A Vicunha Têxtil produz e comercializa jeans, brim, tecidos mistos e tecnológicos, malhas sintéticas e naturais, fibras e filamentos, sendo a maior produtora de denim na América Latina e uma das três maiores do mundo. A empresa iniciou o exercício de 2020 com expectativas positivas para os negócios, dadas as estimativas construtivas para a economia nacional e global. Apesar dos dois primeiros meses melhores que o esperado, as atividades industriais e logísticas foram interrompidas durante praticamente todo o 2T20, em decorrência da pandemia da covid-19, e a companhia enfrentou dificuldades para faturar seus clientes. Como consequência, a Vicunha apresentou em 2020 faturamento líquido 10,8% inferior ao apurado em 2019. Além disso, a empresa gerou R$ 6 milhões de EBITDA no exercício, contração significativa frente aos R$ 212 milhões do ano anterior. O endividamento líquido totalizou R$ 982 milhões em dezembro, avanço de 6,27% em relação à posição de R$ 924 milhões do fim de 2019. Já a relação dívida líquida/EBITDA no ano foi superior a 160x, ante 4,2x no ano passado e covenant de 4,0x.
Destaques positivos
- Maior produtor de brim e jeans da América Latina.
- Empresa mais verticalizada em relação a outros players.
- Custos competitivos de produção.
- Diversificação geográfica da produção e vendas.
- Controlador forte (família Steinbruch).
Pontos de atenção
- Setor exposto às condições econômicas em cenário competitivo mais desafiador
- Dívida: elevada alavancagem e vencimentos concentrados no curto prazo
- Contexto atual de covid-19 aumenta os desafios de capital de giro.
Quem é a Vicunha?
Histórico
A fundação da Vicunha Têxtil remete ao ano de 1966, quando as famílias Steinbruch e Rabinovich montaram a Cia. Têxtil Braspel. Um ano depois, foi incorporado o Lanifício Varan, maior empresa do setor na época, a qual possuía uma linha de cashmere nomeada de Vicunha, que posteriormente tornou-se o nome do conglomerado.
Nos anos 70, o grupo fundou a Fiação Nordeste do Brasil (Finobrasa), em parceria com os grupos Otoch e Baquit, o que permitiu um aumento significativo de sua capacidade produtiva, e, por consequência, a ampliação da participação no mercado interno.
Em 1982, a Vicunha adquiriu a Fibra, uma das principais indústrias têxteis do país até então. Posteriormente, cria as subsidiárias Vicunha Nordeste e Elizabeth Nordeste, visando ampliar sua atuação na região.
Nos anos 90, a presença internacional da Vicunha foi intensificada, por meio da fundação da Brastex em Buenos Aires, a Vicunha United States nos Estados Unidos, e do início da joint venture entre a Fibra e a DupOnt para a produção de nylon.
Em 2001, ocorreu a incorporação de todas as empresas controladas do conglomerado, transformando a área têxtil do Grupo Vicunha na companhia Vicunha Têxtil S.A.
Em 2018, o grupo emitiu Certificado de Recebíveis do Agronegócio (CRA) no montante de R$ 240 milhões, com pagamento de juros semestrais e vencimento para dezembro de 2021.
Ricardo Steinbruch, que ocupou a presidência da Vicunha Têxtil por mais de 40 anos, passou o bastão a José Maurício D’Isep em fevereiro de 2019, até então diretor financeiro da empresa. D’Isep deixou o posto em janeiro de 2021.
Atuação
A Vicunha Têxtil produz e comercializa jeans, brim, tecidos mistos e tecnológicos, malhas sintéticas e naturais, fibras e filamentos.
A empresa é a maior produtora de denim na América Latina e uma das três maiores do mundo, com produção de mais de 180 milhões de metros de tecido denim e denim color.
Presença
Conta com plantas fabris nos estados do Ceará, Rio Grande do Norte e São Paulo, além do Equador e Argentina. Seus centros de distribuição são localizados em São Paulo, Argentina, Peru, Equador, Colômbia e Sri Lanka.
A Vicunha também possui escritórios comerciais na Argentina, Peru, Equador, Colômbia, México, Madrid, Holanda, Suíça e Bangladesh, com o centro administrativo na capital paulista.
Presença
A companhia é uma das principais empresas do Grupo Vicunha, da família Steinbruch, assim como o Banco Fibra e a Vicunha Steel, holding controladora da CSN.
Principais fatores do crédito
Fonte: XP Investimentos, Vicunha Têxtil.
Cenário atual
A Vicunha iniciou o exercício de 2020 com expectativas positivas para os negócios, dada as estimativas construtivas para a economia nacional e global. Apesar dos dois primeiros meses melhores que o esperado, o cenário foi alterado com a declaração da pandemia de covid-19 pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
Em decorrência dos aumentos dos casos de contágio e da adoção de medidas de distanciamento social por parte do governo, as atividades industriais e logísticas foram interrompidas durante praticamente todo o 2T20 e a companhia enfrentou dificuldades para faturar seus clientes.
Por conta do fechamento da indústria, houve redução de estoque, o que limitou a capacidade de vendas da Vicunha durante a reabertura da economia.
Destaques financeiros
Rentabilidade e EBITDA
A Vicunha apresentou faturamento líquido de R$ 1,5 bilhão em 2020, retração de 10,8% em comparação com o acumulado em 2019. Além disso, a empresa gerou R$ 6 milhões de EBITDA no exercício, contração significativa ante os R$ 212 milhões do ano anterior.
No entanto, com a flexibilização das medidas de distanciamento social e recuperação do mercado de varejo mais rápido do que o inicialmente esperado, a Vicunha conseguiu recuperar sua lucratividade em patamar superior ao dos níveis pré-pandemia: apesar da margem EBITDA de -169% no segundo trimestre de 2020, a empresa registrou índices de 18% e 15%, no 3T20 e 4T20, respectivamente. No ano, a margem EBITDA foi de 0,4% ante margem de 13% em 2019.
Endividamento e alavancagem
O endividamento líquido totalizou R$ 982 milhões no ano de 2020, avanço de 6,27% em relação à posição de R$ 924 milhões do fim de 2019. O efeito é decorrente do aumento dos empréstimos junto ao FNE (Banco do Nordeste do Brasil) e das linhas de trade finance em moeda estrangeira, parcialmente compensado pelo pagamento das amortizações do CRA e maior saldo em caixa.
A alavancagem, medida pela dívida líquida/EBITDA foi superior a 160x, ante 4,2x em 2019 e covenant de 4,0x. O covenant é mensurado semestralmente e a empresa encontra-se em processo de obtenção de waivers (perdão) pelo descumprimento dessas cláusulas contratuais.
Para os próximos semestres, o teto de alavancagem previsto nos documentos do CRA é de 3,5x. Portanto, o desempenho da empresa deverá ser monitorado.
Além disso, aponta-se que a empresa possui R$ 865,2 milhões em empréstimos a vencer nos próximos 12 meses (ante saldo em caixa de R$ 259,6 milhões), o que implica em risco de refinanciamento ou reperfilamento da dívida.
O risco é parcialmente mitigado pelo sólido perfil financeiro dos controladores e fácil acesso da empresa ao mercado de capitais.
Pontos de atenção
Setor exposto às condições econômicas em cenário competitivo mais desafiador
O desempenho do setor de varejo e, principalmente, do segmento de consumo discricionário (eletrodomésticos, vestuário e alimentação) possui uma forte relação com o crescimento econômico. Isso ocorre porque com a melhora da economia, as boas perspectivas levam as pessoas a consumirem mais e vice-versa.
O atual contexto econômico é desfavorável para as operações da Vicunha porque resulta na postergação do consumo por parte das famílias e depende da recuperação do mercado de trabalho, que tende a ser lenta diante da economia atual.
Ademais, também se aponta o cenário mais desafiador para o setor de varejo no Brasil, devido ao crescimento das exportações chinesas e indianas, que conseguem entregar preços mais competitivos.
Dívida: elevada alavancagem e vencimentos concentrados no curto prazo
Conforme mencionado anteriormente, as disponibilidades da Vicunha apuradas em dezembro de 2020 são insuficientes para fazer frente aos vencimentos de dívida de 2021. Portanto, há o risco de precisar recorrer a refinanciamento ou reperfilamento de suas dívidas, em um contexto de aversão a risco pelo mercado, principalmente em relação ao setor de varejo.
Além disso, sua alavancagem durante o último exercício foi extremamente elevada e 57% do seu endividamento em dezembro de 2020 encontrava-se indexado a moedas estrangeiras, o que aumenta o perfil de risco da empresa.
O risco é parcialmente mitigado pelo sólido perfil financeiro dos controladores e fácil acesso da empresa ao mercado de capitais, porém continuaremos monitorando as informações que venham a público a respeito de potenciais negociações que possam ocorrer nos próximos meses.
Contexto atual de covid-19 aumenta os desafios de capital de giro
O atual cenário de pandemia do covid-19 requer que as companhias façam uma boa gestão do capital de giro, uma vez que toda a cadeia é afetada: de fornecedores a clientes.
Com a queda nas vendas, haveria necessidade de reforço de caixa para passar pelo período mais difícil da crise. Uma forma de fazê-lo é postergar pagamentos a fornecedores, porém negociações em um contexto de crise econômica generalizada são difíceis.
Na ponta oposta, clientes pedem mais prazo para pagamento de suas contas a pagar. Isso também afeta diretamente o capital de giro das companhias.