1. Temporada de resultados internacional do 4T23: Olha a Chuva! É Mentira! – Surpresas foram positivas, mas expectativas para os trimestres seguintes caíram
2. Inflação acelera nos Estados Unidos – Federal Reserve não deve ter pressa para iniciar ciclo de corte de juros
3. Eleições nos EUA: Matematicamente confirmados – Joe Biden e Donald Trump já possuem a quantidade necessaria de delegados para garantir nomeação por seus respectivos partidos
4. TikTok: tique-taque, tique-taque – Câmara dos Deputados dos EUA vota em favor de obrigar a chinesa ByteDance a vender a rede social ou sair do país
5. Dollar Stores apontam para enfraquecimento do consumo americano – Divulgação de resultados de Dollar General e Dollar Tree acendem sinais de alerta
1. Temporada de resultados internacional do 4T23: Olha a Chuva! É Mentira!
A temporada de resultados corporativos do quarto trimestre de 2023 se encerrou. Em linha com o que antevimos em nossa prévia, as surpresas foram positivas, muito em decorrência de expectativas que vinham mais baixas.
Publicamos uma análise consolidada sobre os resultados, confira aqui. No agregado, 56% das empresas do S&P 500 reportaram uma surpresa positiva de receita com média de 1,2% acima das estimativas. Em relação aos lucros, 76% das empresas mostraram números acima das expectativas, em média 7,2% acima do projetado.
Apesar das surpresas, as expectativas para lucros no primeiro trimestre de 2024 estão 4,6% abaixo dos níveis de outubro/23. Isso se deve às mensagens mais cautelosas da gestão das companhias em relação ao ambiente macroeconômico, citando desaceleração da economia, persistência da inflação e taxas de juros mais altas como grandes preocupações para 2024. A exceção foram as empresas que fornecem serviços e infraestrutura para modelos de inteligência artificial (AI), as quais citaram demanda robusta e crescente.
Com isso, após o S&P 500 finalizar 2023 com um crescimento do lucro por ação de apenas 1,9%, as projeções para 2024 e 2025 seguem bastante otimistas: +11,2% em 2024 e +13,4% em 2025.
Veja todos os resultados: 4T23 Internacional
2. Inflação acelera nos Estados Unidos
A semana foi repleta de notícias na frente de inflação nos Estados Unidos. Dados de inflação ao consumidor (CPI) e ao produtor (PPI) foram divulgados, e apontaram uma reaceleração importante. Os dados mais aquecidos confirmam a expectativa de que o Federal Reserve, banco central americano, inicie o ciclo de cortes de juros na metade do ano.
O CPI registrou um incremento de 0,4% em fevereiro e 3,15% na comparação interanual (contra 3,09% no mês anterior e uma meta de 2%). Os dados vieram em linha com o esperado, entretanto, desde a divulgação de dados mais fortes em janeiro, as expectativas tiveram alta. Na quebra dos dados de fevereiro, o setor de serviços teve uma forte alta, enfatizando que o processo de desinflação ainda não foi concluído. Por sua vez, o PPI teve uma alta mensal de 0,6% (acima das expectativas de 0,3%), contaminado por custos mais elevados de insumos. Uma inflação ao produtor mais elevada representa um risco para a inflação ao consumidor futura, uma vez que os efeitos de alta dos preços chegarem até a ponta da cadeia.
Os dados de inflação divulgados ao longo dessa semana reforçam a visão de que o Fed não terá pressa para cortar juros. Atualmente, o mercado espera que o ciclo de cortes se inicie em junho, enquanto a XP espera que o início da flexibilização ocorra mais tarde, em julho.
A semana foi de abertura das treasuries: a taxa de 10 anos encerrou a semana em 4,31% (contra 4,08% do fechamento da semana passada), e a taxa de 30 anos encerrou a semana em 4,43% (contra 4,25%).
3. Eleições nos EUA: Matematicamente confirmados
A semana foi marcada pelo avanço das primárias dos partidos Republicano e Democrata nos estados e, com os resultados, ambos os candidatos favoritos garantiram, matematicamente, as indicações de seus respectivos partidos.
Conforme comentamos no Top 5 Temas Globais da semana passada, a dominância de Donald Trump e Joe Biden na super-terça já dava todos os indícios de que não haveria mais surpresas neste processo e seguimos caminhando para uma revanche na disputa da presidência dos EUA.
Após computar os estados da Georgia, Mississipi e Washington Trump soma 1255 dos 2429 delegados totais do Partido Republicano, acima dos 1215 necessários. Já Joe Biden tem 2107 dos 3934 delegados totais do Partido Democrata, acima dos 1968 necessários.
Uma vez finalizado, na prática, o processo de primárias o foco agora volta-se para o pleito de novembro e os candidatos deverão intensificar as campanhas nos chamados swing states e acelerar o processo de escolha e nomeação dos seus vice-presidentes.
E por falar em swing states, o portal FiveThirtyEight, divulgou pela primeira vez o seu agregador de pesquisas eleitorais. Referência no meio de análise política, a casa fundada por Nate Silver projeta uma vitória de Donald Trump por 312 votos eleitorais ante 226 de Joe Biden, caso os números das pesquisas recentes se materializem em novembro embora ressalte que ainda estamos num estágio muito inicial do processo eleitoral.
Acompanhe toda a cobertura das eleições dos EUA aqui.
4. TikTok: tique-taque, tique-taque
O TikTok é uma rede social pertencente à empresa chinesa ByteDance que revolucionou o mundo das mídias sociais com dancin… vídeos curtos e algoritmo poderoso e focado nas gerações mais novas. Dados de 2023 indicam que o aplicativo tem mais de 150 milhões de usuários mensais ativos nos EUA, atingindo cerca de 40% da população adulta total do país. Os números são ainda mais impressionantes quando olhamos para a camada mais jovem da população: dentre os que têm entre 18 e 29 anos, a penetração do TikTok chega a 57%, quase dobrando o alcance que tinha em 2020.
Tamanho sucesso de uma empresa chinesa nos EUA, num momento em que as duas principais potências econômicas do mundo trocam farpas e impõem sanções é tarifas entre si, não poderia deixar de chamar a atenção da classe política. Nesta semana a Câmara dos Representantes aprovou uma legislação que forçaria a proprietária do TikTok, ByteDance, a vender sua rede de mídia social para uma outra empresa, aprovada pelo governo dos EUA, ou ser banida de atuar no país em 180 dias.
O projeto de lei, chamado de ‘Protecting Americans From Foreign Adversary Controlled Applications Act’ contou com apoio bipartidário na Câmara e foi aprovado por 352 votos a favor x 65 contra, apesar de não contar com a chancela do ex-presidente e candidato Donald Trump. Apesar de ter tentado banir o TikTok em 2020, Trump agora argumenta que a proposta daria vantagens injustas à proprietária do Facebook e Instagram, Meta Platforms, a qual chamou de “inimiga do povo”.
O texto, agora, está nas mãos do Senado, onde enfrenta uma oposição maior e um futuro incerto. Críticas à nova lei vão desde a presidente da comissão de comércio do Senado, Senadora Maria Cantwell (Democrata), que quer reescrever o texto para dar uma abrangência maior, até o outro lado do espectro com o Senador Rand Paul (Republicano) que julga inconstitucional e uma afronta à liberdade de expressão. Há, também, alguns membros do partido Republicano que ecoam as preocupações do ex-presidente Trump quanto à concentração de mercado nas mãos da Meta Platforms, especialmente num ano eleitoral.
5. Dollar Stores apontam para enfraquecimento do consumo americano
Nesta semana, as varejistas de descontos Dollar Tree e Dollar General divulgaram resultados referentes ao quarto trimestre de 2023, que vieram em direções opostas. Se por um lado a Dollar General (DG) apresentou surpresas positivas, a Dollar Tree (DLTR) apresentou forte decepção, provocando queda em sua ação e puxando consigo o setor.
Para além dos números de receita e lucro das empresas, os resultados revelaram sinais importantes sobre a tendência do setor e sobre o comportamento do consumidor americano. A Dollar Tree divulgou que consumidores de baixa renda estão enfrentando dificuldades com a inflação e a redução de benefícios sociais, que a companhia estima que impactou as vendas da cadeia Family Dollar em até 5pp no 4T23 em comparação ao ano anterior. Dollar General informou que seus consumidores estão priorizando categorias de produtos essenciais, e que sentem o impacto dos últimos dois anos de inflação.
A Dollar General anunciou o fim do autoatendimento no caixa em mais de 300 lojas e direcionar os clientes primeiro aos caixas atendidos por funcionários em outras 9.000 lojas, numa tentativa de combater os furtos que têm aumentado no varejo americano, perceptíveis a partir dos números de perdas de estoques.
A Dollar Tree decidiu fechar cerca de 600 lojas que não estão sendo lucrativas da marca Family Dollar. Segundo a companhia, o fechamento dessas lojas a permitirá concentrar seus recursos em locais mais rentáveis e com melhor desempenho. O fechamento das lojas pode ser positivo para competidoras como Walmart e Dollar General.