sua fundação, em 1990, a ARM tem se consolidado como líder mundial em design de chips para dispositivos móveis, tais como smartphones, tablets e laptops. Além disso, a empresa também tem se mostrado competitiva em áreas de vanguarda, como inteligência artificial, computação em nuvem e internet das coisas.

O grande diferencial da ARM advém da sua abordagem inovadora ao desenvolver arquiteturas e processadores baseados na tecnologia RISC (Conjunto Reduzido de Instruções de Computador). Isso permite que os processadores projetados pela ARM alcancem alta eficiência em termos de consumo de energia e desempenho ao executar instruções simples e rápidas em menor quantidade.

Cabe ressaltar que a ARM não é responsável pela fabricação direta de seus chips. A empresa licencia seus designs para outras empresas, como Apple, Samsung e Intel, as quais os produzem (ou terceirizam) e integram em seus dispositivos.  Além disso, a ARM também desenvolve ferramentas de software e sistemas embarcados que complementam seus processadores, conferindo-lhes maior versatilidade.

O impacto da ARM na indústria tecnológica é quase invisível aos olhos do consumidor final, porém incontestável. A empresa caminha para conquistar uma significativa fatia em diversos setores do mercado, com projeções que indicam uma participação de 50% no mercado de servidores em nuvem e 30% no mercado de PCs até 2026. Ademais, a ARM almeja atingir uma participação superior a 90% nos mercados de processadores móveis.

Em 2020, a ARM esteve em destaque quando a Nvidia, famosa por seus GPUs, placas de vídeo e líder em chips para inteligência artificial, manifestou sua intenção de adquirir a empresa por US$ 40 bilhões. Porém, devido a desafios regulatórios, especialmente nos EUA e no Reino Unido, assim como preocupações com a perda da neutralidade expressas por seus clientes, a transação não se concretizou. Em 2022 a Nvidia desistiu da compra e teve que pagar uma multa de US$1,25bi.

Nesta semana, a ARM finalmente voltou a abrir seu capital. A empresa, que já foi listada na bolsa de Londres de 1998 a 2016, retornou ao mercado via Nasdaq. O IPO levantou  US$ 4,87 bilhões ao vender 95,5 milhões de ações a US$ 51, no topo do intervalo esperado pelos coordenadores (de US$47 a 51). Este foi o maior IPO do ano, superando os US$ 4,37 bilhões da Kenvue (spin-off de consumo da Johnson&Johnson) e o maior dos EUA desde a fabricante de veículos elétricos Rivian, que levantou US$ 13,7 bi em outubro de 2021.

Contando os 19% de alta no acumulado dos seus dois dias de negociação (+24,7% na quinta-feira e -4,5% na sexta-feira), a empresa fica avaliada em mais de US$ 62 bilhões. Considerando os números de consenso para 2024, a receita e o lucro projetados para a ARM são de US$2,85bi e US$ 0,88bi, respectivamente. Dessa forma, a empresa negocia a múltiplos bastante altos (21,5x Preço/Receita e 81,3x Preço/Lucro), refletindo o otimismo do mercado com o potencial de crescimento da companhia, em especial no segmento de inteligência artificial, no qual os seus chips, de maior eficiência energética, podem ser peça fundamental.

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