Este é um relatório mensal publicado pelo time de Research XP, mostrando o que movimentou o mercado de cripto no último mês, além de análises e comentários das principais notícias.
O que movimentou o mercado?
Em setembro, o mercado de cripto em geral foi impulsionado até a primeira quinzena do mês pela tão esperada atualização do Ethereum. A segunda maior criptomoeda, mudou seu modelo de consenso de Proof-of-Work (PoW) para Proof-of-Stake (PoS), aprimorando diversos aspectos de sua tecnologia, principalmente a diminuição do gasto energético para gerar novos blocos na rede.
Investidores anteciparam o The Merge, com o preço do Ether saltando 100% em poucos meses antes de sua conclusão. A alta foi impulsionada pela distribuição gratuita (airdrop) de ETHW, a moeda ativa da rede bifurcada, EthereumPow, que utiliza o modelo PoW. O Bitcoin, durante estes dias, saiu do patamar de US$18.800 para mais de US$22.500.
Já na segunda quinzena do mês, após a realização de lucros de muitos investidores posicionados no Ether, os eventos macroeconômicos voltaram a ser decisivos na dinâmica de preços dos criptoativos. Como há uma correlação significativa com as bolsas americanas, S&P 500 e Nasdaq, os ativos de risco foram impactados, principalmente por esses acontecimentos:
- Alta de juros pelo Fed: O banco central dos Estados Unidos, elevou sua taxa de referência em 0,75pp pela terceira reunião consecutiva, para o intervalo de 3,00% e 3,25% ao ano. A projeção de juros para o final de 2022 saltou de 3,4% para 4,4%. Em 2023, a revisão foi de 3,8% para 4,6% e, para o final de 2024, de 3,4% para 3,9%, todas consideravelmente acima do esperado. No comunicado da FOMC, foi reforçado o tom mais duro para que a inflação no país, atualmente acima de 8%, volte à meta de 2% ao ano.
- Alta das treasuries: O rendimento dos títulos de dívida pública americana chegaram a ultrapassar 3,9%, o nível mais elevado desde 2010. Com a subida desta taxa de juros de longo prazo, havia preocupações de que ela se tornasse mais competitiva do que o rendimento de ações e outros ativos de risco, levando investidores a migrarem para títulos de renda fixa onde podem encontrar boa rentabilidade considerando a relação risco versus retorno.
- Queda da libra esterlina e força do dólar: A moeda do Reino Unido atingiu seu menor valor contra o dólar dos últimos 37 anos após o anúncio do pacote de estimulo econômico. Dentre esse e outros fatores, o dólar se fortaleceu contra as outras moedas, sugerindo que os investidores estão preocupados com uma possível desaceleração econômica global e ainda veem o dólar como um ativo mais seguro.
O salto acima de 50% do token QNT (Quant Network), da plataforma que ajuda na interoperabilidade de blockchains, é atribuído pelas parcerias firmadas com banco centrais ao redor do mundo. A Quant possibilita a criação e gestão de CBDCs (Central Bank Digital Currencies), além de outros serviços.
Atribuímos alta do token XRP por sua vitória judicial contra a SEC (Securities and Exchange Commission) que chegou a alegar as vendas de XRP da Ripple representavam um contrato de investimento e oferta de títulos.
A Rede de dispositivos sem fio baseada na tecnologia blockchain e alimentada por usuários individuais, Helium (HNT), anunciou que migrará sua operação de primeira camada para a rede Solana (SOL). Com esta mudanças desenvolvedores esperam melhorar a eficiência operacional e a escalabilidade da rede.
A alta do token ALGO (Algorand), da blockchain de primeira camada, é atribuída ao crescimento do seu ecossistema especialmente com projetos de DeFi, a parceria recente com a FIFA e uma nova contratação de diretor de marketing (CMO). E por fim, a Maker, um dos maiores protocolos de DeFi, anunciou que dobrou a sua exposição ao staking do Ethereum (stETH) e reduzirá sua dependência de stablecoins centralizadas, como o USD Coin (USDC).
Em relação aos destaques negativos do mês, o desempenho da Terra Luna Classic foi causada pela volatilidade depois estruturação em relação ao token falido, LUNA e todos processos jurídicos envolvendo o fundador, Do Know.
Já a queda do ETC (Ethereum Classic) está atrelada a volatilidade depois do The Merge e ao movimento de mineradores em busca de redes que utilizam o Proof-of-Work. Sobre o SNX (Synthetix), atribuído pela fuga de investidores que aproveitavam o seu high yield e outras mudanças no protocolo.
Instituições e Regulações
Vimos uma série de acontecimentos no campo regulatório ao redor do mundo, com diferentes abordagens sobre os ativos digitais. A Casa Branca publicou um relatório sobre mineração de criptomoedas, que recomenda a divulgação de consumo de energia e padrões ambientais a serem estabelecidos por agências federais, como a USEPA (U.S. Environmental Protection Agency).
O governo de Biden, depois de meses trabalhando e estudando o mercado de criptoativos, publicou uma série de recomendações para a estrutura regulatória que abordam temas como, proteção do consumidor, combate ao financiamento ilícito, inclusão financeira e inovação responsável. Além disso, um novo projeto de lei propôs proibir as stablecoins algorítmicas por dois anos, para evitar um colapso, como ocorrido em maio pela UST.
Do lado institucional, a Nasdaq lançará um serviço de custódia de criptomoedas, iniciando pelo Bitcoin. Outra gigante do mercado financeiro, BlackRock, lançou um ETF com exposição a empresas de criptomoedas e blockchain para clientes na Europa.
Infraestrutura e DeFi
Além da Ethereum, outras blockchains e soluções de segunda camada apresentaram novidades em setembro, contribuindo com uma série de melhorias para a infraestrutura do mercado cripto:
Cardano: Uma das maiores plataformas de smart contracts, realizou o hard fork chamado de “Vasil”, que visa dinamizar o fluxo de sua rede, tornar as transações mais rápidas e reduzir as taxas de transação. Isso a tornará mais amigável aos usuários/desenvolvedores para contratos inteligentes e desenvolvimento de dApps.
Cosmos: O novo whitepaper divulgado pela empresa mostra que o Cosmos Hub, a blockchain responsável pelo seu ecossistema terá novas funcionalidades, com foco em segurança e novo cronograma de emissão de sua cripto nativa, ATOM.
BNB Chain: A plataforma da Binance anunciou que introduzirá a arquitetura de ZK-rollups (prova de conhecimento zero) em sua blockchain no início de 2023, com planos de revelar uma rede de testes em novembro. A atualização reduzirá as taxas de transação e ampliará a capacidade da rede no processamento de 5 a 10 mil transações por segundo.
Infura: Uma das principais empresas de tecnologia blockchain, está desenvolvendo um protocolo de infraestrutura descentralizada para o início do próximo ano, a fim de aliviar as preocupações de que sua plataforma seja muito centralizada para suportar os dApps da Ethereum.
Stablecoins: A Binance tomou uma série de medidas para melhorar a liquidez da sua stablecoin BUSD e expandiu para as redes Polygon e Avalanche, ultrapassando US$ 20 bilhões em valor de mercado. De maneira semelhante, a USDT da Tether, agora é suportada nativamente pela Near e Polkadot, totalizando a implantação da stablecoin em um total de 12 redes.
NFTs
De acordo com dados da DappRadar e CryptoSlam, no último mês, as vendas de NFTs foram de US$ 947 milhões, com destaque da Solana, que aumentou 80% em relação à agosto, superando US$ 126 milhões em negociações.
A OpenSea lançou um novo protocolo que classificará os NFTs pela sua raridade e comunicou sua expansão nas redes Optmism e Arbitrum, ampliando sua consolidação no mercado. Dos maiores projetos de NFTs, Azuki e Doodles levantaram novos investimentos, alcançando o valor de US$1 bilhão e US$ 704 milhões, respectivamente.
Entenda mais sobre o EthereumPoW
O The Merge retirou o papel do minerador e substituiu por validadores, também conhecidos como stakers, sem a necessidade de usar dispositivos caros e com uso intensivo de energia para gerar os blocos e proteger a rede. Dias após a atualização, houve um hard fork que deu origem ao EthereumPoW (ETHW).
Hard forks são bifurcações de uma blockchain. Como se trata de um software de open source e está disponível gratuitamente, qualquer pessoa pode propor melhorias. Neste caso foi uma mudança tão significativa que a tornou incompatível com a versão anterior, se tornando um protocolo diferente.
A ideia da nova rede, criada pela mineradora chinesa Chandler Guo, é manter a operação dos mineradores através do modelo Proof-of-Work. Para atrair investidores, a EthereumPow distribuiu gratuitamente sua moeda digital nativa, em quantia equivalente, para todo mundo que possuía ETH armazenado em sua carteira digital.
Um dos fundadores da Ethereum, Vitalik Buterin, foi crítico quanto a bifurcação, alegando que não enxergava um aspecto orgânico de crescimento e era um instrumento para corretoras fazerem dinheiro fácil com a negociação do ativo. Além do Vitalik, diversos projetos renomados não apoiaram este movimento, como por exemplo, a Chainlink, a maior rede de oráculos descentralizados do mercado, e a Circle, emissora da stablecoin USDC.
No início, ela teve problemas técnicos, incluindo o Chain ID, que já estava sendo usado para a rede de teste da Bitcoin Cash. Dias depois houve um ataque hacker, no qual foi roubado mais de 200 ETHW, que na ocasião valiam mais de US$ 1,5 milhão. Desde o começo, a criptomoeda obteve um desempenho negativo de -82,5% e chegou a valer US$9,57 ao final do mês.
Quais são as outras atualizações da Ethereum?
Depois de sua tão esperada atualização, a Ethereum seguirá o caminho para futuras mudanças que vão aumentar a escalabilidade, a quantidade de transações que a rede é capaz de suportar, entre outros avanços, que são divididos nas seguintes etapas:
- The Surge: Planejada para ocorrer em 2023, a atualização aumentará a escalabilidade da blockchain através da implementação de sharding, reduzindo as taxas e mantendo o nível de segurança na rede. O plano é separar o banco de dados em segmentos menores, a fim de melhorar o congestionamento da rede em conjunto com a solução de segunda camada, chamada de rollups.
- The Verge: Nesta etapa, a Ethereum irá substituir a estrutura de dados de Merkle Trees para Verkle Trees, e assim permitirão que os usuários se tornem validadores de rede sem precisar armazenar grandes quantidades de dados em suas máquinas. Por sua vez, as validações serão mais rápidas e sua rede ficará mais descentralizada.
- The Purge: A atualização permitirá que uma parte dos nós deixem de armazenar o histórico de todos os blocos da cadeia. Em vez disso, eles irão parar de armazenar o histórico com mais de um ano, com o objetivo de descongestionar a rede.
- The Splurge: Por fim, esta etapa será focada em diversas melhorias que devem simplificar o uso da Ethereum e torná-la mais acessível a um usuário comum. Ela visa garantir que a rede continue funcionando e que as atualizações nas seções anteriores não causem problemas.
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