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Europa enche reservatórios de gás natural, mas crise energética ainda está longe do fim

União Europeia reduz risco de escassez energética para o inverno de 2022, mas a situação segue complexa no continente.

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Adotando uma política de racionamento e aproveitando a queda na demanda por gás natural da China, a Europa conseguiu preencher grande parte de seus reservatórios. Como resultado, os riscos de um "apagão" no inverno de 2022 reduziram substancialmente. Em contrapartida, a crise energética ainda está longe de terminar, e o continente deverá ter dificuldades para armazenar a commodity novamente em 2023 e 2024. Enxergamos como principais riscos: i) falta de perspectivas para a retomada do abastecimento russo através do Nordstream 1, ii) reabertura econômica da China, iii) necessidade de políticas duras de racionamento e até mesmo destruição da demanda. Com isso, seguimos com uma visão negativa para a Zona do Euro e acreditamos que a crise energética ainda terá grande impacto na atividade econômica local.

Recentemente, a União Europeia conseguiu preencher 95% da capacidade de seus reservatórios de gás natural, superando até mesmo as metas da própria região, para conter os riscos de uma eventual falta de energia durante o inverno na virada de 2022-2023. Contudo, ainda há um forte desbalanço entre oferta e demanda devido à interrupção de grande parte das exportações russas, que poderão perdurar pelo próximo ano.

Uma jornada difícil, mas ventos sopraram a favor e os riscos de um apagão no inverno de 2022 estão desaparecendo

A Europa teve que suprir suas necessidades de gás natural através do consumo do gás natural liquefeito (GNL), proveniente tanto dos EUA quanto do Oriente Médio. Contudo, o aumento do consumo europeu da commodity foi possível apenas em virtude de uma queda na demanda de países asiáticos, principalmente da China.

Fonte: International Energy Agency (IEA)

Em 2022, segundo dados da International Energy Agency (IEA), o consumo europeu de gás natural aumentou mais de 50 bilhões de metros m³, enquanto outras regiões como a Ásia, principalmente a China, demandaram cerca de 20 bilhões de m³ a menos vs. o ano anterior. Essa queda da demanda global alinhada ao aumento na oferta de gás natural em torno de 20 bilhões de m³, corroboraram para que a Europa conseguisse adquirir um grande volume de gás natural e então garantir o abastecimento quase completo de seus reservatórios ao final de 2022.

Outro fator relevante para esta conquista foi o forte racionamento de energia e destruição de demanda catalisados pelo salto nos preços de energia no continente e políticas traçadas pela União Europeia. A demanda por gás natural tanto da União Europeia quanto do Reino Unido nos primeiros 10 meses de 2022 caiu cerca de 10%, ou mais de 40 bilhões de m³, em comparação com o mesmo período um ano antes. Isso foi reflexo de uma redução de consumo no setor residencial, possibilitado por um inverno mais ameno do que o normal até o momento; comercial; e industrial, particularmente nas mais intensivas em gás que viram alguns subsetores até mesmo paralisarem operações.

Fonte: Bloomberg, XP Research

Ao final de outubro, os reservatórios da União Europeia se encontravam com 95% de sua capacidade já preenchida com a commodity. A marca não só superou as expectativas da própria região, como também já se encontra acima da média de armazenamento dos últimos 5 anos, considerando o mesmo mês de cada período.

O resultado destes fatores será um inverno com maior segurança energética para a região, levando em consideração que, anteriormente, esperava-se que a população tivesse que controlar o consumo durante os meses de frio. Ainda assim, desafios permanecem no radar.

E então, problema resolvido? Ainda não.

Fornecimento russo segue cortado através do Nordstream 1 e pode permanecer assim no próximo ano

Fonte: Bloomberg, XP Research.

Vale ressaltar que estes níveis mais altos nos reservatórios foram beneficiados por um abastecimento russo próximo do normal nos seis primeiros meses deste ano, conforme mostrado acima. Para o ano inteiro de 2022, este fornecimento deverá totalizar 60 bilhões de m³ para a região. Contudo, este nível de abastecimento não deverá se repetir em 2023, caso as exportações da Rússia permaneçam cortadas. Se o cenário permanecer desta maneira, o volume de gás transportado para a Europa no próximo ano deverá ser de apenas 25 bilhões de m³, ou seja, uma redução de 58% vs. 2022.

A possibilidade de novos cortes por parte da Rússia em caso de escalada da guerra ou novas sanções do Ocidente ainda também não foram descartadas.

Reabertura chinesa pode atrapalhar os planos europeus

Parte do sucesso europeu no acúmulo do gás natural também se deve à forte queda de demanda na China em 2022, em consequência da insistência do país na política de zero-covid, que acabou reduzindo a atividade econômica local. Por outro lado, uma reabertura chinesa poderia criar um novo desbalanço no fornecimento de gás natural em 2023, uma vez que ela consumiria grande parte da oferta disponível de gás natural atualmente e cerca de 85% da expansão de capacidade de abastecimento no próximo ano, segundo estimativas da IEA.

Esta queda da oferta disponível para a Europa poderia novamente elevar os preços de energia no continente, e colocar o país em posição de déficit energético novamente em 2023.

Políticas de racionamento e destruição de demanda se mostram ainda necessárias para evitar a escassez energética

Fonte: International Energy Agency (IEA).

Apesar dos reservatórios quase cheios entregarem algum nível de conforto para o continente, o racionamento de energia ainda se mostra crucial para o sucesso da estratégia europeia. O volume total acumulado poderia ser consumido em apenas 19 dias de um inverno rigoroso caso não haja racionamento de energia, segundo estimativas da IEA e nossos cálculos.

Sendo assim, a economia europeia deverá ainda continuar sofrendo com o racionamento de energia em 2023. Os setores industriais e intensivos de energia deverão continuar paralisando operações e, em alguns casos, estas interrupções poderão ser permanentes. Empresas já começam a planejar a transferência de suas atividades para outros países e regiões com maior segurança energética, como os EUA. Além disso, estima-se que o custo da retomada das atividades de usinas como as de alumínio fique em torno de US$ 400 milhões, o que inviabilizaria as operações.

Acreditamos que todos estes fatores seguirão pesando muito na atividade econômica europeia e os riscos de recessão seguem bem elevados mesmo com as boas notícias no curto prazo.

Considerações finais

Apesar da melhora marginal na situação energética europeia para o inverno de 2022, a crise ainda deverá ter forte impacto na economia local. A necessidade de racionamento, a possibilidade de uma interrupção contínua do abastecimento russo em 2023 e perspectivas de reabertura econômica da China representam riscos significativos no radar da Zona do Euro em 2023. A resolução da crise energética não está próxima do fim e a região deverá entrar em um período recessivo no próximo ano. Com estas perspectivas restritivas e projeções de lucro ainda otimistas, como mencionamos no último relatório, permanecemos com a nossa visão negativa para a região.

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