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Eleições EUA 2024: Um Almanaque

Confira os principais atores, temas e questões em jogo nas eleições americanas de 2024

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No dia 5 de novembro, os Estados Unidos realizarão eleições para escolher o Presidente para o período de 2025-2029 juntamente com todas as 435 cadeiras da Câmara dos Representantes e um terço dos assentos do Senado. Ainda na fase de primárias do processo eleitoral, os candidatos presidenciais já estão praticamente determinados, com o ex-presidente Donald Trump encaminhado para representar o Partido Republicano e Joe Biden representando o Partido Democrata.

Donald Trump larga na frente nas pesquisas nacionais e nos principais estados que definirão a eleição. O ex-presidente se destaca em temáticas como política externa, economia e imigração, consolidando com sucesso sua base de apoio, mas também se beneficiou do declínio na aprovação de Biden.

Com mais de oito meses restantes para a disputa eleitoral, pode haver oportunidades para Biden ganhar terreno, melhorando a percepção das condições econômicas e envolvendo ainda mais a base democrata em temas como saúde e leis de armas. No entanto, em uma disputa em contexto de polarização e na qual os candidatos são amplamente conhecidos, a rigidez do cenário tende a ser maior do que em tempos usuais.

Nas pesquisas nacionais, Trump tem vantagem de 1,9 pontos percentuais ante Biden segundo o agregador Real Clear Politics (veja mais nas páginas 13 e 14).

Ainda, como o voto no país é indireto e via colégio eleitoral por estado, estamos acompanhando de perto os resultados estaduais (veja mais nas páginas 5 e 6). Em especial, nos tão conhecidos “swing states”, que têm um papel essencial nas eleições americanas. Como o próprio nome indica, eles atuam de forma pendular, enquanto outros estados costumam votar pelo mesmo partido ano a ano, os ‘swing states’ mudam de preferência frequentemente. Os estados considerados ‘swing’ nesta eleição são: Pennsylvania, Michigan, Nevada, Wisconsin, Geórgia, Carolina do Norte e Arizona. Atualmente, Donald Trump tem maioria em todos, exceto na Pennsylvania.

Quanto à disputa no Congresso, é prematuro tirar conclusões definitivas, pois as corridas ainda estão se desenvolvendo, e um ambiente competitivo é esperado. Na Câmara, hoje os republicanos contam 219 cadeiras, contra 213 dos democratas e 3 estão à espera de eleições especiais para preenchimento.

Vale lembrar que nos ‘midterms’ há dois anos os democratas foram melhores do que os esperado – em grande parte por conta da ativação do eleitorado pela decisão da Suprema Corte limitando o aborto no país – e a minguada maioria republicana gerou no período uma briga política interna no partido que resultou na primeira demoção na história de um ‘speaker’, que seria equivalente ao nosso presidente da Câmara, gerando semanas de conflito até que fosse eleito Mike Johnson para seu lugar. Não se sabe ao certo o quanto o racha pode afetar o desempenho eleitoral do partido, especialmente pela falta de pesquisas nos 435 municípios.

A corrida ao Senado deve ser ainda mais acirrada, mas com republicanos com mais chances de conseguir maioria. Apesar dos Democratas atualmente terem maioria no Senado – são 49 republicanos e 51 democratas – dos assentos que estarão em disputa, 23 são de democratas ou independentes que votam com democratas   enquanto apenas 11 serão de republicanos. Vale citar que as condições desafiadoras para os democratas em estados cruciais como West Virginia, Arizona, Montana e Pensilvânia representam desafios para sua manutenção. Os principais analistas hoje preveem 50 cadeiras para os republicanos, 47 para os democratas e 3 ‘toss-ups’. Mas o cenário segue aberto pelo tempo que falta até a eleição e pela a configuração individual de cada disputa, dado que nem todos candidatos estão definidos.

Destacamos que o engajamento dos eleitores deve ser chave, especialmente dado o caráter não obrigatório das eleições nos EUA. Mobilizá-los para comparecer às urnas é decisivo em disputas acirradas, introduzindo um elemento de imprevisibilidade na eleição.

O país enfrenta uma profunda divisão política, o que pode impulsionar um aumento no engajamento ao processo político. Para os Democratas, aproveitar o sentimento anti-Trump entre seus apoiadores pode ser uma estratégia, embora persistam desafios em energizar os eleitores devido a preocupações com a imagem de Biden, incluindo questões sobre sua idade. Justamente por isso há quem acredite e defenda que Biden pode esperar sua vitória nas primárias para desistir de concorrer e conduzir pessoalmente a escolha de um sucessor antes da eleição. Mas com divisões internas entre as alas mais à esquerda do partido e os mais pragmáticos, também não há nomes óbvios que garantiriam uma coalizão. Os mercados de apostas colocam alguma chance para a ex-primeira-dama Michelle Obama e o governador da California, Gavin Newsom. No entanto, outras mudanças inesperadas podem ocorrer, especialmente se temas como saúde, aborto ou leis de armas assumirem destaque no discurso político.

Do lado republicano, a atenção deve ser voltada para surpresas potenciais originadas do Judiciário. Embora Trump enfrente mais de 90 acusações em processos civis e criminais em todo o país, acreditamos ser improvável que a maioria delas resulte em condenações antes das eleições. E mesmo que venha a ser condenado, não há impedimento legal para que ele possa disputar as eleições.

A maior dúvida é quanto decisões judiciais poderiam afetar sua imagem junto ao eleitorado. Os números atuais mostram que o impacto tem sido limitado, mas são risco para sua campanha, especialmente com a pequena parcela do eleitorado que ainda não se decidiu ou que está indicando votar em Trump apenas em rejeição a Biden nos temas que já mencionamos. Vale ressaltar ainda o caso em curso na Suprema Corte, com maioria Republicana, onde Trump contesta a decisão do Colorado de removê-lo da cédula de votação devido ao seu suposto envolvimento nos eventos de 6 de janeiro de 2020. Pelas etapas iniciais parece muito improvável que haja uma decisão desfavorável a Trump, mas vale manter o tema no radar, pois a decisão poderia ser repercutida nos 50 estados, o que mudaria o cenário eleitoral por completo.

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Eleições nos EUA: acompanhe todas as análises

O que está em jogo?

Como funciona o sistema eleitoral americano?

1. Primárias: As primárias são eleições internas em que eleitores dos partidos elegem o candidato que deve representá-los na disputa presidencial. Por exemplo, em 2019-2020, vimos candidatos como Bernie Sanders e Elizabeth Warren disputarem a vaga eventualmente obtida por Joe Biden, atual candidato democrata à presidência.

2. Convenções Nacionais: Nas Convenções Nacionais, delegados dos partidos votam no candidato à presidência, assim oficializando a indicação. Caso ninguém tenha maioria, os delegados perdem a obrigação de votar por um determinado candidato e votam também superdelegados.

3. Eleição Geral: Voto popular. Os cidadãos depositam seus votos no candidato de sua preferência

4. Voto do Colégio Eleitoral: O colégio eleitoral escolhe o novo presidente. Cada estado tem um número diferente de delegados que compõe o colégio eleitoral. O vencedor no estado leva todos os votos que este estado tem direito no Colégio Eleitoral. A regra é válida para 48 estados, com exceção de Maine e Nebraska. O candidato que somar mais de 270 votos de delegados será eleito.

Esta é uma breve recapitulação. Mais detalhes podem ser encontrados em Eleições Presidenciais dos EUA – Um Guia para 2024

Swing States: Os swing statestêm um papel essencial nas eleições americanas. Como o próprio nome diz eles atuam de forma pendular. Enquanto outros estados costumam votar pelo mesmo partido ano a ano, os ‘swing states’ mudam de preferência frequentemente.

Neste ano, os estados considerados ‘swing’ são: Pennsylvania, Michigan, Nevada, Wisconsin, Geórgia, Carolina do Norte e Arizona.

Swing States em 2024
Swing States nas Eleições de 2016 e 2020

Em 2020, Biden venceu em 5 estados onde Trump havia vencido em 2016: Michigan, Arizona, Nevada, Pennsylvania e Geórgia.

Principais personagens das eleições de 2024

A pré-eleição de 2024 é considerada atípica porque os candidatos já estão virtualmente decididos, tanto no lado Republicano quanto no lado Democrata. Donald Trump e Joe Biden, respectivamente, são considerados os claros favoritos, mas vale notar que ambos tecnicamente disputam a candidatura com outras figuras de seus partidos. Os candidatos são:

Partido Republicano

Donald Trump

O ex-presidente dos Estados Unidos busca voltar à casa Branca em 2024. Tem forte apoio de bases da direita e busca conquistar apoio do eleitor de centro. Tem perfil mais conservador na economia e na pauta social que o atual presidente. Seu principal desafio será conquistar o eleitor de centro apesar do discurso polêmico. Além disso, enfrenta processos judiciais que devem ser abordados ao longo das campanhas. Recentemente, foi endossado pelo pré-candidato Ron de Santis, uma das figuras mais fortes do partido.

Nikki Haley

A ex-governadora da Carolina do Sul e ex-embaixadora dos EUA na ONU é a única candidata mulher na disputa republicana. Ela iniciou a campanha para 2024 em fevereiro de 2023. Se apresenta como uma nova geração do partido Republicano e busca o apoio do eleitor conservador e moderado.

Partido Democrata

Joe Biden

O atual presidente dos EUA anunciou a candidatura para 2024 em abril de 2023. Biden busca apoio do eleitor de centro e de esquerda. Seu principal desafio é unir as bases democratas e engajar o eleitorado. Além disso, enfrenta preocupações do público com a economia e níveis decrescentes de aprovação. Era avaliado que candidatura pode ser uma estratégia para não perder poder na metade do mandato presidencial, mas que o presidente pode desistir da candidatura, mas a hipótese têm perdido força.

Marianne Williamson  

Williamson é uma autora e conselheira espiritual. Foi pré-candidata à presidência em 2020, mas desistiu em fevereiro do mesmo ano diante de baixo nível de reconhecimento e apoio.

Dean Philipps            

O empresário e deputado federal pelo estado de Minesotta, Dean Philipps, anunciou em outubro de 2023 que disputaria a candidatura presidencial. Tem perfil moderado e alinhado com Joe Biden, mas acredita que pode estar melhor posicionado que o atual presidente para derrotar Donald Trump. Além disso, critica Biden por não engajar com eleitorado nas primárias.

Independente

Robert F. Kennedy Jr

O filho de Robert F. Kennedy e sobrinho do ex-presidente John F. Kennedy anunciou a candidatura no dia 5 de abril de 2023. É reconhecido como ativista anti-vacinas, principalmente durante a pandemia da Covid-19. Iniciou a corrida como pré-candidato democrata.

Temas destaque no debate eleitoral

Saúde

O debate sobre seguros de saúde pública e o preço de remédios é um dos principais temas em discussão na política americana. O tema é considerado uma bandeira para o partido democrata que promovem maior gasto e envolvimento do estado no setor. O partido republicano tem mostrado mais preocupação sobre o impacto fiscal de medidas de Saúde. O tema foi considerado um dos principais fatores nas vitórias de democratas na eleição de meio de mandato em 2018.

Aborto

Em 2022 a Suprema Corte dos EUA reverteu a decisão que legalizava o direito do aborto. O tema divide os partidos e tem permanecido em destaque desde então. Considera-se que o assunto favoreceu o engajamento democrata nas eleições legislativas de 2022.

Armas de fogo

A regulação de armas de fogo é um tema que enfrenta democratas e republicanos. Democratas avocam por maior regulação e restrições para compra de armas de fogo. Por sua vez, republicanos defendem que restrições se contrapõe ao direito constitucional de posse de armas. Devido à alta frequência de tiroteios no país, o tema deve permanecer em destaque.

Os processos contra Donald Trump

Ao todo, Donald Trump enfrenta 91 acusações criminais em dois tribunais estaduais e dois distritos federais diferentes, e uma ação civil. Vale notar que se condenado de algumas das acusações, o presidente poderia ir à prisão. De todo modo, não há restrições para que continue buscando a reeleição e não pode ser declarado inelegível. Vale notar que em 1920, Eugene Debs disputou a presidência da prisão.

No estado de Geórgia,  o ex-presidente é investigado por suposta interferência na eleição. A investigação foi aberta após vazamento da ligação de Trump a autoridade eleitoral local, recomendando que encontre “11780 votos”.  O caso é considerado de risco elevado para o ex-presidente. Audiência de julgamento está agendada para o dia 5  de agosto.

No estado de Nova York, enfrenta 34 acusações criminais de falsificação de registros comerciais com intenção de ocultar condutas ilegais na campanha de 2016. O presidente se declarou inocente de todas as acusações.

Também, está sendo acusado pela escritora E. Jean Carroll de tê-la estuprado na década de 1990. A audiência de julgamento estava marcada para essa semana mas foi postergada para quarta-feira (31).

Ainda, enfrenta outro processo no estado por fraude. O estado alega que Trump exagerou seu patrimônio e os valores de suas propriedades para enganar bancos e credores. Três de seus filhos, Donald Jr., Ivanka e Eric também são citados. O julgamento foi encerrado semana passada. O juiz Arthur Engoron deve agora avaliar se concederá o pedido do procurador-geral para multar Trump USD370 milhões, bani-lo do setor imobiliário do estado para sempre e proibi-lo de ser diretor de uma corporação de Nova York.

Em Washington DC, Trump está sob investigação por armazenar indevidamente documentos classificados e por obstruir a investigação do governo.

Também, é investigado por seu envolvimento nos atos do 6 de janeiro e suposta pressão sob Mike Pence para que impeça que o Congresso realize conteio dos votos. O processo está em estágio inicial mas tem possíveis consequências severas para Trump. Audiência de julgamento está agendada para o dia 4 de março.

Notamos ainda que mais de 30 estados estão avaliando casos sobre retirada do nome de Donald Trump da cédula de votação.

Eleições Parlamentares

Senado

Um terço dos assentos do Senado (33) + 1 eleição especial (Nebraska) estão em disputa nesta eleição. Desses, 20 atualmente são democratas, 3 são independentes (alinhados com democratas) e 11 republicanos. Atualmente, os democratas têm maioria na Casa. São 49 assentos republicanos, 48 democratas e 3 independentes alinhados com o partido Democrata. A expectativa é que a corrida seja mais apertada.

  • •Toss-ups (margem apertada e resultado incerto): Arizona (I), Montana (D), Ohio (D)
  • •Acirradas: Michigan (D), Nevada (D), Pennsylvania (D), Wisconsin (D)

Câmara dos Representantes

Os 435 assentos da Câmara estão em jogo nesta eleição. Atualmente, são 221 assentos republicanos  e 214 democratas. A expectativa é que os republicanos mantenham o controle da Casa.

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